Lá e de Volta Outra Vez: As Férias de um Hobbit – Capí­tulo 5

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Escrito por erius
Apresentação:

Chegamos ao 5º Capítulo do "Lá e de Volta Outra Vez". O que trazemos desta vez?

 

Além da continuação da saga de Bilbo e os Anões, vocês encontrarão um
ótimo texto sobre as runas usadas em O Hobbit, imagens sensacionais na
galeria, e textos sobre Smaug, Bard e o reino dos Anões em Erebor. Não
deixem de conferir as surpresas deste capítulo, as curiosidades e a
morte de Smaug!
Boa leitura!

Lá e de Volta Outra Vez: As Férias de um Hobbit – Capítulo 5

Das datas e dos acontecimentos

Depois de Thorin, os seis primeiros a sair foram Dwalin, Balin, Bifur,
Bofur, Fili e Kili. Estes dois últimos, por serem os mais jovens do
grupo de anões, ajudaram Bilbo a resgatar os restantes, Bombur, Dori,
Nori, Ori, Oin e Glóin. Estavam famintos e sujos, a primeira opção foi
irem à Cidade do Lago. Sendo conduzidos pelos guardas, a Comitiva
entrou num grande salão onde ocorria um banquete. Ali, encontrava-se o
Senhor da cidade. Thorin se apresentou e quando os moradores ouviram
“… Rei sob a Montanha”, começaram a cantar e a festejar[1].

Mesmo o Senhor, não sabendo se aquele anão sujo e molhado era de fato o
“Rei”, acabou acatando os pedidos do povo. Ao lado dele, na mesa
principal, sentaram-se Fili, Kili, Thorin e Bilbo, que puderam
desfrutar do banquete.

O Senhor da cidade tratou de arranjar uma grande casa onde os
aventureiros pudessem ficar. Durante pouco mais de 2 semanas eles
puderam gozar de ótimas refeições, além de terem roupas novas de
tecidos finos. O único infeliz era o Sr. Bolseiro, que andara gripado
durante os 3 primeiros dias, tossindo e espirrando muito.

Por volta do dia 9 de outubro eles partiram, com três grandes barcos,
com muitas provisões e com o auxílio de remadores de Esgaroth. Pela
margem, iam alguns pôneis e cavalos, para que pudessem usá-los depois
na cavalgada até a Montanha. Bilbo continuava infeliz. Nos corredores
externos da cidade, pessoas se despediam e cantavam.

Dois dias depois saíram do Lago Comprido e entraram no Rio Corrente. A
correnteza era contrária à eles, por isso a navegação tornava-se lenta
e cansativa. Foi no final do terceiro dia que encostaram na margem
ocidental e desembarcaram. Nessa altura, os pôneis já haviam chegado.
Era noite do dia 12 de outubro, quando começaram a cavalgada. Apesar de
estar escuro, os homens que haviam vindo auxiliando, preferiram não
seguir junto, e voltaram remando.

O grupo seguia para o noroeste, distanciando-se do Rio Corrente. A
jornada até a montanha era acompanhada de desgastante melancolia. Não
haviam risos, tampouco canções. Quando finalmente atingiram a Montanha,
encontraram as terras desoladas, tornadas áridas pela ação do Dragão.
Escura e silenciosa, erguia-se sobre eles a Montanha Solitária, que
possuia cerca de 16 quilômetros de diâmetros e mil metros de altura.

O outono transformava-se em inverno, e o hobbit ainda era o que
mantinha maiores doses de ânimo no grupo. E graças a esse ânimo que a
porta secreta que dava entrada à Montanha foi encontrada, em uma
saliência oculta da Montanha. Era o décimo nono dia de Outubro, e os
aventureiros decidiram mudar seu acampamento para o novo local. Porém,
encontrar a porta não significa entrar, uma vez que a mesma estava
trancada. E ali esperaram, até que o Dia de Durin [2]
chegasse, permitindo que a porta fosse aberta, quando, no final da
tarde, um último raio do sol a atingiu, fazendo com que uma lasca se
abrisse para que a chave (que estava com o mapa) ali fosse colocada. A
passagem estava aberta.

Um túnel dava seqüência à porta, estendendo-se por aproximadamente 3
quilômetros até atingir a câmara onde Smaug dormia, o mais profundo
porão da Montanha. Este salão devia ter ao menos 50 metros de diâmetro,
o suficiente para abrigar um Dragão que devia possuir seus 20 metros de
comprimento. Bilbo chegara até ali, suplantando seus temores. E na
tentativa de roubar uma pequena taça pertencente ao tesouro acabou por
despertar Smaug. Bilbo somente se salvou por estar invisível graças ao
Anel, e assim ele conseguiu escapar da ira do Dragão, que por pouco
também não pega os Anões em sua caça ao invasor. Todos refugiaram-se no
túnel secreto protegendo-se da ira do dragão. Smaug não conseguiu
capturar ninguém do grupo, mas ele jamais se esqueceria de castigar
quem roubou algo de seu tesouro.

No dia seguinte, Bilbo retornou ao covil do dragão, novamente invisível
(claro!). Smaug logo percebeu a presença do hobbit, e iniciou uma
conversa. Em meio a tal conversa, Bilbo descobriu que o lagarto possuía
um ponto fraco em seu dorso, que era recoberto por um colete de
diamantes.

Durante a noite, uma vez mais Smaug tentou atacá-los, mas por sorte
eles haviam acabado de entrar na montanha. Fracassado, Smaug lembrou-se
da conversa que tivera com Bilbo. “Montador de Barril?
– Não foi difícil para ele juntar as peças e descobrir que o hobbit e
seus companheiros haviam passado pela cidade do Lago. E para lá ele
direcionou sua ira, alçando vôo, flamejante.

Ao longe, muitos na cidade acreditaram que o Rei sob a Montanha
novamente forjava ouro, mas logo suas esperanças transformaram-se em
pavor. A população agitou-se ao avistar Smaug. Ele chegara à cidade,
cuspindo fogo. Poucos tinha coragem para enfrentá-lo, e dentre esses
poucos estava Bard. Ele instigava os homens à luta, mas as flechas não
feriam Smaug, enquanto ele destruía a cidade, arremetendo-se sobre ele
seguidas vezes.

Uma última companhia de arqueiros permanecia resistindo, quando Smaug
os atacou. Seu líder, Bard, envergava o arco, quando um tordo pousou em
seu ombro, e lhe revelou o ponto fraco de Smaug, o qual ele ouvira
Bilbo comentando com os anões. Então Bard esticou seu arco, e disparou
sua flecha negra. Ela voou em direção ao dorso do dragão, atingindo o
vazio em seu peito e desaparecendo por completo dentro da carne do
mesmo. Smaug caiu em cima da cidade. A cidade estava destruída, mas o
dragão fora morto.

As Runas

Um pouco de História:

Quando Tolkien escreveu “O Hobbit”, ainda não havia criado as Angerthas
(as runas – élficas e anãs) que seriam usadas posteriormente em O Senhor dos Anéis. Por isso nota-se uma clara diferença entre as runas usadas em O Hobbit, como no Mapa de Thror, para O Senhor dos Anéis,
como no Túmulo de Balin, por exemplo. Mas ambos os livros usam runas na
forma inscrita, entalhada na rocha, e não em pedras soltas, como usadas
em mitologias ou até mesmo em jogos.

Runas são caracteres rúnicos, relativos aos mais antigos alfabetos
escandinavos (uma denominação ao norte da Europa, que agrega 5 países,
como a Noruega e Finlândia) e germânicos, constituídos de sinais
entalhados na pedra e na madeira. O alfabeto rúnico nórdico ou recente
foi usado na Escandinávia entre os séculos IX e XV, e é este que
Tolkien pega emprestado para usá-los em O Hobbit, também conhecidos
como as Runas Inglesas.

Percebemos que as Runas Inglesas são todas, em sua formação, uma união
de linhas retas, ao contrário das Angerthas que Tolkien criou, em que
há casos que aparecem linhas em curva.

Falando em mitologia, também vale destacar as utilidades e os usos das
runas: em tempos primitivos, nos povos nórdicos, usavam-se as runas
para prever o futuro; eles “embaralhavam” as pedras e depois tentavam
fazer as adivinhações. Runas também tinham finalidades mágicas em
muitos casos, tanto para malignas quanto benignas. Mas foi em épocas
posteriores que passaram a ser empregadas com mais freqüência em
epitáfios de túmulos.

As Runas de O Hobbit:

Vamos voltar para o nosso O Hobbit. No prefácio do livro,
o editor explica o que significa cada trecho de runas no Mapa da Thror,
isso é, a “tradução” para a nossa língua, ou pelo menos para a língua
inglesa. Com a ajuda de uma tabela, as runas podem ser facilmente decodificadas e lidas.

Mas como para tudo existem regras, nesta tabela podemos observar o uso
de uma mesma runa para as letras U e V; e para I e J. Há casos em que
uma única runa corresponde a duas letras, como em th, ng, ee, ea e st.
Prova disso são as “assinaturas” que os anões deixam no Mapa de Thror,
já que seus nomes começam com “Th”, Thror e Thrain. Assim como na
ilustração “Conversa com Smaug”, em que Tolkien usou a runa inglesa (th) para mostrar que os barris cheios de ouro foram um dia dos anões.

Quando duas letras iguais aparecem numa palavra, com a intenção de
indicar um único fonema (dígrafo), como no português, “peSSoas”, não
precisa-se usar a runa S duas vezes, podemos optar pelo uso de uma runa
só. Porém, se repetir a runa, não estará errado. Só é mais prático.

A primeira inscrição no Mapa de Thror, que aparece debaixo de uma mão,
é a seguinte, em inglês: “Five feet high the door and three may walk
abreast”, que no português significa: “Cinco pés de altura tem a porta,
e três podem passar lado a lado”. Repare que a regra de uma runa para
duas letras é utilizada, e ocorre nas palavras que seguem abaixo entre
[ ]. Acompanhe no mapa: aqui

F[ee]t: ee =
[Th]e: th =
D[oo]r: oo =
[Th]r[ee].

Outro trecho em runas, um pouco mais extenso encontra-se no centro do
Mapa. Escrito em letras-da-lua na forma inglesa, corresponde a: “Stand
by the grey stone when the thrush knocks and the setting with last
light of Durin’s day will shine upon the keyhole”. Sua tradução é:
“Fique ao lado da pedra cinzenta, quando o tordo bater e o Sol poente,
com a última luz do Dia de Durin, brilhará sobre a fechadura”. Todas as
palavras em inglês que têm “th”, neste trecho, fizeram o uso de somente
uma runa. Curiosamente, o ST em “stand”, “stone” e “last” não foi
substituído pela runa (st), mas sim pelas somas de (S) + (T). A única novidade é na palavra abaixo:

Setti[ng]: ng =

Acompanhe essa análise na arte do Mapa: aqui.

De Erebor

Após cavar muito profundamente para procurar Mithril, os anões que
habitavam em Moria libertaram um grande demônio dos tempos antigos: um
Balrog de Morgoth, que atacou com fúria os despreparados anões e matou
seu líder, o Rei Durin além de seu filho Náim e muitos outros de sua
prole.

Alguns anões ainda conseguiram fugir do local e vagaram errantes por
anos, até que em 1999 da terceira Era, Thráin I, filho de Náim, fundou
o Reino de Erebor, localizado ao leste da Floresta das Trevas e ao
oeste das Colinas de Ferro, com os sobreviventes do povo de Moria que
lhe acompanhavam.

A primeira crise veio no ano de 2210 da mesma Era, quando o senhor de
Erebor, Thorin, guiou seu povo para residir nas Montanhas Cinzentas,
por ter a esperança de encontrar muitos outros anões sobreviventes de
Moria, tornando a região da montanha solitária quase deserta. Ali,
Thorin foi aceito como rei e pode usar seu anel do poder para fazer a
região prosperar novamente. Após o reinado de Thorin, seu filho Gróin,
reinou, e depois Óin, Náin II e Dáin I.

Com o sucesso do novo reino desses anões, a prosperidade financeira
tornou-se absoluta, sendo que a fama do ouro desse local passou a ser
muito grande. Aconteceu, então, que alguns dragões atacaram o reino,
matando muitos anões e expulsando os outros das Montanhas Cinzentas. Em
2590, o filho de Dáin I, Thrór, uniu alguns dos sobreviventes das
Montanhas Cinzentas e os guiou de volta para o Reino de Erebor, os
outros seguiram seu irmão, Grór, para as Colinas de Ferro.

Estando novamente este povo estabelecido, a prosperidade foi mais uma
vez alcançada, pois havia grande atividade comercial entre os Anões,
Homens de Valle e de Esgaroth e os Elfos de Mirkwood. Com Erebor no
auge de sua riqueza, a fama de suas vitórias, conquistas e
principalmente de seus tesouros, espalhou-se por muitas milhas,
chegando aos ouvidos do temível dragão Smaug, que atacou e dominou a
cidade em 2770, numa investida furiosa onde grande parte da população
local foi assassinada e outra parte fugiu, possibilitando um reinado
tranqüilo do dragão.

Alguns dos anões que novamente foram expulsos de seu lar buscaram
refúgio nas Colinas de Ferro, os outros seguiram o Rei Thrór, seu filho
Thrain II, e seu neto Thorin II, em companhias vagantes. Neste período,
Thror foi assassinado por Orcs em Moria, que o decapitaram e enviaram
sua cabeça para seu povo. Os anões não suportaram mais esse insulto
cruel e todas as casas desse povo se uniram numa gigantesca batalha que
ficou conhecida como "Guerra dos Anões e orcs" e durou sete anos.

Nesta guerra, os Anões atacaram cada moradia de Orcs que conseguiram
encontrar, até que finalmente atingiram o portão leste de Moria, aonde
travaram a Batalha de Azanulbizar.
Mesmo vitoriosos, não havia motivos para comemorar, pois grande parte
da população perecera na guerra, Moria continuava nas mãos do Balrog e
o Reino sob a montanha tinha Smaug como seu senhor.

Após o termino da guerra, Thráin II e seu filho, Thorin II (agora
chamado Escudo-de-Carvalho) fundaram um pequeno reino nas Montanhas
Azuis, mas nem lá encontraram a paz, pois Sauron capturou Thráin II,
tomou-lhe o seu Anel do Poder e o torturou até a morte.

Aconteceu, porém, que Thorin Escudo de Carvalho, ficou descontente em
seu reino, mas lá continuou, pois não sabia o que havia acontecido com
seu pai e ainda o esperava. Mesmo com o crescimento do reino nas
Montanhas azuis, Thorin ainda desejava retornar para Erebor e isso só
foi possível quando se encontrou com Gandalf, o cinzento, que lhe
contou o destino de seu pai e o ajudou a tramar a retomada do Reino sob
a Montanha, narrada em ‘O Hobbit’.

Com o sucesso da nova empreitada, Erebor voltou ao domínio dos Anões e
Smaug foi morto, mas a paz ainda não reinou no local, pois ainda foi
necessário lutar na Batalha dos Cinco Exércitos, aonde Orcs e Lobos
lutaram contra Anões, Homens e Águias. As criaturas malignas foram
derrotadas, mas muitos homens e anões também morreram, inclusive o
própio Thorin, o que passou o reinado de Erebor para as mãos de Dáin
II.

Lendo o "O Hobbit", talvez não seja possível notar a importância da
empreitada em questão, mas é interessante perceber como a fundação e a
história de Erebor estão envolvidos em fatos muito mais complexos e
profundos do que um simples Reino sob a Montanha.[/quote]

Dos Personagens

Bard

Capitão da Guarda de Esgaroth, Bard era descendente de Girion o Senhor
do Valle na época em que esté local foi destruido por Smaug.

No ano de 2941 da T.E. Smaug atacou Esgaroth, a cidade do lago, e Bard
o matou com sua flecha negra, atingindo-o no ponto fraco do dragão, que
lhe foi revelado pelo corvo Röac.
A cidade de Esgaroth havia sido destruida, então Bard lembrou-se da
riqueza de Girion que estava misturada ao tesouro de Thror e que agora
estava sem guardião (pois Smaug havia morrido), e partiu com o exército
de Esgaroth para reclamá-la.

Bard participou da batalha dos Cinco Exércitos, ao lado dos elfos da
Floresta das Trevas, os Anões da recém conquistada Erebor e das Colinas
de Ferro, das Águias, além de Bilbo, Gandalf e Beorn contra Orcs e
Wargs.
Depois da batalha, Bard reconstriu o Valle, onde passou a viver no pé
da Montanha Solitária em aliança a Dain pé-de-ferro, Rei sob a
montanha.
Não se sabe a data de sua morte, mas supõe-se que Bard tenha falecido
em 2977 da T.E., ano em que seu filho Bain se tornou Rei do Valle.

Sobre Smaug, o magnífico.

Smaug é o último dos grandes dragões da Terra-média, e é o vilão
principal de “O Hobbit”. Instalou-se em Erebor, a Montanha Solitária,
no ano de 2770 da Terceira Era, 771 anos depois da fundação dos Reis
“sob-a-Montanha”. Foi para lá atraído pelos rumores da riqueza desta
montanha, construído pelo povo de Thror, avô de Thorin II, Escudo de
Carvalho. E ali viveu durante quase 2 séculos, causando destruição e
desolação ao seu redor, de modo que os anões tiveram que esperar 171
anos para poderem se vingar, quando em 2941 foi morto por Bard, senhor
de Valle.

O nome ‘Smaug’, conforme diz Tolkien, foi “uma piada filóloga sem
graça” ao brincar com o significado “espremer-se por um buraco”, que
vem do passado do verbo germânico primitivo smugon.
Originalmente, o dragão que figura nesta história, chamava-se
“Pryfton”. E, numa primeira versão, Bilbo entraria furtivamente no
covil para esfaquear o dragão. Mas, a versão final, que temos hoje,
coloca Bilbo “roubando” uma taça do grande tesouro, que muito lembra um
episódio de Beowulf.

No poema épico Beowulf, a mais antiga obra literária em
inglês, um “ladrão tinha entrado na caverna do dragão e levado uma
parte do seu tesouro. Cheio de ódio, o dragão devastou o país, com a
intenção de castigar a família do ladrão” (Guerreiros Lendários, pág.
113). Este poema muito inspirou o Professor Tolkien na composição de O Hobbit (e também O Senhor dos Anéis), principalmente nesta cena da fúria de Smaug. Conforme disse: “Beowulf está entre minhas fontes mais valiosas”.

E quanto a origem de Smaug, de onde ele veio? Suspeita-se que tenha
surgido em Angband, junto com os outros dragões-de-fogo, no final da
Primeira Era, como fruto da maldade de Melkor. Ele é dividido como
“dragão-de-fogo” pois, analisando grosseiramente, “cospe fogo” (óbvio),
ou porque tem aptidão de cuspir fogo. Já “dragões frio” podem ser
interpretados como aqueles que não têm a capacidade de “cuspir fogo”.

Isso é ficção, mas analisando de uma forma realista, o que faria Smaug
cuspir fogo? Há quem analise esse tipo de particularidade nas obras do
Professor, como o caso de Henry Gee, um biólogo britânico, editor de
uma das mais importantes revistas científicas do mundo, a “Nature”, e
autor de The Science of Middle-earth
(“A Ciência da Terra-média”, inédito no Brasil). Para entendermos isso,
o parágrafo que segue abaixo é um trecho da matéria escrita por
Reinaldo “Imrahil” Lopes, para a revista Galileu do mês passado:

  • Que tal éter dietílico? A substância, especula Gee em seu
    livro, poderia ser produzida por glândulas salivares modificadas, com a
    ajuda de bactérias – coisa que acontece em vários animais reais. Ao ser
    ejetada com pressão da boca do bicho, queimaria em contato com o ar. De
    quebra, a produção de éter explicaria outra capacidade dos dragões
    tolkienianos: “hipnotizar” a vítima. Como se sabe, o éter é um
    anestésico dos bravos.

Um caso muito claro de “hipnose” ocorre com Nienor/Niniel em O Silmarillion
quando esta conversa com Glaurung, o pai dos dragões, e cai em total
encanto. Um exemplo que pode passar por despercebido na nossa história,
mostra Bilbo quase sendo hipnotizado por Smaug na conversa com o
dragão. No trecho a seguir, o Sr. Bolseiro por pouco não é descoberto
pela criatura:

  • (…) o hobbit tremia, e era tomado por um desejo incontrolável
    de se revelar e dizer a verdade a Smaug. Na verdade, estava correndo o
    perigo terrível de ser subjugado pelo encanto do dragão. Mas, criando
    coragem, falou de novo.

(O Hobbit, cap. XII)

Semelhanças entre Glaurung e Smaug

As histórias de Glaurung, o pai dos dragões, e Smaug, o magnífico, contadas em O Silmarillion e O Hobbit (respectivamente) são semelhantes em vários pontos. Fizemos uma lista de algumas dessas curiosidades:

– Smaug foi morto quando Bard acertou a Flecha Negra na sua barriga.
Glaurung foi morto quando Túrin enfiou a Espada Negra em sua barriga.

– Muitas vidas teriam sido salvas se a ponte de Nargothrond tivesse
sido destruída antes do ataque de Glaurung. A ponte da Cidade do Lago
foi destruída antes do ataque de Smaug, o que salvou muitas vidas.

– Ambos foram mortos por homens de cabelos negros.

– Ambos possuíram, por um tempo, um tesouro mantido em uma caverna.

– Tanto Bard quanto Túrin foram dados como mortos após matarem os dragões, embora estivessem vivos.

 

Galeria de Imagens:

A Montanha Solitária – "Era uma jornada cansativa…"
"A Montanha erguia-se diante deles, escura e silenciosa, cada vez mais
alta. Acamparam pela primeira vez no lado ocidental do grande
contraforte sul, que terminava numa elevação chamada Morro do Corvo".
(Capítulo. XI)

O Portão de Erebor – "Havia pouca grama…"
"Ali o rio, depois de fazer uma ampla curva contornando o desfiladeiro
de Valle, afastava-se da Montanha em seu caminho para o Lago, rápido e
ruidoso". (Cap. XI)

O Portão Dianteiro – "Atingiram as fraldas da Montanha"
"A margem assomava estéril e rochosa, alta e íngreme sobre a correnteza". (Cap; XII)

As Ruínas de Valle – "Ali está o que resta de Valle…"
"… olhando por sobre a margem do rio estreito, espumando e
chocando-se com os rochedos, podiam ver, no amplo vale à sombra dos
braços da Montanha, as ruínas cinzentas de antigas casas, torres e
muralhas". (Cap. XI)

Smaug – "O clarão de Smaug!"
"Lá estava ele, um enorme dragão vermelho-dourado, ferrado no sono; um
ruído palpitante vinha de suas narinas e mandíbulas, junto com tufos de
fumaça, mas, no sono, o fogo estava arrefecido". (Cap. XII)

Smaug dormindo – "… uma ameaça medonha mesmo dormindo."
"Embaixo dele, sob os membros e a grande cauda enrolada, e em torno
dele, por todos os lados, espalhando-se pelo chão invisível, jaziam
incontáveis pilhas de objetos preciosos, ouro trabalhado e ouro bruto,
pedras e jóias, e prata, que a luz rubra tingia de vermelho". (Cap. XII)

Bilbo observa Smaug – "Ficou observando durante o que pareceu um século…
"Lá estava Smaug, as asas recolhidas como as de um morcego
incomensurável, virado parcialmente para um lado, de modo que o hobbit
podia ver a parte inferior de seu corpo, a barriga comprida e clara
cravejada de pedras e fragmentos de ouro, de passar tanto tempo sobre o
leito tão precioso". (Cap. XII)

Conversação com Smaug – "… e também sou o Montador de Barril."
"- Na verdade, canções e histórias não estão à altura da realidade, ó,
Smaug, a Maior e Mais Importante das calamidades. – respondeu Bilbo.
– Você tem boas maneiras para um ladrão e um mentiroso. – disse o
dragão. – Parece estar familiarizado com o meu nome, mas eu tenho a
impressão de não ter sentido o seu cheiro antes (…)". (Cap. XII)

Vasculhando a Montanha – "Caçar por toda a montanha até capturar o ladrão…"
"Saiu portão afora, as águas erguendo-se num vapor feroz e sibilante,
subiu em chamas pelos ares e foi pousar no topo da montanha, um jato
flamejante verde e escarlete". (Cap. XII)

Smaug destrói o portão – "Ele se ergueu em chamas…"
"O dragão partira as rochas em pedaços, esmagando parede e penhasco com
as chicotadas de sua enorme cauda, até que o pequeno trecho elevado
onde haviam acampado, o capim chamuscado, a pedra do tordo (…) e tudo
o mais desapareceram numa confusão de pequenos fragmentos, e uma
avalanche de pedras partidas caiu por sobre o penhasco no vale lá
embaixo". (Cap. XII)

Smaug sobrevoa os céus de Esgaroth – "… e foi para o sul, na direção do Rio Corrente"
"Depois de extravassar sua raiva dessa forma, sentiu-se melhor e pensou
consigo que, daquela direção, não seria mais incomodado. Enquanto isso,
tinha mais do que se vingar. – Montador de Barril – bufou ele – …
eles vão me ver e lembrar quem é o verdadeiro Rei sob a Montanha!".
(Cap. XII)

A Fúria de Smaug – "Durante algum tempo ele voou em círculos acima deles…"
"O fogo subia dos tetos de palha e das pontas das vigas de madeira
quando o dragão arremetia e passava, embora tudo tivesse sido
encharcado com água antes que ele viesse. Mais uma vez uma centena de
mãos jogava água sempre que uma centelha aparecia". (Cap. XIV)

Bard – "… a quem seus amigos tinham acusado de profetizar enchentes…"
"… Bard, de voz e rosto sombrios (…) Era descendente distante de
Girion, Senhor de Valle, cuja esposa e filho haviam escapado da ruína
descendo o Rio Corrente num passado distante". (Cap. XIV)

O fim de Smaug – "O grande arco zuniu"
"A flecha negra voou da corda, direto para o vazio no lado esquerdo do
peito, perto de onde saía a pata dianteira. Ali entrou e sumiu, farpa,
haste e pena, tão violento foi o seu vôo". (Cap. XIV)

Smaug morto – "… virou-se e caiu das alturas, derrotado."
"Caiu bem em cima da cidade. Seus últimos espasmos transformaram-se em
centelhas e brasas. O lago invediu-a com um rugido. Uma grande massa de
vapor subiu ao céu, um branco repentino na escuridão sob a lua.
Ouviu-se um chiado, um rodamoinho borbulhante, e, depois, silêncio. E
esse foi o fim de Smaug e de Esgaroth, mas não o de Bard". (Cap. XIV)

Os Ossos de Smaug – "Ele nunca mais retornaria ao seu leito de ouro…"
"Ali, durante era, seus enormes ossos podiam ser vistos quando o tempo
era bom, em meio às pilastras arruinadas da velha cidade. Mas poucos
ousavam atravessar o ponto amaldiçoado, e ninguém atrevia-se a
mergulhar na água gelada ou resgatar as pedras preciosas que caíam de
sua carcaça putrefata". (Cap. XIV)

Crédito das Imagens:

Alan Lee
Daniel Govar
David Wyatt
John Howe
J.R.R. Tolkien
Stephen Blanda
Ted Nasmith

Notas

1. Rei sob a Montanha

A história de que a tal Montanha estava toda recheada de ouro era
conhecida por muitos, praticamente por todos habitantes daquela região,
mas pouquíssimos arriscavam-se a investigar (ou conferir de perto, se
preferirem), já que a lenda de que o velho dragão habitava-a era um
tanto recente. No livro, vemos que os mais velhos de Esgaroth diziam
ter visto o dragão sobrevoando a região nos seus dias de juventude. Os
mais novos, porém, não acreditavam, achavam que eles estavam é pirando:
a explicação é que o dragão raramente saia de seu covil.

Portanto, os bardos do local logo começaram a cantar alguns versos:

Sua riqueza jorra em fontes,

Rios de ouro palpitam.




Felizes correm riachos,


Queimam os lagos brilhando,


Não há pranto nem tristeza


Porque o Rei está voltando!

Como se o simples retorno de um herdeiro do Rei, e não o
próprio Rei (Thorin era neto de Thror), significasse que Smaug
estivesse morto ou “partido em pedacinhos” (O Hobbit, pág. 193). Não
ainda. E basicamente este foi o motivo de toda essa agitação, no qual
eles tanto ansiavam.

2. Dia de Durin

O Dia de Dúrin nos é apresentado por Karen Fonstad como sendo em 30 de
outubro, aproximadamente. Porém não há certeza absoluta quanto à essa
data. Segundo Andreas Moehn, no entanto, é possível calcular qual era a
data exata do Dia de Dúrin com uma precisão razoável, como sendo 22 de
outubro.

Essa diferença nas datas ocorre por que os Anões possuíam um calendário
lunar, que foi substituído mais tarde por um calendário solar. Assim,
um ano solar não correspondia à um número exato de ciclos lunares,
gerando uma diferença de alguns dias entre um calendário e outro.
Portanto, fica um tanto difícil calcular um feriado do calendário lunar
no calendário solar.

Andreas calcula a data, sabendo-se que em 22 de setembro o grupo
chegara de barril à Esgaroth, permanecendo lá duas semanas. Assim, o
Dia de Dúrin ocorreria dois dias após a lua nova de outubro,
precisamente no primeiro dia da última semana de outono. Como as datas
n’O Hobbit são dadas segundo o Registro do Condado, haveria apenas um
modo de relacionar essa data, sendo que o dia de Dúrin teria ocorrido
então precisamenente em 22 de outubro, numa segunda-feira, dois dias
após a lua nova, no dia 20

Consultas

Livros:
O Hobbit, J.R.R. Tolkien. Editora Martins Fontes.
O Atlas da Terra-média, Karen Wynn Fonstad. Editora Martins Fontes, 2004.
O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, J.R.R. Tolkien. Editora Martins Fontes.
O Silmarillion, J.R.R. Tolkien. Editora Martins Fontes.
Guerreiros Lendários: Os grandes heróis da Mitologia e da História, Daniel Mersey, capítulo 4 “Beowulf”. Editora Ediouro, 2005.
O Mundo Mágico do Senhor dos Anéis, David Colbert. Editora Sextante, 2002.

Revistas:
História Viva: Mitologia – Volume 3. Duetto Editorial, 2005. Cap. XL –
Caracteres Rúnicos, página 104 e 105. Versão em revista para o Livro de Ouro da Mitologia, da editora Ediouro.
Galileu. Outubro de 2005, nº 171. Matéria de Reinaldo Lopes “A Ciência da Terra-média”, pág. 51. Editora Globo.

Sites:
Enciclopédia Valinor – sobre personagens.
Valinor – diversos artigos.
Las Runas de El Hobbit.
Durin's Day (indicação de Ronald Kyrmse, tradutor do "Atlas da Terra-média").

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