Entês

Escrito por Fábio Bettega

Os Ents originalmente não tinham uma língua, mas em contato com os Elfos eles adotaram a idéia de se comunicar com sons. "Eles sempre queriam falar com tudo, os velhos Elfos" lembra Barbárvore. Os Ents amavam Quenya, mas também desenvolveram sua própria linguagem, provavelmente a mais peculiar de todas as línguas de Arda. Tolkien a descreve como "lenta, sonora, aglomerada, repetitiva, realmente prolixa; formda de uma multiplicidade de matiez vocálicas e distinções de tons e quantidade que mesmo os mestres de sabedoria dos Elfos não tentaram representar por escrito" (Apêndice F). Os Ents era aparentemente capazes de distinguir entre pequenas variações de qualidade e quantidade e usava tais distinções foneticamente. Muitos fonemas distintos dos Ents soariam como um mesmo som para homens, e mesmo para Elfos. Parece que o EnTês também empregava diferentes tons, talvez como o Chinês, na qual uma simples palavra como ma pode ter um de quatro significados (variando de "mãe" até "cavalo") – e para os chineses todas elas soam diferentes, devido à vogal a pronunciada com um tom distinto em cada caso. Entês pode ter empregado muitos mais tons do que apenas quatro.

 

A-lalla-lalla-rumba-kamanda-lindor-burúmë é nosso único exemplo de Entês genuíno, os tons não estão anotas de qualquer forma. Esta deve ser uma das razões pelas quais Tolkien descreve este único fragmento do verdadeiro Entês como "provavelmente muito inexato" (Apêndice F). Não podemos analisar este fragmento. Pode ser observado que a forma das palavras em geral parecem fortemente inspiradas em Quenya (até o ponto onde o estilo fonético vai, todos os elementos exceto burúmë podem ser Alto Élfico, Quenya não possui b nesta posição).

Tolkien também descreve o Entês como "aglomerado" e "prolixo". Isto se deve ao fato de que cada "palavra" é bastante longa e uma descrição bastante detalhada da coisa em questão. Barbárvore fala que seu próprio nome Entês estava "crescendo o tempo todo, e Eu tenho vivido há muito, muito tempo; então meu nome é como uma história. Nomes reais conta a história das coisas a quem pertencem, na minha língua, no Velho Entês como você poderia dizer". Em outra ocasião Barbárvore começou a falar a designação dos Ents da palavra "Orc" diretamente na Língua Comum, então deu-se conta que isto tomaria muito tempo quando falando com espécie humanóides: "Existe um grande fluxo daqueles burárum, aqueles deolhosmalignos, – mãonegra – pernatorta – coraçãodepedra – dedoscomgarras – cascagrossa – sedentosdesangue – sincahonda, hoom, bem, uma vez que vocês são um povo rápido e o seus nomes completos são tão longos quanto anos de tormentos, essa gentalha dos Orcs". (morimaite-sincahonda é "mãonegra – coraçãodepedra" em Quenya) . Então a palavra do Entês para Orc é especialmente longa e uma descrição detalhada dos Orcs e suas características. Em alguns poucos casos, Barbárvore também utilizou elementos do Quenya e uniou-os como fazia em sua própria língua, como laurelindórenan lindelorendor malinornélion ornemalin. Em Letters:308, Tolkien explica que os elementos são are laure, ouro, não o metal mas a cor, o que poderíamos chamar de luz dourada; ndor, nor, terra, país; lin, lind-, um som musical; malina, amarelo; orne, árvore; lor, sonho; nan, nad- vale. Então ele aproximandamente diz: "O vale onde as árvores em luzes douradas cantam musicalmente, uma terra de música e sonhos; existem árovres amarelas lá, é uma terra de árvores amarelas". Outro exemplo do mesmo tipo é Taurelilómëa-tumbalemorna Tumbaletaurëa Lómeanor, que Tolkien traduz como "Florestamuitassombras-profundovaleescuro Profundovaledeflorestas Terratriste". Por este Bárbarvore quer dizer, "aproximadamente", que existe uma sombra escura nos vales profundos da floresta (Apêndice F). Este exeplos nos dão um vislumbre da sintaxe excessivamente complexa e repetitiva do Entês. O comentário "aproximadamente" é certamente justificado. No sentido mais exato, Entês é provavelmente impossível de ser reproduzido em quaisquer linguagens humanas. Uma "tradução" pode ser apenas uma sinopse bastante breve e incompleta do relato original. Jim Allan especula: "A fala em Entês, se pudesse ser compreendida por ouvidos humanos, seria talvez como uma espécie de poesia muito envolvente e loquaz. Existiriam repetições sobre repetições, com pequenas variações. Se tivesse algo que pudessemos chamar de sentença, esta prosseguiria numa espécie de padrão espiral, girando no ponto principal, e então girando novamente, tocando tudo ao longo do caminho do que já havia sido dito e do que ainda será dito" (An Introduction to Elvish p. 176).

Possuindo este conhecimento podemos entender melhor a definição de Barbárvore, do Entês: "É uma linguagem adorável, mas toma uma grande tempo para se dizer qualquer coisa nela, e para ouvir". O Ent Bregalad ganhou seu nome Entês – "Quickbeam" – quando disse sim a outro Ent antes do primeiro terminar sua questão: isto foi considerado muito "apressado" por parte dele (talvez o final da questão estivesse a uma hora ou mais ainda). Compreendemos que Entês não é uma linguagem para expressarmos "passe-me o sal". Quando escutavam as deliberações do Entebate, Pippin "encontrou-se admirando, uma vez que o Entês era uma linguagem "lenta", se eles já haviam ido além do Bom Dia, e se Barbárvore fosse fazer a chamda, quantos dias demoraria a pronúncia de seus nomes. Imagino como seria em Entês o sim e o não, ele pensou". Nós devemos assumir que as palavras em Entês para sim e não seriam longos monólogos repetitivos com o assunto "Eu concordo" ou "Eu discordo", então a "resposta rápida" de Bregalads provavelmente tomou algum tempo. Mas parece que os Ents não se comunicavam sempre em "diálogos" com cada um falando a seu tempo. Durante o Entebate, "os Ents começaram a murmurar lentamente: primeiro um se juntou depois outro, até que todos estavam cantando juntos num longo crescente e descendente ritmo, ora mais alto em um lado do círculo, ora diminuindo e crescendo até um grande bum do outro lado". Evidentemente o debate foi uma longa e pulsante sinfonia de muitas opiniões sendo expressas simultaneamente, lentamente unindo-se em uma conclusão. Isto pode explicar porque não demorou uma eternidade para o Entebate decidir um curso de ação.

Apesar de tudo, é obvio que esta não é uma linguagem para seres com a nossa percepçã
o do tempo. Estranhezas como estas são o que se poderia esperar quando se lida com a linguagem de árvores que caminham.

 

 

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