Milena, de Margarete Bubber-Neumman
Pois é, tenho umas lacunas sérias em meus conhecimentos literários. Afora clássicos não lidos e autores jamais folheados, e sem contar que não sei ler contos e tenho uma relação difícil com a poesia, afora isso tudo, nunca li uma biografia.
Nunca tive o menor interesse, ainda que veja auto-biografias com melhores olhos. A bem da verdade, sou capaz mesmo de dizer que somente auto-biografias, mesmo com todas suas lacunas e fatos mal-organizados, mesmo com todo seu viés altamente subjetivo, somente elas dão conta da vida das pessoas. Óbvio que isso é uma balela de quem nunca leu uma boa biografia (conforme eu disse, eu não li nem uma ruim, quanto mais uma boa), mas é uma impressão forte que tenho e que reafirmo com a convicção dos ignorantes.
Mas sei de uma biografia ótima, mesmo sem tê-la lido!! Eis o nome (guarde-o com carinho!): Milena, da Margarete Buber-Neumann [oxi... não consegui destacar nem o título, nem o autor... aquela barrinha de apetrechos sumiu!!]
Ainda não pude ler o livro, mas é sobre uma mulher chamada Milena, conforme o título da biografia astutamente sugere, que conviveu durante alguns anos com a autora, Margarete, em um campo de concentração (soviético, se não me engano). Quem cita constantemente este livro é o Todorov, em Em face do extremo (outro livro maravilhoso, fica aqui a dica), e ele fala do livro e de suas duas personagens principais com tanta emoção que é impossível permanecer indiferente à citação.
Ao que tudo indica (pois eu não o li), o livro trata tanto da amizade entre essas duas mulheres notáveis quanto das atrocidades de um campo de concentração. Assim, ele seria mais um retrato de um período da vida dessas duas pessoas do que uma biografia completa, né? Ah, sim: a tal Milena do título é a mesma Milena do Kafka, por quem ele se apaixona e escreve cartas.
Creio que só achem este livro em sebos.
(hoje, 7/set/08, achei estas opções na estante virtual:
http://www.estantevirtual.com.br/mo...estante=(todas+estantes)&alvo=autor+ou+titulo )
Permito-me ainda uma digressão, para falar do livro do Todorov, que, repito, é sensacional. Ele se propõe a abordar moralmente os campos de concentração, mas não como experiências ímpares e monstruosas, exceção em nossa história; antes, sua hipótese é que um campo de concentração mantém as mesmas relações das vidas cotidianas, com a diferença de que nos campos estas relações são levadas ao extremo, onde decisões podem significar freqüentemente a vida ou a morte de alguém. Também lá há "maldade" e "bondade": os homens e mulheres para lá mandados não viram monstros, devido às condições horrendas. Não, o autor sustenta que nem mesmo nestes lugares é possível negar ao homem a capacidade de escolha: a possibilidade de ajudar ao próximo, ou excluir um prisioneiro, ou matá-lo. E, enquanto caminha deliciosamente por questões de virtude, moral, e enquanto se permite julgamentos -coisa que acredito ser fundamental em assuntos como esse-, e enquanto nos envolve com sua escrita clara e precisa, ele passeia também por relatos e livros de vários sobreviventes e depoimentos e livros dos nazistas (os soviéticos, vencedores na Segunda Guerra, não tiveram que responder por seus crimes).
[o povo de São Paulo consegue achar o livro bem baratinho, olhem só:
http://www.estantevirtual.com.br/mo...w1titulo 1v1 +em +face +do +extremo&refinar=0 ]
C'est tout!!