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[L] [Melkor, o inimigo da luz] [Minerva]

Melkor- o inimigo da luz

Senhor de todas as coisas
A menina estava sentada nas cadeiras acolchoadas do hospital, toda ruiva. O olhar era de dúvida, a boca rígida e repuxada num beiço angustiado. Sua mão direita entretinha-se em tirar e pôr o anel da esquerda, distraidamente. As unhas dos dedos compridos, roídas, o esmalte falho. Ela, a Minerva, vestia uma camiseta branca – larga demais para ela, herança da irmã – e uma calça azul de moletom, e o único enfeite que trazia eram os brincos de prata, seus preferidos.

Os médicos se entreolharam, tristes, brancos, e decidiu-se no consenso de olhares qual deles a acordaria da infância protegida - das placentas suculentas - e a traria para a tristeza cinza e vulnerável de ter perdido a mãe. O escolhido foi até ela, segurando café num copo de isopor, ajoelhou-se na sua frente e sorriu um sorriso falso e horrível, translúcido, e ela lhe perguntou:


- É a minha mãe, não é, doutor? Ela morreu, não é, doutor?
- É sim, querida.

Ela passou alguns instantes forte, porque ela já sabia que a mãe não sobreviveria, mas essa era uma daquelas certezas que são maiores que os fatos aos quais prestam contas, e ela deixou de fingir e atirou-se nos braços do médico, soluçando. Ele, assustado, abraçou Minerva sinceramente e afagou os cabelos vermelhos dela com a mão que não estava ocupada.

E, lentamente, ela intensificou o seu abraço na força e no sentimento que punha nele, agora pressionando a ponta dos dedos nas costas do doutor, que olhava para os companheiros, preocupado. As unhas de cada um dos dez dedos pueris dela – que bem que poderiam ser dedos de pianista – entraram sorrateiramente na carne dele, rasgando o seu jaleco e tingindo-o de vermelho. Enquanto ele tentava entender, ela chorava.

Finalmente, ela desvencilhou-se dos braços dele, que mal estavam tentando segurá-la, e sentiu uma convicção indiscutível e repentina. Agradeceu, com calma, toda a preocupação do doutor, e encaminhou-se para o fim do corredor, onde havia uma janela. Os médicos gritaram e correram para impedi-la, mas todo esforço aplicado na contensão da realização duma convicção indiscutível, como era aquela, é sempre em vão.


Minerva jogou-se do último andar do prédio e, quando chegou no chão, quem a segurou foi a sua mãe. Ela beijou a sua filha na testa, passou o dedo indicador na sua fronte e sorriu. "Vai ficar tudo bem, filha, vai ficar tudo bem".
 
É uma narrativa urbana, e bem escrita, sr. Melkor. É como se fosse a interpretação de uma notinha do obituário de um jornal: "mãe fulana-de-tal morre e filha Minerva se suicida", assim mesmo, com economia de palavras, pra custar menos.
Eu tô comentando agora porque achei o texto bom e injustiçado, sem nenhum comentário sequer! Diabos, por onde anda o povo do CdE?
 
É, o povo anda bem sumido. Isso desanima um pouco, ainda tenho TANTA coisa a postar =/

Obrigado pela atenção, Cervus =)

E sim, é um texto curto. Vou confessar que, dentre os contos do conjunto do qual esse faz parte, é o que menos gosto. Mas ele é tão pituco que às vezes eu leio ele só por ler, porque não me cansa =)

Valeu, abraço!
 

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