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Ocupação da reitoria da USP

Paulo

Cabeça de Teia
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É verdade que a imprensa está tentando ao máximo não falar disso, ou falar da pior forma possível, mas todo mundo sabe que está acontecendo.

Imagino que algum membro seja aluno e que possa dar mais informações.

Para situar quem não está sabendo de nada mesmo. Surpreendentemente uma matéria da Folha:

25 anos depois, estudante leva a mãe para a invasão

LAURA CAPRIGLIONE
da Folha de S.Paulo

E de repente, de surpresa, um novo movimento estudantil surgiu na Universidade de São Paulo. Ele tem uma cara mulata como não se via nos anos de chumbo da ditadura militar. Ele dá as costas às entidades tradicionais de estudantes, como a UNE, a UEE e o DCE-Livre. Ele desdenha de líderes carismáticos (em vez disso, todo mundo manda, e ninguém manda). Ele cultiva a sério o apartidarismo, quebrando a hegemonia política de partidos como o PT, PSOL e PSTU, que já foram manda-chuvas no pedaço. E, esquisitíssimo, ele faz questão de cuidar dos jardins com tanto esmero quanto da mobilização.

Esse novo movimento estudantil apareceu há 20 dias, quando 120 alunos dirigiram-se à reitoria da universidade para entregar um documento com reivindicações. Como não encontraram a reitora Suely Vilela, que estava viajando, resolveram invadir o local --assim, meio na louca. E a coisa começou a crescer, sem controle, e sem interlocutores.

União Nacional dos Estudantes, que foi presidida pelo atual governador José Serra nos idos de 1964, União Estadual, Diretório Central dos Estudantes e muitos centros acadêmicos, as organizações estudantis tradicionais nem são mencionadas nas conversas. Não existem para essa mobilização, senão como "obstáculos" que foram necessários ultrapassar. O aluno de letras Marcelo explica: "Eles foram contra a ocupação da reitoria e ficaram negociando nas nossas costas".

"Caminhando e cantando"

Ontem, o carro de som estacionado bem na frente da invasão tocava a trilha sonora do pessoal. "Eu sou a mosca que pousou na sua sopa" e "Plunct, plact, zum, não vai a lugar nenhum", as duas canções de Raul Seixas, alternavam-se com todas as músicas antigas de Chico Buarque, com especial destaque para "Apesar de Você", e "Pra não Dizer que não Falei das Flores", de Geraldo Vandré, hinos da resistência democrática nos anos do regime militar. Túnel do tempo?

Quem, há 25 anos, em 1982, quando a reitoria da USP também foi invadida, imaginaria um estudante levando sua mãezinha para ver como os companheiros se comportavam bem na luta? Pois foi isso o que o aluno Luiz, do segundo ano de história, fez: levou a mãe, conflito geracional nenhum, para checar como tudo estava organizado na reitoria, apesar da invasão. "Ela gostou muito do que viu", garante ele.

Ontem, em visita ao prédio ocupado, os estudantes que ciceroneavam a reportagem da Folha fizeram questão de mostrar os banheiros da reitoria. "Tudo limpinho, você está vendo", disseram. Estava mesmo. Os jardins internos do prédio, de tão bem cuidados, mereceram elogios do jardineiro responsável, que foi preocupado ao local só para checar as perdas e danos da invasão. Em vez disso, fez questão de parabenizar o aluno que o estava substituindo tão bem.

O pessoal faz cara de mau quando alguém da "imprensa burguesa" (como muitos consideram, por exemplo, a Folha) pede entrevista. Dura pouco.
Foi só a comissão de mobilização avisar que mais uma assembléia ia começar para um grupo de jovens músicos (duas flautas doces, uma clarineta, um violino, um cavaquinho e dois pandeiros) começar a tocar "Se esta rua, se esta rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar".

Cinco grandes rodas concêntricas, formadas por adolescentes de mãos dadas, começaram a dançar. Então vieram um Caetano velho, ainda bucólico, "Asa Branca", de Luiz Gonzaga, e o hit "Apesar de Você", sempre ele. Aquecida pela coreografia, a assembléia, então, finalmente se iniciou.

Cama coletiva

Há muitos negros na invasão, como não se via na de 25 anos atrás. Se antes ingressavam na universidade 4.000 novos alunos por ano, hoje são 10 mil. Cabelões black de todas as formas, os universitários do grupo "OcupAção Afirmativa" refletem a abertura pela qual passou a USP no último quarto de século. Mas eles querem mais.

O politicamente ultracorreto domina. No amplo saguão que antecede a sala do Conselho Universitário, onde estão distribuídos os colchões em que os invasores dormem, tudo é de todos. A estudante Alba Marcondes explica: "Chegou, encontrou o colchão vazio, qualquer um, então pode se deitar".

Bebidas alcoólicas e drogas não entram no prédio. Quem quiser, que consuma fora. Cigarros só em locais abertos, como o saguão da reitoria, ao lado do busto de Nicolau Copérnico, em que foi afixado o cartaz: "Também apóio a ocupação".

Todos comem a mesma comida, feita por outra comissão de alunos. Ontem, o cardápio do almoço foi arroz branco, batata cozida e lingüiça frita. Acompanhava um minicopinho (desses de café) de suco de caju. Ninguém reclamava.

E sexo? Luís conta que um velho militante de 25 anos passados, ao visitar a invasão atual, notou um certo ar "careta" nos meninos e perguntou "Pô, nem sexo, nem drogas, nem rock and roll? Que merda vocês estão fazendo?" Marcelo, aluno da escola de ciências sociais, emenda, pensativo: "A gente não sabe muito o que é ser rebelde. Só sabe que é contra o decreto do Serra. O resto, estamos aprendendo".

Clandestinidade

Lá fora, a USP, naquele que é o seu centro geográfico de poder, o conjunto da reitoria, parece o centro comunitário de um pedaço da periferia. O prédio em obras, o matagal crescendo nos canteiros do conjunto residencial (onde moram alunos carentes), as lonas improvisadas, proteção para a chuva, como em um acampamento de sem-teto, os pneus empilhados à guisa de barricada, as muitas pichações ("Ocupe a Reitoria que Existe em Você" é uma delas), uns tantos bêbados em volta, um pequeno comércio de doces e camisetas.

Os estudantes em tempos de democracia não gostam de mostrar rostos nem declinam nomes. Identificam-se por um prenome, às vezes confessando, antes que se pergunte, que é falso. Temem punições administrativas, que podem chegar à expulsão do quadro discente.

Há 25 anos, a ditadura ainda existia no país --era o governo do general João Baptista Figueiredo (1918-1999)--, mas a confiança do movimento estudantil era tamanha que todos queriam aparecer. Um grupo de alunos do Instituto de Física, então uma das escolas mais ativas da USP, como lembra o ex-aluno Olavo Tomohisa Ito, 48, hoje professor universitário, fez questão de "tomar posse" da sala do Conselho Universitário, afixando, gigantesca, uma faixa com os dizeres "Espaço Marcelão", em homenagem a um colega que até pelo tamanho não conseguia se manter incógnito. Ninguém queria mais a clandestinidade.

Nesses dias de invasão, uma parte da turma de 25 anos atrás fez questão de ir ver como os meninos de hoje estão levando a coisa. Julio Cesar, ex-aluno de ciências sociais e atualmente na Faculdade de Educação, ontem ajudava o pessoal da comissão de alimentação. Outros da mesma época levavam doações de mantimentos.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u19559.shtml
 
Re: Ocupação da reitoria da USP.

Eu fico meio desconfiado com relação ao que a imprensa divulga. Tipo, eu só leio que eles são contra o decreto do Serra, porque este "obriga as universidades a prestar contas à sociedade". Falando assim, até parece que o que os estudantes estão fazendo é meio paradoxal. Mas o decreto é isso mesmo??

Pelo que eu andei lendo, as universidades estaduais, com o decreto, precisarão da autorização do governador José Serra para fazer grandes alterações em seu orçamento. Ou seja, "se a USP quiser, por exemplo, tirar R$ 1 milhão do item "compra de material" e optar por utilizar esse dinheiro na construção de um novo laboratório precisará pedir autorização a Serra. O mesmo princípio valerá para o caso de desejar tirar dinheiro da pós-graduação e aplicar na graduação."

Pelo que eu li na Folha, "o secretário de Planejamento, Francisco Vidal Luna, afirmou que a mudança não prejudicaria a agilidade das universidades. "No caso das universidades, que têm autonomia, o pedido é atendido em 24 horas. Eu nem olho.""

Então acho que esse negócio de que os alunos não querem que as universidades prestem contas à sociedade é meio forçado demais, enfim.

Eu lembro que desde que eu estudava na Unicamp (que inclusive entrou em greve ontem, junto com USP e UNESP), o lance da autonomia das universidades era uma coisa extremamente importante pra elas.
 
Pra toda Universidade Federal/Estadual. Esse negócio de "autonomia universitária" eu escuto todo dia na UFPE. Só tô sabendo desse caso através da TV, ou seja, estou totalmente por fora. Mas, pelo que posso imaginar, essa medida do Serra pode ter sido um ótimo bode expiatório pra velhas picuinhas partidárias e radicais do movimento estudantil aflorarem.
 
Eu nao vejo problemas em o governador ter que autorizar a mudança de grandes somas de dinheiro no orçamento das universidades estaduais. Ué, ele é o responsável direto se uma universidade resolve tirar 1 milhão da pesquisa de Sbrubbles pra comprar material de construção.

Ele tem todo o direito de vistoriar os gastos.
 
Eu nao vejo problemas em o governador ter que autorizar a mudança de grandes somas de dinheiro no orçamento das universidades estaduais. Ué, ele é o responsável direto se uma universidade resolve tirar 1 milhão da pesquisa de Sbrubbles pra comprar material de construção.

Ele tem todo o direito de vistoriar os gastos.

Sim, desde que isso seja feito com velocidade. Procurar novas formas de atravancar o sistema com burocraria não dá em nada.
 
Saiu uma matéria interessante no G1, dando uma boa visão "do lado de dentro"

Estudantes da USP vivem 'tensão pré-PM'
G1 esteve na reitoria da USP durante a madrugada desta quinta-feira (24).
Preocupação dos estudantes é com unidade do movimento e integridade dos colegas.

Simone Harnik Do G1, em São Paulo entre em contato


De longe, a madrugada desta quinta-feira (24) foi a mais tensa de todos os 21 dias de ocupação da reitoria da Universidade de São Paulo (USP), na Zona Oeste da capital. Só o que se pensava era que a Tropa de Choque da Polícia Militar chegaria para retirar os manifestantes com violência. E a ação tinha até "horário certo": 6h da manhã, previsão que não se confirmou.

A plenária, reunião que decide os rumos do movimento, começou cedo e seguiu noite afora. Quando a reportagem do G1 entrou na reitoria, eram cerca de 23h30 e o debate já corria solto.

Boa parte dos estudantes considera que a imprensa distorce e manipula informações, o que poderia prejudicar a credibilidade do protesto. Bem no saguão para todo mundo ver, uma faixa de papel pardo pintada dizia: “Imprensa mente?!”

O alvo central das preocupações, além da força do movimento, era um só, longamente discutido e rediscutido: a integridade física dos estudantes, caso haja ação da polícia. Todo o processo de votação durou mais de quatro horas, em meio a muita fumaça de cigarro. Fumar dentro da reitoria é proibido na ocupação. Desta vez, ninguém reclamou.

“Todo mundo que está aí de chinelo havaiana, as meninas que estão de saia, já sabem. Botem um tênis, uma calça de material sintético, que é melhor. Só não sei explicar o motivo, porque sou da história e não da química”, disse ao microfone uma garota da comissão de segurança.

Logo depois, vieram as dicas sobre bombas de gás lacrimogêneo: “Não peguem, porque elas queimam. Também não tentem chutar. E se jogarem bombas, não esfreguem nem molhem os olhos, o que só piora. O melhor é andar com um pano com vinagre, que ele ajuda a aliviar”, continuou a jovem. Um panfleto com as orientações foi distribuído a todos os estudantes.

“Aqui, se você tem um 'brother' que está com uma dificuldade, ajude. Se tiver um cara que não é seu brother, ajude do mesmo jeito”, disse um dos manifestantes que ocupava a reitoria pela primeira noite, e foi ovacionado com uma salva de palmas. “O que importa é a união do movimento."

Jantar

Cerca de 0h30, houve a refeição. “Companheiros, a minha proposta é que a gente pare uma hora e volte para esta plenária”, conclamou o estudante que organizava o encontro. Alguns segundos depois, todo o movimento já estava mobilizado para servir o jantar, sob comando da comissão de alimentação.

Quem ia até a copa era orientado a voltar ao saguão principal, já que um carrinho com a comida, pratos e talheres estava por chegar. Sem qualquer hesitação, uma fila (sem furões) se formou e a louça foi passando de mão em mão. O prato fundo era motivo de piada: “Ah, você quer comer bastante, hein?”, brincava uma aluna.

A comida, bem caseira, era simples, mas farta e saborosa. Em outras noites, chegou a faltar; mas nesta, que podia ser a derradeira, não. O arroz foi servido por uma aluna, enquanto um funcionário colocava porções de salada de repolho, cenoura e tomate temperados. Para completar, um pedaço de frango empanado era distribuído para cada um dos manifestantes. Depois de comer, cada um se dirigia até a copa para lavar o que sujou.

Desentendimento

Na fila para a comida, um estudante começou a distribuir um panfleto satirizando todos os partidos e correntes de esquerda (PSTU, PSOL, PCO e a Liga Estratégia Revolucionária-Quarta Internacional - LER-QI). Não sobrou um só livre dos comentários. “Puxa, o que você está fazendo?”, correu um outro indignado. “Não pode fazer isso”. E o único desentendimento da noite ficou por isso mesmo.

Em outra visita do G1, no início da ocupação, um jovem comentou: “Aqui é o único lugar onde três trotskystas conseguem se entender”.

A reunião continua

Com a informação de que a polícia chegaria ao campus em poucas horas, os estudantes resolveram decidir o que fazer. Vira e mexe, surgia uma discussão mais filosófica sobre o real significado de “resistência”, de “resistência pacífica” e até de “resistência pacífica com manifestações artísticas".


Havia espaço também para as brincadeiras. Quando alguém mencionava qualquer possibilidade de confronto com a PM, um grupo do fundo da plenária vaiava: “Chuck Norris! MacGyiver!”, em referência aos heróis de TV que conseguem enfrentar a tudo e a todos. O mesmo pessoal, sempre que podia, também brincava: “Pelado, nu. Vamos fazer protesto pelado."

Lá pelas tantas, uma moradora do Conjunto Residencial da USP (Crusp) pegou o microfone para avisar que, se alguém se ferisse, teria ajuda. “Se alguém precisar, pode ir lá pra casa."

Uma professora de educação básica da Brasilândia quis discursar. “Vocês são privilegiados. Muitos dos meus alunos não vão ter a chance de estar aqui. Precisam resistir, pela melhoria da educação." Teve direito à sua cota de aplausos.

Quem se estendia ao microfone era sumariamente cortado por uma jovem que passou a organizar a plenária. “30 segundos. Conclua, por favor”. Até que às 4h30, mais ou menos, terminou toda a discussão e começou a faxina no prédio.


Últimos momentos


Não houve sarau nem rodinha de violão, apesar da falta de sono. Além do equipamento de som da ocupação, que tocava, baixinho, canções da época da ditadura, a única música entoada pelos manifestantes era uma provocação ao governador do estado: “José Serra, você já sabe: os seus decretos ferem a universidade".


Nessa hora, muitos estudantes já utilizavam máscaras improvisadas de xerox com a face do governador presa ao rosto com um barbante. No banheiro, que já se ressente de tantos dias de protesto, falta papel.

- Tem aí?
- Não.
- Alguma notícia?
- Nenhuma.
- Isso é bom, não é?
- Não sei mais. Se a polícia viesse logo, essa angústia toda acabari

http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL41416-5604-8455,00.html
 
Eu ouvi dizer que não é só pelo decreto do Serra. O decreto fere autonomia da universidade mesmo, é um entrave burocrático desnecessário, mas tem também a luta pela moradia universitária.

Em 2005 a reitoria da UFF foi ocupada também, e conseguiu aumentar as bolsas, manutenção do preço do bandejão, e outras conquistas. Infelizmente, o estudante não é levado a sério na Universidade, então o movimento estudantil se faz com atos de rebelião civil mesmo. Eu sou a favor enquanto não quebrarem nada ou agredirem ninguém. Manifestação civil pacífica é a expressão mais bonita da democracia.

Achei esses dois blogs aqui:

http://stoa.usp.br/usp/weblog/
http://ocupacaousp.blog.terra.com.br/
 
Última edição:
Eu sou aluno da USP.

Muita gente fica falando sobre esses tais decretos, mas pouco gente realmente leu eles. Acho que é um exagero dizer que eles 'acabam com a autonomia', mas realmente tem umas coisas neles que, digamos, pegam mal.

Por exemplo:

DECRETO Nº 51.461
Artigo 2º - Constitui o campo funcional da Secretaria de Ensino Superior:
III - a promoção da realização de estudos para:
c) ampliação das atividades de pesquisa, principalmente as operacionais, objetivando os problemas da realidade nacional


DECRETO Nº 51.471
Artigo 1º - Ficam vedadas a admissão ou contratação de pessoal no âmbito da Administração
Pública Direta e Indireta, incluindo as autarquias, inclusive as de regime especial, as fundações instituídas ou mantidas pelo Estado e as sociedades de economia mista.
§ 2º - O Governador do Estado poderá, excepcionalmente, autorizar a realização de concursos, bem como a admissão ou contratação de pessoal, mediante fundamentada justificação dos órgãos e das entidades referidas no “caput” deste artigo e aprovada:
1. pelo Comitê de Qualidade da Gestão Pública, no caso de órgãos da administração


E ainda tem as reivindicações por reformas nos prédios, bendejão nos domingos, etc etc. (aqui tem todas elas: http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL39646-5604,00.html)

No começo, eu apoiava a ocupação. Acho que é um meio de protesto mais legitimo que greve, pq incomoda apenas quem deve incomodar, enquanto greve atrapalha a vida de todo mundo. Mas a reitora já cedeu em diversos pontos e aceitou negociar os outros; já tava na hora de os caras cederem tbm e desocuparem. Me parece que o que eles querem agora é que a polícia vá lá mesmo, pra eles poderem dizer: 'Olha, o Serra mandou bater nos estudantes, olha como ele é contra a educação, fascista, autoritario etc etc'
 
Última edição:
Eu fico meio desconfiado com relação ao que a imprensa divulga. Tipo, eu só leio que eles são contra o decreto do Serra, porque este "obriga as universidades a prestar contas à sociedade". Falando assim, até parece que o que os estudantes estão fazendo é meio paradoxal. Mas o decreto é isso mesmo??

Eu acho fantástica a certeza da mídia brasileira: "Esta é a verdade!".

Eu nao vejo problemas em o governador ter que autorizar a mudança de grandes somas de dinheiro no orçamento das universidades estaduais. Ué, ele é o responsável direto se uma universidade resolve tirar 1 milhão da pesquisa de Sbrubbles pra comprar material de construção.

Ele tem todo o direito de vistoriar os gastos.

Direito, ou melhor, dever de vistoriar todos nós temos. Não só das universidades. Os gastos de qualquer universidade pública estão disponíveis para quem quiser ver.

Por outro lado, decidir se é correto ou não gastar 1 milhão, 100 mil ou 10 reais em pesquisa de Sbrubbles é uma decisão que apenas as universidades, de forma interna, podem tomar.

Governador, prefeito ou presidente nenhum tem autoridade, direito, competência, legitimidade, capacidade para gerir uma universade inteira desta forma, no mínimo autoritária.

Vale lembrar uma coisa: Essa medida não altera apenas os gastos com pesquisas ou "material", mas pode interferir se um novo curso é implementado ou se um outro acaba. Faz algum sentido que toda uma comunidade acadêmica seja refém de decisões tomadas por alguém totalmente externo a estrutura e a dinâmica da mesma? Qual é a lógica do Serra ou de qualquer secretário decidir se é legitimo ou não implementar o curso tal, ou a pesquisa x?

Não é só por "orgulho" que as universadades devem ter autonomia. Isto é uma condição intrínseca ao bom funcionamento destas.

Outro ponto importante que foi levantado aqui: Entre as muitas reinvindicações (e a maioria é bastante básica) estão a contratação de novos professores e a construção da moradia. Se existe alguma negociação sobre os decretos, o resto parece que não é nem mencionado pela reitoria e pela mídia.

O que mais me impressionou nisso tudo, negativamente, é cogitarem a possibilidade de mandar a polícia retirar os estudantes. Isso é maluquice! Universidades são, e devem ser, lugares de pensamento livre, sem intervenções, principalmente deste tipo.

Eu sou a favor enquanto não quebrarem nada ou agredirem ninguém. Manifestação civil pacífica é a expressão mais bonita da democracia.

Eu concordo totalmente com você. E fico bastante impressionado quando acham essa ocupação um absurdo.

Mas a reitora já cedeu em diversos pontos e aceitou negociar os outros; já tava na hora de os caras cederem tbm e desocuparem.

A reitoria não revogou os decretos. Isso é o principal, ainda que não seja o único ponto importante.
 
Última edição:
A Unesp também foi ocupada:

Alunos ocupam prédio da Unesp em Rio Claro

SÃO PAULO - Estudantes ocuparam um prédio da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, na noite desta quinta-feira, engrossando o movimento iniciado pelos alunos da USP, que desde o último dia 3 estão no no prédio da reitoria, na Cidade Universitária. Cerca de cem alunos ocuparam no prédio, que abriga salas de aula, levando colchões e barracas.

O movimento dos estudantes ganhou adesão também na USP de Ribeirão Preto, onde os professores entraram em greve, ao lado dos funcionários, que pararam na semana passada. Na Unicamp, em Campinas, alunos de seis institutos participam do movimento. Professores e servidores também estão parados, mas não há um balanço da adesão. Na Unesp de Araraquara, alunos e professores do Departamento de Letras aderiram à paralisação.

Depois de uma série de medidas judiciais para forçar a desocupação da reitoria da USP, governo do estado abriu nesta quinta negociação direta com os estudantes. Pela primeira vez, um secretário de estado conversou com um grupo de cerca de 30 representantes dos alunos, dois dos funcionários e dois dos professores da universidade.
(...)

http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2007/05/25/295897275.asp
 
Acho que o governo deve ter um controle sim da verba destinada para as instituições. Aqui em Volta Redonda por exemplo está uma briga feia para decidir se o dinheiro do governo será investido nos laboratórios de Mecânica, Metalurgia ou constrói os laboratórios para o curso de Agronegócios, que é um curso novo no Brasil que tem a necessidade de Engenheiros deste ramo.
 
A reitoria não revogou os decretos. Isso é o principal, ainda que não seja o único ponto importante.

A reitoria não tem poder pra revogar os decretos. E eles se recusam a negociar com qualquer um que não seja da reitoria. Assim fica difícil.

Aliás, no começo eles só queriam que a reitora se posicionasse sobre os decretos, contra ou a favor (sim, isso tava escrito num manifesto deles). Ela fez isso, numa carta em conjunto com os reitores da unicamp e unesp, falando que os decretos não feriam a autonomia. Claro que não bastou...
 
Acho que o governo deve ter um controle sim da verba destinada para as instituições. Aqui em Volta Redonda por exemplo está uma briga feia para decidir se o dinheiro do governo será investido nos laboratórios de Mecânica, Metalurgia ou constrói os laboratórios para o curso de Agronegócios, que é um curso novo no Brasil que tem a necessidade de Engenheiros deste ramo.

Eu já disse isso antes. O governo, ou melhor, qualquer estrutura/autoridade externa não tem competência/legitimidade para gerir a universidade como um todo. Ter liberdade na forma como o dinheiro é investido dentro da universidade também é essencial para que esta seja livre.

Um outro ponto de que tratam os decretos é que ao criarem a Secretaria Estadual de Ensino Superior, o conjunto, essencial, ensino/pesquisa/extensão é separado.

A reitoria não tem poder pra revogar os decretos. E eles se recusam a negociar com qualquer um que não seja da reitoria. Assim fica difícil.

OK. Por "a reitoria não revogou os decretos" entenda "a reitoria não fez nenhum tipo de pressão contra os decretos".

Foi a reitoria que pediu a reintegração de posse, e é a reitoria que pode fazer pressão em cima dos decretos.

Aliás, no começo eles só queriam que a reitora se posicionasse sobre os decretos, contra ou a favor (sim, isso tava escrito num manifesto deles). Ela fez isso, numa carta em conjunto com os reitores da unicamp e unesp, falando que os decretos não feriam a autonomia. Claro que não bastou...

É bastante óbvio que os decretos ferem a autonomia da universidade.
 
Eu já disse isso antes. O governo, ou melhor, qualquer estrutura/autoridade externa não tem competência/legitimidade para gerir a universidade como um todo. Ter liberdade na forma como o dinheiro é investido dentro da universidade também é essencial para que esta seja livre.


Eu acredito que o MEC deve ter sim certo controle da verba destinada, pois um curso importante para o país pode sair prejudicado com essa falta de controle.
Não se trata de controlar ortodoxamente em que será investido, é só em alguns casos como esse que eu citei.
 
Eu tenho uma dúvida, que talvez fuja um pouco do assunto. Por que todos, inclusive a imprensa, falam "estudantes ocuparam a USP", mas quando se trata de algo no campo é "invadiram a fazenda"?
 
Porque fazendas normalmente pertecem a uma pessoa, já universidades federais pertencem à população (portanto aos alunos que estão lá). Não é assim?
 
Eu tenho uma dúvida, que talvez fuja um pouco do assunto. Por que todos, inclusive a imprensa, falam "estudantes ocuparam a USP", mas quando se trata de algo no campo é "invadiram a fazenda"?

Porque fazendas normalmente pertecem a uma pessoa, já universidades federais pertencem à população (portanto aos alunos que estão lá). Não é assim?
Acho que é isso. Tem também que os estudantes são da própria USP, enquanto invasores de fazendas nada têm a ver com as propriedades, não é?

A mídia, pelo menos a televisiva, tem sido irritante pelo modo como tem divulgado a ocupação. Não dizem quais são de fato os interesses dos estudantes e manipulam as imagens. Percebam como eles colocam sempre imagens de cadeiras derrubadas ou coisas do tipo para simbolizar o caos.
 
Eu acredito que o MEC deve ter sim certo controle da verba destinada, pois um curso importante para o país pode sair prejudicado com essa falta de controle.
Não se trata de controlar ortodoxamente em que será investido, é só em alguns casos como esse que eu citei.

Isso leva a uma perspectiva utilitarista do conhecimento. As universidades tem mecanismos, critérios e processos para avaliar a "importância" de determinado curso. Uma intervenção externa certamente é desnecessária.

Eu tenho uma dúvida, que talvez fuja um pouco do assunto. Por que todos, inclusive a imprensa, falam "estudantes ocuparam a USP", mas quando se trata de algo no campo é "invadiram a fazenda"?

Porque fazendas normalmente pertecem a uma pessoa, já universidades federais pertencem à população (portanto aos alunos que estão lá). Não é assim?

Eu já li notícias e vi uma entrevista com o secretário de ensino que utilizam o termo "invasão" e derivados. Acho estão usando "ocupação" por que "invasão" não colou.

Com os movimentos no campo é diferente porque estes já sofrem um processo de criminalização há muito tempo. É mais difícil fazer isso com os filhos da classe média. Isso explica a tentativa de "partidarização" da ocupação e as repetidas declarações do Serra nessa linha. Afinal de contas os partidos de esquerda são essencialmente maus, ao contrários dos bons alunos da USP.

A mídia, pelo menos a televisiva, tem sido irritante pelo modo como tem divulgado a ocupação. Não dizem quais são de fato os interesses dos estudantes e manipulam as imagens. Percebam como eles colocam sempre imagens de cadeiras derrubadas ou coisas do tipo para simbolizar o caos.

O assustador é que isso não é novidade, só está mais evidente neste caso.

E engraçado que no começo do ano os reitores se posicionaram contra esses decretos e, "do nada", começaram a falar em interpretação errada

É engraçado como isso vem sendo utilizado. Como se não houvesse motivo de fato para a ocupação.
 

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