O Livro Negro de Arda – Parte 2 Capí­tulo 3

Escrito por Fábio Bettega
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A Valinor/Lothlórien tem a honra de dar continuidade à publicação de O
Livro Negro de Arda, publicando o terceiro capítulo da segunda parte, chamado OS QUATRO. Leia mais sobre esta obra aqui na Valinor e confira os demais capítulos já publicados, no índice da obra
 
 

PARTE SEGUNDA. MANDARAM ESQUECER
OS QUATRO. A ERA DAS ARVORES DA LUZ.

O dos olhos dourados dormia, mas o sono dele não era bem um sono. Pois lhe parecia que ele está em Arda – em todos os lugares ao mesmo tempo: em Valinor e nas Terras Abandonadas; e vê e ouve tudo o que acontece. Ele via tudo – mas nada podia. Não podia gritar que as estrelas – gele – não são criações de Varda, que isso é a Luz verdadeira… Ele via como partiu Artano; ele até invejou-o, pois sabia que ele mesmo não teria coragem de ir até o Inimigo… E o Inimigo, ele já não podia mais chamá-lo de Inimigo. E as palavras que vinham do nada caiam como chuva no coração dele, e ele compreendeu o sentido do nome – Melkor…

E depois ele viu o belo rosto de Ayo que estava curvado sobre ele. Ele sabia que era um sonho. Mas Ayo podia penetrar em quaisquer sonhos, e agora ele estava tirando do sonho o dos olhos dourados.

– Tudo o que você viu é verdade, – disse Ayo em voz baixa. – Também é verdade que o Rei do Mundo e a Varda não querem que aquilo seja visto. Eu tenho dificuldade de compreender o porquê.

O dos olhos dourados permanecia em silêncio. É sempre difícil perder a fé. Finalmente ele levantou a cabeça.

– Eu não agüento mais, – ele falou, como se sentisse dor. – É preciso partir.

– Ir para o lugar onde está o Inimigo?

– Não. Simplesmente ir. Não “para onde”, mas “de onde”.

– Não o deixarão.

– Não importa. Senão seria melhor não acordar…

– Está bem. Tentarei ajudar. Mas então também eu terei de ir… Como te deixar partir sozinho, do jeito que você é – Ayo sorriu tristemente.

Foram aquilo os feitiços de Ayo, ou realmente Manwë e Varda não mais desejavam ver o dos olhos dourados aqui, mas o deixaram partir. Na verdade, ele ia somente para saber se já vieram ao mundo as Crianças de Ilúvatar – Valar não desejavam abandonar Aman. Já Ayo não teve dificuldades em obter a permissão de Irmo, e os amigos partiram juntos.

Eles saíam da lagoa de Cuiviénen – frágeis, impotentes, assustados, completamente nus. E esta terra não era o paraíso de Valinor. E eles tremiam por causa do vento frio e aconchegavam-se uns aos outros, com medo de tudo, com medo desta enorme, monstruosa dádiva de Eru que caiu nas mãos fracas e despreparadas deles – com medo de Endore. Na noite do nascimento, a lua não era visível, e na escuridão se escondia o medo. E somente lá em cima cintilava algo bondoso e belo, e um dos Elfos estendeu os braços para o céu, como se pedisse ajuda, e chamou:

– Ele!

Aquele que foi o primeiro a encontrá-los, atendendo ao chamado deles, usava vestes negras, e aqueles que partiram com ele tornaram-se os Elfos do Escuro, mesmo eles sendo capazes de sentir e conhecer a alegria da Luz antes de todos os irmãos deles. Pois eles receberam a dádiva da visão.

Aquele que foi o segundo a encontrá-los, era enorme, brilhante e de voz sonora, e muitos Elfos fugiram dele apavorados para as trevas da noite; e aqueles que foram partiram de Endore com ele tornaram-se os Elfos da Luz, mesmo desconhecendo a Luz verdadeira.

Aqueles, que foram os terceiros a encontrá-los, eram muito semelhantes a eles mesmos, mas muito mais sábios. E os Elfos, que ouviram as canções daquele que tinha olhos dourados e que viram as ilusões de Ayo, apaixonaram-se por Endore e aí permaneceram para sempre. Eles se dividiram em diferentes casas e falavam línguas diferentes, mas em Valinor os chamavam de Avari, os Relutantes.

Assim o dos olhos dourados desobedeceu à ordem do Rei do Mundo, pois permaneceu em Endore. Assim Ayo ficou nas Terras Abandonadas. Assim o Caçador não retornou, pois ele desejava criar. Assim não retornou a Folha Primaveril, pois o Caçador havia permanecido na Terra-Média. E Ossë nunca havia abandonado aquela terra.

O dos olhos dourados vagava pela terra, e os Elfos o respeitavam e amavam as canções dele, apesar de nem tudo compreender. Ele cantava e sobre Valinor, e sobre a Criação, e sobre as Lâmpadas, mas se Rei do Mundo ouvisse tudo isso, dificilmente o dos olhos dourados poderia cantar mais alguma canção depois. E somente os Elfos do Escuro, que viviam no norte, o compreendiam assim como ele se compreendia. Por isso ele gostava de estar entre eles, mas em segredo – ele temia o poder e a grandeza de Melkor.

…Foi assim que nasceram entre os Elfos da Terra-Média as lendas sobre os deuses bondosos que viviam entre eles e ensinavam-lhes a Beleza…

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