Se você está afirmando que Atalanta (queda em Q.) é derivada de Atlântida, Tolkien em uma das cartas disse que por mais que fossem parecidos os nomes, foi pura coincidência.
Esse é um desses episódios onde a chamada "contrasistência"* de Tolkien cria até situações meio chatas onde a gente é obrigado a falar de alguns aspectos menos "legais" ou estritamente "honestos" do caráter de Tolkien na hora de explicar seus processos criativos e as apreensões meio errõneas que certos comentários contraditórios dele tantas vezes criam.
* apelido dado por Clyde Kilby pra tendência de Tolkien de ser consistentemente contraditório consigo próprio e com as coisas que falava e fazia )
Citação do livro da Marjorie Burns onde ela fala disso
Sim, é verdade que ele disse isso mesmo que vc falou em uma carta.
Mas também é verdade que em outra carta ele disse por "A mais B" que ele criou o mito de Númenor pra exorcizar o seu "complexo de Atlântida". Daí vc vai dizer que ele bola toda a história de Númenor como uma terra afundada no mar devido à colera divina, baseando-se conscientemente no mito da Atlântida contado por Platão, inventa que ela tinha o nome alternativo de Atalantë depois da Queda e que isso é só uma mera coincidência?
E aí? Vai acreditar em qual afirmação? Pq é óbvio que as duas são mutuamente excludentes.
A gente pode dar uma interpretação conciliatória dizendo que, nesse caso ,da primeira carta a "coincidência" se refere ao processo de formação de nomes dentro da sua mitologia e etimologia inventadas, ou seja, no Mundo Subcriado, a semelhança entre o quenya e o grego é só coincidental mas no nosso Mundo Real isso não seria a verdade.
Daí que negativas/afirmações do Tolkien como essa, por causa do contexto em que são feitas, não elimina fatos como o de que Atlantis/Atalanta* foi a inspiração real fonética pra composição do nome Atalantë no nosso Mundo Primário e que o nome Atlântida já era inspiração pra todo o conceito
antes de Tolkien ter bolado a etimologia élfica a partir dos seus radicais inventados
posteriormente.
*nome de uma mulher da mitologia grega, chamada Atalanta ou Atalante que se "abaixa", "cai" para pegar as maçãs douradas jogadas pra ela numa competição, sendo as maçãs douradas associadas com a imortalidade e com uma terra paradisíaca a oeste ( hespério) onde tinha o Jardim das Hespérides, entenderam a piadinha? Daí que o nome Atalantë de Tolkien que significa a "Caída", é uma provável homenagem dupla que combina Atlântida e Atalanta/Atalante como fontes ao mesmo tempo. Atalante em grego significa "igual em peso" ou medida.
Ao contrário do que Tolkien chegou a dizer ( na maioria dos casos pra reforçar a impressão de que ele podia criar a partir do nada nos seus arroubos com a prórpia Subcriação e mais frequentemente ainda para disfarçar associações de idéias que ele não queria que fossem feitas mas que tinham sido denunciadas pela escolha dos nomes) a criação linguística dele nem sempre precedia a do enredo e caracterização dos conceitos no Legendarium e, portanto, o processo de criação linguístico, muitas vezes, espelhava a função já dada no Legendarium ao invés de se dar o caso oposto. A história
podia vir antes dos nomes e os nomes antes de serem criações coerentes de acordo com sua linguagem inventada no estado em que ela se encontrava eram alusões diretas pras fontes "reais" da história inventada.
Foi o mesmo caso de Avalónnë, o porto ocidental de Tol Eressëa , Tolkien bolou o nome que designava originalmente a ilha toda e cuja forma original era mesmo Avallon, deu a etimologia como significando Ilha Exterior ( em relação a Valinor) e , depois, pós anos 30, mudou a etimologia do nome pra batizar o porto e dar uma camuflada na conexão com o
nome celta da Ilha de Avalon.
Aí Avalonnë passou a ser o nome do porto de Tol Eressëa e não da própria Ilha e passou a significar "próximo de Valinor" ( uma etimologia bem confusa como qualquer especialista em etimologia élfica poderá comprovar já que o "ava" é fora e não próximo) e não mais llha Exterior. Novamente, o nome e a função paralela ao mito original inspirador vieram antes, a explicação etimológica do nome foi inventada e mudada depois.
Situação idêntica foi a que aconteceu com
Melian, mais um caso onde Tolkien deu uma disfarçada na inspiração céltica do nome ( estão vendo o padrão né), do conceito e da função desempenhada pela personagem no Legendarium, mudando o nome original dela, Gwendelin, pra outro menos "óbvio" ( mas que tb era celta)mas mantendo todas os empréstimos da história original no lugar.
Por que isso acontecia?
Resposta provável dada aí
Tolkien: "desnecessário dizer que não são celtas"