Os Orcs
Os Servos do Senhor Negro
Foi nas cavernas mais profundas de Utummo durante as Primeiras Era das estrelas que Melkor cometeu sua maior blasfêmia. Naquele tempo ele capturou muitos dos recém despertados Elfos e os levou para seus calabouços. Com anos de tortura, fome, privação de luz e de calor e com a ajuda de feitiços ele arruinou o trabalho de Ilúvatar e deformou os elfos até se tornarem irreconhecíveis. Deles Melkor criou uma nova raça de escravos, essa raça era tão repugnante quando os elfos eram belos.
Estes eram os orcs, uma multidão de formas distorcidas por dor e ódio. A única alegria destas criaturas estava na dor de outros, e o sangue que fluía de seus corpos era negro e frio. Suas formas ratificas eram horrorosas; corpo curvado como um arco provido de pernas, andando sempre agachados. Seus braços eram longos e fortes como os de um macaco do sul, sua pele era negra como madeira carbonizada. Tinham dentes amarelos que nunca eram limpos, línguas vermelhas e grossas narinas. Suas faces eram largas e planas, seus olhos eram carmesins e estreitos como grelhas de ferro.
Os orcs eram guerreiros ferozes, mas isso porque temiam seu mestre mais que qualquer outro inimigo; ou talvez porque a morte seria melhor do que o tormento da vida de um orc. Eles eram canibais cruéis, freqüentemente rasgavam com as próprias garras companheiros moribundos para lhes devorar, também eram fracos a luz e não lhe suportavam o toque. Eles se multiplicavam depressa, mais depressa que qualquer outra raça de Arda, e apesar de morrerem muitos, tanto em combates quanto em lutas entre seus próprios irmãos, os orcs cresciam em número. Suas habitações eram cavernas sujas e túneis, qualquer lugar escuro e oculto servia como lar a um orc.
Mas mesmo antes dessa perversão de que Morgoth era suspeito, os sábios nos Dias Antigos sempre ensinaram que os orcs não foram feitos por Melkor e, portanto, não eram malignos na sua origem. Eles podiam ter se tornado irredimíveis (pelo menos por elfos e homens), mas eles continuavam dentro da Lei. Isto é, que embora sendo necessário (sendo os dedos da mão de Morgoth) serem enfrentados com a maior severidade, eles não deveriam ser tratados com os seus próprios termos de crueldade e traição. Cativos, não deviam ser atormentados, nem mesmo para descobrir informações para a defesa das casas de elfos e homens. Se quaisquer orcs se rendessem e clamassem por misericórdia, ela deveria concedida, a qualquer preço. Este era o ensinamento dos sábios, embora no horror da guerra nem sempre fosse considerado.
É verdade, claro, que Morgoth mantinha os orcs em horrenda escravidão; pois em sua corrupção, eles haviam perdido quase toda a possibilidade de resistir à dominação de sua vontade. De fato, tão grande era a sua pressão sobre eles que, antes de Angband cair, se direcionasse seu pensamento na direção deles, eles ficariam conscientes de seu "olho" onde quer que estejam; e quando Morgoth finalmente foi removido de Arda, os orcs que sobreviveram no oeste se dispersaram, sem liderança e quase sem sagacidade, e estiveram por um longo tempo sem controle ou propósito.
Esta servidão à uma vontade central que reduziu os orcs a uma vida quase como a de formigas, foi vista mais claramente na Segunda e Terceira Eras sob a tirania de Sauron, tenente-comandante de Morgoth. Sauron realmente alcançou maior controle sobre seus orcs do que Morgoth jamais havia conseguido. Ele estava, claro, operando em uma escala menor, e ele não tinha inimigos tão grandes e tão ferozes como os noldor no auge de seu poder nos Dias Antigos. Mas ele também herdou destes dias dificuldades, tais como a diversidade de orcs em linguagem e linhagem, e as hostilidades entre eles; enquanto em muitos lugares da Terra-média, após a queda das Thangorodrim e durante a ocultação de Sauron, os orcs, recuperando-se de sua impotência, ergueram pequenos reinos por si próprios e tornaram-se acostumados à independência.
Mas Sauron conseguiu em tempo unir a todos em ódio irracional a elfos e aos homens que se associaram a eles; enquanto que os orcs de seus próprios exércitos treinados estavam tão completamente sob sua vontade que sacrificariam a si mesmos, sem hesitação, ao seu comando. Mas havia uma falha no seu controle, inevitável. No reino do ódio e do medo, a coisa mais forte é o ódio. Todos os seus orcs odiavam-se uns aos outros, e precisavam ser mantidos sempre em guerra contra algum "inimigo" para evitar que se matassem entre si. E ele mostrou-se também mais habilidoso do que seu mestre na corrupção dos homens que estavam além do alcance dos sábios, e em reduzi-los à vassalagem, na qual eles marchariam com os orcs, e rivalizariam com eles em crueldade e destruição.
Ao término da primeira Era das Estrelas os Valar e Maiar travaram a Guerra dos Poderes. Neste conflito os Valar entraram em Utummo, que foi arruinada, as legiões de Melkor destruídas, e ele próprio aprisionado por várias Eras.
Nas Eras que se seguiram ocorreu uma grande migração de elfos, os orcs continuavam habitando os lugares escuros da Terra-média, mas a história dos elfos não falam mais deles até a Quarta Era das Estrelas. Antes disso o crescimento do poder dos orcs foi secreto. Quando saíram de Angband trajavam armaduras de aço enegrecido, elmos de aros férreos e couro preto, cimitarras, punhais envenenados, setas e espadas. Com lobos e lobisomens como aliados eles ousaram na quarta Era das Estrelas entrar no reino de Beleriand, onde os elfos verdes não os reconheceram de imediato, mas não duvidaram que tratar-se de orcs. Como os elfos até aquele momento não usavam armas de aço, pediram ajuda aos Anões de Belegost na forma de espadas e armaduras de aço temperado. Então eles mataram muitos orcs e os expulsaram.
Enquanto isso os orcs continuaram a viver e se reproduzir, e prosseguiram no seu trabalho de destruição e pilhagem após Morgoth ter sido destronado. Eles também possuíam outras características dos Encarnados. Eles tinham linguagens próprias, e falavam entre si várias línguas de acordo com as diferenças de linhagem que eram discerníveis entre eles. Eles precisavam de comida e bebida, e descanso, embora muitos fossem treinados tão duros como os anões para suportar as adversidades.
Eles podiam ser mortos, e eram alvos de doenças; mas à parte desses males, eles morriam e não eram imortais, mesmo de acordo com o modo dos Quendi; de fato, eles pareciam ter por natureza vidas curtas comparadas com a longevidade dos homens de raças superiores, tais como os Edain. Quando Melkor voltou a Beleriand na última Era das Estrelas ele levou suas legiões para fora das cavernas de Angband, legião após legião, em guerra aberta contra os povos livres da Terra-média. Esse foi o inicio das guerras de Beleriand. No vale de Gelion eles encontraram os elfos-cinzentos de Thingol e os elfos-verdes de Denethor. Nesta primeira batalha os orcs foram dizimados, e fugiram gritando para as Montanhas Azuis, onde não acharam nenhum refúgio mas apenas os machados dos Anões... nenhum orc de todo aquele exército escapou.
Melkor sabendo desta derrota enviou os três exércitos principais. O segundo exército infestou as terras ao oeste de Beleriand e sitiou Falas, mas as cidades de Falathrin não caíram. Assim o segundo exército de orcs se reuniu ao terceiro exército ao norte de Marched a Mithrim onde pensaram poder atrair e esmagar os recém chegados Elfos Noldor. Mas os orcs estavam mal preparados, em força corporal os Noldor estavam além dos sonhos mais distantes dos orcs
Apenas a luz dos olhos dos Noldor queimava a pele negra dos orcs, e a luta feroz das espadas se transformou em um combate furioso de dor e medo. Assim a segunda batalha de Beleriand foi travada entre os orcs e os Noldor de Fëanor, essa batalha ficou conhecida como "Batalha sob as Estrelas", ou "Dagor-nuin-Giliath". Os exércitos de Melkor foram dizimados... mas Fëanor, o Rei dos Noldor, também foi morto. O segundo grande exército dos Noldor conduzido por Fingolfin saiu do Oeste, neste período o sol e a lua foram criados pêlos Valar. A luz do dia chegou como um grito para todos os servos de Melkor que fugiram em desespero. Assim começou a primeira Era do Sol, e durante algum tempo os orcs foram contidos nas suas cavernas pela nova luz que surgiu. Mas nessa escuridão os orcs procriavam rapidamente, e logo se formou um novo exército, maior que os três últimos reunidos e fortemente armados, esperando pegar os Noldor desprevenidos. Isso foi o inicio da chamada "Batalha Gloriosa", onde novamente as legiões de orcs foram dizimadas pêlos Noldor, e também foi o inicio do grande cerco dos elfos a Angband, que manteve os orcs aprisionados por muitos anos.
Porém os elfos erraram em apenas cercar, e não destruir a fortaleza de Melkor. Dentro das profundas e infindáveis cavernas de Angband os orcs aumentavam em número e força, novas criaturas monstruosas foram criadas, os dragões, os lobisomens, e os Balrogs que foram chamados de demônios do terror. Quando se julgou forte o bastante Melkor quebrou o cerco a Angband e os altos-elfos foram derrotados. Desta batalha poderosa é contado o reinado de terror dos quais os orcs se lembram como "os grandes anos". Naquele momento, caiu Tol Sirion e os reinos de Hitlum foram infestados de orcs. Mithrin, Dor-lómin, Dortonion tiveram o mesmo destino.
Uma grande união de forças foi planejada por Maedhros, filho de Fëanor. Homens, Elfos, Anões, todos os povos livre deveriam se reunir a por fim ao domínio de Melkor na Terra-média. No dia combinado, na manhã do solstício de verão, as trompas dos Eldar saudaram o nascer do Sol e á leste levantou-se a bandeira dos filhos de Fëanor e a oeste a bandeira de Fingon, rei supremo dos Noldor. Então Fingon olhou das muralhas de Eithel Sirion e o seu exército estava disposto nos vales e nas florestas a leste de Ered Wethrin, bem oculto dos olhos do inimigo, mas que sabia ser muito grande, pois nele estavam reunidos todos os Noldor de Hithlum, juntamente com elfos das Falas e a companhia de Gwindor, de Nargothrond, e ele tinha grande força de homens: à direita estava a hoste de Dor-lómin e toda a valentia de Húrin e Huor, seu irmão, e a eles se juntara Haldir, de Brethil, com muitos homens das florestas.
Depois Fingon olhou na direção das Thangorodrim, e havia uma nuvem escura à volta dela e um fumo negro subia; e ele soube que a ira de Morgoth fora desperta e o seu desafio aceito. Uma sombra de dúvida desceu no coração de Fingon que olhou para leste para saber se conseguia ver, com vista élfica, a poeira da Anfauglith levantar-se sob a passagem das hostes de Maedhros. Ignorava que Maedhros fora atrasado na sua partida pela astúcia de Uldor, o Amaldiçoado, que o enganara com falsas advertências de ataque de Angband.
Mas ergueu-se um grito que passou com o vento sul de vale em vale, e elfos e homens levantaram as vozes de espanto e alegria, pois, sem ter sido chamado, inesperado, Turgon abrira o cerco de Gondolin e vinha com um exército de dez mil, com reluzentes cotas de malha, espadas compridas e uma floresta de lanças. Então, quando Fingon ouviu ao longe a grande trompa de Turgon, seu irmão, a sombra passou, o seu coração animou-se e ele gritou, alto: "Utúlie'n aurë'! Aiya Eldalië' ar Atanatári, utúlie'n aurë'!. (O dia chegou! Olhai, povo dos Eldar e pais dos Homens, o dia chegou!) E todos aqueles que ouviram a sua grande voz ecoar nos montes gritaram, em resposta: "Auta i lóme'!. "A noite está passando!"
Então Morgoth que sabia muito do que era feito e projetado pelos seus inimigos, escolheu essa hora e, confiando nos seus traiçoeiros servidores para que contivessem Maedhros e impedissem a reunião dos seus adversários, lançou uma força aparentemente grande (no entanto, parte apenas de tudo quanto mandara preparar) na direção de Hithlum; e iam vestidos de tom pardo e não mostravam aço nu. E assim já estavam muito embrenhados nas areias da Anfauglith quando se teve conhecimento da sua aproximação.
O coração dos Noldor incendiou-se e os seus capitães quiseram atacar os inimigos na planície, mas Húrin discordou e pediu-lhes que não esquecessem a astúcia de Morgoth, cuja força era sempre maior do que parecia e cujo propósito era diferente do revelado. E embora o sinal da aproximação de Maedhros não se visse e o exército se tomasse impaciente, Húrin aconselhou que esperassem e deixassem os Orcs desbaratar-se num ataque contra os montes. Mas o capitão de Morgoth, a oeste, recebera ordens para atrair rapidamente Fingon dos seus montes, fosse por que meios fosse. Por isso, continuou a marchar até a frente da sua batalha ser detida diante da corrente do Sirion, das muralhas da fortaleza de Eithel Sirion até ao influxo do Rivil, no pântano de Serech; e dos postos avançados de Fingon podiam ver os olhos dos seus inimigos.
Mas não houve resposta ao seu desafio e as provocações dos Orcs vacilaram quando eles olharam para as paredes silenciosas e para a ameaça oculta dos montes. Então, o capitão de Morgoth mandou cavaleiros com símbolos de parlamentação, cavaleiros esses que passaram pelas fortificações exteriores da Barad Eithel. Levavam com eles Gelmir, filho de Guilin, esse senhor de Nargothrond que tinham aprisionado na Bragollach e que haviam cegado. Então os arautos de Angband mostraram-no à frente e gritaram: "Temos muitos mais como ele, mas deveis apressar-vos se quereis encontrá-los, pois, quando regressarmos com eles, lidaremos assim. E deceparam as mãos e os pés de Gelmir e a cabeça, por fim, à vista dos Elfos.
Por pouca sorte nesse lugar das fortificações exteriores encontrava-se Gwindor, de Nargothrond, irmão de Gelmir. A sua ira transformou-se em loucura e ele saltou a cavalo e muitos cavaleiros com ele; perseguiram os arautos, abateram-nos e infiltraram-se profundamente na hoste principal. Vendo isso, todo o exército dos Noldor como se que incendiou, Fingon pôs o seu elmo branco e tocou as suas trompas e toda a hoste de Hithlum saltou dos montes num ataque súbito. A luz do desembainhar das espadas dos Noldor foi como um fogo num canavial; e tão violento e rápido foi o seu ataque que por pouco ruíam os desígnios de Morgoth.
Antes que pudesse ser reforçado o exército que ele mandara para oeste foi vencido e as bandeiras de Fingon passaram por Anfauglith e ergueram-se diante das muralhas de Angband. Sempre à frente das forças estiveram Gwindor e os elfos de Nargothrond, e nem chegados aí puderam ser contidos; irromperam pela porta e chacinaram os guardas na própria escada de Angband, e Morgoth tremeu no seu fundo trono ouvindo-os bater às suas portas. Mas foram encurralados e chacinados todos, com exceção de Gwindor a quem apanharam vivo, porque Fingon não pode ir em seu auxílio. Por muitas portas secretas das Thangorodrim fizera Morgoth sair sua hoste principal que mantivera de reserva, e Fingon foi rechaçado das muralhas com grandes baixas.
Então, na planície de Anfauglith, no quarto dia de guerra, começou a Nirnaeth Arnoediad, A Batalha das Lágrimas Incontáveis, pois não há canto ou história que possa conter todo o seu sofrimento. A hoste de Fingon recuou pelas areias, e Haldir, senhor dos Haladin foi morto na retaguarda; com ele caíram muitos dos homens de Brethil que nunca mais regressaram às suas florestas. Mas no quinto dia quando a noite caía e ainda se encontravam longe de Ered Wethrin, os Orcs cercaram o exército de Hithlum e combateram até ser dia, a pressionar cada vez mais. De manhã nasceu a esperança ao ouvirem-se as trompas de Turgon que marchava com a hoste principal de Gondolin, pois tinham estado parados a sul guardando o desfiladeiro de Sirion, e Turgon dissuadira muita da sua gente de participar no impetuoso ataque. Agora acorria apressado em socorro do irmão; e os Gondolindrim eram fortes, estavam revestidos de cotas de malha e as suas fileiras brilhavam como um rio de aço ao sol.
A falange da guarda do rei abriu caminho através das fileiras dos Orcs, e Turgon avançou para o lado do seu irmão; e diz-se que o encontro de Turgon com Húrin, que estava parado ao lado de Fingon, foi alegre no meio da batalha. Então a esperança renovou-se nos corações dos Elfos; e nesse preciso momento, na terceira hora da manhã, as trompas de Maedhros ouviram-se finalmente vindas de leste, e as bandeiras dos filhos de Fëanor caíram sobre o inimigo pela retaguarda. Disseram alguns que mesmo assim os Eldar podiam ter vencido, se todas as suas hostes tivessem sido fiéis, pois os Orcs hesitaram e o seu ataque foi contido e alguns começavam já a fugir.
Mas no momento em que a vanguarda de Maedhros caiu sobre os Orcs Morgoth mandou sair a sua última força, e Angband ficou vazia. Vieram lobos e montadores de lobos, e balrogs e dragões, e Glaurung, pai dos dragões. A força e o terror do grande verme eram então deveras grandes, e elfos e homens enfraqueciam diante dele; e ele introduziu-se entre as hostes de Maedhros e Fingon separando-as.
Contudo, nem com lobo, ou balrog ou dragão teria Morgoth alcançado o seu intento se não fora a traição dos Homens. Nessa hora, os conluios de Ulfang foram revelados. Muitos dos Easterlings fugiram com o coração cheio de mentiras e medo; mas os filhos de Ulfang bandearam-se subitamente para Morgoth, lançaram-se sobre a retaguarda dos filhos de Fëanor e, na confusão que geraram, aproximaram-se da bandeira de Maedhros.
Não receberam a recompensa que Morgoth lhes prometera, pois Maglor matou Uldor, o Amaldiçoado, o chefe da traição, e os filhos de Bór mataram Ulfast e Ulwarth antes de eles próprios serem assassinados. Mas chegou nova força de homens pérfidos que Uldor convocara e mantivera ocultos nos montes orientais, e a hoste de Maedhros foi atacada por três lados, desarticulou-se, foi desbaratada e fugiu em todas as direções. No entanto o destino salvou os filhos de Fëanor, e, embora todos eles ficassem feridos nenhum foi morto, pois juntaram-se todos e, reunindo à sua volta uns restos dos Noldor e dos Naugrim abriram caminho para fora da batalha e escaparam para longe, na direção do monte Dolmed, a oriente.
A última de todas as forças a permanecer firme foi a dos anões de Belegost, que, por isso, ganhou fama pois os Naugrim suportavam o fogo mais valentemente do que os Elfos ou os Homens e, ademais, era seu costume usar em combate grandes máscaras, horríveis à vista; e isso dava-lhes vantagem contra os dragões. Se não fossem eles Glaurung e a sua prole teriam destruído tudo quanto restava dos Noldor.
Mas os Naugrim fizeram um círculo à volta dele quando os assaltou, e nem a sua poderosa armadura resistiu totalmente aos golpes dos seus grandes machados; e quando na sua ira Glaurung se voltou e derrubou Azaghâl senhor de Belegost, e rastejou sobre ele, com o último alento Azaghâl cravou-lhe uma faca na barriga, e de tal modo o feriu que ele fugiu do campo de batalha, e as feras de Angband, apavoradas fugiram atrás dele. Então os anões levantaram o corpo de Azaghâl e levaram-nos com passos lentos, caminharam atrás dele a cantar em voz profunda, como se fora uma pompa fúnebre na sua terra, e não prestaram mais atenção aos seus inimigos, e nenhum ousou detê-los.
Entretanto, na batalha ocidental, Fingon e Turgon foram atacados por uma maré de inimigos três vezes superior a qualquer das forças que lhe restavam. Gothmog, senhor dos Balrogs, supremo capitão de Angband chegara, e encravou uma cunha negra entre as hostes élficas cercando o rei Fingon e afastando Turgon e Húrin na direção do pântano de Serech. Depois voltou-se para Fingon, e foi um feroz reencontro. Por fim Fingon era o único de pé, com a sua guarda morta à sua volta, e lutou com Gothmog até outro balrog vir por trás e lançar uma faixa de fogo em seu redor. Então Gothmog atingiu-o com o seu machado preto e uma chama branca irrompeu do elmo de Fingon, que se abriu. Assim caiu o rei supremo dos Noldor, e bateram-no no pó com as suas maças, e à sua bandeira azul e prateada pisaram-na no charco do seu sangue.
O campo estava perdido, mas Húrin e os que restavam da casa de Hador mantinham-se firmes com Turgon de Gondolin, e as hostes de Morgoth ainda não podiam conquistar o desfiladeiro de Sirion. Mas os irmãos reuniram à sua volta os restos dos homens da casa de Hador e, palmo a palmo, retiraram até chegarem atrás do pântano de Serech, tendo a corrente do Rivil à sua frente. Aí resistiram e não recuaram mais. Então, todas as hostes de Angband se lançaram contra eles; e fizeram uma ponte no rio com os seus mortos e cercaram o que restava de Hithlum como uma maré enchente à volta de uma rocha. Aí quando o Sol se punha no sexto dia e a sombra das montanhas de Ered Wethrin escurecia, Huor caiu, atingido num olho por uma seta envenenada, e todos os valentes homens de Hador foram chacinados à volta dele; e os Orcs cortaram-lhes as cabeças e empilharam-nas como um monte de ouro à luz do poente.
Por fim Húrin encontrava-se sozinho. Então lançou fora o escudo e empunhou um machado com as duas mãos; e canta-se que o machado fumegou no sangue preto do guarda troll de Gothmog até o sangue secar e que, cada vez que o brandia, Húrin gritava: "Aurë entuluva!" (O dia voltará a nascer!). Setenta vezes soltou esse grito, mas por fim apanharam-no vivo, por ordem de Morgoth, pois os Orcs seguravam-no com as mãos, que continuavam a agarrá-lo mesmo depois de ele lhes decepar os braços; e o seu número era sempre renovado, até que, por fim ele caiu sepultado debaixo deles. Então Gothmog amarrou-o e arrastou-o para Angband sob zombarias.
Assim foi perdida a Batalha das Lágrimas Incontáveis. Esta foi a quinta batalha das guerras de Beleriand. Falas caiu ante a fúria dos orcs, assim como fez ambas as cidades de Brithombar e Aglarest. A batalha de Thumbalad foi travada em Nargoroth e causada por disputas entre os Anões e os Noldor. Doriath foi perdida por duas vezes e as terras dos elfos-cinzentos foram arruinadas. Então finalmente, Gondolin, o reino escondido, caiu.
A Vitório de Melkor estava quase completa. Suas legiões de orcs iam onde desejassem em Beleriand. Todos os reinos élficos foram arruinados; nenhuma grande cidade restava intacta, os grandes senhores foram mortos junto com a maioria de seus súditos. Assim são os contos que alegram os negros corações dos orcs. Mas finalmente o terror daquela era se acabou. Os Valar e muitos dos Maiar saíram das terras eternas declarando guerra a Melkor. Nisso Angband foi destruída e todas as montanhas do norte quebradas. Melkor foi lançado no vazio para sempre e os orcs continuaram e ser exterminados ao norte.
Alguns orcs sobreviveram ao leste e sul, abaixo de montanhas sujas e de colinas, e lá eles se multiplicaram. Eventualmente eles vinham ao serviço do principal tenente de Melkor, Sauron, oferecendo seus serviços. Desde então Sauron se tornou o novo mestre dos orcs. Na segunda Era do Sol eles serviram bem a Sauron na guerra da Ultima Aliança, que terminou com a queda de Mordor e os orcs sendo novamente caçados e exterminados.
Ainda na terceira Era do Sol os orcs escondidos em cavernas escuras se mantinham vivos. Masterless, o orc, invadiu e emboscou durante muitos séculos, mas não fez nenhum tipo especial de conquista até mil anos depois daquela era. Então, como uma grande sombra Sauron reapareceu no reino escuro de Dol Guldur, em Mirkwood. Como na segunda era os caminhos escuros de Sauron e dos orcs estavam unidos, e durante mil anos da segunda era o poder dos orcs aumentou, juntamente com o poder do senhor negro. O poder dos orcs cresceu primeiro em Mirkwood, perto de Dol Guldur nas montanhas nubladas. Em 1300 os Nazgûl reapareceram em Mordor, e o reino de Angmar em Eriador se uniu a eles. Depois de seiscentos anos de terror, caiu Angmar, mas o reino de Minas Morgul surgiu em Gondor... e lá novamente os orcs se multiplicaram.
Ainda foi dito que Sauron não agradou completamente os orcs que desejavam aumentar sua força, no entanto são apenas boatos e nenhuma história confirma isso. Mas Sauron por feitiçaria fez uma nova raça de orcs, maiores e mais inteligentes. No ano de 2475 essa nova raça chamada Uruk-hai saiu de Mordor e atacou Osgiliath, a maior cidade de Gondor. Esses Uruk-hai tinham altura semelhante a dos homens, mas uma força muito maior. Os Uruk-hai não tinham medo da luz do sol, e sendo maiores e mais fortes eram também mais corajosos e mais ferozes em combate. Usavam armaduras negras, espadas curvas de lâmina envenenada, elmos longos e negros e escudos com o símbolo de Sauron. Os Uruk-hai freqüentemente eram chefes de orcs e capitães. Pelos séculos que se seguiram os Uruk-hai e os orcs menores cresceram em poder e fizeram alianças que poderiam arruinar todos os reinos dos elfos da Terra-média.
Essas alianças foram feitas com Dunlendings, Wainriders, Easterlinsg e os piratas de Umbar. Os orcs vieram até mesmo até o reino dos Anões. No ano de 1980 o reino de Moria foi tomado por um demônio poderoso, um Balrog. Com ele havia orcs das Montanhas Nubladas que tinham vindo da capital Gundalab em grandes números.
Ainda no norte estava para acontecer uma grande guerra. De 1793 a 1800 eclodiu a Grande Guerra entre Anões e Orcs, um singular e sangrento conflito, varreu as Montanhas Nebulosas por seis longos anos. Com o grito de guerra "Azog", os Anões saquearam todas as fortalezas Orcs que encontraram, dirigindo-se sempre para sul, até atingirem e destruírem Gundabad, o maior bastião dos inimigos. A guerra corria devagar já que a maioria das batalhas ocorria em locais subterrâneos. Algumas tribos de Orcs foram extintas em combates deste gênero.
Finalmente, em um dia ensolarado da negritude do inverno, os Anões atingiram o Vale de Dimrill e marcharam sobre o vale até a porta leste de Moria. Ao se aproximarem, eles observaram o exército Orc de Azog entrincheirados nas montanhas acima, mas os Naugrim avançaram com grande coragem. Eles resistiram as pedras e flechas atiradas sobre eles e, com cuidado, passaram pelo Lago do Espelho. Então, o exército de Thráin pode avistar Khazad-Dûm e iniciaram o ataque com a fúria de uma tormenta. Em inferioridade numérica, eles conduziram a batalha com uma audaciosa ferocidade.
Os Anões não pouparam ninguém; com machados e picaretas, martelos e flails eles ceifaram Orcs como pés de trigo enquanto lançavam-nos pelos portões afora. Horas se passavam e o massacre continuava e, no alto de uma trilha Orc, um jovem Anão chamado Dáin Pé de Ferro decepou a cabeça de Azog com seu machado vermelho. A Batalha de Azanulbizar estava acabada. Aproximadamente metade dos guerreiros Anões havia morrido, mas a Grande Guerra havia terminado e a vingança de Thrór concluída.
Na Guerra do Anel, o último grande conflito da Terceira Era do Sol, as legiões de orcs estavam em todos os lugares. Das montanhas nubladas as sombras de Mirkwood os orcs vieram com bandeiras negras e vermelhas. Uruk-hai destemidos levavam o emblema da mão branca de Saruman saindo de Isengard. Sob o comando de Sauron estavam incontáveis orcs em Mordor, orcs de todos as raças eram marcados com o símbolo do olho vermelho. Todos se preparavam para a guerra, foram travadas numerosas lutas e feitas muitas emboscadas, grandes batalhas como a de Hornburg e a de Pelennor Fields, a Batalha debaixo das Árvores. Em todas essas os orcs foram derrotados, mas a derrota era falsa pois Sauron manteve a maior parte do seu exército dentro de Mordor, e quando o inimigo estava em seus portões o grande ataque foi feito.
Na Batalha de Morannon foram reunidas as forças de todos os povos da Terra-média. A luta parecia perdida para os povos livres, mas naquele mesmo momento Frodo desfez o Um Anel, e o mundo de Sauron foi destruído. O portão negro e a torre de Barad-dûr desmoronaram. Os servos mais poderosos de Sauron foram consumidos pelo fogo, e o senhor negro se transformou em névoa. Entretanto não há nenhuma dúvida de que alguns orcs sobreviveram, mas nunca foram encontrados novamente em grandes números, passando a ser considerados como um rumor de algo que nunca existiu.