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Personagens femininos da Literatura

Clara

Perplecta
Usuário Premium
Dia internacional da mulher e aquela coisa toda, vamos falar sobre as mulheres mais fodonas e apaixonantes da literatura?

Quais os personagens femininos mais marcantes de suas leituras?

Começo com duas:

Hester Prynne ("A Letra Escarlate", de Nathaniel Hawthorne) - enfrentou a prisão e uma cidade inteira de gente hipócrita e perplexa com sua gravidez, evidentemente fora do casamento já que o marido estava ausente há anos.
Hester cria (muito bem) a filha Pearl, trabalhando como bordadeira e se recusando a revelar a identidade do pai da criança, por quem era apaixonada e que se revelou nada merecedor dessa dedicação toda.

Éowyn (Trilogia "O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkien) - dama de Rohan, filha de Éomund e Theodwyn, sobrinha do rei Théoden, Éowyn não era chegada a atividades do tipo ficar enfiada num castelo bordando estrelas numa bandeira (viu, Arwen?). Corajosa e determinada a moça só temia uma coisa na vida: envelhecer sem provar seu valor em uma batalha. E ela dá um jeito de provar esse valor, de maneira honrosa por sinal já que, no fim das contas, ela não era um homem.
E além de tudo se casa com o maior partido da Terra Média entre os homens. :amor:
Pois é. Éowyn era sortuda também.
E não, no que me diz respeito, o maior partido da Terra Média entre os humanos não era o Aragorn.
 
Saudações femininas!
Primeiramente, venho parabenizar todas as criaturas femininas da nossa vasta diversidade racial, dando ênfase na nossa querida Lúthien Tinúviel (princesa de Doriath).
Filha de Thingol (elfo Sindarin) e de Melian (Maia), Lúthien é uma das mais importantes personagens para a mitologia do universo de fantasia criado por Tolkien. Graças à sua beleza incomparável e esplandecedora, o humano Beren não resistiu aos seus encantos e foi a partir dessa união que se originaram todos os meio-elfos da Terra Média.
Como sempre acontece nesses contos, essa união inter-racial não agradou nenhum pouco o pai de Lúthien e esse ofereceu uma condição para que Beren ficasse com sua menina. Beren teria que resgatar uma Silmaril da coroa de Morgoth Melkor lado negro da força. Juntos, o casal conseguiu resgatar a gema (cantando canções de ninar e tals), porém, no caminho de volta para casa, o lobo Carcharoth acorda e abocanha a mão de Beren (com Silmaril e tudo mais). A guerreira consegue salvar seu amor das garras de Carcharoth, voltam para Doriath e organizam uma caçada ao lobo enlouquecido com Silmaril nas entranhas. Beren é ferido mortalmente e Lúthien pede para que ele a espere no palácio de Mandos limbo. Lúthien morre e vai encontrar o amado. Lá no palácio, Lúthien canta "a mais bela canção jamais criada em palavras e mais triste que o mundo um dia ouvira" para o juiz dos mortos Mandos. Nessa canção ela colocou todo o sofrimento dos elfos e o pesar dos homens, das duas famílias criadas por Iluvatar para habitar em Arda. Como é dito em O Silmarillion, "Luthien ainda ajoelhada diante de Mandos, chorou e suas lágrimas caíram sobre seus pés como chuva sobre as pedras. E Mandos se comoveu, ele, que nunca se comovera desse modo até então, nem depois." Mandos então consultou seu superior Manwë (rei dos Valar e de Arda) e ele deu duas opções para Lúthien: ou ela retornava à vida imortal para viver só em Aman, ou ela voltava à Terra-média como mortal, junto com Beren, e foi essa a opção que ela escolheu. Lúthien e Beren passaram a viver na Terra-média uma vida reclusa igual a minha, evitando qualquer contato com homens, elfos ou anões.
 
No quesito de personagem, personagem mesmo, acho que a Molly Bloom no Ulysses é fabulosa. Na obra do Joyce existem várias mulheres importantes, mulheres que literalmente movimentam a máquina narrativa, como a Gretta Conroy do conto Os Mortos, a garota da praia no Retrato do artista e a ALP no Finnegans Wake.

Mas, como minha praia é mesmo a poesia... Vamos pra poesia. O que até rende alguns nomes, mas infelizmente nem tantos (na verdade, começa a render do século XIX pra cá)... E aproveitando algumas coisas que tenho lido recentemente, dá pra começar citando a Safo e tudo o que ela representa, né? Mês passado descobriram uns poemas novos dela. Um poema dela, em tradução do Décio Pignatari, dá pra ser lido na Zunái: aqui.

Outros exemplos que descobri recentemente estão lá na Idade Média. Só que aí você tem que retirar uma pá de preconceitos. Primeiro que aquele lance de idealizar a mulher numa sociedade brutalmente machista já foi chamado por alguns, talvez com um certo exagero, como proto-feminismo. E segundo que as regiões onde a poesia trovadoresca era mais bem desenvolvida eram, sem espanto nenhum, regiões onde as mulheres gozavam inclusive de alguns direitos a mais, para não citar o fato de que existiram mulheres trovadoras, as trobairitz. Dá pra ler algumas aqui, em inglês.

Aliás, a existência das trobairitz é inclusive uma coisa meio doida de se pensar. Você achava que os renascentistas eram avant garde mas... Cadê as poetas mulheres renascentistas? Juro que tentei raciocinar, quebrar a cabeça... Mas não deu. Você não acha ninguém. Você esbarra naquele ensaio da Virginia Woolf sobre a irmã de Shakespeare e começa a repensar totalmente o que aprendeu na narração-oficial (e isso mesmo considerando que a Inglaterra barroca tinha uma Anne Bradstreet). É o que eu disse: até o século XIX, o trabalho é de pinça. Só depois é que as mulheres efetivamente vão passar a escrever... sair da condição de êmulas. É loucura querer negar a não-pertinência dum feminismo. Querer dizer que ele não deveria existir mais, como disse a Lilly Allen (aqui).

Hoje a coisa tem melhorado. Pensar numa literatura feminina já não é mais um complemento, um adendo ao cânone. O Vinicius Jatobá tem um artigo falando disso no campo da prosa: Brazilian women are writing better than their male contemporanies. E, no campo da poesia, a coisa continua boa. A presença constante duma Ana Cristina César é um exemplo disso, para não citar nomes como Angélica Freitas, Alice Sant'anna, Ana Martins Marques ou Marília Garcia pra mostrar que grande parte da inventividade literária estão saindo delas.
 
Vou citar outro poema então:

http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/pidp/pidp010780.htm


  • A Átis
    Não minto: eu me queria morta.
    Deixava-me, desfeita em lágrimas:

    "Mas, ah, que triste a nossa sina!
    Eu vou contra a vontade, juro,
    Safo". "Seja feliz", eu disse,

    "E lembre-se de quanto a quero.
    Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
    Os nossos momentos de amor.

    Quantas grinaldas, no seu colo,
    — Rosas, violetas, açafrão —
    Trançamos juntas! Multiflores

    Colares atei para o tenro
    Pescoço de Átis; os perfumes
    Nos cabelos, os óleos raros

    Da sua pele em minha pele!
    [...]
    Cama macia, o amor nascia
    De sua beleza, e eu matava
    A sua sede" [...}

    Cai a lua, caem as plêiades e
    É meia-noite, o tempo passa e
    Eu só, aqui deitada, desejante.

    — Adolescência, adolescência,
    Você se vai, aonde vai?
    — Não volto mais para você,
    Para você volto mais não.

    Safo
    (Tadução de Décio Pignatari)

    Do livro: "31 Poetas, 214 Poemas", Companhia das Letras, 1996, SP
 
sei que não tem a ver com a proposta do tópico, mas fui pensar nas minhas personagens femininas favoritas e aí lembrei de um meme que rola no tumblr, baseado na resposta que uma mulher deu para uma pessoa que perguntou sobre o que ela achava que significava uma "mulher forte". a resposta completa (e a pergunta) dá para ler aqui >> http://madlori.tumblr.com/post/51723411550/rebloggable-by-request-well-first-of-all mas enfim, o que o povo compartilha é esse trecho aqui:

Screw writing “strong” women. Write interesting women. Write well-rounded women. Write complicated women. Write a woman who kicks ass, write a woman who cowers in a corner. Write a woman who’s desperate for a husband. Write a woman who doesn’t need a man. Write women who cry, women who rant, women who are shy, women who don’t take no shit, women who need validation and women who don’t care what anybody thinks. THEY ARE ALL OKAY, and all those things could exist in THE SAME WOMAN. Women shouldn’t be valued because we are strong, or kick-ass, but because we are people. So don’t focus on writing characters who are strong. Write characters who are people.
 
Alia Atreides, eu escolho você!




O que me lembra que reler "Duna" é uma ótima pedida.
 
Eu escolho a Fernanda, boa personagem de Erico Verissimo, que encanta as páginas de Caminhos Cruzados, Um lugar ao Sol e Saga.

E menção honrosa para Olívia, de Olhai os lírios de campo, também do Verissimo pai.
 
Última edição:
Depois que leu a Letra Escarlate, a Clara fala tanto do livro e da Hester que mata a gente de vontade de ler!

Cadê as poetas mulheres renascentistas?
Não sei se a pergunta era retórica, mas conheço duas na França: Louise Labé e Marguerite de Navarre. Como você disse, é na base da pinça. (Por falar nisso, preciso dar uma olhada em livro de poesia feminina francesa do século XVI ao XIX que tem lá na biblioteca, se quiser te indico algumas).

Mas ao mesmo tempo é preciso dizer que: se na poesia é ruim, no teatro é pior ainda e a gente só encontra mulheres escrevendo teatro no século XX; e que essa "redescoberta" ou revalorização das autoras do passado não significa publicação. Me irrita procurar obras em edições acessíveis delas e não encontrar.

Não sei porque escritoras como Maria Firmina dos Reis, as que saíram nas coletâneas "Escritoras brasileiras do século XIX (pelo menos as melhores entre elas), ou outras em domínio público, não são editadas. E isso acontece em português ou outras línguas. Ou a gente até sabe porque. Então vontade de ler elas não é suficiente... E desconhecimento não é mais desculpa.

Só depois é que as mulheres efetivamente vão passar a escrever... sair da condição de êmulas.
Não só escrever, mas poder se dedicar à arte, filosofia etc. O Jornal Hoje, por acaso, passou hoje reportagem sobre pintoras mulheres desde o Renascimento. Não conhecia as citadas.
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Sobre o tópico propriamente, se eu citar Emma Bovary como personagem mais marcante, a Clara deixa? :joinha: Mas é mentira. Ela é horrível mesmo.
 
Última edição:
Depois que leu a Letra Escarlate, a Clara fala tanto do livro e da Hester que mata a gente de vontade de ler!

Leia! Leia! Leia djá! :yep:
É muito bom!


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Sobre o tópico propriamente, se eu citar Emma Bovary como personagem mais marcante, a Clara deixa? :joinha: Mas é mentira. Ela é horrível mesmo.

:lol:
Comassim "deixa"?
Ela é marcante pra você e isso é tudo.
E a Bovary é intensa mesmo, não há como não se identificar com ela em alguns momentos, talvez por isso seja tão odiosa, ela tem muitos sentimentos (tristezas, frustrações, esperanças) que nós temos em maior ou menor grau, ela é, de muitas maneiras, "uma pessoa de verdade" como aquela da citação que a Ana Lovejoy postou ali em cima.

Parodiando Flaubert: "Madame Bovary somos nós" ;)
 
Ana Terra e Bibiana do Érico Veríssimo ,sou apaixonada por elas ,principalmente pela Ana Terra ,exemplo de mulher forte. A Bibiana também é forte ,da maneira dela ,sem nunca fugir.
 
Última edição:
Eu tenho duas:

Liesel Meminger (A menina que roubava livros) tão menina e tão forte e corajosa!

E a Olivia (Olhai os lírios do campo) que é um tipo raro de ser humano.
 
Lembrei de algumas:

Trillian (Guia do Mochileiro das Galáxias): astrofísica brilhante, cansou da vida na Terra e resolveu pegar uma carona para conhecer o Universo. Genial, nunca dependeu de homem algum para fazer o que quer. Aliás, uma das poucas personagens sensatas e que consegue manter a dignidade na série. E ainda tem uma filha! Mulheraça.

Partindo para peças de teatro, que também são leituras:

Lady MacBeth (MacBeth): Manipuladora, sinistra, estrategista, insubmissa. Se tivesse resistido ao fim trágico da peça, ela seria certamente a verdadeira governante. Mulher poderosa, oh yeah.

E o teatro grego, manancial de mulheres fortes, cito só duas:

Antígona: desrespeitou as ordens do rei, seu tio, para enterrar o corpo do irmão. Contrariou as leis da pólis e enfrentou o poder patriarcal representado na fúria do autoritário e inflexível Creonte. Por isso foi condenada. A mulher na mais alta rebeldia praticada por um habitante da cidade. Menina porreta!

Lisístrata: para acabar com a guerra entre atenienses e espartanos, a ateniense Lisístrata convoca as mulheres das duas cidades a tomarem uma atitude simples e inusitada: parar de fazer sexo com seus maridos até que eles terminem a guerra. Nessa comédia de Aristófanes a intenção é o deboche, mas é também uma entusiástica peça contra a guerra e a favor das resoluções pacíficas para conflitos.
 
Lembrei de algumas:

Trillian (Guia do Mochileiro das Galáxias): astrofísica brilhante, cansou da vida na Terra e resolveu pegar uma carona para conhecer o Universo. Genial, nunca dependeu de homem algum para fazer o que quer. Aliás, uma das poucas personagens sensatas e que consegue manter a dignidade na série. E ainda tem uma filha! Mulheraça.

Partindo para peças de teatro, que também são leituras:

Lady MacBeth (MacBeth): Manipuladora, sinistra, estrategista, insubmissa. Se tivesse resistido ao fim trágico da peça, ela seria certamente a verdadeira governante. Mulher poderosa, oh yeah.

E o teatro grego, manancial de mulheres fortes, cito só duas:

Antígona: desrespeitou as ordens do rei, seu tio, para enterrar o corpo do irmão. Contrariou as leis da pólis e enfrentou o poder patriarcal representado na fúria do autoritário e inflexível Creonte. Por isso foi condenada. A mulher na mais alta rebeldia praticada por um habitante da cidade. Menina porreta!

Lisístrata: para acabar com a guerra entre atenienses e espartanos, a ateniense Lisístrata convoca as mulheres das duas cidades a tomarem uma atitude simples e inusitada: parar de fazer sexo com seus maridos até que eles terminem a guerra. Nessa comédia de Aristófanes a intenção é o deboche, mas é também uma entusiástica peça contra a guerra e a favor das resoluções pacíficas para conflitos.
Você é professor de História?*-* Só professor de história (ou uma louca feito eu)pra saber da Antígona


@Edit: Lembrei agora da Zarite do livro , a ilha sob o mar da Isabel Allende. Gente, a mulher é perfeita demais , escrava doméstica e sexual vive em Le Cap atual Haiti , tem dois filhos com seu patrão. É maltratada mas resiste bravamente inclusive salvando a familia do patrão da morte. Conquista a liberdade e faz ela valer a pena. É sábia e tem um dom de se levantar após cair, impressionante. Além de ser solidária com todos inclusive com quem não merece. Penso se seria uma boa abrir um tópico sobre esse livro.
 
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