A história de "O Hobbit" – Gollum bonzinho

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Escrito por Reinaldo José Lopes

Os leitores atuais da Saga do Anel sabem que Bilbo inicialmente disse que Gollum havia dado o Anel “de presente” após o desafio das adivinhas. Só depois, prensado (oops! no bom sentido!) por Gandalf, é que o hobbit finalmente contou a verdade sobre o misterioso artefato.

O que pouca gente sabe é que essa mudança se deve ao texto original, da primeira edição de “O Hobbit”, no qual Gollum, incrivelmente, de fato estava disposto A CEDER O ANEL (oops! de novo, no bom sentido!) a Bilbo. Assim mesmo, na boa, sem luta.

Após escrever “O Senhor dos Anéis”, quando o Anel se tornou muito mais perigoso e sinistro do que a obra original sugeria, Tolkien se viu compelido a modificar o capítulo em que Bilbo confronta Gollum, numa segunda edição de “O Hobbit”. John Rateliff, que teve acesso ao manuscrito original da aventura de Bilbo, mostra em detalhes como a imagem e o comportamento de Sméagol (que não tinha esse nome nessa época, claro) era menos pesada.

Isso não quer dizer que Gollum nunca pretendeu devorar o pobre Bilbo. Os desejos canibais da criatura estão lá desde o princípio, e ele fica salivando só de pensar na carne do hobbit. Mas, quando o jogo de adivinhas termina, Gollum se põe diligentemente a cumprir sua promessa – no caso, dar “um presente” para Bilbo. O presente é nada menos que o Anel. “Devemos dá-lo, precioso; sim, devemos, devemos pegá-lo, precioso, e dar à coisa [Bilbo] o presente que prometemos.”

Presente de aniversário

Eis como Tolkien explica a situação toda:

“Gollum tinha um anel, um anel maravilhoso e muito bonito, um anel que ele tinha ganhado de presente de aniversário eras e eras atrás, em dias antigos quando tais anéis eram menos incomuns.”

Tal como na versão da história que conhecemos hoje, Bilbo, porém, já tinha pegado o anel do chão. Gollum fica nervoso ao descobrir que o objeto sumiu, mas a impressão que fica é que ele está irritado principalmente por não poder cumprir sua palavra. “Não sei quantas vezes Gollum pediu desculpas a Bilbo. E ele ofereceu peixe fresco para comer no lugar do anel (Bilbo estremeceu só de pensar nisso, mas disse não, obrigado, educadamente.”

Esperto, o hobbit disse que poderia substituir o anel pela ajuda de Gollum em sair do fundo das montanhas. E, acredite ou não, a criatura leva Bilbo até as proximidades do portão. Os dois se despedem relativamente na boa. Afinal, “o Gollum [assim mesmo, com artigo definido] tinha aprendido muito tempo atrás a nunca trapacear no jogo de adivinhas”.

É incrível como, no fim das contas, não havia nada de inevitável na história que tornar-se-ia mundialmente famosa.

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daniel de quadros dos santos

Já li O Senhor dos Anéis.Agora estou lendo Contos Inacabados(quem não leu tem que ler!!!!) e estou fascinado com a mitlogia que Tolkien criou.Tolkien é um gênio!!!!

Armeuj

É muito interessante Tolkien escolher o anel como elo de ligação entre as duas obras. A própria figura do anel é um elo! E ele poderia ter escrito qualquer outra continuação. Mas, por desígnios de Eru, ele fez o que fez e ampliou ainda mas sua mitologia. Da escolha desse pequeno objeto, ele escreveu mais de mil páginas!

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