Análise Psicológica de O Retorno do Rei – Parte Final

Escrito por Fábio Bettega
 
Esta é a parte final de “Análise Psicológica de O Senhor dos Anéis.” Para analisar e escrever esta parte da análise procurei seguir o livro e não o filme. Pois, no livro estão relatadas importantes passagens, as quais não aparecem no filme. Informo aos que desconhecem a análise completa que, as partes referentes a “Sociedade do Anel “ ,”As Duas Torres” e a parte 1 de “O Retorno do Rei”, encontram-se aqui neste site. Qualquer dúvida, crítica ou sugestão, estejam à vontade para me enviar: rangelfabrete@gmail.com. Um grande abraço! – Rangel Roberto M. Fabrete
 
 

 
 
O EXÉRCITO DOS MORTOS E O REI

“Sobre a terra se estende uma sombra terrível,
Lançando sobre o oeste longas asas de trevas.
A Torre treme; das tumbas de reis
a sina se aproxima. Os Mortos despertam,
chegada é a hora dos que foram perjuros:
junto á Pedra de Erech de pé ficarão
para ouvir a corneta ecoar nas colinas
De quem será a corneta? Quem irá chamar
da dúbia meia-luz o olvidado povo?
O herdeiro daquele a quem foi feita a jura.
Do norte ele virá movido pela sorte.
Seguirá pela Porta para as Sendas dos Mortos.”
Pg 32 e 33. (21)

Não há mais tempo ou espaço para um Aragorn cordial, ingênuo, amistoso e escapista. É tempo de conhecer suas trevas; seus talentos e o poder que existe na condição de ser o herdeiro do trono de Isildur. A jornada de todo aquele busca a meta da individuação não termina sem antes do confronto com a sombra.

Como já vimos na trajetória de Frodo e Gandalf, após a confrontação da sombra, ambos tiveram acréscimos em suas personalidades. O confronto de ego e sombra em Passolargo aparece simbolizado em sua ida até as Sendas dos Mortos. Na confrontação do ego com a sombra os conteúdos antes reprimidos e ocultos, agora se tornam disponíveis. Estes conteúdos agora presentes na consciência irão se tornar importantes ferramentas nas decisões a serem tomadas adiante.

O simbolismo de descer às profundezas dos mortos é um tema arquetípico,  presente em muitos temas mitológicos e ou religiosos. O herói sempre sofre algum tipo de transformação em sua catábase. O herói da mitologia grega Ulisses fora instruído de que para ter sucesso em sua jornada de volta para casa, deveria ir até o Hades, o mundo dos mortos. Lá ele receberia a orientação do sábio Tirésias a respeito do caminho a ser percorrido.

Aragorn em sua caminhada até o mundo dos mortos receberia mais do que uma simples  orientação, receberia sua honra e seu reconhecimento de ser rei. Com todo um exército recebendo suas ordens, só o fariam por reconhecê-lo como rei. Muitas vezes consideramos muitas de nossas características e ou talentos como “mortos” em nossas personalidades, um grande engano. Algumas situações nos parecem desafios maiores do que a nossa própria capacidade, podemos nos sentir inferiores e não capacitados, assim como Aragorn.

Porém, sempre quando enfrentarmos a nossa insegurança e o nosso medo de amadurecer e mudar, passaremos pelo conflito e o inconsciente que antes parecia tão terrível e ameaçador aos planos do ego, se torna um “grande exército aliado” para batalhas que a vida possa vir a desejar nos colocar.

Muitas vezes, acabamos por desprezar características e ou talentos em nossas personalidades em detrimento de um autojulgamento equivocado ou para buscar aceitação da sociedade. Com Aragorn, não foi diferente. A relação com o poder que era exagerado em Isildur, de forma oposta veio a se manifestar em Passolargo. Talvez por saber do trágico fim de seu antepassado, Aragorn optou em não manter nenhum tipo de relação com o poder. Faltou discernimento. Aragorn sempre buscou distância de suas responsabilidades como rei, não poderia mais menosprezar sua capacidade e seu legado. O que Aragorn reprimiu para sombra não foi sua responsabilidade em ser rei e sim sua capacidade em ser rei.

Que sempre possamos nos lembrar que dentro de cada um de nós, talvez exista um “exército de mortos” e é neste exército que poderemos retomar e redescobrir capacidades e ou talentos por muito tempo esquecidos pela consciência, mas não pelo inconsciente. Vimos aqui o desenrolar do conflito pessoal de Passolargo em relação a assumir sua condição de herdeiro do trono de Isildur. Agora, vamos acompanhar como se manifesta o arquétipo do rei e ou salvador no comportamento de Aragorn e no decorrer da estória.

O RENOVO DO REI

Um tema arquetípico que se repete em diversas mitologias e ou religiões, é o tema da sucessão universal do regente e ou sistema de governo. Um sistema de governo arcaico, ultrapassado e por vezes maligno, acaba por ser deposto ou destruído pelo seu sucessor que se torna um gestor de um novo tempo trazendo renovo e progresso ao seu povo.

Na mitologia grega podemos ver este tema na relação de Uranos e Cronos. Cronos castra seu pai  e regente do universo Uranos, provocando a separação entre Uranos (céu) e Gaia (terra). Mediante a separação de Uranos (céu) e Gaia (terra), Cronos se torna o novo rei do Universo.

O próprio Cronos viria a ser deposto mais tarde também por seu filho, Zeus. Cronos havia se tornado um tirano, devorador de seus próprios filhos pois temia que um deles o destronasse, como previa a profecia. O apego ao poder acabou por cegar o amor de Cronos por seus filhos e tudo que lhe interessava era tão somente o seu governo.
 
Zeus fora ocultado por sua mãe Réia, que ao invés de entregar a Cronos o pequeno futuro regente do Olimpo, para ser devorado substitui a criança por uma pedra. O rei tirano não percebeu que havia engolido uma pedra no lugar do filho. Zeus cresceu sendo cuidado por outro casal e quando chegado o tempo, a profecia se cumpriu. Cronos fora deposto por Zeus e vomitou todos os irmãos do novo rei do universo. Zeus dá início ao reinado e logo tende enfrentar um inimigo antigo, resquício de um tempo perverso e hostil. O monstro Tifão, filho de Gaia (terra) que luta pela mãe, numa tentativa de retomar o governo do universo. Zeus vence a batalha e se consolida como o rei do universo.

Na mitologia babilônica  o tema da disputa pela sucessão do governo tirano pelo novo regente, é representado pelo mito de Marduk e Tiamat. Tiamat a criadora de todas as coisas, criou bestas para atormentar os outros deuses podendo manter tranqüilamente seu governo tirano. Os deuses se reúnem em um banquete e proclamam Marduk como seu senhor e vingador.
Marduk enfrenta Tiamat e a derrota. Seu triunfo é coroado pelos deuses, elegendo-o o senhor do universo. Marduk cria  mediante o corpo de Tiamat  e dos corpos dos deuses súditos da rainha tirana, o Céu, a Terra o Abismo e o Homem, para servir aos deuses.

Todos este mitos trazem consigo o tema da necessidade de sucessão de um rei antigo que é regente de um governo tirano ou  antiquado em progresso. O tema do arquétipo do rei  ou do salvador do universo, traz consigo a necessidade de renovação.
O rei antigo precisa ser deposto, dando lugar a um novo governo, uma nova era. Podemos observar ao longo da análise como as condutas desastrosas de dois velhos  governantes responsáveis por seus povos, vieram a conduzir o povo em desgraça.

Primeiro Theóden  estava enfeitiçado por Saruman,  Rohan é devastada pelos orcs. Liberto do feitiço, Theóden toma a trágica decisão de levar seu povo para o abismo de Helm. Em Minas Tirith, cego pelo apego ao poder, Denethor toma decisões influenciadas pelo complexo de Cronos, levando seus dois filhos a sofrerem grandemente por conta de seu desejo de manter seu status.

Boromir morreu e Faramir quase é assassinado pelo regente obstinado. Denethor também é o responsável direto pela destruição de Osgiliath,a cidade de Minas Tirith em sua boa parte e principalmente seu povo e exército.

As condutas tiranas, tolas e loucas citadas são frutos da mesma semente, a falta de autoconhecimento. A falta de autoconhecimento sempre irá afetar o poder de decisão de qualquer um, imagine agora quais as proporções de decisões tomadas por governantes  sem discernimento de si mesmos. Bem, talvez basta lermos as notícias, não precisamos imaginar. É necessário que o novo rei morra e renasça e é justamente isto que acontece simbolicamnete com Aragorn na montanha das Sendas dos Mortos.

Estes textos trazem a explicação do porque é necessário que o velho rei dê lugar ao novo rei:

“O antagonismo, todavia, quer seja entre pai e filho, avô e neto, ou entre pai e pretendente, é sempre um combate pelo  poder, cujo desfecho é a vitória do mais jovem. Ao que parece, essa luta, de  início, entre pai e filho, fazia parte de um rito, o combate de morte que , nas sociedades primitivas, permitia ao Jovem Rei suceder ao Velho Rei.

Todo o contexto familiar, com os problemas morais que o mesmo comporta, foi acrescentado mais tarde, quando a sucessão patrilinear se tornou a norma vigente.” M G pg 82 (22)

Para encerrar uma pergunta: Por que o Velho Rei deve ser substituído?

Na Odisséia, XI, 494sqq., Aquiles, quando da visita de Ulisses ao país dos mortos, mostra-se preocupado com a morte de seu pai Peleu e pergunta-lhe se ele não é desprezado pelos mirmidões, uma vez que a velhice lhe entorpece os membros. Na realidade um rei envelhecido não é apenas um soberano demissionário, mas sobretudo um ser maltratado e menosprezado.

É que a função do rei, já que o mesmo é de origem divina, é fecundar e manter  viva e atuante sua força mágica. Perdido o vigor físico, tornando-se impotente ou não mais funcionando a força mágica, o monarca terá que ceder seu posto a um jovem, que tenha méritos e requisitos necessários para manter acesa a chama da fecundação e a fertilidade dos campos, uma vez que, magicamente, esta está ligada àquela.” M G pg 83(23)

“Na expressão de Westrup, “o mérito pessoal é uma condição necessária para se subir ao trono dos antigos e a persistência da energia ativa é indispensável para conservar o poder real”. Donde se conclui que a sucessão por morte fundamenta-se no princípio da incapacidade, por velhice, de exercer a função real. “A razão é de ordem mágica: quem perdeu a força física não pode transmiti-la à natureza por via de irradiação, como deveria e teria que fazer um rei.” M G Pg 84(24)

“ Quanto mais recuarmos na História, tanto mais  manifesta se apresenta a divindade do rei. Até à época mais recente ainda existia o reinado pela graça de Deus. Os césares romanos já usurpavam a igualdade com Deus e exigiam o culto pessoal correspondente.

Na Ásia Menor a realeza, de acordo com sua própria essência, se apóia toda ela muito mais em pressuposições teológicas do que em políticas. A psique do povo se revela aí como a fundamentação verdadeira e única para a realeza de Deus: o rei naturalmente é a fonte mágica do bem-estar e da prosperidade de toda a comunidade vital constituída pelo homem, pelo animal e pela planta útil; dele promana a vida e o crescimento dos súditos, o aumento dos rebanhos e a fertilidade do solo. Esse significado da realeza não é uma invenção feita de acréscimo, mas é um apriori psíquico que alcança a primitividade profunda e a pré-história, e que por isso equivale a uma revelação da estrutura psíquica. O fato de nós fazermos prevalecer os motivos racionais de finalidade representa apenas algo para a nossa maneira de conceber, mas não para a psicologia primitiva, que parte de pressuposições puramente psíquicas e inconscientes, em escala fora de toda previsão e mais elevada do que a nossa formação de imagens orientada para o que é objetivo.

A teologia da realeza, que nos é mais conhecida e apresenta certamente o mais rico desenvolvimento, é a do antigo Egito; são essas concepções que mais penetraram no desenvolvimento espiritual dos povos do Ocidente, principalmente pela mediação dos gregos.

O rei é uma encarnação da divindade e um filho de Deus. Nele reside a força divina da vida e da geração, o Ka, isto é, o deus gera a si próprio em sua mãe humana e nasce dela como homem-deus. Como homem-deus o rei garante o crescimento e a prosperidade do país e do povo, ao aceitar ele a sorte de ser morto quando o tempo estiver completo, isto é, quando sua capacidade generativa estiver esgotada.” Mysterium II pg 9 e 10 (25)

De acordo com a leitura dos textos acima fica fácil de entender que o renovo e o progresso de toda a Terra Média está ligado diretamente ao sucesso de Aragorn em sua busca pela meta do processo de individuação. A saúde do povo está ligada diretamente a saúde do seu rei.

O significado psicológico do tema da sucessão do rei, é correspondente ao sucesso ou fracasso que temos ou teremos diante da forma como lidamos  com  o desenvolvimento de nossa personalidade,em busca do Self, a totalidade.

Se formos conservadores, antiquados ou covardes, o “nosso reino”ou seja, as nossas vidas se tornarão estéreis e secas, sem produzir nada.

Se formos imaturos, impulsivos ou dependentes emocionais seja lá de quem for,” nosso reino entrará em crise”, necessitando sempre do auxílio e socorro de uma pessoa próxima.

Se formos inconstantes, “nunca conseguiremos juntar tijolos” o suficiente para construirmos as nossas vidas como desejarmos.

O inconsciente sempre irá nos incomodar de alguma forma, quando o ego estiver confortável ou apegado demais a uma determinada situação. Quando isto acontecer será um motivo não para nos entristecermos e sim para nos alegrarmos. Será chegado o momento de crescermos.

“Este é o seu reino, e o coração do reino maior que haverá. A Terceira Era do mundo está terminada, e a nova era começou; é sua tarefa ordenar o início e preservar o que pode ser preservado. Pois, embora muito tenha sido salvo, muita coisa deve agora morrer, e o poder dos Três Anéis também terminou. E todas as terras que você está vendo, e aquelas que ficam em torno delas, deverão ser moradias de homens. Chegou o tempo do Domínio dos Homens, e a Gente Antiga deverá desaparecer ou partir”. pg 178 (26)

“A Árvore no Pátio da Fonte ainda está seca e estéril. Quando terei um sinal de que um dia será de outro modo?

– Desvie seu rosto do mundo verde, e olhe para onde tudo parece desolado e frio! – disse Gandalf.

Então Aragorn se virou, e havia uma ladeira de pedra atrás dele, que descia da orla da neve; e, quando olhou, percebeu que ali, solitária, em meio à desolação, estava uma coisa viva. E ele subiu até ela, e viu que exatamente da orla da neve nascia uma muda de árvore que não ultrapassava noventa centímetros em altura. Já Já exibia jovens folhas longas e belas, escuras na face superior e prateadas por baixo, e sobre sua esbelta copa carregava um pequeno cacho de flores, cujas pétalas brancas brilhavam como a neve iluminada pelo sol.”(27)

Quando se têm a visão total a respeito de uma determinada situação,  temos clareza para enxergar o todo, meditar, decidir e agir. Uma visão unilateral sempre continuará olhando para os mesmos ângulos e caminhos, sempre parcial, nunca total. Ao olharmos para ângulos e caminhos antes nunca examinados, com certeza iremos nos surpreender com os resultados. Da mesma forma que Aragorn procurou vida em meio ao exército de mortos e a encontrou.

“Então Aragorn exclamou: – Yé! utúvienyes! Encontrei-a! Veja! Aqui está uma descendente da Mais Velha das Arvores. Mas como veio parar aqui? Pois ela mesma não tem mais de sete anos de idade.

E Gandalf, aproximando-se, olhou para a pequena árvore e disse: – Realmente, esta é uma muda da linhagem de Nimloth, a bela, e esta foi uma semente de Galathilion, que nasceu do fruto de Telperion dos muitos nomes, a Mais Velha das Árvores. Quem poderá dizer como ela veio parar aqui na hora marcada? Mas este é um antigo local sagrado, e, antes que os reis caíssem ou a Arvore secasse no pátio, um fruto deve ter sido plantado aqui. Pois comenta-se que, embora o fruto da Árvore raramente fique maduro, mesmo assim a vida que existe dentro dele pode dormir através de muitos e muitos anos, e ninguém pode predizer o tempo em que despertará. Lembre-se disso. Pois, se algum dia um fruto amadurecer, ele deve ser plantado, para evitar que a linhagem desapareça do mundo. Aqui ele foi colocado, escondido nas montanhas, da mesma forma que a raça de Elendil ficou escondida nos ermos do norte. E apesar disso a linhagem de Nimloth é muito mais antiga do que a sua, Rei Elessar.

Aragorn encostou delicadamente sua mão á muda de árvore e ai percebeu, surpreso, que ela se prendia muito de leve á terra; retirou-a sem feri-la, e levou-a de volta à Cidadela. Então a árvore seca foi arrancada, mas com reverência; não a queimaram, mas a deitaram para que descansasse no silêncio de Rath Dinen. E Aragorn plantou a nova árvore no pátio perto da fonte, e ela começou a crescer rápida e alegremente; e, quando chegou o mês de junho, ficou carregada de flores.

– O sinal foi dado – disse Aragorn -, e o dia não está distante.”pgs 178 e 179.(28)

A velha Árvore Branca, fora arrancada, uma nova árvore fora plantada. A velha Árvore Branca já não era mais branca por ser viva e frutífera. Mas, por ser branca como a lepra, estéril e seca. O velho foi arrancado e o novo fora plantado, que tenhamos coragem para fazermos o mesmo em nossas vidas, sempre que necessário.

BIBLIOGRAFIA :

Bíblia Sagrada, 1 Pedro 2;6-8ª.(13).

BRANDÃO, Junito de Sousa . Mitologia Grega / Vol. 1. Petrópolis . Vozes . 11ª ed. 1997 .(22),(23),(24).

BRANDÃO, Junito de Sousa . Mitologia Grega / Vol. 2. Petrópolis . Vozes . 11ª ed. 1997 .(7),(8),(9).

CAMPBELL, Joseph . As Máscaras de Deus / Mitologia Ocidental . São Paulo . 5ª ed. Palas Athena, 2004 .

CHEVALIER, J & GHEERBRANT, Dicionário de Símbolos . 14ª ed. Rio de Janeiro . José Olympio . 1999 .(15),(16),

JUNG, C.G., Memórias, Sonhos e Reflexões . 22ª ed. Rio de Janeiro . Nova Fronteira . 2002 .(2),(20).

JUNG, C.G., Mysterium Coniunctionis / Vol 2. 3ª ed. Petrópolis. Vozes. 1997.(25)

TOLKIEN, J.R.R, O Senhor dos Anéis/O Retorno do Rei. 2ª ed. São Paulo. Martins Fontes. 2001 . (1),(3),(4),(5),(6),(10),(11),(14),(17),(18),(19),(21),(26),(27),(28).

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