A volta do hobbit indonésio

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Escrito por Reinaldo José Lopes

Quem acompanha a Valinor há algum tempo deve se lembrar da saga do hobbit da Indonésia — um hominídeo de 1,10 m que viveu na ilha de Flores, no Sudeste Asiático, há 18 mil anos. Alguns antropólogos propõem  que se trata apenas de um humano moderno com deficiência física, mas novos estudos publicados hoje defendem que se trata mesmo de um "hobbit" — de um parente do homem pertencente a uma espécie única. Eu escrevi sobre isso para o G1 hoje. Confira a reportagem na íntegra abaixo.

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 É um novo capítulo na saga do hobbit, e não estamos falando de Frodo, do clássico "O senhor dos anéis". Duas análises publicadas hoje na prestigiosa revista científica "Nature" reforçam a tese de que o hobbit em questão, cujos restos de 18 mil anos de idade foram achados na ilha indonésia de Flores, é mesmo uma espécie bizarramente única de hominídeo (grupo a que pertencem os parentes primitivos do homem e os próprios seres humanos). E, a julgar pelos pés da criaturinha de 1,10 m de altura, ele pode ter sido um hominídeo ainda mais primitivo e estranho do que imaginávamos.

A polêmica nunca se afastou muito da misteriosa criatura desde que um grupo de pesquisadores indonésios e australianos anunciaram sua existência para o mundo em 2004, também nas páginas da "Nature". O hominídeo foi batizado como Homo floresiensis e, por causa de características específicas de seu crânio e esqueleto, foi considerado um descendente do Homo erectus, que já habitava o Sudeste Asiático há cerca de 1,7 milhão de anos.

A ideia é que alguns H. erectus teriam ficado isolados em Flores e simplesmente encolhido — um fenômeno que, por incrível que pareça, é comum com mamíferos isolados em ilhas. (Para efeito de comparação, elefantinhos extintos das ilhas europeias de Sicília e Malta chegavam, quando adultos, ao tamanho de um filhote de elefante africano de hoje.)

O problema é, que desde então, outros pesquisadores contestaram o status do hobbit, afirmando que se trataria apenas de um humano moderno com deficiências físicas e presumivelmente mentais, por conta do crânio e cérebro diminutos. Os críticos argumentavam que o cérebro de um hominídeo jamais encolheria tanto assim, mesmo preso numa ilha, onde o órgão diminui pela falta de ameaças e predadores.

As análises de hoje, porém, mostram que o hobbit, seja lá quem ele for, talvez seja realmente uma espécie bizarra e primitiva, diferente da nossa. A equipe liderada por William Jungers, da Universidade de Stony Brook (EUA), fez uma análise anatômica detalhada dos pezinhos do principal exemplar hobbit, uma fêmea conhecida pelo código LB1.

O que acontece é que, embora o dedão da criatura tivesse a mesma posição do nosso, diferentemente do dos chimpanzés, o pé como um todo é um bocado comprido em termos relativos, em especial quando comparado com os ossos da perna. Trata-se de uma característica tão estranha que sugere que a criatura provavelmente não conseguia correr pelas mesmas distâncias ou com a mesma velocidade que um ser humano moderno.

Essa característica, ao lado de algum detalhes mais técnicos, são mais primitivas do que se vê entre os Homo erectus, o que pode indicar que o verdadeiro ancestral do Homo floresiensis é um hominídeo mais antigo que já tinha passado antes pela Ásia, sem deixar vestígios detectados até hoje. Por enquanto, os antropólogos não arriscam dizer quem seria esse ancestral.  

Em outro artigo científico na mesma edição da "Nature", Eleanor Weston e Adrian Lister, do Museu de História Natural de Londres, estudaram outros mamíferos fósseis que viviam em ilhas para entender a misteriosa redução cerebral do hobbit. As contas que eles fizeram mostram que outros animais, como hipopótamos e elefantes anões, passaram por reduções cerebrais compatíveis com as do hobbit ao viver ilhados. Resta saber se esse argumento calará os críticos.

 
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