Tom Bombadil
Como o título sugere, esta é outra análise do personagem de J.R.R. Tolkien, Tom Bombadil. Vamos analisar aquela questão freqüentemente debatida: Quem é Tom Bombadil?
Eu sempre fui fascinado por Tom Bombadil como ele aparece em "O Senhor dos Anéis", provavelmente não devido ao seu papel pequeno, mas por causa da imagem misteriosa e enigmática deixada por este personagem. É por isto que eu escolhi, talvez insensatamente, dar a minha opinião no círculo de debate. Uma coisa em que eu acredito que todo mundo pode concordar é que há ampla discordância em cima da pergunta de quem, o do que é Tom Bombadil. Muitos fãs dedicados de Tolkien e estudiosos discutiram o assunto. Como um trampolim em minha discussão, eu me referirei a um dos mais recentes e exaustivos trabalhos acessíveis na Internet: uma composição de Gene Hargrove intitulada "Quem é Tom Bombadil?".
É uma fonte útil para informação de fundo geral sobre o personagem, e fornece links para sites que lidam com Tom Bombadil. Uma lista de trabalhos citada com extensa referência bibliográfica aparece ao término desta composição. Citações sem referências são principalmente tiradas de Livro I, capítulos 6-8 e Livro II, capítulo 2 de A sociedade do anel.
Em uma primeira leitura, eu achei a composição de Hargrove sobre Tom Bombadil persuasiva e, sempre suspeitando que Tolkien tinha mais atenção em mente para Bombadil do que ele recebeu, ao contrário do que a maneira irrefletida do personagem poderia deixar transparecer, eu achei a conclusão de Hargrove que Tom Bombadil é de fato um dos Valar, Aulë, atraente. Esperando confirmar isto, li tudo o que pude encontrar que Tolkien escreveu a respeito de Tom Bombadil. Mas quanto mais eu lia, mais a minha opinião começou a oscilar. Eu fiquei cada vez menos seguro que Bombadil era um Vala, ou que até mesmo exista uma categoria da mitologia publicada de Tolkien na qual Bombadil se encaixe diferentemente do personagem retratado no livro "As Aventuras de Tom Bombadil". Como se mostra, este é um personagem com uma história maior que "O Senhor dos Anéis", alguém que sofreu uma evolução, pelo menos em propósito, para chegar ao estado no qual ele finalmente aparece.
Tolkien escreveu uma vez que ele incluiu Tom Bombadil em "O Senhor dos Anéis" para servir um propósito específico: como um enigma, e também como uma observação. (Letters, 174, 178). Desde a publicação de "O Senhor dos Anéis", as pessoas lutaram para desvendar esse enigma. O personagem é anterior a "O Senhor dos Anéis". Bombadil aparece impresso pela primeira vez como o personagem principal de um poema de 1934 intitulado "As Aventuras de Tom Bombadil", que foi publicado cerca de três anos antes de Tolkien começar a trabalhar em "O Senhor dos Anéis". O personagem não foi inventado tendo a trilogia "O Senhor dos Anéis" em mente, mas antes como um entretenimento para os filhos de Tolkien. Tolkien criou muitas histórias tais como essa para seus filhos durante, algumas das quais nunca convertidas para a escrita.
Logo após publicar "As Aventuras de Tom Bombadil", Tolkien descreveu seu personagem como "o espírito da (desaparecida) zona rural de Oxford e Berkshire". (Letters, 26) Muitos anos mais tarde, depois que Bombadil tinha feito seu caminho em "O Senhor dos Anéis", Tolkien o descreveu como "uma alegoria", ou um exemplar, uma personificação particular de pura (real) ciência natural". (Letters, 192) Um das opiniões mais comuns sustentada pelos leitores é que Bombadil é algum tipo de espírito da natureza. Alguns comentaristas consideram Tom Bombadil um enigma, uma excentricidade, um momentâneo aparte fora de sincronia com a linha principal da história. Em um campo relacionado estão aqueles que vêem Bombadil como algum tipo de espírito da natureza fora da hierarquia mitológica de Tolkien. Deixando de lado por ora as próprias análises de Tolkien, há algumas pistas na trilogia que poderiam apoiar esta opinião.
Tanto em "As Aventuras de Tom Bombadil" quanto em "O Senhor dos Anéis", há um vínculo forte entre Tom Bombadil e a natureza. Por exemplo, Tolkien parece sugerir uma conexão entre Bombadil e a Floresta Velha. Tendo uma vez se estendido por toda a Terra-média, a grande floresta à qual a Floresta Velha pertenceu retrocedeu através das eras a apenas duas remanescentes relativamente pequenas e desconectadas. A parte norte fica dentro das terras de Bombadil. Gandalf nos fala que Bombadil confinou a si mesmo em um território pequeno que inclui a Floresta Velha. A teoria de espírito da natureza é consistente com o aparente auto-exílio de Bombadil se relacionarmos seu poder ou associação à reduzida Floresta Velha. Tais limites são facilmente imagináveis seja ele um espírito vinculado ou derivado destas florestas. E quanto a Fangorn, a parte meridional? Bombadil abandonou esta segunda e maior relíquia da grande floresta? Talvez a presença do Ents em Fangorn é de alguma maneira pertinente. Ou talvez Bombadil foi simplesmente afastado da parte meridional com o passar do tempo. (Gandalf só acrescenta ao mistério quando, no Livro VI, ele supõe que Bombadil provavelmente estaria desinteressado nas aventuras com o anel, exceto talvez pelo encontro com o Ents.) Também, é interessante que Bombadil não mora de fato na floresta, entretanto ele vive perto dela. Parte das terras dele inclui as Colinas dos Túmulos, que não têm nenhuma conexão aparente com a Floresta Velha; e Fruta d'Ouro não é associada particularmente com a floresta. Assim enquanto Bombadil pode ter uma conexão especial com a Floresta Velha, pareceria que não é uma relação integral ou exclusiva, e que não cerca toda a grande floresta existente anteriormente. (Assim a representação dele de uma zona rural particular, em lugar de apenas a floresta.)
Há, entretanto, indicações que sugerem que há mais para Bombadil que uma manifestação rígida da natureza. Por exemplo, há a interação de Bombadil com vários habitantes da Terra-média (elfos, homens, hobbits). Aparte das suas conhecidas relações com tal povo, Bombadil mostra mais que um conhecimento casual dos afazeres deles e sua história. Por exemplo, nas Colinas dos Túmulos, Tom especificamente falou sobre os Homens do Ponente e a queda deles sob o rei maldoso de Carn Dûm. Ele alude então a Aragorn e aos seus quando ele fala dos filhos de reis esquecidos, caminhando solitários, protegendo os incautos das coisas malignas. Ele também mostra familiaridade com os Cavaleiros Negros quando Frodo lhe fala sobre o Anel ("Tom sacudiu a cabeça, e havia um brilho em seus olhos quando ele ouviu falar dos Cavaleiros"), e depois, quando Tom afirma a Pippin que eles não seriam seguidos pelos Cavaleiros na noite em que eles viajaram para Bri; embora, curiosamente, ele também os advirta para não confiar em suas suposições, como se "para o leste" o conhecimento dele falhasse (sustentando a conexão dele com os arredores de Floresta Velha?). Entretanto Bombadil tinha adquirido muitas informações recentes do Fazendeiro Magote, ele já sabia "muito sobre eles e suas famílias, e na verdade também sobre toda a história do Condado, desde os tempos que os próprios hobbits mal lembravam". O fato que Bombadil tinha relações com seres tais como Gildor, um dos Altos-Elfos, é sugestivo de algum papel a mais do que um mero espírito que caminha e fala pela floresta.
Bombadil mostra uma condolência pelos sofrimentos de homens que está discutivelmente fora do tipo para um puro espírito da natureza. Depois de livrar Frodo e companhia das Colinas dos Túmulos, Bombadil selecionou para ele um broche ao qual ele olhou "como se tocado por alguma lembrança, balançando a cabeça". Ele também observou: "Bela era aquela que usou isto há muito tempo sobre o ombro". Tal sentimentalidade parece em conflito com o papel de um espírito primitivo da natureza que provavelmente mostraria menos interesse em assuntos "humanos" (até o ponto em que se pode adivinhar as características de tal ser). Há muitos que vêem Tom Bombadil como algo mais que um mero espírito de natureza ou dispositivo alegórico, como algo possivelmente arraigado no folclore altamente estruturado e meticulosamente articulado de Tolkien. As duas teorias mais comuns sugerem que Bombadil seja um Maia (a ordem de Gandalf) ou um Vala. Amos sendo, originalmente, criaturas puramente espirituais de grande poder.
Eu tenho dificuldade em agrupar Bombadil com os Maiar. Várias considerações sugerem que ele seja de um nível diferente ou natureza que os Maiar. Bombadil, diferente dos Maiar que aparecem em "O Senhor dos Anéis" (notavelmente, Gandalf, Sauron e Saruman), não é afetado nem tentado pelo anel. Igualmente, Radagast mostra receio sobre Sauron e os Cavaleiros quando ele encontra Gandalf próximo a Bri. Também, eu tenho a sensação que Gandalf considera Bombadil superior, ou pelo menos de uma ordem mais alta. Note a habilidade de Tom para tirar mais informação de Frodo do que mesmo Gandalf teve, e a estranha facilidade com que Frodo entregou o anel para ele. Então há a declaração de Gandalf ao término da trilogia, de que ele deseja uma conversa longa com Bombadil porque ele foi uma pedra fadada a rolar enquanto Bombadil era um criador de limo, "e agora nós teremos muito a dizer a um ao outro". Em um esboço anterior do encontro do Conselho em Valfenda, publicado no "History of Midle Earth" de Christopher Tolkien, onde Gandalf diz de Bombadil: "Ele pertence a uma geração muito mais antiga, e meus modos não são os dele." (Treason of Isengard, 158).
Em "O Silmarillion", todos os proeminentes Maiar que aparecem em "O Senhor dos Anéis" são identificados como tais; ainda não há tal conexão feita com Bombadil. Sauron, Gandalf, Saruman, Radagast, os Balrogs, Tolkien os identifica todos como Maiar em "O Silmarillion". De fato, o papel de amante de natureza entre os Maiar já aparece ter sido nomeado a Radagast o que faz a inclusão de Bombadil no clube algo aparentemente redundante.
Os a favor da teoria Maiar podem apontar indicações da mortalidade potencial de Bombadil. Tolkien foi conhecido por exterminar um Maiar ocasionalmente (Saruman, o Balrog de Moria). Os Valar, por outro lado, parecem menos propensos a esta debilidade. Nem sequer o Melkor caído não foi morto, pelo menos nessas condições, mas foi banido para O Vazio. (Se esta é uma distinção com qualquer significado eu deixarei a outros.) Enquanto, no Conselho de Elrond, Gandalf e Gildor acreditam ambos que Bombadil cairia sob um ataque concentrado de Sauron, eles comparam a queda de Bombadil aparentemente com destruição da própria terra. (De acordo com Gildor: "O poder para desafiar o Inimigo não está nele, a não ser que esteja na própria terra. E, mesmo assim podemos ver que Sauron tem o poder de torturar e destruir as próprias colinas". E a observação de Gandalf: "Acho que, no fim, se todo o resto for conquistado, Bombadil sucumbirá, vindo a ser o Último da mesma forma como foi o Primeiro; e então a Noite virá ".) Há algumas maneiras de se interpretar essas declarações. Poderia significar que Bombadil não pode ser destruído por Sauron, mas que se toda a terra fosse destruída ao redor dele, não permaneceria nada no sentido material: Bombadil poderia se manter vivo, qualquer entidade que seja ele (talvez se unindo a Melkor no eterno Vazio), mas ele não poderia parar a destruição da Terra-média.
Outra interpretação é que Bombadil é tão entrelaçado com as terras e as florestas ao ponto que ele pode ser mesmo a personificação destas coisas como um espírito da natureza, ou caso contrário que destruindo a "natureza" na qual ele reside, Sauron iria como conseqüência estar destruindo Bombadil. Isto sugere que a vida de Bombadil, sua energia, sua força, ou o que quer que seja que lhe dê poder, vem diretamente das terras, e sem isso não poderia haver nenhum Tom Bombadil.A questão da mortalidade de Bombadil foi enviada por Tolkien em uma carta para o revisor do seu editor: "No final das contas só a vitória do Oeste permitirá para Bombadil continuar, ou até mesmo sobreviver. Nada restaria para ele no mundo de Sauron". (Letters, 179) Implicando na extrema sobrevivência de Bombadil, Tolkien parece estar atribuindo a ele mortalidade ou uma certa característica finita, como um ser, força da natureza, espírito, ou o que quer que seja. Desde publicação de "O Silmarillion", a especulação de que Bombadil é um Vala criou raízes entre alguns leitores. Hargrove teoriza em particular que Bombadil é Aulë e Fruta d'Ouro é sua esposa Yavanna. Enquanto Hargrove faz um argumento eloqüente, eu tenho vários reservas com esta teoria.
Aulë, o Ferreiro, era o senhor de todas as substâncias da terra e mestre de todas as artes. Por outro lado, Bombadil parece possuir interesses mais estreitos. Não é encontrado nada sobre minerais, pedras preciosas, metais ou ferraria quando se lê sobre Bombadil. Aulë criou os anões correndo o sério risco de enfurecer Ilúvatar, contudo não há nenhuma menção de anões e Bombadil em uma mesma frase. É quase impossível imaginar que Tolkien poderia ter introduzido Aulë na história sem ter aludido a estas peculiaridades de caráter essencial retratadas tão firmemente em "O Silmarillion".
Em "O Silmarillion", Aulë se destaca como um guerreiro ativo contra Melkor para proteger os filhos de Ilúvatar. Em contraste o interesse de Tom Bombadil em assuntos fora do reino dele é limitado a uma curiosidade moderada. Enquanto exibindo algum interesse no próprio anel, ele não parece impressionado com seu significado global, até mesmo levando em conta as ambições mortais de Sauron. Tom mostra talvez um pouco mais de interesse em assuntos de fora do que Gandalf creditaria a ele. A interação dele com elfos e hobbits demonstra o contrário, enquanto faz sua interrogação sondando Frodo sobre as aventuras dele com o Anel. Todavia, Bombadil está pouco disposto (se não impossibilitado) a ser envolvido. De acordo com Gandalf, Bombadil não entenderia a necessidade de salvaguardar o Anel se lhe fosse requisitado que fizesse assim. Enquanto é possível conceber de Aulë recusar a tal um pedido por qualquer razão, é difícil imaginar que ele poderia não entender o significado da sua decisão. Igualmente, é difícil imaginar Yavanna permanecendo em um papel tão passivo levando em conta a ameaça não só para os homens, elfos e anões, mas também para suas amadas árvores e plantas. Assumindo que Aulë e Yavanna tenham escolhido por alguma razão residir na Terra-média, a passividade deles não parece característica. Retirar Aulë e Yavanna de Valinor para explicar os papéis de Tom e Fruta d'Ouro é desajeitada e insatisfatório. De qualquer maneira, esta extensão improvável tende mais a descaracterizar Aulë e Yavanna do que fornecer uma explicação para Tom e Fruta d'Ouro.
Hargrove explica a passividade de Bombadil como provavelmente originada de limitações na canção em que Aulë é preso a mesma como um Valar. Isto poderia servir concebivelmente como uma explicação, mas no fim, penso que é uma tentativa fracassada para estender certos fatos ao redor de uma conclusão prévia. Hargrove acha um voto de pobreza consistente com a demonstração da atitude de Aulë com relação ao seu trabalho e o trabalho dos outros, a sua falta de orgulho excessivo, ciúme, e possessividade. Sim, Bombadil possui estas qualidades, mas eu penso que esta é outra tentativa cansada para fazê-lo se ajustar ao perfil de um Valar.
Dos três outros nomes que Elrond diz que Bombadil foi chamado (Irwain Ben-adar, Forn, e Orald), nenhum aparece em outro lugar nas escritas de Tolkien. Por um lado, isto pareceria incomum, dado todo o material que foi publicado desde a morte de Tolkien. Por outro, não é tão estranho se esses nomes originaram na ocasião em que Tolkien escreveu "O Senhor dos Anéis". Teria sido característico de Tolkien ter criado vários nomes de acordo com cada um dos idiomas da Terra-média, somando dimensão assim para seu mundo de sub-criação. Também explicaria a ausência anterior destes nomes nas escritas de Tolkien
Outra inconsistência envolve o conhecimento limitado de Elrond sobre Bombadil na Reunião do Conselho. Parece estranho que Elrond tenha esquecido da existência de Bombadil se, de fato, Bombadil fosse Aulë. Elrond estava bastante familiarizado com os vários nomes pelos quais Bombadil tinha sido chamado. Se um desses nomes tivesse sido Aulë, Elrond sabido certamente e dito no conselho. É quase impossível pensar que alguém versado na história dos Dias Antigos como Elrond poderia ter esquecido, mesmo que temporariamente, a existência de um Vala tão associado na história dos Eldar com a criação e formação da própria Arda. (...Aulë era o favorito dos Eldar; e os Noldor foram os que mais aprenderam com ele, e ele sempre foi seu amigo...) E não menos importante entre os Valar era Yavanna, a Provedora de Frutos, criadora das Duas Árvores de Valinor (...sobre o destino delas são tecidos todos os contos dos Dias Antigos...). Elrond poderia ter se esquecido da presença viva de não menos que dois dos mais significantes entre os quatro ou cinco Valar vivendo praticamente no seu próprio quintal? E ainda existe o fato de Fruta d'Ouro ser totalmente ignorada no conselho.
Durante o conselho, Glorfindel demonstra a familiaridade dele com Bombadil e especula que se tudo mais fosse conquistado por Sauron, Bombadil sucumbiria. Embora nós não saibamos a extensão do conhecimento de Glorfindel, pareceria que se Bombadil fosse Aulë, tal fato notável seria conhecido por ele. E é difícil de acreditar que a ajuda de Aulë não teria sido solicitada com muito mais vigor que a consideração dada a Bombadil, considerando a história da guerra de Aulë com Melkor. É verdade que depois do retorno dos Eldar para a Terra-média, os Valar deixaram de representar um papel ativo nos assuntos mortais. Mas eles também permaneceram do outro lado do oceano em Valinor, até onde nós sabemos (talvez com a exceção de Ulmo que reside sob as águas). A presença viva de um Vala na Terra-média significaria um Vala que tinha escolhido se tornar ativo uma vez mais em assuntos dos homens. O conhecimento limitado de Bombadil revelado na reunião do conselho sugere uma conclusão diferente. Pelo seu valor, em uma versão esboçada anteriormente da Reunião do Conselho, Elrond nunca tinha ouvido falar de Bombadil, e Gandalf só sabia dele. (Treason of Isengard, 152) Nesta e nas versões finais, a discussão a cerca de Bombadil sugere que Gandalf e os membros do conselho viam Bombadil mais como um ser ligado de alguma maneira a natureza ou aos seus arredores reservados, com interesse e compreensão mais limitados, do que como um sabe-tudo, um deus todo-poderoso.
A discussão do conselho também se volta para o aspecto mortal ou finito de Bombadil como implicado por Tolkien quando ele escreveu que Sauron deve ser derrotado para que ele sobreviva. Considerando que pareceria que só Ilúvatar pode destruir um Vala, é difícil de conciliar que qualquer Vala sobrevivente seja dependente da derrota de Sauron. Certamente não há nenhum precedente a ser encontrado em "O Silmarillion" para tal resultado. Como será discutido depois, este aspecto de Bombadil pode ter mais haver com o receio de Tolkien da expansão urbana do que questões de mortalidade ou existência divina.
Um fator que aponta a favor da teoria de Valar é o canto proeminente de Bombadil e Fruta d'Ouro. Começando com o encontro do Velho Salgueiro Homem, cantar é um tema penetrante. Em um nível, há as letras iluminadas de Bombadil; mas em um nível mais fundo, este cantar parece ser associado com algo muito mais significante e poderoso: é usado como um meio de força contra o Velho Salgueiro Homem e contra as Criaturas Tumulares; ele usa isto para despertar os companheiros de Frodo depois de os libertar da Colina; e em sua permanência na casa de Bombadil, Frodo tem um sonho onde ele ouve uma canção " que vinha como uma luz pálida atrás de uma cortina de chuva cinzenta, a voz crescendo até transformar aquele véu chuvoso em cristal e prata, para depois se distanciar, revelando aos olhos um campo muito verde sob a luz do sol."
Ficamos com uma impressão de que este canto é ligado de alguma maneira a todas as funções da natureza, pelo menos dentro das terras de Tom e Fruta d'Ouro. Essa impressão, entretanto, evoca um quadro sugestivo mais de pura natureza do que dos Valar. Esta é uma entre várias insinuações que associam Bombadil mais de perto com o mundo natural do que representando um papel no mundo dos Valar.
Cada um dos Valar é tipicamente associado com um certo papel: Ulmo, senhor de todos os mares, lagos, rios, fontes e nascentes; Oromë o caçador; Tulkas o guerreiro; Yavanna, a Provedora dos Frutos; Aulë, artífice e senhor das substâncias das quais a terra é feita. Por outro lado, Tom e Fruta d'Ouro parecem mais entrelaçados com os vários elementos da natureza, mais do que com os papéis atribuídos aos Valar. Fruta d'Ouro realmente se refere a Tom como "senhor" da floresta, das águas, e da colina, mas ele e Fruta d'Ouro se encontram mais como uma personificação destes elementos. Este não é o caso com os Valar que existiam antes da união terrestre de tais elementos e que aparecem como modeladores e criadores que usam os elementos para construir em lugar de os encarnarem. Tom é principalmente associado com a floresta e a terra. Fruta d'Ouro é associada com água (...a filha da mulher do Rio, a filha do Rio...), orvalho, chuva, as estações (...seu dia de limpeza do outono...), plantas e flores. A roupa de Tom também reflete os elementos da natureza: azul (céu, água), verde (plantas) e marrom (terra); como Fruta d'Ouro: sapatos que pareciam "de escamas de peixe" verde como juncos novos, salpicado de prata como gotas de orvalho", o cinto " parecia uma corrente de lírios-roxos".
Embora cantar represente uma ação freqüente ao longo de ambos "O Senhor dos Anéis" e "O Silmarillion", é principalmente usado como um meio de contar histórias. Para os Valar, entretanto, a canção era uma fonte de poder ou divindade associada com a criação, ou pelo menos com a criação de visões que eram prenúncios para o que seria criado depois. Porém, uma vez que os Valar entraram em Arda, o mundo físico da criação de Ilúvatar, o canto deles como em "A Música dos Ainur" (ainulindalë) tinha cessado. A partir daquele ponto, cantar não mais serve como a base primária para as ações dos Valar. Os poderes associados com o canto de Bombadil e Fruta d'Ouro são realmente excepcionais entre os habitantes da Terra-média. Mas uma possível explicação é que Tolkien meramente reteve esta característica cantante de Tom e Fruta d'Ouro como eles apareceram em "As Aventuras de Tom Bombadil". Como será discutido abaixo, Bombadil foi transplantado para "O Senhor dos Anéis" quase inalterado do seu primeiro aparecimento em verso.
Tolkien descreve Bombadil como "primitivo". (Letters, 91) Na mesma carta, ele explicou de Tom: ele é o mestre de um modo peculiar, ele não tem nenhum medo e nenhum desejo de possessão ou dominação. Ele somente sabe e entende sobre tais coisas como o que diz respeito ao seu pequeno reino natural. Ele dificilmente sequer julga, e até onde pode ser visto não faz nenhum esforço para reformar ou remover até mesmo o Salgueiro.
Bombadil aparece mais como um vigia, mestre do reino dele, do que como um artífice ou criador de coisas, como era Aulë. Aulë era grandemente enamorado por objetos de arte e pedras preciosas, e de fato os primeiros conhecimentos artísticos dos elfos vieram de Aulë. Bombadil mostra pouco interesse em coisas artificiais, diferente do broche que ele achou nas Colinas dos Túmulos que ele selecionou como um presente para Fruta d'Ouro, e a sua curiosidade passageira em cima do anel. Enquanto divertindo Frodo e companhia, Bombadil fala muito da floresta, flores, abelhas, "do jeito de ser das árvores", de forma que os seus ouvintes "passaram a entender a vida da Floresta, separada deles". Assim é a associação de Tom com a floresta e o "domínio" sobre ela (ou dela) e seus habitantes enfatizado.
Enquanto o Tom é o mestre do mundo dele, ele não exerce domínio em cima do mais tradicional senso humano como um controlador e governante. Como Fruta d'Ouro explica: "As árvores e o capim e todas as coisas que crescem ou vivem na terra só pertencem a si mesmas ". Assim, Tom o mestre não impede que seres como o Velho Salgueiro Homem de espalhar sua influência sinistra ao longo da floresta, como ele não interfere com as ações das Criaturas Tumulares. Ainda isto não significa que ele não pode ter um controle mais ativo se ele assim escolhesse, como ele demonstra quando confrontando com o Velho Salgueiro Homem e nas Colinas dos Túmulos, ou quando ele assegura ao hobbits que nenhum dano pode vir a eles enquanto estiverem sob a sua proteção. Protagonistas da teoria de espírito da natureza apontariam a este ativismo ocasional como uma inconsistência--uma divergência da suposta despreocupação da natureza para com o gênero humano; e eles podem ter razão, a menos que a significância de Bombadil vá além da mera personificação de certos elementos naturais. Tolkien teve algo a dizer disto, como será discutido depois.
São estas inconsistências aparentes, pistas vagas, e natureza amorfa global de Bombadil que tem estimulado o debate e a discordância sobre sua natureza e origem. Quase todas as referências a Bombadil podem apoiar mais de uma conclusão e podem somar outra incerteza. Por exemplo, e quanto a origem de Bombadil? É dito que ele tem estado presente antes das árvores e dos rios. Mas se Bombadil é uma personificação da natureza, o que teria feito ele por lá antes que a natureza estivesse presente em sua forma manifestada? Ele tomou parte na criação destas coisas? Isso parece mais o trabalho dos Valar.
Elrond menciona o nome élfico de Bombadil, Irwain Ben-adar: o mais antigo e sem pai . O que, então, isso tornaria Bombadil? É dito que Bombadil estava por toda a parte antes dos rios e das árvores, e que ele foi o mais antigo e sem pai. Ele é algo que existiu no vazio antes de Ilúvatar criar a Terra? Ele encarna os mesmos materiais dos quais a Terra é feita? Ele vem a ser de alguma maneira como um resultado da criação da Terra, entretanto não diretamente criado por Ilúvatar? Ou de fato sem pai simplesmente significa que Bombadil não tem nenhum pai biológico? Se Bombadil verdadeiramente é um enigma, não pode haver nenhuma resposta a estas perguntas. E onde Fruta d'Ouro iria se encaixar na equação?
Fruta d'Ouro realmente é outra complicação. Hargrove conclui que Fruta d'Ouro é Yavanna. É mais fácil para min ver Fruta d'Ouro como Yavanna do que é ver Bombadil como Aulë. As descrições de Yavanna em "O Silmarillion" são semelhantes a essas de Fruta d'Ouro, e dado ao fato de que muito menos é escrito sobre Fruta d'Ouro, não há tantas contradições em frente a teoria de Valar. Yavanna e Fruta d'Ouro são associadas com a mudança das estações. Em "O Silmarillion", é dito que Yavanna determinou épocas para o aflorar e o amadurecer de todas as coisas que crescem em Valinor. Tolkien escreveu uma vez que Fruta d'Ouro representa as mudanças sazonais reais nas terras dos rios em que ela reside. (Letters, 272) Esta explicação é consistente com a associação de Fruta d'Ouro com a chuva, e seu dia de limpeza do outono. Uma contradição principal, entretanto, é a caracterização de Tom de Fruta d'Ouro como a Filha da Mulher do Rio. Yavanna pode reivindicar apenas Ilúvatar como um "pai, " se tal relação de familiar está implícita por Filha da Mulher do Rio. Em The Tolkien Companion, J.E.A. Tyler compara "a mulher do rio" como um termo poético para o rio Voltavime. O vínculo de Fruta d'Ouro com a mulher do Rio se origina em "As Aventuras de Tom Bombadil" e então ela provavelmente não foi contemplada originalmente dentro do contexto da mitologia a qual "O Senhor dos Anéis" pertence. De fato, esta origem independente fornece a única explicação lógica de Fruta d'Ouro provavelmente: já tendo existido como um personagem quando Tolkien estava escrevendo "O Senhor dos Anéis", ela simplesmente achou o seu caminho na linha da história seguindo os passos de Tom Bombadil.
Assim enquanto existe esta conexão "sazonal" entre Yavanna e Fruta d'Ouro, os papéis delas necessariamente não são os mesmos. Embora Yavanna determinasse as estações de crescimento em Valinor, o papel de Yavanna em "O Silmarillion" é mais expansivo que isso. A determinação dela das estações pareceria estar ligada a seu papel como Provedora de Frutos e amante de todas as coisas que crescem. (Valaquenta) Tolkien escreveu de Fruta d'Ouro: "Nós estamos... nas reais terras dos rios no outono. Fruta d'Ouro representa as verdadeiras mudanças sazonais em tais terras". (Letters, 272) Assim, Tolkien descreve um papel aparentemente diferente e mais limitado para Fruta d'Ouro do que ele faz para Yavanna.
Yavanna é caracterizada pelo menos em "O Silmarillion" proeminentemente como é Aulë. Por outro lado, Fruta d'Ouro é totalmente ignorada na história exceto durante a permanência de Frodo na casa dela e de Tom. Diferente disso, Bombadil recebe toda a publicidade. Ninguém no Conselho de Elrond sequer sugere chamar Fruta d'Ouro para dar assistência. Desta maneira, o tratamento de Tolkien de Fruta d'Ouro não é consistente com o tratamento dele de Yavanna. Embora Tolkien tivesse relativamente pouco para dizer sobre Bombadil, seus poucos comentários estranhos são reveladores. Do personagem, Tolkien uma vez escreveu:
"...ele é então uma alegoria ou um exemplar, uma personificação particular de pura (real) ciência natural: o espírito que deseja conhecimento de outras coisas, suas histórias e natureza, porque eles são outros, e completamente independente da mente investigativa, um espírito apreciador com a mente racional, e completamente desinteressado com fazer qualquer coisa material com o seu conhecimento: zoologia e botânica e não pecuária ou agricultura..." (Letters, 192).
Junto com as próprias palavras de Tolkien, um olhar mais íntimo ao desenvolvimento da escrita dele oferece alguma percepção. Em sua biografia autorizada de Tolkien, Humphrey Carpenter faz a seguinte observação sobre a escrita de Tolkien durante o período no qual Tom Bombadil foi criado: Então foi durante os anos vinte e trinta que a imaginação de Tolkien estava fluindo ao longo de dois cursos distintos que não se encontravam.
Em um lado estavam as histórias compostas para mera diversão, com freqüência especificamente para o entretenimento dos seus filhos. No outro estavam os grandes temas, as vezes Arturianos ou Célticos, mas normalmente associado com as próprias lendas dele. (Carpenter, 192). Às vezes, parece, que estes dois cursos convergiram, até mesmo que apenas ligeiramente. Todavia, devido as diferentes motivações por trás destes dois cursos, deve-se ter cuidado ao tentar interligá-los. O que quer que o papel final de Bombadil possa ter se tornado, eu acho provável que o intento original de Tolkien era inseri-lo mais ou menos inalterado como o personagem que ele criou em "As Aventuras de Tom Bombadil". Como Tolkien escreveu: "Em um fato histórico eu o coloquei porque eu já tinha 'inventado' Tom de forma independente, e quis uma aventura no caminho da floresta. Mas o mantive como ele era, porque ele representa certas coisas do contrário omitidas. (Letters, 192)".
As notas e correspondência de Tolkien indicam que ele começou "O Senhor dos Anéis" sem enredo claro ou desenvolvimento do personagem em mente. (Para uma detalhada consideração da evolução do manuscrito de Tolkien, veja os vários volumes de História de "O Senhor dos Anéis" de Christopher Tolkien .) O personagem de Frodo começou como o filho de Bilbo, Bingo que Tolkien mudou eventualmente para Frodo. Tom Bombadil foi adicionado durante as primeiras fases do manuscrito, quando não havia nenhum enredo global claro ou propósito além de escrever uma seqüência para O Hobbit. (Veja Carpenter, 208-213) Tolkien criou o personagem Aragorn sem saber quem era ele ou o que o papel dele alcançaria. (Carpenter, 211) É da mesma maneira que provavelmente que ele não teve nenhum conceito global ou propósito para Bombadil dentro da trilogia. Tolkien eventualmente desenvolveu um papel específico e um contexto para Aragon.
Porém, não há nenhuma indicação de que Tolkien voltou atrás e desenvolveu ou mudou o personagem de Bombadil para um grau significante. Pelo contrário, Tolkien " o manteve, como ele era ". (Letters, 216) Embora muito do Livro I tenha sido extensivamente reescrito enquanto o manuscrito de Tolkien evoluía, o personagem de Bombadil permaneceu virtualmente como ele foi primeiramente escrito. (Veja The Treason of Isengard, capítulos II, VI e VII) De fato, em esboços anteriores do manuscrito, Tolkien flertou com a idéia de lançar o Fazendeiro Magote não como um hobbit, mas como alguém similar a Tom Bombadil. (The Return Of The Shadow, 117) Se Tolkien tivesse tal noção naquela ocasião, isso faz com que a possibilidade de que ele também tenha considerado Bombadil como um Maia ou Vala insustentável, uma vez que o Fazendeiro Magote também teria que ter sido de uma ordem semelhante. Embora Tolkien tenha mudado de idéia sobre Magote, não há nenhuma evidência dos manuscritos de que ele tenha alguma vez revisada a natureza fundamental de Bombadil. Há evidência de que Tolkien estava inseguro com relação ao papel que Bombadil representaria no enredo global, e que anteriormente ele flertou com a idéia de Bombadil representar um papel maior. Em um esboço anterior de "O Conselho de Elrond " (Livro II, capítulo 2), Gandalf tem o seguinte a dizer sobre Bombadil: " Mas eu imagino de alguma maneira que nós devemos todos necessitar da ajuda dele no fim--e que ele pode ter que se interessar por coisas fora do seu próprio país ". (The Treason of Isengard, 158 n. 19).
Uma vez que Bombadil já era um personagem estabelecido quando ele encontrou seu caminho em "O Senhor dos Anéis", é menos provável que Tolkien tenha achado uma necessidade para consertar alguma coisa a seu respeito. Em lugar disso, o que parece é que Bombadil foi inserido como uma combinação de enigma com um lado aventureiro e que, tendo cumprido esse papel, simplesmente não havia muito mais a dizer sobre o assunto. Se Tolkien tivesse começado "O Senhor dos Anéis" com a sua forma final mais clara em mente, talvez ele teria pré-julgado Bombadil completamente, ou talvez escolhido outro assunto para o lado de aventura.
O tom global dos primeiros capítulos de "O Senhor dos Anéis" é semelhante àquele de O Hobbit. A história é centrada firmemente ao redor de hobbits e o Condado no princípio, e de fato, a história iniciou originalmente como outra aventura de "lá e de volta" na tendência de O Hobbit. Tolkien escreveu os últimos capítulos intencionalmente em um tom mais sombrio, ao reconhecer: "O primeiro volume é verdadeiramente muito diferente do resto". (Carpenter, 217) Com esse contexto em mente, não é surpreendente que personagens iluminados como o Fazendeiro Magote e Tom Bombadil são no princípio mais comuns que ao longo do restante da história.
Eu cheguei à conclusão que a resposta mais provável é que Bombadil foi criado como um personagem separado, não originalmente planejado para ser qualquer coisa diferente do personagem apresentado em "As Aventuras de Tom Bombadil " em pessoa, entretanto ele veio cumprir um propósito específico. E quem é esse Bombadil? Um enigma de espécies, mas também algo representando os valores de Tolkien. Até certo ponto, penso eu que as próprias preferências de Tolkien são expressas por Bombadil: Botânica e Zoologia (apreciação das coisas que crescem), natureza em sua forma primitiva. Se não fosse por estes sentimentos da parte de Tolkien, é menos provável que seres como Bombadil, o Velho Salgueiro Homem, Fangorn e o Ents teriam sido retratados tão prominentemente onde caso contrário eles estariam longe dos elementos essenciais do enredo.
Até que ele aparecesse em "O Senhor dos Anéis", o personagem pode ter sido aumentado e harmonizado enormemente: espírito da desaparecida zona rural de Oxford e Berkshire (1937); personificação de pura ciência natural, um espírito apreciador com a mente natural (1954). Embora Bombadil tenha começado como um divertido conto de crianças, Tolkien mais tarde criticou a linha da história proposta de um filme que ele achou "rebaixar o tom para o de um conto de fadas mais infantil" (Letters, 272).
Bombadil serve um propósito alegórico, mas ele não existe somente como uma alegoria. Exatamente o que ou quem ele é, entretanto, talvez o próprio Tolkien plano não soubesse. Esboços anteriores do manuscrito de Tolkien recentemente publicados pelo filho dele sugerem que um papel maior possa ter sido originalmente planejado para Bombadil. Eu penso que Tolkien resumiu bem a essência deste personagem na passagem seguinte: Tom Bombadil não é uma pessoa importante--para a narrativa. Eu suponho que ele tem alguma importância como uma "observação". Eu quero dizer, eu realmente não escrevo assim: ele é apenas uma invenção... e ele representa algo que eu considero importante, entretanto eu não estaria preparado para analisar esse sentimento precisamente. Porém, eu não o teria deixado, se ele não tivesse algum tipo de função (Letters, 178).
Parece aparente que Tolkien planejou Bombadil para ser "real" e não apenas algo em teoria. Conseqüentemente, Bombadil é familiarizado na história, interage com hobbits e elfos, e usa uma pena em seu chapéu. Ele desperta o interesse de Gandalf o bastante para garantir uma visita especial ao término da história. Então exatamente o que é que Bombadil representa além do enigma ou alegoria nós não sabemos: Tolkien deixou essa questão em aberto (intencionalmente).
De certo modo, os poderes de Bombadil e suas limitações aparentes são comparáveis ao esquema da natureza onde são distribuídos vários papéis e funções. Há forças de natureza que são extremamente poderosas e infinitas, enquanto ao mesmo tempo impotentes contra outras determinadas forças, ou as intervenções do homem. E se, por exemplo, a humanidade fosse destruir a terra completamente, então as florestas e mares, etc., deixariam de existir exceto na sua forma elementar. Bombadil pode ter poder absoluto dentro do papel que lhe coube, mas é um papel limitado que não está inalterado por outras forças, da mesma maneira que no mundo natural. Não estaria em um campo muito distante sugerir que a consternação de Tolkien sobre as invasões humanas na zona rural inglesa é evidente aqui.
A diminuta porção terrestre de Bombadil é semelhante à visão de Tolkien das reduzidas zonas rurais e florestas da Inglaterra; e em efeito, o seu medo de uma certa mortalidade natural acima dos quais das florestas afetadas e vales, pois indiferentes como os humanos têm passado as suas vidas cotidianas, não têm nenhum controle sobre isso. Enquanto poderia ser tentador teorizar a respeito das possíveis implicações literárias mais profundas sobre Bombadil, devido à modesta origem de história para crianças, é mais provável que estaríamos lendo coisas no personagem que nunca foram contempladas pelo autor. Nós sabemos a origem. Mais tarde construindo esse personagem, Tolkien atribuiu certas características a ele com o passar do tempo--então realmente nós temos algo que é uma evolução da criação de Tolkien, não algo que nós podemos ver como tendo sido obtido emprestado de alguma fonte literária específica. Eu penso que a explicação que logicamente se ajusta melhor é a fornecida pelo próprio Tolkien: ele é apenas uma invenção. É a pessoa que melhor responde por Fruta d'Ouro e Tom, enquanto discutindo as aparentes contradições de um espírito da natureza que envolve ele mesmo, para uma extensão limitada, em negócios humanos (o espírito que deseja conhecimento de outras coisas). É uma resposta insatisfatória de algumas formas, porque não revela completamente o que Tolkien tinha em mente para Bombadil, a extensão dos poderes dele, ou qual é exatamente é o papel dele no esquema das coisas.
Eu suspeito que muitos leitores querem algo mais concreto, que eles não estão à vontade com a idéia de um personagem tão amorfo quanto é sugerido nesta composição, ou o descontentamento de um personagem na saga do contrário historicamente notada de Tolkien que é projetado como um enigma ou uma alegoria. Ao mesmo tempo em que Tolkien era um mestre em criar mitologias e idiomas detalhados e complexos, ele também era um poeta. Isto provavelmente ajuda se Bombadil não for visto como uma criação mitológica, mas como a de um poeta (que é de fato como o personagem primeiro veio a vida). Deste aspecto, é mais fácil de ver o humor e as imagens que Tolkien tenta criar. É quando nós levamos as coisas literalmente que nós entramos em dificuldade tentando analisar Bombadil. Em uma terra fictícia onde águias falam, os homens podem se transformar em ursos, e árvores tentam comer hobbits, nós apenas temos que aceitar as coisas pelo que elas são, e aceitar que nós com freqüência não saberemos o que elas são.
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