Bruce Torres
Let's be alone together.
"To JK Rowling, From Cho Chang", de Rachel Rostad
Sábado passado (13/4), um vídeo apareceu no YouTube dando o que falar: em um sarau de poesia conhecido como Button Poetry, uma jovem de 19 anos chamada Rachel Rostad, aluna da Macalester College, recitou um poema sem rimas cujo ponto foi atacar o fenômeno chamado de tokenism, uma política de inclusão de minorias que visaria remover a aparência (hipoteticamente) preconceituosa de uma obra. Em seu poema, Rostad ataca a tragicidade da maioria das personagens asiáticas, usando exemplos famosos como "Madame Butterfly", de Puccini, ou o musical "Miss Saigon, e que teria encontrado sua mais nova expressão em Cho Chang, uma das personagens secundárias mais famosas da série Harry Potter, da autora britânica J.K. Rowling.
- - - Updated - - -
Poema original:
When you put me in your books, millions of Asian girls across America rejoiced! Finally, a potential Halloween costume that wasn’t a geisha or Mulan! What’s not to love about me? I’m everyone’s favorite character! I totally get to fight tons of Death Eaters and have a great sense of humor and am full of complex emotions!
Oh wait. That’s the version of Harry Potter where I’m not fucking worthless.
First of all, you put me in Ravenclaw. Of course the only Asian at Hogwarts would be in the nerdy house. Too bad there wasn’t a house that specialized in computers and math and karate, huh?
I know, you thought you were being tolerant.
Between me, Dean, and the Indian twins, Hogwarts has like...five brown people? It doesn’t matter we’re all minor characters. Nah, you’re not racist!
Just like how you’re not homophobic, because Dumbledore’s totally gay!
Of course it’s never said in the books, but man. Hasn't society come so far?
Now gays don’t just have to be closeted in real life—they can even be closeted fictionally!
Ms. Rowling. Let’s talk about my name. Cho. Chang.
Cho and Chang are both last names. They are both Korean last names.
I am supposed to be Chinese.
Me being named “Cho Chang” is like a Frenchman being named “Garcia Sanchez.”
So thank you. Thank you for giving me no heritage. Thank you for giving me a name as generic as a ninja costume. As chopstick hair ornaments.
Ms. Rowling, I know you’re just the latest participant in a long tradition of turning Asian women into a tragic fetish.
Madame Butterfly. Japanese woman falls in love with a white soldier, is abandoned, kills herself.
Miss Saigon. Vietnamese woman falls in love with a white soldier, is abandoned, kills herself.
Memoirs Of A Geisha. Lucy Liu in leather. Schoolgirl porn.
So let me cry over boys more than I speak.
Let me fulfill your diversity quota.
Just one more brown girl mourning her white hero.
No wonder Harry Potter’s got yellow fever.
We giggle behind small hands and “no speak Engrish.”
What else could a man see in me?
What else could I be but what you made me?
Subordinate. Submissive. Subplot.
Go ahead. Tell me I’m overreacting.
Ignore the fact that your books have sold 400 million copies worldwide.
I am plastered across movie screens,
a bestselling caricature.
Last summer,
I met a boy who spoke like rain against windows. -
He had his father’s blue eyes.
He’d press his wrist against mine and say he was too pale.
That my skin was so much more beautiful.
To him, I was Pacific sunset,
almond milk, a porcelain cup.
When he left me, I told myself I should have seen it coming.
I wasn’t sure I was sad but I cried anyway.
Girls who look like me are supposed to cry over boys who look like him.
I’d seen all the movies and read all the books.
We were just following the plot.
Fonte: https://www.facebook.com/notes/rachel-rostad/to-jk-rowling-from-cho-chang/523060277739525
- - - Updated - - -
Poema livremente traduzido:
Quando você me colocou em seus livros, milhões de garotas asiáticas em toda a América se alegraram! Finalmente uma fantasia de Halloween que não era de gueixa ou Mulan! O que há para não amar em mim? Sou a personagem favorita de todos! Luto com trocentos Comensais da Morte e tenho um grande senso de humor e sou plena de emoções complexas!
Mas espere – essa é a versão de Harry Potter onde valho alguma coisa, porra!
Primeiro, você me colocou em Corvinal. Claro que a única asiática em Hogwarts teria de estar numa casa de nerds! Pena não haver uma casa especializada em computadores, matemática e caratê, né?
Eu sei, você imaginou que estava sendo tolerante.
Entre eu, Dean, as gêmeas indianas, Hogwarts tem o que? Cinco pessoas de pele morena? Não importa que fôssemos todos personagens secundários. Não, você não é racista!
Assim como você não é homofóbica já que Dumbledore é totalmente gay!
Claro que isso nunca é dito nos livros, mas cara... A sociedade realmente não chegou longe?
Agora os gays não precisam ficar dentro do armário apenas na vida real - é possível fazer isso na ficção!
Sra. Rowling, vamos falar sobre o meu nome: Cho. Chang.
Cho e Chang são ambos sobrenomes. Ambos são sobrenomes coreanos.
Eu deveria ser chinesa!
Ser chamada de “Cho Chang” é como um francês se chamar “Garcia Sanchez”.
Então, obrigado. Obrigado por não me dar uma origem. Obrigado por me dar um nome tão genérico como uma fantasia de ninja. Tão genérico quanto prendedores de cabelo em forma de palito.
Sra. Rowling, sei que você é apenas a última integrante de uma longa tradição em tornar mulheres asiáticas em fetiches trágicos.
Madame Butterfly – japonesa se apaixona por soldado branco, é abandonada, se mata.
Miss Saigon – vietnamita se apaixona por soldado branco, é abandonada, se mata.
Memórias de uma Gueixa. Lucy Liu vestindo couro. Pornô com colegiais.
Então me deixe chorar mais pelos garotos do que falar com eles.
Deixe-me preencher sua cota de diversidade.
Apenas mais uma garota morena lamentando por seu heroi branco.
Não me espanta que Harry Potter tivesse febre amarela.
Rimos por trás de nossas mãozinhas e “não falar ingrêis”.
O que mais um homem veria em mim?
O que mais eu poderia ser além do que você me tornou?
Subordinada. Submisssa. Subenredo.
Vá em frente, diga que exagero.
Ignore o fato de que seus livros venderam 400 milhões de cópias no mundo todo.
Estou engessada em telas de cinema,
sou uma caricatura best-seller.
No último verão,
Conheci um garoto que falava tal qual chuva batendo na janela.
Tinha os olhos azuis de seu pai.
Ele apertaria seu pulso no meu e diria quão branca eu era.
Que minha pele era a mais bela.
Para ele, eu era o pôr-do-sol no Pacífico,
um leite de soja, um copo de porcelana.
Quando ele me deixou, disse a mim mesma que devia ter previsto isso.
Não estava certa de que estava triste, mas chorei mesmo assim.
Garotas parecidas comigo devem chorar por garotos como ele.
Vi isso nos filmes e li isso nos livros.
Estávamos apenas seguindo o enredo.
Sábado passado (13/4), um vídeo apareceu no YouTube dando o que falar: em um sarau de poesia conhecido como Button Poetry, uma jovem de 19 anos chamada Rachel Rostad, aluna da Macalester College, recitou um poema sem rimas cujo ponto foi atacar o fenômeno chamado de tokenism, uma política de inclusão de minorias que visaria remover a aparência (hipoteticamente) preconceituosa de uma obra. Em seu poema, Rostad ataca a tragicidade da maioria das personagens asiáticas, usando exemplos famosos como "Madame Butterfly", de Puccini, ou o musical "Miss Saigon, e que teria encontrado sua mais nova expressão em Cho Chang, uma das personagens secundárias mais famosas da série Harry Potter, da autora britânica J.K. Rowling.
- - - Updated - - -
Poema original:
When you put me in your books, millions of Asian girls across America rejoiced! Finally, a potential Halloween costume that wasn’t a geisha or Mulan! What’s not to love about me? I’m everyone’s favorite character! I totally get to fight tons of Death Eaters and have a great sense of humor and am full of complex emotions!
Oh wait. That’s the version of Harry Potter where I’m not fucking worthless.
First of all, you put me in Ravenclaw. Of course the only Asian at Hogwarts would be in the nerdy house. Too bad there wasn’t a house that specialized in computers and math and karate, huh?
I know, you thought you were being tolerant.
Between me, Dean, and the Indian twins, Hogwarts has like...five brown people? It doesn’t matter we’re all minor characters. Nah, you’re not racist!
Just like how you’re not homophobic, because Dumbledore’s totally gay!
Of course it’s never said in the books, but man. Hasn't society come so far?
Now gays don’t just have to be closeted in real life—they can even be closeted fictionally!
Ms. Rowling. Let’s talk about my name. Cho. Chang.
Cho and Chang are both last names. They are both Korean last names.
I am supposed to be Chinese.
Me being named “Cho Chang” is like a Frenchman being named “Garcia Sanchez.”
So thank you. Thank you for giving me no heritage. Thank you for giving me a name as generic as a ninja costume. As chopstick hair ornaments.
Ms. Rowling, I know you’re just the latest participant in a long tradition of turning Asian women into a tragic fetish.
Madame Butterfly. Japanese woman falls in love with a white soldier, is abandoned, kills herself.
Miss Saigon. Vietnamese woman falls in love with a white soldier, is abandoned, kills herself.
Memoirs Of A Geisha. Lucy Liu in leather. Schoolgirl porn.
So let me cry over boys more than I speak.
Let me fulfill your diversity quota.
Just one more brown girl mourning her white hero.
No wonder Harry Potter’s got yellow fever.
We giggle behind small hands and “no speak Engrish.”
What else could a man see in me?
What else could I be but what you made me?
Subordinate. Submissive. Subplot.
Go ahead. Tell me I’m overreacting.
Ignore the fact that your books have sold 400 million copies worldwide.
I am plastered across movie screens,
a bestselling caricature.
Last summer,
I met a boy who spoke like rain against windows. -
He had his father’s blue eyes.
He’d press his wrist against mine and say he was too pale.
That my skin was so much more beautiful.
To him, I was Pacific sunset,
almond milk, a porcelain cup.
When he left me, I told myself I should have seen it coming.
I wasn’t sure I was sad but I cried anyway.
Girls who look like me are supposed to cry over boys who look like him.
I’d seen all the movies and read all the books.
We were just following the plot.
Fonte: https://www.facebook.com/notes/rachel-rostad/to-jk-rowling-from-cho-chang/523060277739525
- - - Updated - - -
Poema livremente traduzido:
Quando você me colocou em seus livros, milhões de garotas asiáticas em toda a América se alegraram! Finalmente uma fantasia de Halloween que não era de gueixa ou Mulan! O que há para não amar em mim? Sou a personagem favorita de todos! Luto com trocentos Comensais da Morte e tenho um grande senso de humor e sou plena de emoções complexas!
Mas espere – essa é a versão de Harry Potter onde valho alguma coisa, porra!
Primeiro, você me colocou em Corvinal. Claro que a única asiática em Hogwarts teria de estar numa casa de nerds! Pena não haver uma casa especializada em computadores, matemática e caratê, né?
Eu sei, você imaginou que estava sendo tolerante.
Entre eu, Dean, as gêmeas indianas, Hogwarts tem o que? Cinco pessoas de pele morena? Não importa que fôssemos todos personagens secundários. Não, você não é racista!
Assim como você não é homofóbica já que Dumbledore é totalmente gay!
Claro que isso nunca é dito nos livros, mas cara... A sociedade realmente não chegou longe?
Agora os gays não precisam ficar dentro do armário apenas na vida real - é possível fazer isso na ficção!
Sra. Rowling, vamos falar sobre o meu nome: Cho. Chang.
Cho e Chang são ambos sobrenomes. Ambos são sobrenomes coreanos.
Eu deveria ser chinesa!
Ser chamada de “Cho Chang” é como um francês se chamar “Garcia Sanchez”.
Então, obrigado. Obrigado por não me dar uma origem. Obrigado por me dar um nome tão genérico como uma fantasia de ninja. Tão genérico quanto prendedores de cabelo em forma de palito.
Sra. Rowling, sei que você é apenas a última integrante de uma longa tradição em tornar mulheres asiáticas em fetiches trágicos.
Madame Butterfly – japonesa se apaixona por soldado branco, é abandonada, se mata.
Miss Saigon – vietnamita se apaixona por soldado branco, é abandonada, se mata.
Memórias de uma Gueixa. Lucy Liu vestindo couro. Pornô com colegiais.
Então me deixe chorar mais pelos garotos do que falar com eles.
Deixe-me preencher sua cota de diversidade.
Apenas mais uma garota morena lamentando por seu heroi branco.
Não me espanta que Harry Potter tivesse febre amarela.
Rimos por trás de nossas mãozinhas e “não falar ingrêis”.
O que mais um homem veria em mim?
O que mais eu poderia ser além do que você me tornou?
Subordinada. Submisssa. Subenredo.
Vá em frente, diga que exagero.
Ignore o fato de que seus livros venderam 400 milhões de cópias no mundo todo.
Estou engessada em telas de cinema,
sou uma caricatura best-seller.
No último verão,
Conheci um garoto que falava tal qual chuva batendo na janela.
Tinha os olhos azuis de seu pai.
Ele apertaria seu pulso no meu e diria quão branca eu era.
Que minha pele era a mais bela.
Para ele, eu era o pôr-do-sol no Pacífico,
um leite de soja, um copo de porcelana.
Quando ele me deixou, disse a mim mesma que devia ter previsto isso.
Não estava certa de que estava triste, mas chorei mesmo assim.
Garotas parecidas comigo devem chorar por garotos como ele.
Vi isso nos filmes e li isso nos livros.
Estávamos apenas seguindo o enredo.
Última edição por um moderador: