Viagem de um Anão – Capí­tulo 1 – Um Estranho Caminhante

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Escrito por tywin lannister
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No bairro Ocidental da cidade de Alin, uma cidade no sul da grande floresta central, situada numa longa planície, viviam muitas pessoas estranhas… era um bairro de caminhantes, de aventureiros e era atravessado pela estrada que entrava na Grande floresta, alguns quilómetros a norte. Ora não é difícil imaginar que um bairro onde passam milhares de caminhantes por dia (ainda para mais, atravessado por uma estrada que conduzia a um sitio tão imenso como a Grande Floresta Central) fosse um sitio algo estranho. Homens solitários alugavam quartos sinistros em pensões decadentes, velhos feiticeiros carrancudos instalavam-se literalmente no meio da rua e jovens aventureiros regressavam da floresta desfeitos. Nunca faltavam homens nas tabernas, e estas mantinham-se abertas graças ás desgraças dos pobres caminhantes, como que velhos abutres a espera da batalha. Ora pelo contrário, o velho bairro Oriental, o qual era significativamente longe da estrada, era menos mal frequentado, mas não menos agitado. No bairro Ocidental instalavam-se os estranhos que estavam de passagem, e no Oriental os habitantes fixos da cidade.

 
Porem houve um dia que um estranho homem entrou no bairro Oriental. Era um acontecimento nunca visto um homem destes entrar naqueles lados. Tinha aquele aspecto que as pessoas adoram definir como “marginal” “sem abrigo” ou “criminoso”. Como devem imaginar, toda a população do venerável bairro que se considerava “admiravelmente respeitável” e “veneradamente bem educada” parou os seus afazeres para observar, de alto a baixo, a estranha personagem. Ora era um homem raro de aparecer, tanto ali como em todo o lado. Tinha uma barba branca acinzentada que lhe chegava aos joelhos e que ele prendia entre o cinto, que era de um cabedal castanho-escuro incrivelmente gasto. Esse cinto prendia (para alem da grande barba) uma grande túnica azul-escura, túnica essa que era coberta com um manto azul-escuro, feito de uma espécie de seda que arrastava longamente pelo chão. As suas sobrancelhas eram brancas como a neve e os olhos verdes. O seu rosto era enrugado e preocupado. Tinha cabelos cinzentos que lhe chegavam as costas, mas que eram consideravelmente mais pequenos que a invulgar barba, e por cima desses cabelos erguia-se um altivo chapéu bicudo, sem aba, e que, adivinhem só, era azul-escuro… as suas botas não se viam pois eram tapadas pela longa túnica, e mesmo a andar, os pés nunca saiam de fora dela. Apoiava o peso do seu corpo (que devia ser pouco pois apesar de ter a altura de um homem normal, e de as suas vestes não deixarem ver a sua massa corporal, era obvio que andava demasiadamente apressado para homem gordo) num bordão de madeira que ultrapassava a sua cabeça em quatro ou cinco centímetros. Este não era totalmente direito e era feito se uma madeira clara, a qual tinha aspecto de ser magica pois era um castanho cor de leite com café, e nenhuma arvore tinha uma madeira deste tipo em todas as terras do Norte. Este bordão terminava na forma de uma ave de bico virado para baixo, como fazem os flamingos, mas o bico era totalmente cilíndrico e devia ter talvez um centímetro de diâmetro. A cabeça da ave tinha duas tiras de madeira rectangulares, com cerca de vinte centímetros de altura, com alguns milímetros de diâmetro, mas extremamente resistente, que subia e dava uma volta. Entre as duas encaixava um cristal redondo. Era um cristal transparente, com algumas partes esbranquiçadas.

Ora esta estranha personagem andou apressadamente pela rua principal, olhando para todos os lados procurando algo ou alguém (sempre sobre o olhar atento dos populares). Chegou a uma rua estreita e por ai se meteu. Essa rua tinha pouca luz mas dava para ver bem as portas. As casas, como em toda a cidade eram de pedra branca, mas as portas eram de uma madeira exótica. Ao chegar a porta número dezassete parou, olhou atentamente para a varanda em cima, durante alguns segundos, e por fim bateu na porta com a sua mão áspera. Esta demorou intermináveis segundos a produzir algum som. De repente, do interior da casa, ouviu-se um som. Eram sons de passos. Eram passos ruidosos. De repente a porta rangeu e abriu-se lentamente. Apareceu uma cara assustada por entre a porta, as assim que esta reconheceu os estranho homem (pelos vistos, não era o seu primeiro encontro) o medo desapareceu do seu olhar e abriu a porta por completo. Era uma figurinha baixa, talvez de um metro e vinte, barba pela cintura e cabelo igualmente pela cintura com vestes multi-colores, todas elas, cores muito vivas e um cinto com a fivela de prata (cinto esse que segurava um punhal com a pega de ouro). A barba e o cabelos eram brancos como a qual, ao contrario do seu rosto que era queimado e enrugado. Os seus olhos eram um laranja acastanhado… não era cor de mel, era mais escuro. As suas sobrancelhas, ao contrário do cabelo, eram ruivas e estranhamente peludas. As suas mãos eram pequenas, e os pés (encontrava-se descalço pois estava em sua casa) eram grandes e enrugados.

Ora tudo isto faz qualquer um deduzir que esta criatura seria um anão. E era isso que ele era.

-Morit, meu amigo! Há muito aguardo por si! Então por onde tem andado, seu velho mocho? Praticando mais um dos seus grandes feitiços? Ah sua raposa matreira, nem sabe as tormentas que tenho passado nesta maldita cidade de homens! – disse o nosso anão com olhar extremamente alegre.

Como já devem ter percebido o estranho homem chamava-se Morit e era um feiticeiro. Ora como resposta, Morit disse a Rarum (esse era o nome do anão):

-É bom que me respeite Rarum! Pois eu sou um Mago, não um mago qualquer, mas sim Morit, o caminhante!

Seguiu-se o silêncio, com os dois fintando-se atentamente. Depois, não aguentando mais a pressão (pois o olhar de um mago e bastante cansativo), quebrou o silêncio e disse:

-Ora deixe-se de patetices e entre de uma vez! O pão já e de anteontem e quanto mais demorarmos mais ele endurece!

Morit começou a rir-se e, ao mesmo tempo que passava pela porta de entrada disse:

-Pois bem, você nunca me ganhará, o meu olhar de mago não deixa ficar calado. Ah ah ah!

-Um dia eu ganharei Morit, escreva o que eu lhe digo!

E com estas palavras Rarum fechou a porta olhando atentamente, para ter a certeza de que ninguém havia seguido o feiticeiro até ali.

A casa do anão era realmente bonita, apesar de bastante pequena pois aquela rua era demasiado estreita para albergar mansões. Toda a casa era como que “forrada” com madeira, inclusive o tecto. Era baixa, mas alta o suficiente para albergar um homem, mesmo que alto. Passando por um estreito e baixo corredor, com uma longa alcatifa foram dar a uma sala com três confortáveis cadeirões, outra grande alcatifa, uma mesa de madeira, baixinha, com centenas de mapas, livros, papeis soltos… enfim uma grande confusão típica de um anão (ainda para mais, um anão amigo de caminhantes, e para aumentar mais o vosso conhecimento sobre Rarum digo-vos que ele próprio era um caminhante!). Tinha também uma grande lareira (que se encontrava com uma grande chama acesa no seu interior) e por cima estava um mapa das terras do norte, desenhado por ele próprio e orgulhosamente emoldurado. Ora nas terras do norte as temperaturas de verão está entre os 30º graus no norte e os 40º no sul. Mas as de Inverno encontram-se entre os 25º graus no sul e os -10º no norte! Ora nesse dia de Inverno estavam 20º graus em Alin. Por isso Morit, como se fosse o dono da casa, arrastou a mesa para o canto da pequena sala, também esta forrada de madeira, colocou um dos grandes cadeirões em frente da lareira, sentou-se confortavelmente, encostou o bordão ao ombro e ergueu as mãos de palmas viradas para o fogo. Rarum fez o mesmo.

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