O Voar do Cisne

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Escrito por glaunir
Introdução

Alguns costumam dizer que viver é percorrer uma longa ponte. Ao chegar do outro lado, é esperado que riscos tenham sido corridos, para que você saiba de fato o que foi viver. Talvez Nietzsche tenha acertado nesta sua afirmação… até mais do que ele tenha imaginado quando a compôs.

 

As grandes histórias são construídas pela dor e a dúvida. O caminho a
ser percorrido pela ponte da vida, muitas vezes, é doloroso e
mortificante. Mas eis que os corajosos triunfarão sobre si e escalarão
as pedras que impedem suas passagens!

A história que irei lhes contar é sobre como a travessia da ponte da
vida pode ser arruinante. Como a honra e a coragem podem ser
substituídos pela perfídia e a covardia, destruindo vidas e esperanças.
Em um momento em que o mundo pedia auxílio, a resposta foi a destruição
e o pervertimento.

Capítulo Primeiro
O Lago do Não-Ser

Kristanna caminhava sozinha por entre as árvores. Finalmente, conseguira um tempo para pensar consigo mesma. Ultimamente, muita coisa estava acontecendo e parecia que ninguém a deixava raciocinar por si mesma e tentar compreender o que acontecia fora das muralhas da cidade.

Por toda a sua existência, 3.200 anos, tudo o que conhecia estava na parte de dentro das muralhas da cidade de Schirmghann. Os elfos mais velhos e sábios diziam que este era um nome que os homens haviam dado àquele lugar há muito tempo, mas que o verdadeiro nome do território élfico foi esquecido no tempo. A história de Schirmghann começava na época de Morgoth, quando a aniquilação e o medo estavam por toda a parte. A permanência deles naquele esconderijo foi desde o momento em que ficaram temerosos de seguir para o Oeste. O pouco contato que tiveram com os homens diz respeito a invasões e descobrimentos destes últimos, que acabaram fugindo ou sendo mortos pelos elfos.

A elfa não sabia o que pensar: se eram elfos sozinhos no mundo, segundo o relato de guerreiros élficos que se aventuraram fora das muralhas, por que não podiam se misturar no mundo dos tais homens? Aliás, eles pareciam criaturas peludas e ignorantes!

– Então, está pensando em abandonar o seu refúgio?

Kristanna assustou-se muito com a interrupção, mas mais ainda ao olhar para a figura dona da voz: era um elfo de aparência extremamente idosa e ainda assim o fulgor da juventude reinava dentro dele.

– Quem é o senhor?

O velho sorriu e, simplesmente, respondeu:

– O que importa agora é o destino da Terra-Média e não a minha identidade. Por isso, vou lhe dar a chance de escolher se pode me ajudar com aqueles que vivem fora deste refúgio sagrado.

A elfa não teve tempo de decidir. Não, ela teve sim: queria tornar os homens brutos e animalescos em seres sociais e inteligentes, tais como o eram os elfos. Mas, o velho elfo interrompeu esse seu pensar e mostrou-lhe uma radiante folha de uma árvore no fundo da bosque de Tatalieth – aliás, parecia que toda a floresta ao redor partia das raízes desta árvore.

Não, não era uma folha qualquer e que estava refletindo a luz do sol: de cada uma de suas raízes parecia que uma parte de uma figura se formava….

– Este é o espelho do não-ser. Mostra imagens e acontecimentos que trarão grandes mudanças ao mundo. Era parte do refúgio de Yavanna aqui na Terra-Média, antes que os Valar se fossem para sempre para Valinor – disse o elfo.

Na verdade, não foi preciso que o velho lhe dissesse muita coisa. Kristanna sabia que se quisesse entender um pouco do universo de lá de fora, teria que olhar carinhosa e atentamente para a misteriosa folha.

 “Uma pequena criatura embarcava em um navio…. um rei comandava aos homens com generosidade e força….a morte do poderoso rei….Sombra….vitória dos homens….guerras e conflitos…..fogo….um novo tirano…..os homens se julgam superiores…..árvores derrubadas……seca…..fome….morte….VAZIO”.

Como que saindo de dentro de uma bolha a menina voltou a si. Olhou em volta e se surpreendeu ao ver que sentia tristeza.

-Senhor, os homens não são aquilo que o meu povo costuma descrever!

O velho sorriu e respondeu:

– Há muito que o seu povo não sabe o que é a vida fora destas muralhas. Aliás, não sabem o que é a vida!

– E posso perguntar por que o senhor acha que deveria eu saber o que é a vida?

– Porque você pode ser a única esperança que a Terra dos Homens tem. Os elfos há muito se foram da Terra-Média e vocês aqui ficaram. Agora, vocês podem se ajudar.

É claro que a perspectiva de sair do seu refúgio seguro e encarar uma realidade com a qual nunca sequer ouvira falar, era assustadora!

– Senhor, não posso me comprometer com tal responsabilidade! Este é o meu mundo! Não posso sair da Terra-Média que conheço e chegar como uma aventureira neste outro mundo.

O velho sorriu e se retirou sem dizer mais palavra. Kristanna ficou com os sons dos passarinhos como única companhia ao seu redor. O vento a roçar pelo seu rosto parecia lhe pedir que se soltasse e deixasse ser levada para onde a leve brisa vespertina a carregasse. Naquele momento, até mesmo o mundo fora das muralhas lhe pareça atrativo.

Sim, talvez o destino se lhe estivesse apresentando tal como o foi para seus antepassados. Iria ela recusar a Luz e ficar nas Trevas, tal como eles fizeram com Valinor? Ou não, seria alguém que conduziria a todos para a luz?

O momento seria de decisão, mas Lufindas a chamou e ela preferiu não perturbar seu amado com tais questões. Imagina só se abandonaria o seu amor pela honra de uns poucos homens!
 

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