Entrevista com a autora de "O Poder Mágico da Palavra".

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Escrito por pandatur
A escritora Rosa Sílvia Lopez, autora de [url=http://www.valinor.com.br/forum/showthread.php?t=34289]"O Poder Mágico da Palavra"[/url] c
 

A escritora Rosa Sílvia Lopez, autora de [url=http://www.valinor.com.br/forum/showthread.php?t=34289]"O Poder Mágico da Palavra"[/url] cedeu uma entrevista � Assessoria de Imprensa da DEVIR sobre os motivos que a levaram a escrever seu livro e os seus objetivos em fazê-lo. ************** [B]Por que o interesse de escrever sobre o autor do Senhor dos Anéis? Foi por causa do sucesso do filme, com direito a Oscar e tudo mais?[/B] R: Na verdade, meu interesse pela obra de Tolkien foi muito anterior a tudo isso. Ganhei um volume, com parte da história já indo a meio e, fiquei absolutamente encantada! Aliás, esta é a razão principal que me fez pesquisar e ir tanto atrás desse assunto; o fato de ter ficado completamente fascinada pela obra, de não conseguir parar de pensar nela. Era quase uma obsessão. Tudo me evocava o cenário, as personagens, as longas descrições e, mas, acima de tudo, o que me envolvia completamente era a profunda melancolia e a tristeza que permeiam a obra toda. [B]Então é isso, trata-se de uma obra triste e melancólica? Não seriam sentimentos nocivos para tantos jovens que se tornam aficcionados?[/B] R: Não é bem assim… Quando falo de �tristeza e melancolia�, não falo do enredo, ou da história, falo, na verdade, da própria condição em que nos encontramos , como homens e mulheres no nosso dia-a-dia, enfrentando nossos fantasmas e nossas desilusões. Também falo de um sentimento de perda que todos nós temos. Perda da infância, das alegrias descomplicadas, dos primeiros sonhos, dos primeiros amores, até de um tempo no passado, que sequer tenhamos vivido. Essa é uma espécie de nostalgia que nos acorda para o fato de que não nos sentimos completos e inteiros. [B]Nossa! Quanta filosofia! Pelo jeito seu livro trata de questões complexas demais!Qual o público que poderia lê-lo?[/B] R:Puxa! Tem razão! Do jeito que as coisas estão indo, parece que é algo bastante cifrado mesmo! Talvez porque tenhamos desandado para o meio sem ter começado efetivamente pelo começo. Vamos lá! É verdade que meu interesse pela obra de Tolkien resultou em uma tese de doutorado, que defendi no Depto. de Teoria Literária e Literatura Comparada da FFLCH-USP e, que, apesar de ter iniciado como mestranda, a banca de qualificação me indicou para um processo direto para doutorado. Fiz uma pesquisa muito acurada no que diz respeito � tradição literária que originou �O Senhor dos Anéis�, questões históricas, estéticas e filosóficas. Li de Santo Agostinho a Heidegger, do místico medieval Mestre Eckhart ao psicólogo C.G. Jung, para buscar as raízes do fascínio tolkieniano. Foi uma experiência bárbara, pois assim pude aproximar a obra de Tolkien, ainda não consagrada em nossos meios acadêmicos, dos cânones literários. Defendi minha tese, que se chama �O Narrar Ritualístico em The Lord of the Rings de J.R.R. Tolkien�, em 1997. Mas quando fui escrever este livro sobre o poder mágico da palavra, claro que me vali de tudo que estudei e pesquisei para fazer a tese, contudo, acabei com todas as �crueldades acadêmicas� necessárias para esse tipo de trabalho! No livro, não fico fazendo citações o tempo todo, nem em busca da prova científica para justificar cada idéia emitida. O que busquei fazer foi contar ao leitor sobre a minha experiência fascinante como leitora de Tolkien, partilhar com ele a minha viagem maravilhosa ao universo tolkieniano. Definitivamente não reescrevi uma tese de doutorado! [B]Bem… Ficou parecendo mais simples agora! E qual é o público que irá se juntar a você nessa viagem?[/B] R: Bem… creio que todos aqueles que, em algum momento do filme ou do livro, sentiram-se encantados, que perceberam, ainda que em um flash rápido, a magia tolkieniana! [B]O tempo todo você fala de �universo tolkieniano� ou �magia tolkieniana�. O que justifica a criação deste termo? Será que a magia de Tolkien é diferente de outras magias? Como as de Harry Potter ou Paulo Coelho, por exemplo?[/B] Caramba! Você está colocando coisas muito diferentes juntas no mesmo caldeirão! Se bem que magia é isso mesmo: a fusão das coisas mais estapafúrdias no mesmo caldeirão…Bem, falando sério, magia, deriva da palavra grega mageia, que significa o preenchimento de uma lacuna entre �desejo� e �realização�. Claro que as magias acabam sendo diferentes de acordo com os diferentes desejos que elas expressam. Aliás a chave da coisa toda está aí: o desejo! Sabe, é muito mais difícil descobrir seu próprio desejo do que realizá-lo! Não é tão comum a frase: �Ah! Mas você/ele/ela não sabe o que quer!� A grande pergunta é quem sabe? Mas por falar em pergunta, acho que não respondi a sua! A magia tolkieniana, que constrói o universo tolkieniano é muito específica e muito geral ao mesmo tempo…pois é… parece que não respondi nada, não é? Em outras palavras, a criação de Tolkien é totalmente original, mas, ao mesmo tempo, funda-se em toda a tradição mítica ancestral. Daí tantas e tantas pessoas diferentes se sentirem tão tocadas pela sua obra. [B]Você poderia nos dar algum exemplo disso?[/B] R:Bem, quando são mencionadas as personagens, muitas vezes dizem que são perfeitas demais, não demonstram facetas muito �humanas�. O mago é sempre sábio, o rei é sempre decidido, o guerreiro sempre forte… Acontece que Tolkien traça personagens no plano mítico, elas não pertencem a nosso mundo real e cotidiano. Aliás a própria aventura é desenvolvida em um plano mítico. Ninguém, em sã consciência, vai sair procurando forjar anéis de poder por aí. Logo, as personagens caracterizam, não integralidades, mas, facetas da natureza humana. E, somente alguém pouco observador poderia achar que as personagens não têm conflitos. Frodo, por exemplo, aquele que deve levar o Anel para a destruição, age da maneira mais surpreendente e paradoxal ao final da história: deseja apossar-se do Anel ao invés de destruí-lo, bem ali, no momento crítico e final! Se não fosse a intervenção providencial de Góllum (Sméagol), arrancando-lhe o dedo, dando um passo em falso e caindo nas chamas, o Anel não seria destruído! Mas há mais coisas em jogo do que imaginam os críticos de má-vontade da narrativa de Tolkien! Não apenas Frodo é atormentado pelo conflito de sua natureza complexa, como o próprio destino da Terra Média se revela nessa complexidade: não é de apenas um a autoria desse destino, mas de todos , de acordo com a parte que lhe cabe, o que não quer dizer mais ou menos poder ou glória…. quer dizer que… cada um corresponderá � sua própria natureza, que lhe será misteriosa até o fim, ou até uma revelação surpreendente e inesperada… Como a pr&oac
ute;pria vida! [B]Puxa! E eu que pensava que �O Senhor dos Anéis� era apenas mais uma boa história de aventura, para ser curtida sem encanações![/B] Que é uma boa história de aventura para ser curtida, não resta a menor dúvida! O autor sabe narrar com emoção e suspense! Mais do que isso até. Tenho a oportunidade de mostrar como ele constrói uma malha de sedução para o leitor e o prende completamente lá. Tanto que o leitor não apenas lê a obra, mas participa de verdade nela! No meu livro, mostro os meandros, os vários caminhos tortuosos que podemos seguir para a aventura ficar ainda mais saborosa! Acho inclusive que os jogos de RPG, descobriram essa faceta maravilhosa da leitura que conta histórias: recontar as aventuras, transformando-as, buscando outros caminhos alternativos em seu percurso é, magicamente, ficar cada vez mais ativo dentro dessa mesma história. Agora, �sem encanações�, bem… já não dá para garantir! Lembra do que falei sobre magia? A grande diferença está na dimensão do desejo que você expressa? Pois é… mergulhar numa narrativa mítica tem desses perigos: como essas histórias narram a grande aventura humana, revelando através de suas personagens facetas humanas que todos nós temos, bem… acabamos por correr o risco de olhar bem fundo em um espelho � mágico, claro � que vai nos revelar bem mais do que esperávamos… [B]Tipo o quê?[/B] Ora… quem estava pensando que ia apenas se divertir um pouco, pode acabar encontrando um reflexo de sua própria vida, de sua própria história nesse espelho mágico! Talvez seja muito legal descobrir-se um pouco Aragorn, o Rei, mas, não há de ser tão divertido descobrir-se muito Sméagol… São os riscos! ************ [I]Agradecimento especial a Rosa por sempre nos manter informados sobre atividades relacionadas ao Universo Tolkien.[/I] 😉

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