Mágica, por Melkor. Não Aceitam-se Devoluções

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Escrito por Michael Martinez
Porque ouro? Eu tive essa questão feita para mim algumas vezes. De onde eu tirei a idéia que os dragões poderiam retirar poder do ouro, ou, mais especificamente, que existe alguma coisa especial no ouro no que se trata de mágica? [Nota do Tradutor: Martinez está se referindo ao ensaio Todos os Dragões se Foram? , de sua própria autoria]
Bem, eu esqueci de mencionar um parágrafo crucial
quando estava citando um ensaio de Tolkien [o qual, a propósito,
Chistopher Tolkien chamou de “Notas Sobre os Motivos do Silmarillion” – os parágrafos sobre o elemento-Morgoth foram movidos do início para o final de seção II]. 

Quando ao final nos referimos à visão de Tolkien de como a mágica funcionava para Sauron, temos as seguinte palavras: “O
poder de Morgoth estava disseminado através de todo o Ouro, se em
nenhuma parte absoluto [pois ele não criara o Ouro] em nenhuma parte
estava ausente. [Era este elemento-Morgoth na matéria, de fato, que era
o pré-requisito para a “mágica” e outras perversidades que Sauron
praticou com ele e sobre ele.]”

Mas o que se segue explica
minha fascinação pelo ouro, e porque eu acho que dragões seriam capazes
de se sustentar a partir dele:

“É bastante possível, claro,
que certos “elementos” das condições da matéria tenham atraído a
atenção especial de Morgoth [principalmente, exceto no passado remoto,
por razões de seus próprios planos]. Por exemplo, todo o ouro [na
Terra-média] parece ter uma tendência especialmente “maligna” – mas não
a prata. A água é representada como quase inteiramente livre de
Morgoth. [Isto, claro, não significa que um mar, rio, poço ou mesmo
vasilhame de água em particular não pudesse ser envenenado ou poluído –
como todas as coisas podiam.]”

Então, não existe uma
conecção específica com dragões, mas Tolkien pelo menos reservou alguns
pensamente para o lugar em particular ocupado pelo ouro na hierarquia
do que podemos chamar “substâncias mágicas” na Terra-média. Ouro é um
elemento fascinante. É o terceiro metal mais condutivo que conhecemos
[apenas cobre e prata são mais efetivos]. Em sua forma mais pura o ouro
pode ser ingerido com segurança [embora sopa de ouro seja muita cara,
segundo me contaram] mas não possui um valor nutritivo para nós.
Dragões podem ou não ter se beneficiado da absorção de algumas libras
de ouro. [Nota do tradutor: libras no sentido de peso]

De
fato, me foi apontado que o tesouro dos dragões incluem mais coisas do
que apenas ouro. A barriga de Smaug, por exemplo, estava incrustrada
com jóias. Mas qualquer um que viu o desenho de Bilbo e Smaug que
Tolkien fez para O Hobbit [entitulada “Conversação com Smaug”] não
poderá deixar de notar que a maior parte da cama do dragão é composta
de ouro. Sim, existe todo tipo de coisas brilhantes espalhadas pela
pilha [incluindo a Pedra Arken no topo da pilha] mas a maior parte do
tesouro é ouro.

Isso não quer dizer que as jóias não sejam
especiais a seu próprio modo. Lembre-se como Ungoliant cobiçou as gemas
que Melkor roubou dos Noldor em Formenos. Ela comeu todas exceto as
Silmarilli e ficava mais poderosa enquanto o fazia. Estas gemas
possivelmente não continham o que Tolkien se referia como
elemento-Morgoth, mesmo Morgoth tendo sido mantido em Aman por um longo
tempo. Então, a questão que surge é se existia algum outro elemento
“mágico” com o qual Ungoliant estava se alimentando ou se ela estava
simplesmente se alimentando da própria essência das pedras preciosas.

Quando Ungoliant sugou a vida das Duas Árvores e depois sorveu a luz
líquida dos Poços de Varda ela cresceu a um tamanho imenso. Ela
tornou-se tão grande e poderosa que Melkor a temeu. Luz era o sustento
de Ungoliant, mas a luz das Duas Árvores seria um produto do que
poderíamos considerar “mágica pura”, o poder de um Vala. Yavanna trouxe
as Duas Árvores à vida pelo poder de sua canção, um ato de sub-criação
inigualado dentro dos Salões de Eä, e que ela disse não ser capaz de
repetir. Assim alimentada pelo poder do encantamento mais poderoso de
Yavanna, Ungoliant tornou-se imensa e mais poderosa do que antes.

Da mesma forma as gemas roubadas dos Noldor eram encantadas. Fëanor
aprendeu como fazer pedras preciosas que brilhavam sob a luz das
estrelas ou que brilhava de acordo com sua vontade. Ele teve muitos
anos, durante os quais construiu um grande tesouro, e este tesouro foi
transportado para Formenos quando Fëanor, Finwë e os filhos de Fëanor e
os Noldor que os seguiram fixaram lá ao norte de Valinor durante o
período do banimento de Fëanor de Tirion. Portanto Ungoliant foi capaz
de se alimentar não apenas com a essência das jóias Noldorin mas também
com o poder que Fëanor [e quaisquer outros artesãos] colocou nelas.

Se os Noldor eram capazes de crias gemas mágicas em Aman, eles não
seriam menos capazes de criá-las na Terra-média. E assim como os Noldor
foram ensinados pelos Valar e Maiar, especialmente por Aulë, também os
Anões foram ensinados pessoalmente por Aulë. Os Anões possuíam suas
próprias habilidade e poderes especiais. Eles podem ter sido menos
poderosos que os Eldar, ou talvez menos ambiciosos [pois eles nunca
fizeram artefatos como os Anéis de Poder ou as Silmarilli]. Mas os
Anões também colocavam seus pensamentos nas coisas que faziam, como o
elmo-dragão de Dor-lomin, que protegia seus portadores de qualquer
dano. E a Flecha Negra de Erebor que Bard usou para matar Samug pode
ter sido um produto de mais do que um artesão experiente. Talvez algum
mestre Anão, morto pelo dragão fazendo com que todo seu conhecimento
fosse perdido com ele, tenha posto um grande esforço na sua criação e
embuiu nela algo de seu poder.

O poder dos Elfos – e dos Anões
– podia não ser igual ao poder de Morgoth ou Yavanna, mas ainda sim
seria uma fonte de encantamento. Um dragão sobre um tesouro Élfico
[como em Nargothrond] ou um tesouro Anão [como em Erebor] poderia sugar
ou simplesmente banhar-se nas energias dos criadores dos itens
encantados tanto quanto ou quase tanto como no elemento-Morgoth contido
no ouro. O que não quer dizer que os dragões tivessem que fazer isso,
mas claramente a passagem de poder de um ser para um objeto é uma idéia
que Tolkien usou várias e várias vezes, e um após o outro ele nos deu
exemplos de poder passando de um objeto para uma criatura. As imensas
energias que Melkor dispersou através de Arda em seus esforços para
identificá-la consigo mesmo poderiam, coletivamente, ofuscar aquelas
dos Elfos e Anões criadores de itens. Mas um tesouro de ouro e gemas
não importa o quão grande fosse seria apenas uma pequena fração da
essência de Arda. Assim cada pequena partícula ajudaria.

Um
senso de escala desenvolve-se quando pesamos os grande poderes
[malignos] da Primeira Era contra aqueles das Eras posteriores. Melkor
governou seu reino a partir de Angband, onde ele estava cercado por
seus servos: Sauron, os Balrogs, Draugluin e os lobisomens, Orcs,
Trolls, Thuringwethil e talvez outras criaturas como morcegos, e outros
monstros não nomeados nas lendas dos Elfos e Edain. Ele criou lá alguns
dragões e nutriu Carcharoth, o grande Lobo. Mas suas criaturas também
residiam por toda a Terra-média. O cerco de Angband foi mais um show do
que qualquer outra coisa, pois as forças de Melkor eram capazes de ir e
vir como queriam através de rotas no norte. E Melkor recrutara muitos
Homens do leste.

Na Segunda Era Sauron começou a agir por si
mesmo. Ele eventualmente reuniu todas as criaturas malignas novamente
mas quase todos os servos Maiar de Melkor haviam perecido ou se
ocultado. E se existiam dragões a seu serviço eles parecem não ter
conseguido muito em Eriador [a menos que quando Sauron queimou as
grandes florestas de Minhiriath e Enedwaith na Guerra dos Elfos e
Sauron ele o tenha feito com a ajuda dos dragões]. Ao final da Era
Sauron tinha escravizado os Nazgul. Uma vez que um vasto exército de
Elfos, Anões e Homens foi capaz de derrotá-lo, Sauron não era tão
poderoso [militarmente] quanto Melkor havia sido ao final da Primeira
Era. Parte da força militar sem dúvida vinha do número de magos ao
serviço de Melkor, e de suas qualidades. Mesmo em seus estado decaídos
os Maiar corrompidos eram bastante poderosos.

Na Terceira Era
Sauron tomou forma muito lentamente, e concentrou seus esforço ao redor
de Dol Guldur por um longo tempo. Ele enviou o Senhor dos Nazgul ao
norte para fundar o Reino-Bruxo de Angmar e de Angmar Sauron atingiu os
Dunedain do Norte [e em uma extensão menor aos Eldar também]. Parte da
estratégia de Angmar parecia ser corromper o Povo das Colinas de
Rhudaur, alguns dos quais se tornaram feiticeiros. Mas, embora temidos
pelos Homens, estes feiticeiros não parecem ter deixado marcas na
história. Eles foram virtualmente eliminados durante ou após a guerra
de 1409.

Embora Tolkien não fale das magias realizadas pelo
Povo das Colinas ele revela alguma coisa sobre os tipos de magia
utilizadas pelo Senhor dos Nazgul e pelos Espectros Tumulares, que
foram enviados pelo Rei Bruxo para habitar os túmulos de Tyrn Gorthad
após a Grande Praga ter destruído a maior parte do povo de Cardolan. Os
Nazgul e os Espectros parecem ter sido adeptos de matar seres vivos, e
os Nazgul especialmente [com suas lâminas Morgul] escravizavam os
espíritos daqueles que matavam. O Espectro Tumular que capturou Frodo e
os Hobbits estava pronto a sacrificá-los, presumivelmente para enviar
seus espíritos a Sauron ou ao Senhor dos Nazgul.

No Morgoth’s
Ring, o ensaio sobre “Morte e separação do fea e hrondo [>hroa]”,
Tolkien fala de como os espíritos dos Elfos assassinados podiam
prolongar-se na Terra-média:

“Mas pareceria que nestes dias
posteriores mais e mais elfos, sejam eles dos eldalië em origem, sejam
de outras raças, que demoram-se agora na Terra-média recusando a
convocação de Mandos, e vagam desabrigados no mundo, negando-se a
deixá-lo e incapazes de habitá-lo, assombrando árvores, fontes ou
lugares ocultos que conheciam. Nem todos destes são amigáveis ou
intocados pela Sombra. De fato, a recusa à convocação é em si um sinal
de mácula.”

“É, portanto, algo imprudente e arriscado,
além de ser um ato errado, proibido pelos Governantes de Arda, os vivos
tentarem se comunicar com os desencarnados, embora os desabrigados
possam desejá-lo, especialmente os mais indignos entre eles. Pois os
desencarnados, vagando pelo mundo, são aqueles que no mínimo recusaram
a porta da vida e continuaram pesarosos e auto-piedosos. Alguns são
preenchidos com rancor, desgosto e inveja. Alguns eram escravizados
pelo Senhor do Escuro e ainda fazem o seu trabalho, apesar de ele ter
partido. Eles não dirão verdades ou sabedoria. Apelar-lhes é uma
tolice. Tentar dominá-los e fazê-los servos da própria vontade de
alguém é perversidade. Tais práticas são as de Morgoth; e os
necromantes são da hoste de Sauron, seu servo.”

Alguns
dizem que aqueles Desabrigados desejavam corpos, embora não desejassem
consegui-los através da lei pela submissão ao julgamento de Mandos. Os
mal intencionados dentre eles iriam tomar corpos, se pudessem, sem
seguir a lei. O perigo de se comunicar com eles era, portanto, não
apenas o perigo de ser iludido por fantasias ou mentiras: também
existia o perigo da destruição. Para um dos famintos Desabrigados, se
fosse admitido à amizade dos Viventes, poderiam procurar expulsar o fëa
do corpo; e na disputa pelo controle o corpo poderia ficar gravemente
ferido, mesmo que não tivesse sido arrancado de seus morador de
direito. Ou os Desabrigados poderiam implorar abrigo, e se admitido,
procurariam escravizar seu anfitrião e usar tanto sua vontade como seu
corpo para seus próprios objetivos. É dito que Sauron fez tais coisas,
e ensinou ao seus seguidores como alcança-las.

Alguém pode se
espantar com o que a última frase significa. Sauron foi conhecido com o
Necromante durante os longos anos em que residiu em Dol Guldur. Ele
operou sem corpo para escravizar outros enquanto recuperava sua força?
Ele algumas vezes abandonava o próprio corpo para trabalhar com
feiticeiros que pensavam que podiam escravizá-lo? O que veio a ser dos
escravos que Sauron obteve desta forma, e quem seriam seus seguidores
que podiam praticar tais enganações? Estariam os Nazgul tomando posse
de tais possíveis feiticeiros? Tais ligações arriscadas com Sauron
poderiam explicar tanto porque ele era capaz de manipular tantos
líderes dos Homens como porque eles se sentiam atraídos por ele em
primeiro lugar. Os xamãs e reis e líderes não saberiam, até ser tarde
demais, que seus predecessores que se tornaram poderosos não eram nada
mais do que avatares de Sauron. Isto não quer dizer que todos os servos
de Sauron seriam diretamente manipulados. Mas os mais poderosos dentre
seus servos e aliados de fato poderiam ser feiticeiros-marionete.

Talvez isto explique o costume bárbaro onde os reis queimavam-se em uma
pira. Denethor II escolher morrer desta maneira e Gandalf o repreendeu
por isso, dizendo que apenas os reis bárbaros eram tratados dessa
forma. Se Sauron não tivesse mais uso para um de seus escravos poderia
ser conveniente destruir todas as evidências de sua possessão do que
deixar que seus seguidores aprendessem a verdade, ou alguma porção
dela. Por outro lado, pode-se argumentar, se Sauron e os Nazgul podiam
controlar pessoas, porque o Senhor dos Nazgul não usou o corpo de
Earnur para ter controle sobre toda Gondor? Pode ser que, se ele
fizesse a tentativa, o Senhor dos Nazgul não tivesse o poder
necessário. Earnur não iria coloborar de livre vontade com um Nazgul ou
mesmo com o próprio Sauron. Sua vontade seria rompida mas ele
provavelmente morreria, consumido pelo esforço.

O medo que
alguns dos Rohirrim demonstram, perguntando-se se Aragorn e seus
companheiros poderiam ser espectros Élficos quando ele toma as Sendas
dos Mortos, também pode dar fundamento à suspeita de que talvez ele
tenham sido possuídos por espíritos Élficos. A especulação implica que
os Rohirrim teriam experiência com homens possuídos por espíritos
Élficos, ou talvez tenham ouvido contos o bastante sobre tais homens
para acreditar que seriam verdade. E finalmente sabemos que Tolkien não
estava apenas revendo o tema quando escreveu o ensaio sobre morte e
conitnuidade do espírito e corpo. Ele estava preenchenco algumas
lacunas na estrutura já estabelecido pelO Senhor dos Anéis.

E
dessa forma nós podemos seguramente deduzir que, no mundo de Aragorn e
seus companheiros, existiam ou existiram homens que tolamente tentaram
tornar-se poderosos através de meios não-naturais. Talvez inspirados
por ou invejosos dos Istari e Elfos, que possuiam tais habilidades
naturalmente, homens foram conduzidos em direção das trevas. E o
aparente aumento no força e sofisticação dos inimigos de Arnor e Gondor
também podem mostrar aqueles homens sucumbindo à tentação de forjar
alianças com espíritos malignos, embora pudessem não ter idéia do que
estavam fazendo.

O que nos traz de volta ao assunto de como os
homens podem ter começado tal experimentação. Mesmo Sauron precisou de
um primeiro voluntário para sucedê-lo. Será que ele descobriu que os
homens já estavam brincando com esta idéia quando tomou forma
novamente? Terá ele plantado as sementes de tais práticas durante a
Segunda Era? Se sim, a antiga sabedoria recuado para o leste distante
mas não poderia estar completamente perdida. Talvez os nazgul tivessem
mantido o conhecimento vivo em antecipação ao eventual retorno de
Sauron. E homens buscando poder poderiam procurar por objetos de poder.
Ouro seria valioso, mas ouro trabalhado pelos Elfos e Anões seria mais
mágico do que qualquer coisa que os Homens pudessem conquistar por si
mesmos.

Portanto, pessoas desejando tornar-se feiticeiro
poderiam barganhar com Elfos e Anões se possuíssem riquezas e recursos
que os Elfos e Anões desejassem. De outra forma, Homens poderiam pilhar
Elfos e Anões na esperança de obter tesouros. A animosidade e
estranhamento que se criou entre Homens e as outras raças durante a
Terceira Era podem ter tido muitas causas, mas Tolkien cita que os
Anões eram frequentemente saqueados pelos Homens, provavelmente mais do
que pelos dragões. E assim geração após geração de feiticeiros e
estudantes de necromancia poderiam lutar e obter artefatos preciosos e
gemas, valorizando-os não por sua beleza mas sim por seus encantamentos.

Não que todos os praticantes de magia tivessem que ser malignos. Os
Numenorianos de Cardolan, pelo menos, tinham modos de criar espadas
encantadas. As espadas do túmulos que Tom Bombadil deu aos Hobbits eram
“imbuídas com feitiços para a destruição de Mordor”. Faramir fala a
Frodo e Sam que mesmo em Gondor alguns de seu povo continuavam a fazer
elixires na desesperada busca por vida longa, e alguns homens
continuavam a se relacionar com os Elfos. Em uma carta para um leitor,
Tolkien fala que Beorn era um homem “ainda que um Troca-Peles e um pouco de mago”.
Tais homens não haviam procurado comunicar-se com espíritos Élficos, os
Desencorporados, ou com Sauron e os Nazgul. Eles teriam procurado uma
sabedoria mais pura.

E uma vez que o poder de Melkor estava
disseminado através do mundo físico existia muito material com o qual
trabalhar. Não é necessário encantar material que já está encantado.
Ouro era um material ruim para armas mas podia ser inserido nas lâminas
de espadas de ferro [como nas lâminas tumulares]. As lâminas tumulares
eram também decoradas com gemas, e feitas de um estranho metal que os
Hobbits não reconheceram. E Denethor reconheceu imediatamente que a
espada de Pippin havia sido feita pelos Dunedain do norte. Ele
reconheceu a arma pelo seu desenho, seus materias ou por alguma outra
coisa?

Os Numenorianos também contruiram a grande torre de
Orthanc, cuja pedra era tão lisa e forte que não podia ser quebrada
pelos Ents. Exista magia envolvida ali? Estaria a pedra negra com a
qual os Numenorianos trabalharam cheia com uma quantidade
extraordinariamente grande da essência de Melkor ou seria simplesmente
suficiente que eles pudessem murmurar ou cantar seus pensamento nela e
a torre se tornaria quase impenetrável? E do que a pedra negra de Erech
era feita? Por que era tão importante para os Homens Mortos de
Dunharrow? Isildur a colocou ali, e seu rei havia feito um juramente
sobre ela. Seria, talvez, a pedra um repositório de elemento-Morgoth
maior do que, digamos, outras pedras de forma e tamanhos similares?

Mas então Isildur teria sido capaz de fazer uso do elemento-Morgoth
para amaldiçoar os Homens de Dunharrow por quebrarem seu juramento?
Como um Homem ele era desprovido do poder necessário para confinar os
espíritos de uma tribo inteira na Terra-média por milhares de anos.
Mesmo o mais poderoso dos feiticeiros entre os Homens parece não ter
atingido nada comparável. Então a maldição de Isildur deve ter sido
ampliada por algo maior, algo mais puro. Mesmo os Valar não tinham a
autoridade de manter os Homens nos Salões de Eä para sempre. Seria um
ato de desafio e rebelião para com Námo manter um espírito Humano tanto
tempo, ao final das contas. Então a vontade e a autoridade que reforçou
a maldição de Isildur deve ter vindo de um poder maior, e este poderia
ser apenas o próprio Ilúvatar.

Como um Rei de Gondor, Isildur era, de fato, um sacerdote de Ilúvatar por parte de seu povo. “Parece que,” Tolkien aponta na Carta 156, “que existia uma “área santificada” no Mindolluin, aproximável apenas pelo Rei…”


“…onde ele antigamente oferecia graças e louvores por parte de seu
povo; mas isto foi esquecido. Foi relembrado por Aragorn, e lá ele
encontrou um broto da Árvore Branca, e a replantou no Pátio da Fonte. É
presumível que com o ressurgimento da linha dos reis sacerdotes [da
qual Lúthien, a Abençoada Dama Élfica, era uma antepassada] o culto a
Deus poderia ser renovado, e Seu Nome [ou título] seria novamente
ouvido com mais frequência. Mas não existiriam templos do Deus
Verdadeiro enquando a influência Numenoriana persistisse.”

Os Reis de Gondor [e, presumivelmente, os Reis de Arnor] estariam
apenas continuando ou revivendo o antigo culto que seus povos
praticavam em Numenor.

“Os Numenorianos então começaram um grande novo bem, como monoteístas;
mas como os Judeus com um único centro físico de “adoração”: o pico da
montanha Meneltarma “Pilar do Céu” – literalmente, pois eles não
concebiam o céu como a residência divina – no centro de Númenor; mas
não possuía construções nem templos, e todas essas coisas tinham uma
associação com o mal….”

Ilúvatar não encheu Arda com sua
essência pessoal como Melkor fez, mas não havia necessidade. Ilúvatar
criou Eä com a Chama Imperecível, e colocou a Chama em seu interior. Os
Salões de Eä eram incontestavelmente identificados com a vontade de
Ilúvatar, e as maquinações mesquinhas de Melkor podiam apenas inserir
uma identificação com Arda. Portanto Ilúvatar é livre para agir em sua
criação assim que desejar. E Gandalf aponta para Frodo que existiam
alguns propósitos-guia funcionando em Arda, quando ele diz “Existe
mais do que um poder funcionando, Frodo. O Anel está tentando voltar
para seu mestre… por trás disso algo mais trabalha, além de qualquer
propósito do Criador do Anel. Não posso colocar isso de forma mais
simples do que dizendo que Bilbo estava marcado para encontrar o Anel,
e não o criador do mesmo…”

E podemos estar certos que Gandalf falava de Ilúvatar pois Tolkien o diz na Carta 156 “Então
Deus e os deus “angelicais”, os Senhores ou Poderes do Oeste, apenas
olhavam através de certos locais como a conversação de Gandalf com
Frodo”
. Tendo os Valar alguma parte na decisão de se Bilbo
encontraria o Anel ou não, Tolkien está claramente incluindo Ilúvatar
na decisão.

A inserção de um elemento divino na “mágica” da
Terra-média então levanta uma questão sobre aplicabilidade. Estaria a
palavra “mágica” sendo muito usada? Nesse ponto Tolkien demonstra
arrependimento em ter usado a palavra, que descreve tanto os trabalhos
sub-criacionais dos Elfos quanto “as fraudes do Inimigo”. Ainda quele
ele defina dois aspectos da mágica, magia [efeitos físico] e goétia
[efeitos na mente e espírito], ele insistiu que tanto um quanto outro
tipo poderiam ser bom ou mau dependendo do motivo do usuário, e que
tanto os personagens bons [Valar, Elfos] quando os Maus [Melkor,
Sauron] utilizaram ambos os tipos de mágica. E mais: todos as “mágicas”
ou poderes vieram em última instância da vontade ou pensamento de
Ilúvatar, que criou os seres que praticavam mágica. Então, se os
poderes de Melkor, ou Ulmo, são o produto do pensamento de Ilúvatar,
ele difere em natureza das intervenções diretas de Ilúvatar?

Em um aspecto, o poder de Melkor é dele próprio: dado a ele
irrevogavelmente por Ilúvatar. Apenas Ilúvatar ou Melkor poderiam
alterar sua força natural. Outros seres, como Manwe e Namo, poderiam
ser capazes de capturas e executar Melkor, e portanto enfraquecê-lo
como resultado dele ser forçadamente desalojado de sua encarnação
física. Mas tal desalojação seria resultado das leis físicas da
Criação. Isto é, Ilúvatar fez as regras que mesmo Melkor tinha que
obedecer. Ele não poderia simplesmente recusar ser morto. Sua
encarnação física era sujeita às consequências da fisicalidade.
Portanto existia uma chance real, embora mínima, de Fingolfin matar
Melkor. E por isso também que Gil-galad e Elendil [ou Isildur, como
alguns acreditam] foram capazes de matar Sauron. Sauron morreu em
Númenor mas a destruição de Númenor foi causada por Ilúvatar. A morte
de Sauron na encosta do Orodruin foi atingida por um ser ou seres com
poderes e estatura muito inferiores a Manwe.

O aspecto divino
da “mágica” é, portanto, identificável com as leis da natureza. Isto é,
a vontade de Ilúvatar não pode ser distinguida de um aspecto de si
mesmo ou de sua criação. Se a Criação deve comportar-se de uma certa
forma, e a própria Criação é atingida pelo poder de Ilúvatar, então
todas as coisas da Criação estão, por extensão, exibindo o poder de
Ilúvatar, embora porções desse poder tenham sido dados irrevogavelmente
a elas.

Pode existir, portanto, um aspecto de Arda [e todos os
Salões de Eä, a Criação] que é muito parecido com o elemento-Morgoth,
embora mais puro e mais consistente: um elemento-Ilúvatar. Não
utilizável com finalidade de conduzir “mágica”, talvez, mas
irrevogavelmente estampado com sua vontade. Coisas existem porque
Ilúvatar disse que ela poderiam existir, e elas funcionam de acordo com
as Leis da Criação que ele definiu. Então, todo o poder dos Ainur e
Elfos e Anões, seja por eles retido ou inserido em outros itens, devem
existir e funcionar de acordo com as leis naturais de Ilúvatar. E o
próprio Ilúvatar portanto não precisaria transgredir suas próprias leis
para executar sua vontade sobre o mundo. O mundo irá executar sua
vontade para ele porque as leis da natureza fderivam de sua própria
vontade.

Isto é, não existe distinção real entre a “mágica” de
Ilúvatar e a “mágica” de Melkor, exceto em escala e pureza de
propósito. O poder de Melkor é incomparavelmente menor do que o de
Ilúvatar, mas a perversão de Melkor também corrompeu seu poder então
ele é impuro. Todo o poder é retirado da mesma forma e corre a partir
da mesma fonte. Mas Ilúvatar concedeu irrevogavelmente poderes, em
alguma proporção, às criaturas de seu pensamento. Os esforços de Melkor
para identificar-se com Arda através da disseminação de sua força
através do mundo foi, de fato, um ato de desafio. E amplamente
infrutífero. Ilúvatar não irá cancelar seus presentes a Melkor, mas
também não é barrado pela vontade de Melkor.

Por outro lado,
tendo feito os Salões de Eä e os populado com os Ainur e outras
criaturas de estatura similar porém inferior, Ilúvatar nãoprecisa
infundir continuamente seu poder em Eä. Então existe um aspecto finito
na mágica. Apenas uma certa quantia desse poder veio para o universo e
apenas uma certa quantia foi adicionada através do nascimento de seres
que possuem a habilidade de encantar coisas. A separação de Aman da
Terra-média de uma certa forma limita ou mesmo reduz a mágica que pode
ser “utilizada” pelos Homens e outros seres. O que Melkor deixou para
trás trata disso disso. Novos Elfos e Anões podem ter nascido, mas seus
poderes são incomparavelmente pequenos perto do poder de Melkor. Assim
que os Elfos partem ou morrer, assim que os Anões morrem, e seus
artefatos desaparecem ou são destruídos, a reserva de mágica disponível
e passível de utilização diminui.

Isto é, com o passar dos
milênios tornar-se-ia mais e mais difícil para os Homens praticarem a
“verdadeira” mágica porque as fontes de mágica dais quais necessitavam
se tornariam cada vez menos. Uma das mais fortes críticas levantadas
contra Tolkien por escritores atuais de fantasia é que parece não haver
limite para a mágica em seu mundo, e nada poderia estar mai longe da
verdade. “Mágica” é extremamente difícil de definir, mas as expressões
de poder, a criação de “artefatos mágicos”, diminuíriam em tamanho e
número com o passar das Eras porque o poder estaria deixando a
Terra-média.

Portanto as Silmarilli de Fëanor e os Anéis de
Poder definem um limite superior da expressão de poder na Terra-média.
Sem dúvida outros grandes trabalhos foram realizados: as cidades de
Gondolin, Mengroth e Khazad-dum eram, de muitas maneiras, “mágicas”.
Mas elas eram os produtos de populações inteiras, o resultados de eras
de trabalho. E mesmo assim nada como elas poderá ser contruído
novamente. Mesmo na Quarta Era, quando Durin VII liderou seu povo
novamente para Khazad-dum, é improvável que eles pudessem reviver a
antiga glória de sua cidade. Apenas um eco do passado poderia ser
alcançado, em parte porque seu número havia se reduzido, mas também
porque eles haviam perdido muito da antiga sabedoria. Khazad-dum era a
última relíquia de eras onde cidades mágicas eram possíveis. Agora elas
são simplesmente lendas.

O medo de Galadriel de que seu povo
pudesse diminuir na Era dos Homens, condenado a se tornar um povo
rústico de cavernas e vales, é portanto assentado sobre um problema
bastante real. Uma vez que os Anéis de Poder deixaram de existir, os
Elfos [que haviam sido protegidos dos efeitos do Tempo] teriam que
deixar a Terra-média. Os Elfos perderam não apenas grande parte de seu
conjunto de talentos, mas também suas “reserva de poder”. Isto é,
restaram menos Elfos para construir novas cidades. Alguns dos Alto
Elfos permaneceram em Imladris e Lindon mas eles nunca mais poderiam
ser uma grande nação Eldarin. Não existiriam mais artefatos, nem
cidades a serem cionstruídas nas terras dos Homens. E os Elfos que
compreendiam que Arda continuava possuindo o elemento-Morgoth poderiam
relutar em utilizá-lo novamente na mesma escala da criação dos Anéis de
Poder. Eles aprenderam através de muitas lições amargas qual era o
preço de trabalhar com tal mágica.

Algo pode ser dito aqui
sobre o Mithril. Se ouro é altamente mágico, Mithril seria ainda mais?
Eu acho que sim. Desafortunadamente é extremamente difícil obtê-lo.
Ouro é bem mais abundante. Também o são as jóias. E muito do mithril
que foi trazido à luz está perdido. Tar-Telemmaite, décimo-quinto rei
de Númenor, coletou todo o mithril que pode encontrar. Sauron também
coletou todo o mithril que pode. Embora seja duvidoso que os
Numenorianos tivessem sido feiticeiros, Sauron pode realmente ter
encontrado usos mágicos para o seu mithril. E quando Barad-dur foi
destruída uma grande quantidade de mithril pode ter sido destruída com
ela. Lentamente o mithril desapareceu da Terra-média.

Pode ter
havido uma boa razão porque o Balrog de Moria escondeu-se em ou perto
de um veio de mithril. O mithril em seu estado natural pode ter
mascarado seu poder. E pode ser que se os dragões pudessem realmente
drenar poder do ouro e jóias que pudessem drená-lo do mithril também.
Mas se prata [prata normal] possuía menos elemento-Morgoth que o ouro,
o mithril possuíram mais do que a prata? Ou, sendo “prata verdadeira”,
o mithril estava praticamente livre do elemento-Morgoth? Nós
provavelmente nunca vamos saber.

[Tradução de Fábio ‘Deriel’ Bettega]
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