Re: Funk é música?
O Funk original, americano, é um gênero muito bem construído. Tanto que diversas bandas de Hard Rock dos anos 70 apresentam muitas influências do Funk em suas músicas. E a carreira solo de Glenn Hughes (ex- Deep Purple), um dos maiores músicos do meio Rock N´Roll, gravou várias músicas com fortíssimas influências do Funk americano. Embora a sua música seja um apanhado de diversas sonoridades, incluindo o Soul , o Blues e, claro , o Rock N´Roll. Mas é fato que o Funk americano é bem decente, com letras, construções melódicas e harmônicas incríveis, gostemos ou não.
Quanto ao Funk carioca, não é um gênero em si mesmo, é um sub-gênero. Desvirtua totalmente em todos os sentidos o Funk reconhecido em escala mundial (o americano), exceto no que diz respeito ao “balanço” o nosso funk pode ser palidamente comparado a aquele (se bem que é discutível comparar o balanço do funk carioca com o balanço do Funk Americano. Pois o funk americano é nitidamente muito bem feito, com feeling e comprometimento artístico, coisa que não parece ocorrer com o funk carioca). O que se discute não é se o Funk nacional em sua totalidade não presta. Obviamente que há suas exceções, mas o fato inconteste é que, na mídia, o que se vê é a divulgação/ propagação (até incentivo) ao tipo de funk escandaloso, depravado, falho de orientação artística, cujos “músicos” desvirtuam a arte da música como meio de se obter mais facilmente a fama e todos os benesses intrínsecos à vida de artista: dinheiro e atenção.
Mas olhando tecnicamente, podemos concluir que o funk carioca é mais um tipo amadorístico de música. Em termos de complexidade, de desenvolvimento melódico mesmo, sem contar as letras que desvirtuam o sentido da arte (que é engrandecer o ser humano). Letras que fazem apologia ao sexo livre, a todos os tipos de violência, ainda que supostamente alguns deles sejam teoricamente justificáveis (violência contra as instituições políticas, por exemplo), não significa dizer que o Funk carioca merece tanto reconhecimento quanto qualquer outro estilo. Tudo depende da sua sociedade, de como ela encara tal estilo. Ou vcs acham que o Rock (que nasceu nos EUA) afirmou-se sob uma maioria de bandas de péssima qualidade? Grandes estilos, grandes bandas só se tornam modelos e passam a construir gêneros, e a influir decisivamente em sua arte, quando os mesmos têm aceitação maior na Sociedade. Notemos que todas as bandas, artístas de toda e qualquer natureza, que não correspondem aos valores de uma dada sociedade, são tidos como marginais, artistas marginais. Alguns são condenadas pelos próprios “artistas marginais”. A exemplo dos anarquistas na política, que não são considerados teorizadores de uma idéia construtiva .Assim ocorre tbm com certos “estilos” musicais que, por não possuírem grandes e exemplares artistas, passam a ser considerados além da margem da sociedade.
Se está inserido numa cultura, infelizmente está. Mas o Funk carioca NÃO é aceito por aqueles que têm uma base cultural sólida, creio. E não falem dos playboys que dançam o funk carioca. Pois status social não tem nada a ver com cultura, com inteligência, com bons ideais,etc. Como o zorba já explicou (embora eu não concorde com o tom agressivo) estamos a falar de Funk carioca, então, NÃO, o Funk carioca não é música, pelo menos, se levarmos em consideração todos os componentes que o identificariam como tal. Música não se limita apenas a ter harmonia, letras, melodias, mas é preciso atingir um mínimo de qualificação para tal. Isso pode (ou é) ser subjetivo, mas é assim que vejo. Não concordo com a defesa de qualquer tipo de pseudo-arte (e a música é uma Arte NOBRE), que esteja amparada apenas nos reconhecimentos técnicos. A música é Arte antes de tudo, e a Arte submete-se ao julgamento daqueles que sentem e vivem a arte. Não se enquadra acima do julgamento individual, pois, apesar de não haver regras na criação de uma arte, tbm não há regras que atestam quando uma criação intelectual passa a ser arte de qualquer natureza. A Arte está sob o domínio de quem entra em contato com ela, podendo a pessoa ACEITÁ-LA OU NÃO, RECONHECÊ-LA OU NÃO. Portanto, não, eu não aceito e não reconheço o Funk carioca. Não é uma questão objetiva, pois, como eu bem falei, a Arte está submetida ao julgamento individual. Concordem ou não, é assim que eu vejo, é assim que muitos artistas, inclusive, veem. Portanto, Funk carioca não é música, pois não preenche todos os requisitos que, para mim, tornam a música válida.
Só mais uma coisa: não dá para comparar Funk carioca com o Heavy Metal, né? A maioria das bandas de Heavy Metal são profissionais, constroem músicas complexas, muitas delas são influenciadas pelo Jazz,pelo Blues, até pela música clássica. Muitos músicos do Heavy Metal têm formação clássica, outros são fãs de literatura, que serve de influência às letras, etc. As letras de grande parte das músicas de Heavy Metal são muito bem pensadas, algumas baseadas na História, outras, em mitologias. Há as que pregam o Satanismo, como as do Black Metal, mas daí nem eu considero esse sub-gênero como música. O Heavy Metal, inclusive, tem muitas semelhanças com a música clássica, isso nem sou eu quem está afirmando. O próprio Michael Kamen, grande compositor e regente, salientou que o Heavy Metal e a música clássica têm muito em comum.