Valarin – Como o Brilho de Espadas

Escrito por Fábio Bettega

Também chamado: Valian, e [em Quenya] Valya ou Lambë Valarinwa.

 

História Interna

Os Valar fizeram sua própria Língua, indubitavelmente a mais antiga de todas a línguas de Arda. Eles não necessitavam de uma linguagem falada, eram espíritos angelicais e podiam facilmente se comunicar telepaticamente. Mas, como fala o Ainulindalë, "os Valar tomaram forma e cor" quando entraram em Eä no início do tempo. Eles tornaram encarnados. "A criação de uma lambe [linguagem] é a principal característica de um Encarnado". Pengolodh o sábio de Gondolin observou. "Os Valar, tendo-se posto desta forma, inevitavelmente durante sua residência em Arda teriam feito uma lambe para si mesmos". Não há dúvidas de que foi este mesmo o caso, pois existem referências à linguagem dos Valar nos antigos contos dos Noldor.

Quando os Eldar chegaram a Valinor, os Valar e Maiar rapidamente adotaram o Quenya e algumas vezes mesmo o utilizam entre si. Porém o Valarin não foi substituído pelo Quenya, e continuava a poder ser ouvido quando os Valar estavam tendo seus grandes debates. "As línguas e vozes dos Valar eram grandes e severas", escreveu Rúmil de Tirion, "e tambéme rápida e sutil no movimento, fazendo sons que achamos difíceis de imitar; e suas palavras são principalmente longas e rápidas, como o brilhar de espadas, como o tumulto das folhas em uma grande ventania ou a queda de pedras das montanhas". Pengolodh é mesmo lírico, e também menos cortês: "Francamente, o efeito do Valarin aos ouvidos Élficos não é agradável". Valarin empregava muitos sons que eram estranhos às línguas Élficas.

Apesar de tudo, o Quenya emprestou algumas palavras do Valarin, embora freqüentemente elas tivessem que ser muito alteradas para encaixar-se na fonologia restrita dos Altos Elfos. Do Silmarillion nós lembramos de Ezellohar, o Monte Verde, e Máhanaxar, o Círculo da Lei. Estas eram palavras estrangeiras em Quenya, adotadas e adaptadas do Valarin Ezellôchâr e MâchananaÅ¡kad. Os nomes dos Valar Manwë, Aulë, Tulkas, Oromë e Ulmo são emprestados do Valarin Mânawenûz, Aûlêz, Tulukastâz, Arômêz e Ulubôz [ou Ullubôz]. E também assim foi feito com o nome do Maia Ossë [OÅ¡oÅ¡ai, OÅ¡Å¡ai]. Os nomes Eönwë e possivelmente Nessa parecem também ter sido adotados do Valarin, embora a forma original dos nomes não tenha sido gravada.

Algumas vezes uma palavra em Quenya derivada do Valarin não significava exatamente o mesmo que a palavra original. O Quenya axan "lei, regra, mandamento" é derivado do verbo Valarin akaÅ¡ân, que supostamente significa "Ele disse" – "ele" sendo não outro que não Eru. Os Vanyar, que eram os mais próximos ao Valar do que os Noldor, também adotaram mais palavras de sua língua, como ulban "azul" [forma Valarin original não dada]. Mas os Valar encorajaram os Elfos a traduzir palavras Valarin em sua própria e bela língua ao invés de adotar e adaptar as formas originais Valarin. E freqüentemente eles assim o faziam: Os nomes Eru "o Um = Deus", Varda "a Sublime", Melkor "Aquele que surge em Poder" e várias outras são cem por cento Élfico, mas também traduções de nome Valarin.

Por vias misteriosas, o Valarin também influenciou outras línguas além do Quenya. É interessante notar que a palavra Valarin iniðil "lírio, ou outra flor simples e grande" aparece no Adûnaico [Numenoriano] como inzil "flor" [como em Inziladûn "Flor do Oeste"]. Como pode uma palavra em Valarin chegar ao Adûnaico? Através dos Elfos, possivelmente mesmo os Vanyar, visitando Númenor? Via Khuzdul, se Aulë pôs esta palavra na língua inventada para os Anões? Existe pouca dúvida de que a fala dos ancestrais dos Edain foi profundamente influenciada pelo Khuzdul. Não existem registros de nenhum Vala visitando os Numenorianos e falando a eles diretamente, e mesmo que um o tivesse feito, ele certamente iria usar uma linguagem que pudessem entender, e não Valarin.

Anthony Appleyard apontou que outra palavra na Fala Negra de Sauron, nazg "anel", aprece ter sido tomada do Valarin naÅ¡kad [ou anaÅ¡kad? A palavra é isolada de MâchananaÅ¡kad "Círculo da Lei", logo não podemos estar certos de sua forma exata]. Como um Maia, Sauron poderia conhecer Valarin.

O puro Valarin foi ouvido fora do Reino Abençoado? Melian a Maia poderia conhecê-lo, mas ela obviamente não teve muitas oportunidades de falá-lo durante sua longa encarnação como Rainha de Doriath. Muito mais tarde, na Terceira Era, os Istari poderiam conhecer Valarin; alguém pode especular que eles o falavam entre si. Quando Pippin tomou o Palantir do adormecido Gandalf, é dito que o mago "moveu-se em seu sono, e murmurou algumas palavras: elas pareciam ser em uma língua estranha". Poderia esta língua ser Valarin, e o Maia Olorin falando nela dormindo? [mas de um ponto de vista "externo", não é certo que Tolkien tenha previsto uma língua distinta para os Valar ao tempo da escrita do Senhor dos Anéis, ver abaixo].

História Externa 

As idéias de Tolkien sobre uma língua dos Valar mudou no decorrer do tempo. Sua concepção original era de que o Valarin seria o ancestral primário das línguas Élficas – o Élfico Primitivo surgiu quando os Elfos tentaram aprender Valarin de Oromë no Cuiviénen. Esta idéia foi rejeitada mais tarde, no Silmarillion publicado, os Elfos inventaram sua fala por si mesmos antes que Oromë os encontrasse. Por um tempo, o conceito de uma língua dos Valar foi completamente abandonado: em 1958, em uma carta a Rhona Beare, Tolkien declara que "os Valar não tinham uma linguagem própria, não precisando de uma" [Letters:282]. Mas logo depois, no ensaio "Quendi and Eldar" de cerca de 1960, o Valarin reaparece, embora agora concebido como uma linguagem bastante diferente das línguas Élficas e muito certamente não ancestral destas. Como dito acima, palavras Quenyarizadas do Valarin aparecem no Silmarillion publicado: Ezellohar, Máhanaxar.

Em fontes mais antigas, encontramos etimologias Élficas para os nomes agora explicados como tomados do Valarin. Por exemplo, o nome de Aulë, deus dos trabalhos manuais, é derivado da razi GAWA "pensar bem, planejar, idealizar" na Etimologias. O nome Valarin Aûlêz apareceu mais tarde.

Foi sugerido que a inspiração de Tolkien para o Valarin foi o Babilônico antigo; alguns sentem que o estilo geral do Valarin recorda palavras como Etemenanki, o nome das grandes torres [zigurates] da Babilônia. Contudo, estas visão são puramente conjecturais, e poder&i
acute;amos perguntar porque Tolkien usaria Babilônico como um modelo para a linguagem de seus deuses em sua mitologia. Mais provavelmente ele simplesmente dirigiu para um estilo bastante peculiar, uma vez que é suposto ser uma linguagem completamente independente da família de linguagem Élficas e além disso uma linguagem desenvolvida e falada por seres suprahumanos.

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