Hellchan, é interessante essa forma de pensar, e de fato ela nos leva a várias reflexões, porém, içando o trabalho de Tolkien a uma mitologia, poderia dizer, que assim como muitos aspectos das obras, a criação do universo/espaço, se caracteriza num mito.
E dizer a palavra Mythos é simples, mas não defini-la de forma plausível, principalmente quando contraposta com o lógos (princípio lógico).
Para tanto poderia dizer, simplificadamente que: "o mito é o relato de uma história verdadeira, ocorrida nos tempos dos princípios, in illo tempore, quando, com a interferência de entes sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o cosmos, ou tão-somente um fragmento. Mito é, pois, a narrativa de uma criação conta-nos de que modo algo, que não era, começou a ser."
E não somente "físico". O poder e o brio de um mito vai além do possível, torna-se parte de uma quase verdade que inspira e incita vibrações, das quais o ser humano depende.
E tratando-se da mitologia, ainda mais além: a mitologia não é uma mentira; é poesia, é algo metafórico. Já se disse, e bem, que a mitologia é a penúltima verdade - penúltima por que a última não pode ser transposta em palavras.
Está além das palavras, além das imagens, além da borda limitadora da Roda do Devir dos budistas. A mitologia lança a mente para além dessa borda, para aquilo que pode ser conhecido, mas não contado. Por isso é a penúltima verdade.
Eis a beleza de uma obra mitológica, seja na beleza das palavras, a criação de não-verdade que ao momento da leitura nos elevam a outros patamares, ou seja apenas pela admiração. Utilizei-me de citações de Campbell e Junito Brandão para ilustrar minhas citações e defini-las de forma mais simplificadas.
Enfim, seria errôneo tratar da idéia do primórdio para Tolkien como um erro físico, sendo que creio não ter sido essa “lógica” que ele buscou.