Acho que a atribuição desses aspectos devem-se a noção do conceito de arquétipo que permeiam as mitologias da humanidade.
Tenho eu a impressão que existe um conto nos HOME que trata da viagem de um marinheiro Anglo-saxão (no século IX - na época do Rei Alfredo, o Grande) descendente de Eärendil que acabou entrando na rota plana em direção à Eressea e teve contato com as histórias e cronistas élficos. Esse marinheiro (Alfiëwne - não me engano) seria um cristão que se converteu, mas que não esqueceu de algumas bases mitológicas da seus ancestrais, então ele trouxe tais relatos élficos para o mundo dos homens. E os homens tiveram suas interpretações.
Peguemos o Ainulindalë: Do ponto de vista cristão o evento será o grande prenúncio da criação do Universo e tudo o mais, haja vista a musicologia ser referenciada no âmbito judaico cristão, quando cita-se:
Ver anexo 69138
A ênfase na luz que brilha na escuridão aqui parece ter sido representado na cosmogonia de Tolkien pela "Chama Imperecível", a luz da vida no universo que é a luz da humanidade, que preenche a escuridão, ou "vazio", e que a escuridão cobre mas não pode controlar ou mesmo compreender plenamente. O que em Tolkien se interliga a Melkor, que odiava e asseava a luz e se voltou as trevas e ao vazio.
Seria essa chama o Espírito Santo? Seria essa Chama um aspecto metafórico do poder de Deus na capacidade se gerar a criação? Vai depender do sistema mitológico em que a pessoa esteja inserido:
"Sou o que sou, não o que dizem que sou"
Já um Budista, Hinduísta que lesse tal relato atribuiria a "Chama Imperecível" ao conceito janista do
OM -
https://en.wikipedia.org/wiki/Om
Ver anexo 69139
Para um cabalista, o relato do Ainulindalë seria uma referências as 4 etapas da criação descritas na cabala, ou seja:
1 - Chama Imperecível vs Luz de Deus no Vazio Primordial
vs
Não fica exatamente explícito, mas O Silmarillion pontifica 2 (dois) conceitos antagônicos, mas complementares em sua cosmogonia, uma vez que Eru é tido como força criativa essencial para a formação e mantença do Mundo (EÄ), os Ainur se tornam "ferramentas" na origem divina a todo o Mundo Físico/universo criado. Mais do que um
Panteismo, isso lembra (e muito) o termo
Cabalístico denominado
Ein Sof: http://en.wikipedia.org/wiki/Ein_Sof
Ver anexo 69140
Mais uma vez, vai depender de quem leia ou qual sistema filosófico/teológico o indivíduo se encontra. Lembrando que toda a obra de Tolkien - se formos introduzir numa cronologia bíblica - ocorreria na criação do Gênesis até o dilúvio bíblico, ou seja, num mundo antidiluviano onde não existiria sistema religioso, dogmas, crenças ou qualquer aspecto teológico organizado. Enfim:
Ein Sof é um conceito Neo-Platônico que atribui uma origem divina a toda a existência criada, em contraste com o Ein (ou Ayn), que é o infinito não coisificado. O "EIN SOF" do silmarillion corresponderia a força criativa de Iluvatar com a Chama Imperecível. Em contra partida, o Ein Ayn da Obra seria o infinito não gerado, representado pelo Vazio não definido, desprovido de existência própria. Neste caso, podemos inferir como o
Vazio que Melkor vagou fora das Mansões de Iluvatar; os espaços desprovidos de Estrelas em que Eärendil navegou em Vingilot e o mais enigmático é a saída dos Maiar Corrompidos para regiões fora de Eä/universo:
e
ademais:
2 - Os Quatro Mundos da Cabala e o Ainulindalë:
É possível que o Ainulindalë se enquadre em 4 estágios que explicam a Cosmogonia intentada por Tolkien. O
1º Estágio se dá pela existência Uma de Iluvatar, a geração (por Pensamento) dos Ainur. O
2º Estágios segue-se por meio de uma "Grandiosa Música" que prenuncia um universo a ser manifestado. Tal universo é criado de acordo com a natureza e limitações de cada Ainur, com um começo e uma cadência definido-marcada pelo próprio Ilúvatar. Em
3º lugar, ocorre a Visão do Mundo (EÄ) prenunciado através da Música, ou seja, um mundo não manifestado, um pré-projeto a ser construído. Imperioso citar:
O
4º Estágio se dá pelo substrato divino concedido por Ilúvatar ao possibilitar (por meio da Chama Imperecível) o que até então era uma "Ideia". Gerou-se então Eä (o mundo que é) através da labuta cósmica dos Ainur. No que tange à Cabala, existem quatro mundos/planos espirituais de existência que parecem com o descrito no Silmarillion. São eles:
http://en.wikipedia.org/wiki/Four_Worlds
Ver anexo 69141
a)
Atziluth: O mundo da emanação, o mais alto grau de existência espiritual, representado no Ainulindalë
não pelas Mansões de Iluvatar, já que estas são posteriores a um
outro plano de existência exclusivo/próprio de ERU, ou seja, os Mansões são as moradas dos Ainur, enquanto havia (ou não havia) um plano espiritual de não existência. Interessante notar que na interpretação Cabalística do Atziluth há uma mudança de Paradigma de Deus, em sendo uma Entidade Suprema "solitária"/UNA que se "decidiu" pela criação/inspiração do Existir (Biblicamente falando seria o "Logos" - "Verbo"). Vale o entendimento do Silmarillion:
b)
Beri'ah: Beri'ah é o primeiro dos quatro mundos a ser criado
ex nihilo, ou seja, criado a partir do Nada Primordial. Seu correspondente seria justamente as Mansões de Iluvatar e a presença dos Ainur como seres conscientes, tendo noções de suas próprias existências.
Um aspecto interessante é o fato de o Beri’ah descrever a existência de seres que habitam no
Atziluth, ou seja, "Criaturas Extraplanares" que antecedem a criação/formação dos próprios anjos; sendo, ademais, oprimidos pela Luz Divina Irradiada e destituídos de existência própria. Isso me fez lembrar muito dos
Seres Sem Nome de Moria "Mais Velhos que Sauron", Ungoliant e principalmente dos Deuses de Nan Dungortheb "mais velhos que Morgoth e os Senhores do Oeste", descritos nos HOMES. Odeiam a Luz e asseiam por ela (coincidência?):
c)
Yetzirah: Seria justamente o "Mundo prenunciado/a ser formado". Retrata, à grosso modo, o processo que vai dá origem ao Mundo de
Assiah, sendo este último o Mundo da Matéria. No Silmarillion, o Yetzirah seria a grande Canção dos Ainur, o prenúncio de EÄ pela Visão concedida por Iluvatar e principalmente a descrição dos reinos "Elementais" do Mundo Material. Fogo (Melkor); Água (Ulmo); Terra (Aulë) e Ar (Manwë):
http://www.alchemylab.com/sepher_yetzirah1.htm
Ver anexo 69142
d)
Assiah: O último dos Planos de Existência na Cabala. É o mundo puramente material. Sendo a região governada pelos Ofanim. Tendo estes a tarefa de promover a audição das orações, apoiar o esforço humano, e combater o mal. Seria análogo, portanto, ao dito "Poder delegado" de Iluvatar aos Ainur.
** Posts duplicados combinados **
Sobre os Valar e Maiar serem inspirados em entidades pagãs - temos que lembrar que o mundo de Tolkien retrata a origem de vários aspectos da humanidade, dentre eles as mitologias e as religiões. Desta forma o próprio Silma dita que os Ainur foram confundido com os deuses pelos homens não esclarecidos, mas em essências eles são anjos sim:
Tomando-se os conceitos pontuados no tópico, à exemplo da (aparente) diferenciação que fazem entre os Ainur e os anjos da mitologia Judaico-cristã, é imperioso notar que o professor faz com que os "Sagrados" tenham servido de base ou arquétipos das muitas mitologias pagãs de outrora, desde a configuração de seus panteões até os dramas cósmicos que envolvem tais divindades, vide o paralelismo que envolve as descrições do Silmarillion:
http://en.wikipedia.org/wiki/Æsir–Vanir_War e
http://pt.wikipedia.org/wiki/Titanomaquia
Na visão dos gregos - a batalha por Arda seria o equivalente a uma titanomaquia/gigatomaquia:
Não obstante esse elemento análogo entre os poderes e as divindades do mundo antigo (e moderno), os Ainur se pautam em alguns conceitos doutrinários referentes aos anjos hebraicos/cristãos, haja vista alguns estudos que pontuam e analisam os pormenores da "natureza" dessas entidades atuantes nos contos bíblicos; vide, por exemplo, os escritos de São Tomás de Aquino,
que descrevem o caráter/essência puramente espiritual dessas "criaturas" e, uma vez que estas não precisam ter uma forma física agregada, vê-se que não estão sujeitas (como os homens) às limitações espaço-temporais, razão pela qual suas "locomoções" estão em qualquer velocidade, até mesmo do pensamento. O interessante é que Tolkien trata dessas (antiga) capacidade:
http://www.newadvent.org/cathen/14698b.htm
- Sobre as formas físicas dos Ainur em comparação com os anjos:
-Sobre a locomoção dos sagrados e os Anjos:
Para um sumério, os Ainur já se converteriam nos Anunnaki da mitologia suméria, que por sua vez foi baseado no anu termo sumério para "deus", "céu" e / ou "estrela", indicando que o Anunnaki eram seres essencialmente celestes. Anu era também o nome de Deus, o Altíssimo dos primeiros sumérios (mais tarde substituído por Enlil), a palavra anu sendo representado pelo símbolo para "estrela" no sistema de escrita hieroglífica sumeriana. Também como os "anjos" da cosmologia sumeriana, que foram divididos em duas classes - o Igigi (lit., "os Watchers"), que eram maiores em força e os Annunaki (lit., "anjos que desceram à terra" ), que eram menores no poder - os Ainur do universo de Tolkien também foram divididos em duas classes básicas: 1) a Valar, dos quais haviam quinze, que eram maiores espíritos semelhantes no poder e autoridade para os arcanjos, querubins e Ophanim da Bíblia; e 2) a Maiar, um numeroso conjunto de espíritos menores "angelicais".