Capítulo Três
De Ainaros e Rána Celebrimloth: segundo o relato dos Bardos
O Sol tocava timidamente os picos das Montanhas de Eryn Lasgalen, era o prenúncio de mais um dia quente. Logo abaixo, a floresta ainda adormecia sob uma densa neblina. Elring e Orodris já estavam no quarto dia de viagem quando atingiram suas bordas mais setentrionais. Devido as inúmeras queixas do anão, os bardos pararam para uma rápida refeição. Infelizmente, o que restava das provisões era um punhado de ervas secas de tempero verde, três nabos, duas batatas, um pedaço de carne salgada que Orodris guardou e esqueceu e um pão de viagem élfico (feito pelo menestrel) mais duro do que o couro de um troll (palavras de Orodris); mas que foi consumido com tenacidade por Elring - sob o olhar zombeteiro de seu parceiro - para provar que bastava consumi-lo acompanhado de algumas canecas de água do rio para acentuar o seu sabor...
Os gracejos de Orodris só terminaram na hora em que tomou a "sopa de Guerreiro" que havia feito com as sobras das provisões:
- Ëarenhíril... tinhas razão! Essa sopa foi feita para guerreiros fortes! Mal retomamos nossa viagem, uma hora atrás, e tu não paraste de tossir! - ironizou o menestrel, mantendo uma expressão de "preocupação" no rosto.
Outro ataque de tosses foi a única resposta que obteve de Orodris.
- ... antigamente quando eu cavalga por Ard-Galen podia sentir os odores do Mar... - divagou Elring, após erguer a cabeça e olha na direção das Montanhas Sombrias e inspirar profundamente o ar.
- Estamos muito longe, elfo. Além daquelas montanhas há toda a região de Eriador e as Montanhas Azuis entre nós e o Mar.
- Talvez seja a distância. Contudo, desde que fechei meu coração para o Oeste, eu não ouço as vozes dos rios e lagos. Apenas seus murmúrios.
- Sabes do que sinto falta? Das longas conversas que meus irmãos e eu fazíamos ao fim de mais um dia nas escaldantes forjas. Sentávamos nos alpendres das janelas de Gabilgathol para ver o sol esconder-se atrás do Monte Dolmed. Era maravilhoso observar os archotes acenderem-se aos poucos para iluminar os salões e estradas entre as mansões. Tínhamos a impressão de que as estrelas do céu desceram para enfeitar nossas cidades como diamantes cravejados na rocha... - disse Orodris com um breve suspiro.
- É verdade. Ainda tenho na memória todo o esplendor das cidades naugrim. - concordou - ... destesto interromper este momento de poesia anã, mas teremos companhia. Um grupo de anões vem em nossa direção. Cinco ao todo. Mais surpreendente do que flagrá-los utilizando uma rota nada convencional, pelas Terras castanhas a fim de evitar a Floresta, é vê-los todos a cavalo.
- A cavalo?!! Onde?!! - espantou-se Orodris, protegendo os olhos com a mão espalmada.
- Sudoeste. Calculo que seremos vistos a uma légua e meia antes de atingirmos a Velha Estrada da Floresta. Creio que irão para Erebor, pois cavalgam paralelo ao limiar da Floresta e estão com muita pressa.
- Deixe que me vejam! Meu povo costuma ser perigoso quando viaja dessa forma. Alguma coisa muito grave deve ter acontecido para forçá-los a usar cavalos. - o anão acelera os passos e distancia-se do menestrel - Anões a cavalo! Pelos Sete Pais! O que mais verei nesta terra!