Like a Bird – Parte 17

Escrito por Fábio Bettega

O suor escorreu pela face ferida, misturando-se com o sangue e, deslizando pelo rosto, caiu finalmente no chão.Hotaru imaginava se, em qualquer lugar, Ai estava passando por algo semelhante. Não, se ela tivesse sorte. Tudo que ela queria era Ai solta e forte, para vir soltá-la. Era humilhante e difícil de encarar, mas era verdade. Ai era seis anos mais nova que ela, e durante anos sua melhor diversão fora chamá-la de pirralha.E provocá-la até que ela fosse correndo e chorando para os pais. Daí, ela e Kenji estariam em apuros…

 

Ela deu um riso exausto. Bons tempos. Sem prisões úmidas e fétidas, sem algemas e correntes, sem sangue e cabelo colados no rosto de forma nojenta.

A menina tipicamente japonesa preferiu voltar seus pensamentos pra Ai. Ai Shinomori, primogênita dos chefes do atual maior clã do Japão.Antes do grande massacre, eram todos crianças e felizes. Depois Ai, órfã, resolveu aperfeiçoar suas técnicas de lutas, até se tornar a assassina mais refinada do país. Estava protegida pelas esferas políticas e econômicas de todo país e do continente também. Mas quando demoravam para achá-la, viviam ela mesma, Ai e Kenji pelas cidades, divertindo-se, feito delinqüentes.

Ai. Seu nome significava amor, e isso parecia evocar todas as reações primitivas nos homens. TODOS a amavam, cedo ou tarde. Mas Ai não amava ninguém. Circulava impunemente entre seus enamorados, dando sorrisos a uns, tenções a outros, carinho, quando muito, afeto sincero e desinteressado. Mas não amor. Nunca amor. Podia mover-se num ritmo frenético e numa naturalidade alucinante entre uma paixão e outra.

Mas essas nunca eram os homens em si, no máximo o que eles pudessem lhe ensinar. Fosse a pintar, lutar, fosse sobre civilizações antigas ou arquitetura. Ela se apaixonava pelo conhecimento, não pelas pessoas.

Mas as pessoas se apaixonavam por ela. Os seus corações começavam a girar por causa de Ai, começavam lentamente, até adquirir uma velocidade insana, e a exclusão de tudo mais. Fora assim com ela. E com Kenji. E todos os outros.

Qualquer um, por pior ou melhor que fosse, acabaria se apaixonando por Ai. E amando-a incondicionalmente. E seguindo-a para onde diabos ela resolvesse arrastá-lo. Do cume ás profundezas, eles iriam atrás. Como cachorros sem dignidades que eram.

"Meu deus." ela pensou, esgotada "A que ponto chegamos…Só espero que ela apareça logo."

O pensamento que ela pudesse não vir em seu salvamento nunca lhe passou pela cabeça.

Ai tinha alguma coisa de sobrenatural.E Hotaru tinha certeza que ela não era de todo humana…

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A hobbit olhava, impressionada, a menina á sua frente. Em pouco tempo ela vira sua nova amiga aceitar as cantadas do carcereiro feito uma prostituta, afundar uma garrafa de alguma bebida na garganta dele tão fundo quando sua força permitiu, chutá-lo e a seu companheiro, prendê-los e libertara. Tudo isso sem dar um instante para que ela, Ana Monteiro, pudesse ao menos definir um pensamento a respeito dela.E agora ela vinha em sua direção.

-Venha.- a humana lhe sorriu, com olhos verdes brilhando como chamas enquanto a soltava -Não temos muito tempo. Você quer fugir agora ou vem comigo?Eu preciso pegar minha amiga.

-Você não saberia chegar lá.- a hobbit disse, esfregando os punhos machucados -Eu te levo.

Ambas saíram da cela e foram até o armário onde estavam suas coisas e mais algumas -Você sabe lutar?- perguntou Miyoru, colocando suas facas e punhais nos devidos lugares sob a roupa.

-Eu…sei atirar de arco e flecha.- Ana falou, mentindo. Ou quase. Sabia atirar. Apenas não tinha uma mira privilegiada, porque, inveriavelmente, fechava os límpidos olhos azuis quando soltava a flecha.

Miyoru subitamente jogou-lhe uma capa mofada e bolorenta sobre o corpo pequeno da hobbit, e outra sobre si mesma -Um pouco de disfarce não faz mal a ninguém.- ela explicou, arquejando, mas percebeu que sua pequena amiga tinha um corte no rosto , e enfiou a mão numa bolsa, enquanto perguntava, preocupada -Tudo bem com você Ana-san?Está ardendo?Eu vou tirar uma erva que pode cicatrizar mais rápido…- ela procurava a tal erva na bolsa

Ana a olhou de uma forma diferente, com carinho. Então pousou sua mão sobre a pálida mão de Miyoru -Você pode cuidar disso depois. Eu realmente acho melhor sairmos daqui agora.- e Miyoru assentiu.

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Todos estavam relaxando, antes da luta. Ou supostamente deveriam estar, porque a tensão era tão palpável quando a grama sob seus pés.

Todos estavam se ocupando com alguma coisa, tentando não enlouquecer pela pressão do momento. Absolutamente qualquer coisa servia. Juntar folhas, lavar a louça, contar os nós das tranças que formavam a corda, raspar o tronco de uma árvore…Apenas Gandalf estava parado, pensando. Mas suspirava a cada barulho irritante de um outro membro da sociedade. Cada som parecia afetá-lo como uma explosão, até que, ele mesmo, explodiu

-RAIOS!- ele se levantou, num estrondo – Vão todos descansar para amanhã!Vamos, é uma ordem!Deitem-se, fiquem quietos e procurem dormir! – ele ordenou de forma ríspida, e os hobbits se atiraram para seus abrigos.

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Gimli se acomodou também. Como Aragorn e o próprio Gandalf. Apenas Legolas permaneceu mexendo com seu arco, melancólico. E por respeito a ele, ninguém se atreveu a contestá-lo, e todos puderam sentir o amargor da dor que ele sentia.

-Dizem que os elfos amam mais. E sentem mais tristeza.- sussurro Sam. Antes de fecharem os olhos e todos tentarem adormecer. E Legolas ouviu, e se afastou do grupo, tristemente.

Ele apertava os olhos quando os sentia molhados e olhava para as estrelas "Por que?" martelava sua cabeça. Queria que ela tivesse lhe confessado os planos. Desejava que ela se sentisse tão íntima e confiante nele a ponto de confiar-lhe algo assim. Teria ido com ela, se não pudesse impedi-la. E agora
ela estaria a salvo…ou ao menos estariam juntos numa cela.

Ele balçançou a cabeça, desesperadamente. A imagem de Miyoru numa cela era equivalente a ter a pele arrancada e sal atirado por cima.Cada escoriação que ela sofria parecia lembrar-lhe de sua incompetência em protegê-la…

Ele olhou para a lua, lembrando-se, quase que se torturando, com a figura amada. O som de seu riso, a maciez de sua pele…céus, toda vez que ele a abraçava se sentia como se estivessem bem-aventurança de Valinor.

Ele cerrou os olhos contra a vontade, tentando se lembrar de toda ela…e, por um momento, se sentiu elevado, tirado da podridão e guerra da Terra-média… até que sentiu uma mão tocar seu ombro. Mas não se
virou – sabia quem era.

-Vai dar tudo certo. Ela estará conosco muito em breve. Não fique preocupado, meu amigo.

Ele suspirou -Aragorn, eu… eu não queria que ela sofresse.- ele se resignou a dizer, com sua bela voz consternada

-Ela não vai. Entraremos naquela torre e a salvaremos antes que você possa recitar Elbereth Gilthoniel.- o rei disse isso com absoluta confiança

Legolas levantou os olhos novamente, contemplando as estrelas. Fazia uma prece silenciosa para Elbereth desde que descobrira a precária fuga de Miyoru…Miyoru! A Beleza da Noite, os olhos mais lindos que ele já vira, a pele mais macia, a boca mais desejada, o coração mais almejado, os carinhos
mais necessário. Perguntou, silenciosamente, ás estrelas se ele soubesse o que o aguardava, teria se entregado tão espontaneamente á essa demanda?

No breu madrigal, um sorriso fugidio nasceu e seus músculos relaxaram sensivelmente. Claro que sim. Nada poderia superar o êxtase, a felicidade desse sentimento. Podia entender Lúthien, e Lady Arwen. As compreendia absurdamente. Por Miyoru, ele iria até Morgoth, no vazio.

-Assim está melhor.- Aragorn parecia ele mesmo quase desesperado -Descanse, Legolas. Precisará ter forças.

-Eu tenho a maior força do mundo, Aragorn.- ele sussurrou suavemente

-Esse é o espírito.- o ex-ranger sorriu e se afastou, deixando Legolas sozinho, acalentando seu amor.

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Ao fecharem a pesada porta, ambas as meninas tiraram aqueles capuzes imundos, finalmente respirando ar – o mais limpo que podia-se ter naquela torre, afinal.

Mas Miyoru não ficou muito tempo descansando. Movimentou-se rapidamente até as grandes despensas nas paredes e tirando algumas ervas, cheirando outras, aprovando ou não, e atirando-as encima de uma mesa que tinha ali.

-O que está fazendo?- perguntou Ana, e Miyoru sorriu para ela -Estou preparando uma coisinha pro chefe desse castelo…

-Posso ajudar?

-Ah, claro!Por favor, amasse essas ervas nesse pote.- ela separou um punhado ali e estendeu-lhe uma moenda. A hobbit, prestimosamente, começou a fazer o que ela pediu, enquanto Miyoru fazia algumas outras misturas…

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O sol da manhã.

E um chute na porta.

E depois, tudo aconteceu muito, muito rápido.

A apreensão de Hotaru se esvaiu e um suspiro de alívio tomou vida, como se o ar fosse sacudido do lugar. Ai viera, estava ali, com uma criança, pra salvá-la. COmo sempre, a sua irresponsável amiga estava rindo e se divertindo como se fosse tudo um jogo. Maldita pirralha inconseqüente, triplamente amada.

-Venha, Hota-chan. Não temos tempo nenhum.- Miyoru a puxa, e saem todas correndo feito umas tresloucadas. A criança que viera com ela, que parecia bonita como uma boneca, atirava uma flechas a torto e a direito, em todas e qualquer direção.Bom, decerto MIyoru sabia o que estava fazendo.

Hotaru fechou o semblante. Era mais provável que não.

-Sua retardada!- Hotaru gritou, enquanto desciam uma longa escada em espiral

-Que diabos de plano maluco e sem sentido é esse?- ela empurrava Miyoru e ambas levantaram Ana, levando-a mais rápido

-Hota-chan, eu temo que não haja um plano bem definido e…- mas Miyoru foi interrompida pela voz temerosa de Ana

-Senhorita Miyoru…eu acho que perdi todas as minhas flechas…

Elas pararam na escada , e degraus abaixo um punhado de orcs as aguardavam com expressões deveras asquerosas. O único comentário de Hotaru foi

-Momento perfeito, mina filha…

Miyoru assumiu uma postura séria, e disse -Não permita que firam a Ana-san, Hotaru.- e sacou as espadas duplas, atacando-os numa arrancada, aproveitando o espaço apertado para enfrentar um ou dois de cada vez.

Ana fitou-a, em estado de torpor. Os movimentos rápidos de ambas as lâminas que se moviam como pássaros, e Miyoru parecia dançar majestosa e magnificamente, o não lutar. O seu corpo se movimentava com leveza e graça, como um feitiço, e os olhos brilhavam como chamas. E os corpos iam caídos, destroçados, cortados ao meio, acabados, enquanto Hotaru levava a hobbit com cuidado, protegendo-a, com um sorriso enviesado.Outra paixão…

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Tudo aconteceu muito, muito rápido.

O sol da manhã.

E depois um chute na porta.

Eles invadiram a torre fazendo barulho e matando desesperadamente, uma chacina irremediavelmente fadada a falhar, se não fosse a sorte abençoada que cobria aqueles andarilhos. E suas primorosas habilidades em campo de batalha.

Um grito feminino se esgueirou, ruidoso, pela escada abaixo, voltando a tenção de todos para lá, e exatamente para lá se dirigiram, atropelando toda e qualquer cosia – ou orc, ou pessoa – que se transpusesse entre eles e seu objetivo.

Enquanto subiam as escadas, o arco de legolas cantava, e as espadas faiscavam. Os pensamentos do grupo se voltavam unicamente na esperança de chegar a tempo de defender Miyoru , e Legolas provava mais que nunca uma situação em que seu corpo parecia estar sendo rasgado por corvos.Se sua reciosa menina sofresse, se ela morresse…

Mas quando galgaram mais alguns degraus uma cena absolutamente nova se descortinou diante de seus olhos: Miyoru estava lutando, não apenas corajosa, mas de maneira triunfante e fenomenal. Atrás dela tinham uma menina e, absurdo dos absurdos, uma hobbit!

Miyoru sorriu para eles, encharcada em suor -Oi!Não me olhem assim, eu fui perfeita até agora!- ela gritou, voltando a desferir seus golpes fatais. As faces surpresas de todos se converteram em expressões de alívio, e então de batalha. Mas um coração ali se sentia especialmente vivo e aliviado ao ver que sua criança se encontrava salva, e tão sã quanto possível.

Os orcs e os homens inimigos foram rapidamente liquidados até o último remanescente, e eles desceram até o andar debaixo, todos arfando e suados, e em silêncio…então Pippin não agüentou

-Miyoru!- e a abraçou com força -Morremos de saudades suas.- e logo todos os hobbits fizeram os mesmos, e estavam rindo, parecendo um bolinho humano.

-Hey, hey.- ela os afastou -Eu quero apresentar: essa é minha amiga, hotaru.- a menina de cabelos castanhos curtos, alta e morena, fez um meneio de cabeça.

-E essa é Ana Monteiro.

Quando Miyoru moveu o capuz dela, revelando cabelos ruivíssimos e olhos azuis, o mundo pareceu parar para Frodo. Ele ficou olhando aquela Hobbit entorpecido, sem compreender o incêndio elétrico de sensações que o queimavam vivo.

-Olá…- ela disse, e Merry logo soltou -Nunca te vi no condado!- a pequena sorriu, balançando a cabeça -Eu sou de Bri…

Miyoru riu sua
vemente da evidente atração bombástica de Frodo pela menina,antes de perceber Legolas ao seu lado -Eu senti imensamente a sua falta, Miyoru.-

Ela corou, envergonhada por ter fugido -Eu…hãann…

-Eu acho melhor sairmos daqui.- disse Gimli , cortando tudo, enjoado com aquele ar românticista.

-Não.- Miyoru interrompeu -Eu quero desafiar o senhor dessa torre.- ela disse, sinistramente.

Aragorn assentiu, depois de um tempo, e todos se moveram pelo castelo, voltando para a sala onde Miyoru estivera antes…

 

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