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Tradução, autoria e ética: o caso de 'O Senhor dos Anéis'.

Deriel

Administrador
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Lenita Rímoli Esteves, professora da USP e tradutora de obras literárias inglesas, incluindo a trilogia O Senhor dos Anéis (trabalho em parceiria com Almiro Pisetta) dará a conferência Tradução, autoria e ética: o caso de 'O Senhor dos Anéis'.

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Eu li a notícia bem a tempo de ir, e dei sorte, porque foi bem legal.

Ela falou a quantas anda o processo. Na verdade, a palestra toda girou em torno disso, de certa forma. E eu nem acho ruim, não: era um evento promovido pela faculdade de Letras da PUC-RJ, e os tradutores têm mais é que ter consciência dos direitos deles e do que eles enfrentam por aí. Eu discordei de algumas coisas que foram colocadas, mas no geral, parece mesmo que o trabalho do tradutor é muito mal valorizado, e o caso da tradução do SdA demonstra isso. Por exemplo, ela não teria recebido um centavo pela utilização das traduções nos filmes se não tivesse feitoum acordo (= $$$) com a Warner. Mas ela,ou os advogados dela, acabaram sendo um pouco ingênuos, porque o acordo foi na casa dos 100 mil para se dividir entre os tradutores, o que é pífio em relação ao que os filmes faturaram.

E com a MF não teve acordo ( = $$$ dado voluntariamente), todos sabemos que há um processo. Ela venceu na primeira instância e, segundo foi dito, está para sair a decisão do recurso da MF em breve. Ou seja, vista do alto, a palestra foi uma exposição de como uma tradutora teve que ir à Justiça, numa atitude pioneira, para exigir a grana que, embora não seja a praxe no meio (nem contrato com os tradutores costamavam ser feitos, ela disse), ela teria direito, um percentual de cada volume vendido.

Ela falou de Tolkien, basicamente, da tradução de nomes, como Valfenda e Laracna (sempre eles), citando a participação do Kyrmse que introduziu o Guia para tradução de nomes no SdA no trabalho, e houve uma comparação da tradução brasileira e da portuguesa no poema de caminhada do Bilbo (a primeira versão). Ah, e para ilustrar a utilização da tradução dela nos filmes, foi passado uns 2 minutinhos do Sociedade do Anel. Tudo, no final, desembocou para exatamente o título da palestra, "tradução, autoria e ética", de forma que, como ela própria frisou algumas vezes, a averiguação pela tradução dos nomes demonstra de forma mais evidente o papel de "autor" ou de artista do tradutor. Foi, inclusive, citado que se a nova tradução usar os mesmos nomes, poderia haver um processo por plágio.

Ah, ela própria citou a força-tarefa, disse que leu tudo (mas não se lembrava do nome "Valinor"), reconheceu os erros, e também que alguns são perfeitamente aceitáveis em um volume de trabalho daquele. Ao final, quando se abriu para perguntas, ela respondeu que as falhas teriam sido equívoco tanto da equipe de tradução quanto de revisão. Houve também, vejam só, citação a um tal Gabriel Oliva Brum, estudante de Letras, que teria dito a seguinte frase: "a tradução é praticamente perfeita", assim mesmo. Isso no contexto em que ela demonstrou que, antes do processo, a tradução era elogiada pela editora, e depois dele passou a ser questionada.

Mas o mais divertido foi quando algumas estudantes resolveram fazer uma comparação com a tradução do Harry Potter. Aconteceu que as meninas se expressaram mal: uma disse que a tradução era "sem critério", e a outra algo parecido. Como Murphy não falha, adivinhem... a tradutora do Harry Potter estava lá, sentadinha, e não ouviu calada. :lol: Uma das professores presentes tinha um cargo na ABRAT - Associação Brasileira de Tradutores (se não me engano), e a resposta foi no sentido de que deve-se respeitar o trabalho do tradutor e não se reportar a ele naqueles termos. Com isso eu fecho, mas ficou um ar um pouco corporativista, algo como "tradutor não fala mal do trabalho do outro", porque nesse tipo de trabalho a interpretação e as opções do profissional devem ser respeitadas. O argumento tem certo sentido, mas se fosse só isso, simplesmente obras de arte estariam acima de qualquer crítica.
 
Maglor disse:
Houve também, vejam só, citação a um tal Gabriel Oliva Brum, estudante de Letras, que teria dito a seguinte frase: "a tradução é praticamente perfeita", assim mesmo.

Detalhe que eu disse isso (em uma entrevista feita pelo Reinaldo, para a revista SciFi News, se não me engano) com relação à tradução dos nomes, não do livro como um todo. E ainda mantenho isso. A tradução dos nomes na versão brasileira do SdA é realmente muito boa e bastante fiel ao original - mais do que a versão portuguesa da Europa-América, por exemplo. Há alguns pontos controversos, claro (como "Guardião" para "Ranger" e "Montanhas Sombrias" para "Misty Mountains" - este último corrigido posteriormente n'O Silmarillion), mas isso existe em qualquer tradução e sempre existirá.
 
Detalhe que eu disse isso (em uma entrevista feita pelo Reinaldo, para a revista SciFi News, se não me engano) com relação à tradução dos nomes, não do livro como um todo. E ainda mantenho isso. A tradução dos nomes na versão brasileira do SdA é realmente muito boa e bastante fiel ao original - mais do que a versão portuguesa da Europa-América, por exemplo. Há alguns pontos controversos, claro (como "Guardião" para "Ranger" e "Montanhas Sombrias" para "Misty Mountains" - este último corrigido posteriormente n'O Silmarillion), mas isso existe em qualquer tradução e sempre existirá.

Tem também o "Regente", que alguns dizem não ser uma boa tradução para "Steward".

Quando eu vi citação de uma frase sua ali, e naqueles termos, eu tinha quase certeza de que estava fora de contexto, inclusive porque conheço a sua opinião, mas não tinha como argumentar isso. Quando uma professora perguntou justamente se o processo era baseado apenas na tradução dos nomes, a Lenita respondeu que era nesse ponto que ficava evidente o aspecto criativo da tradução, então se focaram ali - mas foi o gancho que precisava para ela falar sobre a tradução da prosa como um todo. Ela falou da orientação para o Reinaldo e das críticas que ele faz quanto ao estilo, principalmente nos diálogos, que não foi mantido. Então foi dito que era uma opção da tradução por simplificar a linguagem mesmo.
 
Tem também o "Regente", que alguns dizem não ser uma boa tradução para "Steward".

Verdade, e não é boa mesmo. Depois de muito pesquisar e ponderar, usei "Mordomo" nas Cartas; independente da possível estranheza que a palavra possa causar à primeira vista devido às conotações mais usuais dela, é a melhor tradução para "Steward" no contexto.

Então foi dito que era uma opção da tradução por simplificar a linguagem mesmo.

E que foi a pior opção possível que poderia ter sido feita. Essa simplificação descaracteriza o texto de maneira gritante. Quem leu o SdA no original sabe o quanto. Qualquer outra opção poderia ser justificada, menos essa.
 
Significa que as próximas traduções poderam vir com nomes diferentes (pessoas, lugares ou afins) só pra não contar como plágio???

Bão, eu já vi o primeiro volume da próxima tradução e virá com nomes diferentes pra muitas coisas. A afirmação dela explica o porquê. Não foi uma decisão de tradução, foi uma decisão financeira, basicamente.
 
Bão, eu já vi o primeiro volume da próxima tradução e virá com nomes diferentes pra muitas coisas. A afirmação dela explica o porquê. Não foi uma decisão de tradução, foi uma decisão financeira, basicamente.

E não disse pra gente? É tão underground isso assim que não dá pra dizer alguns nomes que irão mudar na versão?

Gabriel disse:
E que foi a pior opção possível que poderia ter sido feita. Essa simplificação descaracteriza o texto de maneira gritante. Quem leu o SdA no original sabe o quanto. Qualquer outra opção poderia ser justificada, menos essa.

Eu também acho. As dificuldades que uma tradução implicam mostram como a disciplina é mesmo complexa. Eu fiquei com a impressão de que a Lenita não tinha mesmo dado muita atenção a características como a mudança de estilo na fala dos personagens, e na minha opinião era dever de um tradutor estar atento a esse tipo de cuidado que o autor tem, e na medida do possível reproduzir na tradução. Na verdade, e eu posso estar bem errado, mas acho que o livro não recebeu o "respeito", por assim dizer, que deveria ter tido; tenho a impressão de que viram apenas como "Ah, o Lord of the Rings, literatura juvenil", como se não houvesse necessidade desse cuidado na avaliação da obra e das características eminentemente lingüísticas que ela tem.

Esse tipo de coisa me deixa com um pé atrás na hora de falar em "direitos autorais" do tradutor. Hoje eu acho que o tradutor tem sim direito pelo trabalho feito, proporcionalmente às vendas (e também pelo trabalho em si), porque a qualidade da tradução influencia nas vendas. Mas que esse valor não seja relativo a "direito autoral". Se o "caso do SdA" serve para mostrar que eles têm sim mais direitos do que lhes têm sido devidos, também acho que mostra o "perigo" que é considerá-los no mesmo patamar do autor - a não ser que falemos em tradutor como um autor em sentido muito amplo.
 
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Considerando que eu não poderia ter visto a cópia, se eu falasse alguma coisa ferraria quem era dono da cópia. Cabe a ele publicar algo ou não =]
 
Bão, eu já vi o primeiro volume da próxima tradução e virá com nomes diferentes pra muitas coisas. A afirmação dela explica o porquê. Não foi uma decisão de tradução, foi uma decisão financeira, basicamente.

Poxa, mas pode isso ???(engraçado acho que já discutimos isso em outro tópico).

Quer dizer, quem traduz pode colocar o nome que quiser e tá tudo certo? Não tem uma lei que norteia isso?
 
Não tem lei nesse sentido, não, e nem poderia ter. Seria um absurdo legislação regular,ou melhor, restringir o trabalho intelectual de um profissional assim.

Vamos começar a apostar. "Bilbo Sacoleiro" é uma boa, que tal? =)
 

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