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SILMARILION E A TEORIA DAS CORDAS

marciofilho

Usuário
Bom, antes de começar o tópico gostaria de falar que não estou bolando nenhuma teoria, é apenas uma curiosidade (que achei bem interessante por sinal).

Primeiro: como já sabemos (aqueles que já (re)leram o Silmarilion ou que já se deram ao trabalho de pesquisar acerca da história), o Mundo (Arda) foi gerado por "música" chamada Ainulindale, música essa que foi tocada pelos Ainur, Os Sagrados. Não irei me prolongar acerca disso.

Segundo: Recentemente, assistindo a alguns videos de Física que falavam sobre a existencia de Multiversos e a Teoria das Cordas, essa teoria basicamente diz que todas as particulas subatomicas que criam tudo o que conhecemos são geradas a partir de filamentos de energias vibrante unidimensionais, chamadas de "cordas".

[Trecho do Wikipédia] "...A analogia da teoria consiste em comparar esta energia vibrante com as cordas. As de um violão, por exemplo, ao serem pressionadas em determinado ponto e feitas vibrar produzem diferentes sons, dependendo da posição onde são pressionadas pelo dedo. O mesmo ocorre com qualquer tipo de corda. Da mesma forma, as diferentes vibrações energéticas poderiam produzir diferentes partículas (da mesma forma que uma corda pode produzir diferentes sons sem que sejam necessárias diferentes cordas, uma para cada som)."

Ainda acerca do video que vi, em dado momento o físico que ministrava a palestra usa as seguintes palavras
"É um tipo de sinfonia cósmica, no qual toda a riqueza que vemos no mundo ao redor de nós emerge da MÚSICA, que essas pequenas minusculas cordas podem tocar"

Então eis a minha pergunta: Teria o Tolkien se baseado, de certa forma, nessa Teoria das Cordas ou foi mera coincidência?

ABRAÇOS!
 
Bom, particularmente penso que podemos dizer que a teoria divide semelhanças com o trabalho de Tolkien (e vice versa), além de ter começado a ser esboçada num período em que ele ainda vivia.

http://en.wikipedia.org/wiki/History_of_string_theory

Certamente o Silmarillion é uma obra que bebe de fontes culturais, se inspirando em várias direções para criar um resultado coerente com o mundo que o autor vinha construindo desde O Hobbit e SdA, reunindo em si notas e ideias de diferentes épocas

mais antigas até do que as primeiras menções da teoria, no começo da segunda metade do século 20.

No que é possível que tenha havido contemporaneidade do autor em vida de ter conhecido os debates entre os cientistas sobre os fundamentos que moldariam a visão atual da teoria aque aparece nos documentários de hoje.

Entretanto, eu percebo que Tolkien nasceu no século 19 e necessitava de fontes concluídas ou mais completas para poder escrever os textos que hoje se encontram no Silmarillion e no HoME.

E aparentemente ele foi buscar muito material nas mitologias e legendário com referência já bem estabelecida em livros anteriores.

Na influência da formação cristã dele, por exemplo, a ordem de criação cristã vem de um verbo e que no futuro o verbo se faz carne (Novo Testamento em Cristo). O que significa que Tolkien começou a trabalhar em cima de sons produzidos pelos idiomas inspirando-se dentro do método de criação de línguas para fazer um mundo baseado em sons e música.

Os antigos gregos com o conceito da música das esferas são outro exemplo de material disponível e os próprios elfos viviam a música do mundo de forma mais harmônica que os homens, esses mais bem compreendidos justamente pelo Vala que mais preservava música no seu reino que era Ulmo por causa da água.

http://en.wikipedia.org/wiki/The_Silmarillion

Todavia, a nossa própria ciência atual é extremamente influenciada por importantes cientistas que encontraram sua razão de vida ao buscar correntes de conhecimento historicamente muito antigas do ocidente e oriente as quais são também as fontes usadas por Tolkien.

Este é o elemento humano que é fundamental e sempre existe antes de se formar um grande cientista porque ele antes precisa encontrar seu lugar no mundo e isso obrigatoriamente passa pelas ciências humanas das quais Tolkien mergulhava com frequência em seus estudos.

Porque a semelhança com as teorias da "hard science" não são à toa já que a separação das ciências humanas com as exatas é uma ilusão aplicada por causa do modelo europeu de universidade para facilitar o ensino. Mas elas são parte do mesmo mundo e há até teorias atuais que posicionam a voz da consciência como uma das forças básicas que sustentam o universo tanto quanto as outras constantes.

Porque de fato, sempre que se usa o termo "emergir" na física é mais um rótulo para deixar confortável e nomear um comportamento que ainda não temos idéia da real natureza, que é fluido como água, música ou um fantasma, e poderia ser substituído por "aparição" ou algo de valor igual no século 19 ou antes disso.

Então tudo no mundo de Tolkien vai "aparecendo" ou "emergindo" de forma inexplicável, obedecendo aos sons de seres poderosos, Eru e os Ainur (note que me refiro a sons e não a ruídos porque estes últimos são involuntários). Tais sons no nosso mundo equivalem a comandos ou forças. O verbo "ser" (sagrados) no caso será o catalisador ou ponte para a criação dos nomes e substantivos.

Quer dizer são sons mais poderosos de uma música mais poderosa que a que conhecemos e que precipitam imediatamente cada vontade.
 
Última edição:
certo, muitíssimo obrigado pela resposta!
realmente eu nao havia levado em consideraçao esse importante detalhe, da data em que o livro foi escrito. Apenas levei com consideração a data de lançamento (obra póstuma), logo, as datas nao conferem... entao minha pergunta é inválida.
Mas... a nível de curiosidade, acredito que seja uma boa informação
 
Imagine, sua pergunta foi pertinente e bem vinda, e ela me levou a pensar em comparar a presença da separação do sentido de duas palavras "som" e "ruído" com a ausência da mesma separação para a palavra "luz" e de como nomeamos as coisas sem percebermos que as vezes podem faltar palavras no idioma.

Tem uma discussão que você pode vir a curtir esse tópico da Seiko:

Ungoliant, o 'buraco negro' da Terra Média
http://www.valinor.com.br/forum/topico/ungoliant-o-buraco-negro-da-terra-media.129415/
 
irei, sem duvidas. já favoritei, inclusive, para ler mais tarde com calma. Mas só de ler o titulo, ja estou muitissimo interessado
 
Boa Tarde. Sua assertiva pode se enquadrar no "Sim e Não" Élfico. A obra de Tolkien se assemelha a Teoria das Cordas não pelos conceitos tangentes de tal conhecimento. Em verdade, é bem provável que o professor tenha se baseado num conceito muito atribuído à Boethius - http://en.wikipedia.org/wiki/Boethius

Anicius Manlius Severinus Boëthius,[1][2] commonly called Boethius[3] (/boʊˈiːθiəs/; also Boetius /boʊˈiːʃəs/; c. 480–524 AD), was a philosopher of the early 6th century. He was born in Rome to the ancient and prominent family of the Anicii , which included emperors Petronius Maximus and Olybrius and many consuls.[2] His father, Flavius Manlius Boethius, was consul in 487 after Odoacer deposed the last Roman Emperor. Boethius himself entered public life at a young age and was already a senator by the age of 25.[4] He was consul in 510 in the kingdom of the Ostrogoths. In 522 he saw his two sons become consuls.[5] Boethius was imprisoned and eventually executed by King Theodoric the Great,[6] who suspected him of conspiring with the Byzantine Empire. While jailed, Boethius composed his Consolation of Philosophy, a philosophical treatise on fortune, death, and other issues. The Consolation became one of the most popular and influential works of the Middle Ages.

300px-Boethius_initial_consolation_philosophy.jpg

O entendimento é de que música se associa com a matemática por conta da maneira como aquela deriva seus primeiros princípios da aritmética e aplica estes princípios para as coisas naturais. Este era o entendimento parecido com São Tomás de Aquino, ou seja, a música representa um "intermediário" entre a matemática e as ciências naturais, mas assim como Boethius: a música tem "uma maior afinidade com a matemática", já que é mais "formal" e, portanto, mais separada da matéria e do movimento do que é o caso da ciência natural.

Óbvio que quando estes pensadores atribuíram esse conceito "abstrato", eles levaram em conta a filosofia de Pitágoras que falava dessa associação entre música, matemática e harmonia cósmica, estou a falar da "Música das Esferas" ou Música Universalis: http://en.wikipedia.org/wiki/Musica_universalis:

Musica universalis (lit. universal music, or music of the spheres) or Harmony of the Spheres is an ancient philosophical concept that regards proportions in the movements of celestial bodies—the Sun, Moon, and planets—as a form of musica (the Medieval Latin term for music). This "music" is not usually thought to be literally audible, but a harmonic and/or mathematical and/or religious concept. The idea continued to appeal to thinkers about music until the end of the Renaissance, influencing scholars of many kinds, including humanists.

A música não é literal ou audível, mas se abstrai na matemática (através das proporções do mundo natural, desde o translado dos planetas até a natureza tangível do nosso dia-a-dia); na religião com a teologia intimista/natural, coisa que Tolkien falava quando explicava a ausência da religião no seu mundo, haja vista os seres racionais sentirem, mesmo que não entendam, a "música dos Ainur", vide esta passagem que fala do aspecto "elemental" da água no Silma:

E dizem os Eldar que na água vive o eco da Música dos Ainur, mais do que em qualquer outra substância na Terra; e muitos dos Filhos de Iluvatar escutam, ainda insaciados, as vozes do Oceano, sem contudo saber por que o fazem.

E não esquecer do sentimento externado por uma das (ou a mais) nobre das ações/artes dos filhos de Iluvatar: A música. O Ainulindalë tem muitas semelhanças com a Música das Esferas, pois no mesmo sentido em que não existe substância para tornar o "Som divino" audível ou literal (pois Tolkien diz que as vozes se pareciam/comparáveis com instrumentos musicais), a Música das Esferas incorpora o princípio metafísico que as relações matemáticas expressam qualidades ou "tons" de energia que se manifestam em números, ângulos visuais, formas e sons - todos conectados dentro de um padrão de proporção. Pitágoras foi o primeiro a identificar, por exemplo, que o tom de uma nota musical é proporcional ao comprimento da corda que a produz, e que os intervalos entre as frequências de som harmoniosas são comparáveis/traduzidas em formas numéricas simples. Neste sentido, Pitágoras propôs que o Sol, a Lua e os planetas todos emitem sua própria "ressonância orbital" com base em sua revolução orbital, e que a qualidade de vida na Terra reflete o tenor de sons celestiais que são fisicamente imperceptível ao ouvido humano. Veja:

harmonyspheresalchemy.jpg

E compare:

E em meio a todos os esplendores do Mundo, seus vastos palácios e espaços e seus círculos de fogo, Iluvatar escolheu um local para habitarem nas profundezas do tempo e no meio de estrelas incontáveis

Neste sentido, para um religioso a Música dos Ainur fora o grande coral de anjos em louvor a Deus (lembrar que Lúcifer e Melkor têm relação com a "Música", sendo ao 1º atribuído a função de chefia das hostes que cantavam em Louvor a Deus, e o 2º batalhou contra Deus no início do Silma com...música):

angels-singing.jpg

E Melkor/Lúcifer "Roqueiro":

Harmony+Spheres-Pan.jpg

Essa linguagem universal está bem traduzida em diversas mitologias mundo a fora. Dentre as obras, podemos citar C.S Lewis que utilizou essa premissa por conta da criação de Narnia que fora cantada pela figura Cristã Aslan:

38f7cb8ecf649a61508e23b0bdb7a78d.jpg

Ou a "música" que traduz a visão cosminicista de H.P Lovecraft com a corte insana do deus Azathoth rodeado por seus músicos, para a manter coeso a própria existência.

Azathoth.jpg

Para um astrônomo renascentista a Música se traduzia/se externava com a translação dos planetas, a configuração das estrelas, as incontáveis estrelas da "Starmaker" Varda e a participação dos "Sagrados" na configuração de Eä, além do pensamento ou entendimento humano, sendo uma reminiscência da harmonia das esferas de Pitágoras e sua correlação com os "Círculos do Mundo", ou seja, os planetas, as estrelas do firmamento pode-se ver a tendência à "Círculos":

Musica_Universalis__live__by_rival.jpg


Já um artista verá na colaboração e harmonia dos instrumentos musicais, com suas notas que prenunciam uma obra a criação de algo (para alguns isso seja só música, para outros cria-se um sentimento/ideia/um mundo próprio traduzido em música, para os leitores do Ainulindalë, fora isso que aconteceu na criação de Eä, 1º o desenvolver da harmonia em grupos, 2º - a apresentação da obra pelo Maestro-Iluvatar e os integrantes da ópera, 3ª a concretização dessa Música que gerou o "Mundo que é").

Composer-Karlheinz-Stockh-007.jpg

vide:

math-fig-8.jpg

Essa sacada de Tolkien, na utilização da Música como linguagem universal atinge também o mundo Natural. A próprias fórmulas matemáticas e sua correlação com as notas musicais podem ser exploradas no campo inatingível da matéria. Vai ver que os Ainur não tinham formas humanas, mas fossem aspectos concernentes à natureza, sendo Melkor a entropia, Varda a luz/estrelas, etc. A música/confrontação que eles fizeram não foram em formas tangentes, mas quem sabe o confronto de Melkor e os demais Ainur (como esferas quem sabe, e porque não?° Isso faz todo sentido teológico/filosófico Tomista, que atribui aos anjos não uma forma tangente, mas formas platônicas, ou seja, no campo das ideias.) seja como isso:

mmadrid11_atom1.jpg

Nesta sua correlação com a teoria das cordas que muitos atribuem ao conceito filosófico com a Música, sim, dá pra fazer a correlação do seu post inicial, haja vista que, "assim como a música", o Universo é "Pura vibração":

nikola-tesla-energy-universe-vibration.jpg

Então vamos a obra (a cena desse filme, para mim, é o mais próximo da "Labuta dos Ainur" em Eä - principalmente a canção "Lacrimosa" - como se o universo fosse a externalização ou se traduzisse por esta canção):

 
Última edição:
Só não gostei do Melkor roqueiro, tem que ser funkeiro! :dente:

Zueira. Mas realmente, tem muito a ver. A cada dia me impressiono mais com a verossimilhança, mesmo dentro de um universo completamente fantástico, de Tolkien com a realidade palpável.
 

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