2 de Setembro de 2005: 32 anos depois

Escrito por Fábio Bettega
 
 
Neste dia 2 de Setembro de 2005 completam-se 32 anos do falecimento do maior criador de mundos fantásticos que a literatura já conheceu, J.R.R. Tolkien. O autor de O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmarilion, inspirou muitos músicos, artistas e escritores. E por isso nada mais justo do que nesta homenagem, mostrarmos que mesmo depois de mais de 30 anos de sua morte, o legado que o Professor deixou ainda vive em nossos corações.
 
O grupo fez 4 entrevistas com fãs especiais, e selecionou outros depoimentos de críticos, do documentário “J.R.R. Tolkien: Master of the Rings�?. Vamos a eles:

A escritora brasileira de livros juvenis, Rosana Rios (do recente Senhoras dos Anéis – As Mulheres na Obra de J.R.R. Tolkien) começa dizendo:

“Fazem 32 anos que John Ronald Reuel Tolkien partiu para as Terras Imortais. Fazem 50 anos que O Retorno do Rei foi publicado. E a obra permanece mais viva que nunca… Por que? Que força estranha faz com que a literatura de Tolkien, embora desprezada pela crítica, continue sendo amada e reverenciada por fãs de todas as idades?�?

Como que respondendo a pergunta de Rosana, o tradutor das Letters of J.R.R. Tolkien no Brasil, Gabriel O. Brum comenta:

“O motivo para tamanha durabilidade do fascínio que os livros de Tolkien exercem sobre as pessoas é a verossimilhança de seu legendário e dos temas inseridos nele: são coisas que tocam profundamente o leitor com um mínimo de vivência de mundo; suas próprias emoções estão refletidas na Obra de maneira muito fidedigna e com o atrativo especial da fantasia extremamente detalhada que permeia tal ambiente – a identificação com experiências pessoais e sonhos do leitor é imediata. Como não se afeiçoar a algo assim? É preciso que a pessoa seja feita de puro granito para que isso não aconteça�?.

Rosana ainda nos conta um fato interessante que ocorreu semanas atrás, na Inglaterra:

“Acabo de voltar da Inglaterra, onde tive o privilégio de participar da Tolkien 2005, encontro internacional das Sociedades Tolkien, como uma das representantes do Conselho Branco e do Brasil. O que vi lá foi emocionante: pessoas de mais de 30 nacionalidades, vindas de todo canto do mundo, e falando várias línguas, unidas em torno de um universo fictício que se impôs no imaginário de todos, fosse qual fosse sua cultura�?.

Vemos aí a força, o valor do legado que Tolkien deixou para leitores de vários países. Por isso ela segue:

“O legado de Tolkien, então, deve ser algo fortíssimo para ter esse impacto multicultural que elimina disputas e diferenças. Qual é ele? Talvez seja cedo para dizer, e devamos esperar mais 50 anos para analisar o fenômeno�?.

Ronald Kyrmse, tradutor do Contos Inacabados e do Atlas da Terra-média para o Brasil, acrescenta:

“Tolkien é perene. Não porque tenha criado um gênero literário – o da ficção fantástica -, não porque um filme baseado em sua obra tenha alcançado um sucesso imenso, mas porque fala aos corações de todos nós. Os personagens de Tolkien são reais; a Terra-média é aqui; as mensagens que ele nos legou valem para nosso dia-a-dia do mesmo modo que para todas as gerações vindouras�?.

Daí, perguntado sobre como o editor e escritor Thiago Marés (do livro O Segredo da Guerra) vê o fato de leitores estarem lendo as obras de Ronald Tolkien ainda hoje, ele diz:

“O maior legado é este mesmo, o de mesmo depois de sua morte, as pessoas ainda se divertirem com as histórias que ele criou. Para mim sempre ficou claro que o maior objetivo de Tolkien era contar uma história, entreter as pessoas com suas aventuras�?.

Porém, o reconhecimento vai se estabelecendo com o tempo, como escreve Gabriel:

“Embora o reconhecimento por parte dos fãs tenha se estabelecido há mais de 50 anos e seja reforçado continuamente com o surgimento de novos leitores, apenas recentemente o legado literário de Tolkien vem recebendo um considerável reconhecimento (embora ainda longe do justo) por parte da crítica, e obras sobre o autor e sua Obra abundam, tais como o anuário Tolkien Studies – em grande parte ainda apenas em outras línguas, infelizmente.
Espero que o lançamento das Cartas em português estimule um estudo mais aprofundado da Obra por parte dos fãs brasileiros a ponto de existir a possibilidade do surgimento de mais livros do tipo, sejam traduzidos, sejam de autoria nacional�?.

Retomando a fala de Rosana Rios, ela nos dá dicas de como descobrir o que ela disse, e conclui:

“Seja como for, há algumas pistas, e se há alguém que pode nos ajudar a encontrá-las, é Frodo – o herói improvável que, diante de uma jornada impossível e sem volta, não ficou quieto esperando que outros se desincumbissem da missão, mas ergueu-se e declarou simplesmente que levaria o Um Anel à Mordor, embora não soubesse o caminho. A atitude de Frodo pode ser um bom ponto de partida para quem deseja entender o porquê de o SdA permanecer hoje tão atual como quando foi escrito… para mim, pelo menos, ela tem ensinado muita coisa.�?

Thiago também arremata sua opinião:

“Evidente que não podemos negar as inúmeras influências que sua obra tem nas mais diversas áreas artísticas. No final Tolkien atingiu seu objetivo, pois suas obras passaram a ser fonte de inspiração para muitos artistas. E se formos olhar bem, assim também aconteceu com as histórias mitológicas. Por tanto Tolkien acabou escrevendo a sua mitologia. Pena que o Tempo não deixou que ele fosse mais longe�?.

Entrando nas finalizações, vemos uma resposta de Ken Hensley, músico do “Uriah Heep�?, que se inspirou em Tolkien para compor algumas de suas músicas. A fala a seguir foi retirada do documentário citado:

“Acho que ele já é eterno. Há muito poucas peças da literatura que são imortais e há muito poucas peças de arte e há muito poucas peças da música, mas acho que ele é suficientemente diferente e foi escrito num momento informativo importante para muitas pessoas como eu�?.

O apresentador do documentário “Master of the Rings�?, Roberto di Napoli, nos deixa uma mensagem para se refletir, e ver o porquê de Tolkien ser especial na Literatura:

“Desde que O Senhor dos Anéis tornou-se um sucesso, editores se apressaram em promover novos autores, “o próximo Tolkien�?, embora com resultados variados. Surgido como uma visão pessoal e particular que foi tomando forma na imaginação de seu autor durante décadas, O Senhor dos Anéis con
seguiu efeitos que não podem ser facilmente duplicados. Preencher sua história com elfos, anões e magos não vai torná-lo outro Tolkien, embora muitos tenham tentado�?.

Fechando com chave de ouro, diz Kyrmse:

“Por isso creio que ele jamais há de ser esquecido, como autor, como filósofo e como ‘amigo de cabeceira’�?.

Curiosidades do último ano:

– 2005 é o aniversário de 50 anos da publicação completa d’O Senhor dos Anéis, uma vez que o terceiro livro foi lançado em 20 de outubro de 1955.

– Em 25 fevereiro morreu o primeiro tradutor de Tolkien no mundo, Max Schuchart, aos 84 anos.

– Especial "Calendário Tolkien 2005". Alguém quer comprar? :mrgreen:

– Em novembro de 2004, a casa onde Tolkien viveu entre 1930 e 1947 e escreveu muitas de suas histórias, incluindo O Hobbit e O Senhor dos Anéis, foi tombada. A casa foi construída em 1924. Para quem quiser saber o endereço, anota aí: Northmoor Road, nº 20 – Oxford.

– Em 3 de janeiro completou-se 113 anos do nascimento de Tolkien.

O grupo agradece aos entrevistados: Rosana Rios, Ronald Kyrmse, Gabriel O. Brum e Thiago Marés, pelas importantes palavras que ajudaram na construção do texto.

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