Bancando o Crí­tico

Foto do autor
Escrito por Cassiano Ricardo Dalberto
Apresentação,confrontação, ponto de virada, resolução… Alguém aqui já ouviu falar em um tal de Syd Field? Pois eu explico. Ele é um americano que ganha fortunas analisando roteiros para grandes estúdios. Sid Field desenvolveu uma espécie de guia do roteiro para um filme de sucesso. Mas que diabos esse cara tem a ver com elfos, hobbits, ents, anões…?
 

Funciona mais ou menos assim:
Não gostou do Faramir do mal ? Culpe o Syd Field.
Não gostou dos Ents tapados ? Culpe o Syd Field.
Não gostou dos elfos em Helm ? Culpe o Syd Field.
Tá bom tá bom…a culpa não é do cara, é do barbudo do PJ.
Tá bom, não é do PJ, é do cinema comercial americano.
Tá.Então a culpa é dos grandes investidores de Hollywood, dos capitalistas selvagens,do outro Barbudo (o presidente), da alta do dólar, do Felipão, do Gianechinne,do Gerald Thomas…
Será?

Bom, vamos ao filme. Essa resenha trata de "As Duas Torres" como obra cinematográfica e não dos faniquitos puristas que o filme vem provocando. Eu vou falar aqui como um cara interessado em cinema,pernosticamente metido a crítico, mas que tem a seu favor um conhecimento da obra original de certa forma privilegiado.Eu não sou o critico de cinema, mas dado a minha afinidade pela sétima arte, vou ousar interpretar esse papel.E nesse papel eu tenho uma vantagem em relação aos críticos convencionais.Ou seja, sou um de vocês.Não sou nenhum Mormegil ou Deriel, mas li os livros, ousei me meter com alguns letters, e já troquei idéia com alguns papas sobre a obra de Tolkien aqui no Brasil.Então vamos ao que interessa.

"O Senhor dos Anéis" o filme.

Você é contra ou a favor?Por que a primeira coisa a fazer é escolher um lado. Alguns alegam que por ser impossível traduzir Tolkien para o cinema,preservando a integridade da obra e seu "sentido real", o filme nunca deveria existir.Neste lado estão os puristas e nosso caro e recém aparecido amigo dragão malvado (Ancalagon, das listas de discussão), que conta com todo meu respeito, apesar de não compartilhar da minha opinião. Outros , acreditando que a transcrição para a mídia cinematográfica seja possível, respeitando a obra e preservando sua essência, admitem a adaptação.Acontece que a maioria define de forma subjetiva e pessoal o que considera respeito e preservação do "sentido real" da obra.Sumir com o Bombadil é desrespeito ? Então passem pro lado dos puristas. Éomer ser banido é desrespeito ? Então vão pro time do dragão mau. Pois para filmar uma obra com a dimensão épica de "O Senhor dos Anéis", a estrutura de produção e a grana do cinemão comercial se tornam indispensáveis.Esse cinemão comercial é uma industria, e como tal funciona para dar lucro.

Aí entra em cena nosso amigo Syd Field: Confrontação, pontos de virada, clímax…tudo isso tem que estar presente na apresentação do roteiro para o homem que vai assinar o cheque e liberar a grana para a produção do filme. Então, cada alteração feita na obra, não é gratuita.A intenção é; alem de compatibilizar a estória com a linguagem cinematográfica, também viabilizar o filme comercialmente, adequando ao gosto do publico através das formulas desenvolvidas pelos Syd Fields de Hollywood.

Mas e aí? Quer dizer que temos que aceitar todas as alterações sem choro. Bom, também não é assim.O que devemos é analisar as alterações sobre o ponto de vista da contribuição feita em favor da linguagem cinematográfica.E para nos certificarmos que essa alteração funciona temos que pensar no filme como filme e não como livro.Por que essa mudança? Será que feriu demais o sentido da obra? Não havia outra solução ? Será que alguns pontos da obra esquecidos no filme não poderiam ser utilizados em favor da linguagem cinematográfica. Mas e a adaptação e a fidelidade a obra original? Na verdade para se adaptar qualquer livro para o cinema a única imposição é pagar pelos direitos autorais. Não, ninguém é obrigado a ser fiel a nada.Existem propostas de adaptação que se apoiam no antagonismo da obra original para dizer exatamente o contrario (ou o mesmo).Porem essa não é a proposta de PJ que se assume como um respeitos fã de Tolkien.No entanto ele sempre afirmou estar nos apresentando a sua interpretação de Tolkien, o que os dispensa dos "Letters" e de tentar dissecar o pensamento de Tolkien. De qualquer forma ele se propõe a nos mostrar o que ele entendeu da obra e não a reescrevê-la alegando que falto "isso" ou "aquilo" na obra original. Resumindo,a proposta do barbudo ( o diretor ,não o presidente), é colocar no filme a sua visão sobre a obra de Tolkien, não a visão do próprio Tolkien.Assim ele se compromete a respeitar o que entendeu da obra e não acrescentar o que não concorda. Então vamos tentar entender essas alterações.

Éomer é banido de Rohan.

Foi um processo de simplificação.Isso resolve um grande problema para a adaptação.Por um lado PJ diminui a confusão de nomes na cabeça da platéia ao eliminar Erkebrand, substituindo-o por Éomer.Por outro lado, ressalta o conflito entre o personagem e seu tio e intensifica o drama.Alem do mais a narrativa dos acontecimentos que conduzem a Helm , se livra de desenvolver mais cenas de ação e atos heróicos para serem divididos com Aragorn,Gimli e Legolas.Éomer chega no final e isso basta.Ele funciona como o leal Marechal de Théoden, e vem pra salvar a pátria.

Baixou um santo em Théoden e Gandalf expulsou o capeta.

Uma forma menos sutil para mostrar a influência de Saruman sobre o senhor de Rohan.Como cinema não dispõe do mesmo tempo que a literatura, a sutileza fica pra quem leu o livro. De bônus, PJ ainda soma conflito ao filme, pois confronta Gandalf e Saruman.Eis ai um ingrediente da tal "formula" Syd Field.Isso funciona para as platéias.Mas uma coisa há de se dizer.No ponto de vista técnico, aquele rejuvenescimento do Théoden não convenceu…sei não.Tem novela da Globo que faz isso melhor.

Polteirgeists nos Pântanos Mortos.

Aqui PJ exercita sua verve trash.Meio obvio aquele olho de defunto abrindo de surpresa.Frodo caindo no pântano e sendo envolvido pelos "poltergeists" é só mais uma necessidade de PJ de adicionar ação e suspense para a narrativa mais linear do filme.Mais uma concessão a "formula".Frodo,Sam e Gollum rumo a Mordor.

Vazando de Edoras e …é o lobo…é o lobo.

Uma das m
elhores alterações do filme.Além de servir para mais uma piada referência para os fãs (as anãs barbadas), serve para desenvolver a motivação do triangulo Aragorn/Arwen/Éowyn. PJ bota mais pimenta nessa relação arrumando um motivo para mostrar Aragorn como um homem "descomprometido".Fica claro que ele fez a opção de liberar Arwen do mundo mortal dos homens, fica a dúvida na relação (para a platéia que não leu o livro), e fica uma suposta separação.Isso abre caminho para o interesse de Éowyn e intensifica a dúvida sobre o destino desse romance (embora nós, leitores de Tolkien saibamos como isso acabará).Alem do mais acena com uma chance para Éowyn, e cria o suspense sobre essa relação.Essa é mais uma das adequações ao publico do cinema comercial (formula de novo).Mas o que mais me agrada é a forma como PJ trabalha o envolvimento da platéia quando aponta a câmera para as aflições e angustias do povo de Rohan.A cena do ataque dos Wargs (é o lobo…é o lobo…) além de ser heróica e de dar arrepios, é conduzida de forma inédita em filmes de fantasia. O desespero do povo e a preparação das tropas é mostrada através de uma câmera na mão,nervosa e de forma quase documental (lembrem de "Soldado Ryan).O filme quase deixa de ser fantasia para existir de fato.A cena é tão forte que torna a trilha dispensável.Então, nesse ponto a montagem alimenta o suspense cortando para a aproximação dos Wargs ,e mostra um Legolas impassível, como a câmera que agora desenvolve movimentos elegantes e suaves.Isso sim é cinema dos bons.Senti algumas farpas ao Legolas voador juntando-se a Gimli em seu cavalo.Mas nada diferente das mesmas reclamações que ouvi no cinema 20 anos atrás, quando Indiana Jones passou por debaixo de um caminhão em movimento e que hoje é uma cena clássica.

Sonhando com Arwen, acordando com Brego.

Isso é um desenvolvimento do personagem. Funciona mais para desenvolver o relacionamento amoroso (de novo seguindo a formula Hollywood) do que criar suspense sobre o sumiço de Aragorn.Nem mesmo quem não leu o livro cai no truque do "será que ele morreu?"Mas Éowyn cai, e ai está a razão principal para a queda de Aragon do precipício. É a oportunidade para trazer a tona o dilema amoroso de Aragorn e transferir angustia para seus companheiros. Mas teve uma coisa ai que eu não entendi até agora.POR QUE DIABOS BREGO VIROU UM CAVALO ? A questão não é tanto a troca do cavalo, mas a inutilidade de dar ao bicho o nome do filho de Eorl.Em nada isso acrescenta a estória.Sobe em uma lista americana sobre o filme que há mais sobre essa relação entre Aragorn e o cavalo.Ele seria o cavalo de Théoden, que só aceitaria ser montado por Aragorn em agradecimento por este o libertar.Isso tá mais pra Scadufax e Gandalf.Certamente PJ queria reforçar as virtudes de Aragorn com essa sequência que acabou de fora da montagem original.Mas será que a platéia precisa de mais essa dica do PJ? Isso é formula sim, e me pareceu desnecessário, ainda mais quando na montagem final o diretor resolve cortar a sequência que justificaria a relação entre Aragorn e Brego…e sim.. POR QUE O POBRE COITADO DO FILHO DE EORL VIROU UM CAVALO ?

Os Ents são umas toupeiras.

Syd Field de novo. Mas uma pra adequar o filme.Dessa vez é mais uma necessidade de estrutura do roteiro.São três historias paralelas certo ? Aragorn e cia, Frodo e cia e Pippin e Merry.Pois PJ achou melhor contar essas historias de modo que todas conduzissem a um clímax ao mesmo tempo ao invés de optar por estabelecer o clímax apenas onde ele acontecia.Então na jornada de Pippin e Merry ele transfere as grandes decisões de Fangorn para os dois hobbits, para que estes não sejam meros espectadores e colaborassem com estória de forma mais gloriosa que beber água de ent.Isso é pra criar uma empatia e gerar uma identificação entre a platéia e os hobbits.Infelizmente é assim que funciona o cinema comercial.Porem tem outra coisa com os ents que me incomodou…eu tive a impressão de que Barbárvore era primo de Gimli.Isso que dá escolher o mesmo ator para interpretar personagens diferentes no mesmo filme.Acho que foi o V. que deu a ótima sugestão do James Earl Jones para a voz do Barbárvore.Barbárvore com a voz de Darth Vader….ia ser maneiro.

Ué? Que que os elfos tão fazendo aí?

Uma das mais polêmicas.Como dirias a Lasgalen (ou foi a Belba), a "Última Aliança" virou "Penúltima Aliança".Por que? Pra dar um ar mais chique na batalha ? Pra criar uma alegoria de união entre os povos? Vamos a isso.Os elfos lutaram sim contra Sauron.Teve guerra na Floresta das Trevas.Porem foi mais um ato de defesa e auto preservação. No DDD entre Valfenda e Lorien, Elrond e Galadriel concordam que se ficarem de braços cruzados eles também vão rodar.Então o envio de tropas a Helm passa a ser um ato de auto preservação dos elfos.Tá bom.Então o PJ teve até o cuidado de fundamentar essa ação.Mas a que custo ? E com que retorno? Não posso crer que isso acrescente tanto aos parâmetros comerciais do filme.A alteração funciona para criar uma escala de tensão na preparação para a guerra em Helm.Rohan está sem esperanças, velhos e crianças são chamados a batalha para defender as muralhas, então.Plim…chegam os elfos.Surge um nova esperança.Mas por que tem que ser elfos?Podiam ser homens.Uma parte das tropas de Éomer quem sabe? Não seria nenhuma façanha ajustar o roteiro para justificar uma nova esperança que não os elfos.Claro que mudaria a estória original, mas não alteraria um conceito que parece tão caro para o autor: O cansaço dos elfos.Estes estão se separando definitivamente do mundo dos homens.Isso tá claro no Silmarillion onde PJ foi beber pra nos brindar com outras referências (vide a Chama de Udun e a referência a Luthien no dvd estendido).Então isso não pode ter passado despercebido mesmo na leitura particular do barbudo (o diretor, não o outro).Pra mim parece mais que ele cedeu a tentação do Um anel de Syd Field e fingiu que isso não era importante.Então PJ se apoia nos elfos para conseguir uma maior empatia da platéia remetendo aos gloriosos dias da Última Aliança.De lambuja ainda faz Haldir de mártir para morrer na batalha e provocar mais envolvimento a platéia (sim, formula).Mas será que esse isso realmente acrescenta tanto ao filme ? Creio que o PJ superlativou a importância de usar os elfos e remeter aos dias antigos.Pois mesmo a luz da analise do filme como filme,não posso crer que uma proposta de adaptação altere a obra original gratuitamente.Nesse caso eu aceito a alteração, mas não havia necessidade de nos impor elfos e romper tanto com a obra se haviam outras alternativas.Bom, eu já tava concluindo esse texto quando chega uma entrevista do PJ justifi
cando essa e outras alterações.Ele alega que a inclusão dos elfos em Helm é para criar um empatia com Arwen (e o romance com Aragorn).Ainda assim acredito que PJ tá superestimando a necessidade dessa empatia.

Porrada!!!

Tem que falar da batalha? Dizer o que? Funciona muito bem.Inevitáveis e deliciosas as cenas de videogame onde "Los Três Amigos" dizimam centenas de orcs…É pra gente gritar uuruuu e bater palmas.Que se dane se é mentira.Cinema é mentira mesmo.Nessa hora não tem nada de tão lírico ou cerebral que nos imponha um julgamento mais lógico da cena.A platéia já assimilou isso, e nesses casos tem que funcionar assim mesmo.Muita ação, muita adrenalina e pouco cérebro.É o cinema como catarse coletiva.E a prova disso são os gritos e os aplausos no Legolas skatista ou no Gimli recém arremessado e liquidificador de orcs. Quando o assunto é ação e aventura, o filme faz jus aos clássicos do western,as matinês de Flash Gordon, os filmes da sessão da tarde, a Gunga Din, a Guerra nas Estrelas ou mesmo a Indiana Jones (quem não lembra da cena da espada). É o mocinho sentando a mão e o vilão apanhando. Novamente alguns grunhidos contra o Legolas snowboarder radical, mas nesse momento que o filme se assume como ação essa cena funciona muito bem pois levanta a platéia e provoca êxtases. Quanto ao Gimli e as piadinhas…exagero dizer que o personagem esteja descaracterizado.PJ faz humor com a baixa estatura dele, mas mantém a dignidade do anão.Ele é o mesmo guerreiro implacável e passional do livro.Ops…vale também a lembrança do orc olímpico…mas isso passou.

O Personagem-Que-Era-Pra-Ser-Faramir (essa frase eu peguei emprestada do Deriel).

Ai….ai….ai…. por que ó destino cruel, puseste essa epítome (obrigado de novo Deriel) do absurdo na caraminhola do barbudo (não o presidente, o outro).Mais uma vez eu clamo pelo bom senso.Se tem que mudar, muda, mas se não tem que mudar…pra que? Bom, a necessidade de conduzir três narrativas paralelas (Aragorn e cia, Pippin e Merry, Frodo e cia) força PJ a criar um clímax pra cada uma dessas narrativas.Pois é, mais da "formula do como fazer um filme de sucesso".E qual foi a solução do PJ ?O clímax está na resolução de Faramir.A tomada de decisão de liberar Frodo.Mas precisava disso? Ao mesmo tempo que intensifica o drama por criar medo (nesse caso o temor dos hobbits por estarem sob a mercê de Faramir), PJ perde a chance de intensificar o drama por compaixão.O interrogatório de Frodo poderia render uma cena emocionada sobre nobreza e a dor de um irmão.Tudo isso no mesmo tempo que PJ reservou para transformar Faramir em mais uma vítima da tentação do Um Anel. Pois fica claro que essa também é a intenção do PJ, como se o Um Anel precisasse de mais elementos na narrativa para provar seu poder. Pois se fosse para desenvolver o clímax, o fizesse com uma aventura de Frodo, até mesmo em Osgiliath, até mesmo com o Nazgûl mas não precisava trocar a personalidade de Faramir.Ficou parecendo que este agiu da mesma forma que Boromir e só mudou de idéia pois, ao contrario de Faramir teve a sorte de testemunhar o poder do anel. Isso é importante pro filme ? Não.O importante no caso de PJ e a formula que ele está seguindo, é estabelecer um clímax, e isso poderia ser feito preservando o Faramir da obra. Assim como no caso dos elfos em Helm, leio agora a entrevista de PJ.Não há nada a acrescentar.Ele alega as mesmas razões que deduzi.Criar um clímax e aumentar a carga dramática dessa cena….Porem agora surge uma nova informação de que em "O Retorno do Rei " teremos conflitos entre pais e filhos. Não seria exagero imaginar que entre estes conflitos está a discórdia entre Faramir e Denethor, o que cria uma grande oportunidade para PJ trazer de volta o Faramir original, conflitando a reação extrema de Denethor (alguém duvida que seja a pena de morte para o filho?) com os ideais e a escolha do filho.Mas como essa resenha trata apenas do segundo filme, PJ é culpado até que prove sua inocência.

A cavalgada de Théoden…o videogame acabou.

Tá bom. Eu disse lá em cima que quando o filme se assume como pura ação e aventura, tudo vira mentira e isso é que é legal.Mas caramba…agora estamos retornando ao lírico e ao épico.Aqui é o momento de tornar o filme crível de novo, esse é o verdadeiro clímax do filme.É a conquista do que parecia impossível. Então, para esta sequência, esqueçam o videogame, esqueçam a mentira e nos façam acreditar que a cavalgada de Théoden pode ser invencível. Este é o caso mais evidente onde PJ deixa de lado o que Tolkien escreveu em nome da "linguagem cinematográfica", quando deveria fazer uso da obra para fortalecer o filme.E o desafio de Aragorn é exatamente isso.Fica meio complicado aquela sequência final da batalha com Théoden e Aragorn atropelando orcs como num videogame.Game Over…Aqui não tem vez pra Nintendo ou Playstation.Essa farra era para as cenas de batalha onde a adrenalina falava mais alto e o filme se assumia como divertimento puro e simples. Nesse trecho isso não vale, pois não torna a sequência crível quando o filme se assume lírico e épico. O que afasta os orcs e bárbaros no livro, é o terror provocado pelo desafio de Aragorn, a aurora e a trombeta de Helm.É a combinação desses acontecimentos que nos faz crer que Théoden pode avançar de forma tão implacável…Vamos ao livro:

"O poder e uma realeza tão grandes revelaram-se em Aragorn (…) que muitos bárbaros pararam,e olharam por sobre os ombros para trás(…)outros olharam para o céu cheios de dúvidas. Então ,repentino e terrível(…) ecoou o som da grande trombeta de Helm.E todos que escutaram aquele som tremeram.Muitos orcs se jogaram ao chão cobrindo os ouvidos com as garras." Isso fez falta no filme.Isso nos faz entender a cavalgada de Théoden e por que ele conseguiu irromper as fileiras inimigas.Faltou o desafio.Faltou o pânico nos rostos dos inimigos, o close dos orcs apavorados,quando soou a trombeta (alias uma desnecessária atribuição dessa tarefa a Gimli, com o provável intuito de equilibrar as ótimas piadas sobre sua estatura preservando sua dignidade).Faltou isso tudo pra justificar o sucesso da cavalgada de Théoden. E onde tem espaço pra isso no filme?Diminuindo as cenas de batalha, diminuindo as cenas do romance Aragorn/Arwen, diminuindo até mesmo a deliciosa sequência do coelho cozido ou a aparição de Scadufax, claras reverências a nós fãs mas que não são tão fundamentais ao filme quanto o desafio de Aragorn.Afinal, é ali o grande clímax dessa estória.A virada da maré que Gandalf cita no livro e no filme…(tá, ou quase isso)

Seu Sam ? Esse cara é bicha…

Tá.Discordem deste pretensioso e arrogante metido a critic
o cinematográfico.Alias, nem a esse papel eu to me prestando.Isso tá mais pra uma tese de mestrado que uma critica de um filme.Título: "As Duas Torres de PJ.Uma análise descritiva do roteiro." Pois bem, me queimem na fogueira mas escutem o que digo.Aqui reside o maior erro de Peter Jackson da Silva Barbosa Lima Soares Fonseca Sauro. E eu não estou falando do "seu Sam".Eu andei fuçando uma lista americana e outra inglesa sobre o filme e soube que lá ninguém riu nessa parte.Então por que no Brasil isso aconteceu?Por que aqui o Sam ficou parecendo um boiola?Pois os ingleses e americanos enxergaram em "o seu Sam" nada mais do que "seu leal servo e amigo Sam".Por questões culturais (que não nos desmerecem mais que os gringos), nós interpretamos "uma relação de afeto carnal".Ou seja, pra gente "seu Sam" quer dizer "o tesão enrustido de Sam".É complicado entender isso já que a maioria não pensou o mesmo quando leu a mesma frase (seu Sam) no livro.Mas no fundo a culpa disso não é do PJ pois é mais uma questão de tradução ou de herança cultural. Mas onde está a chance pra chutar o barbudo na barriga ? Quer saber? Não sei quanto a vocês mas pra mim PJ me chamou de idiota.Ele duvidou da minha capacidade de entender aquilo que está tão claro na obra de Tolkien. O discurso final de Sam, começa citando o livro.Tá tudo bem até que o barbudo (não o presidente,o outro) resolve contribuir com sua fantástica eloquência (valeu Mormegil). Pois no livro, Sam diz mais o menos isso: "Acho que eles (os personagens das grandes histórias) , como nós tiveram um monte de oportunidade de dar as costas e não o fizeram.E se tivessem feito não saberíamos pois eles seriam esquecidos".

Pois isso não basta ?Isso não revela mais do que suficiente sobre o autruísmo dos personagens. A escolha de continuar em frente não está sendo feita apesar de ser a mais difícil? Mas PJ emenda um final de discurso sobre "bem no mundo e que vale a pena lutar por ele". Pera lá…Isso é necessário?Será que o discurso original não torna isso implícito? Mas o barbudo (o deles, não o nosso) acredita que a gente não pode entender isso, e então mastiga tudo bem bonitinho pra gente.Ele torna o filme descritivo em excesso, subestimando a capacidade de entendimento da platéia. Por que? Isso é formula.É a tal necessidade de garantir que todo mundo entenda tudinho ,tim tim por tim tim. Como se isso não bastasse ainda tem outro problema.Sean Austin não é Ian McKellen, pra segurar um "monólogo" daqueles, e as imagens se tornam um resumo do clímax das três narrativas que tem obrigatoriamente que culminar no mesmo ponto.Copolla fez isso em "O Poderoso Chefão", mas foi mais feliz e mais autônomo. Pois em "As duas torres" , exatamente onde o lírico clama por uma metáfora visual que liberte a platéia, PJ é acadêmico e comercial, pois opta por simplificar e limitar a capacidade imaginativa do expectador. Onde Tolkien é forte,ou seja no subtexto,no pequeno detalhe e no minimalismo, PJ é obvio demais. É como pegar uma peça de Tcheckov, que construía seus personagens mais pelo que escondia do que revelava, e desenvolver uma narração em off contando exatamente o que cada personagem sentia. Onde estão os planos gerais como metáfora da confrontação entre a pequenez dos personagens e a grandiosidade do cenário no qual estes mesmos personagens parecessem diminutos em suas jornadas? Pois eu respondo…Naufragaram na necessidade de seguir uma formula. Funciona?Sim.Mas Kelly Key também funciona. Então, baba baby, baba.

The end.

Querem saber ? PJ tem seus méritos sim.Como já foi dito antes, ele é bom em falar do "mal".É a verve trash presente nas cenas de batalhas e na representação de tudo que é a antítese do bem (thanks Deriel).Ele é ótimo nas cenas de ação, quando a adrenalina é o que vale.Ele acerta em investir no dilema de Gollum. Mas então ele extrapola, pois cria elfos sanguinários(Gil-Galad virou Freddy Krueger) e para intensificar a carga dramática insiste no conflito pelo mal não pelo bem (vide o dilema de Faramir).Mas ele acerta a mão quando reverencia os grandes mestres (Ford, Lean Kurosawa) na composição dos grandes planos gerais.Ao mesmo tempo se mostra contemporâneo e "muderno" (quase parece filme do Dogma) na sequência do ataque dos Wargs. Mas na hora de fazer o balanço final, vejam lá em cima quantas vezes as palavras "formula","Syd Field" ou "adequação" aparecem. Esta "formula", impôs o tal clímax final onde convergissem as três narrativas, e forçou a maioria das mudanças. Pois ai é que está a diferença.Teoricamente, a arte deve ser independente de formulas, convenções sociais ou imposições comerciais.Mas isso é um discurso desgastado após a utopia sessentista e os anos pós globalização. Pois se a gente não pode dissociar o filme das limitações que o cinemão pipoca impõe, então tolerância é a palavra chave para uma análise final.

Claro que a gente deve olhar para as opções do barbudo (o largado, não o do Armani) e tentar entender as razões e pressões escusas que este sofreu.Talvez PJ tenha sido forçado a seguir a "formula" , desde o inicio ,quando apresentou o roteiro original para os três filmes. Quanta expectativa não criei ao saber do sucesso de bilheteria do primeiro filme, o que teoricamente daria a PJ mais liberdade para "As Duas Torres". Hoje deposito minhas esperanças na hipótese do barbudo (o de lá, não o de cá) ter escolhido o segundo filme como destino para a maioria das limitações criativas impostas por Hollywood. É complicado analisar um filme que só se completa com as três partes e as 9 horas de duração previstas. Porem fica a sensação de que "As Duas Torres", como um filme independente dos outros dois, seguiu muito mais no seguro caminho das formulas comerciais do que seu antecessor.Fica a sensação de que se ousou menos do que merecia o filme.Ainda mais em um filme que tem como idéia central, resistir a tentação da escolha mais fácil, e seguir o caminho correto. Principalmente por que a escolha mais fácil seria dar as costas, voltar pra casa e ser esquecido.

Sim,sim,sim…apêndice.De quem é a culpa afinal? Pois se você. continua a favor do filme, continua a favor das modificações, pois elegeu PJ como seu representante na realização do filme. Era ele, ou ele…Não tinha muita opção.E ele ganhou.Foi dele a idéia de filmar a obra, o que pôs si só já é uma ousadia.Pois é…eu fiquei alguns meses esperando pelo filme. Então entrei o clima, assumi o filme e elegi o PJ. Era isso ou nada.Eu escolhi o isso, e não o nada. Então eu esqueço o dólar , esqueço o Gianechinni, esqueço os capitalistas de Hollywoo
d e o Syd Field. Pois é…Também esqueço o PJ e assumo a culpa.Num fui eu que pedi o filme? Então esse sapo barbudo (o deles não o nosso) eu vou ter que engolir. Alguém mais tá servido ?

[Duque DécioZico95 Calça J. Quadradix]

Acompanhar
Avisar sobre
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
0
Gostaríamos de saber o que pensa, por favor comentex