Tradução do chat com Guillermo del Toro e Peter Jackson – parte 3

Escrito por Fábio Bettega

Terceira e última parte da tradução do chat com Guillermo del Toro e Peter Jackson, a mais informativa de todos e a que contém as informações mais importantes disponíveis sobre os filmes que virão.

Leia também as partes 1 e 2

 
 

lordlinton: Adorei os diários de gravação do King Kong em vídeo, vocês farão algo similar para O Hobbit?

Peter Jackson: Há uma porção de perguntas sobre diários de produção para a internet – a verdade é que Guillermo e eu ainda não discutimos esse assunto, mas temos um plano real para a internet e DVD, em relação ao Hobbit.  Você deve perceber que embora isto tenha sido anunciado e esteja sendo discutido no mundo inteiro nós ainda estamos bem no começo do processo, apenas começando a pensar sobre os roteiros. Nós não estamos tentando enganar ninguém, mas simplesmente ainda não fomos muito além no processo e é um plano que colocaremos em andamento durante 2009.

Peter Jackson: Pergunta 8 chegando…

Pergunta 8: Eu sempre pensei que Gollum seria um grande desafio artístico para os artistas cujo trabalho seria adaptar O Senhor dos Anéis. Com o Hobbit eu acredito que Smaug irá ser um dos maiores desafios. É verdade que todos nós já vimos dragões em filmes. Mas para o Hobbit estou esperando nada menos que o inacreditável. Onde vocês irão buscar inspiração? Em quais estilos a direção de arte irá se basear? Eu posso ver uma porção de coisas sendo feitas com o cenário de O Labirinto do Fauno. Obrigado e boa sorte a todos vocês.
 
Guillermo del Toro: Esta é uma das grandes– Permita-me citar de uma de minhas respostas aleatórias no Onering.net…

Eu sou um grande fã de Dragões. Eu já disse isso antes – E sou afortunado o suficiente para ter nascido Dragão no Horóscopo Chinês…

E embora seja sempre impossível concordar com o "maior" alguma coisa, eu cito este dois como os principais concorrentes a esse título: Eyvind Earle / O dragão maligno da Disney (um triunfo da elegância de cor e design) e Vermitrax Pejorative do Dragonslayer.

Em minha opinião, qualquer outro design será amplamente inspirado nestes dois. Eu planejo criar algo novo e espetacular.

Smaug não deve ser "o Dragão no filme Hobbit" como se ele fosse apenas "outra" criatura no Bestiário. Smaug deve ser "o DRAGÃO" para todos os filmes passados e presentes. A sombra que ele lança e a ambição que ele incorpora – a "necessidade de possuir" lança sua longa sombra e cria uma continuidade temática / dramática de maneira que articula toda a história.

Neste aspecto, Smaug a PERSONAGEM é tão importante, se não mais, do que o design. A personagem surgirá do texto – e neste a Magnífica arrogância, inteligência, sofisticação e ambição de Smaug brilham.

Na realidade, a ambição de Thorin é uma extensão temática disto e o "deixar ir" de Bilbo e sua nobre mudança de lados quando os anões provam estar errados é sua contraparte conceitual (que é difícil de perceber, o heroísmo de Bilbo é silencioso e moral) e a linha temática alcança seu clímax na cena do leito de morte entre Bilbo e Thorin.

De qualquer forma, de volta a Smaug: um dos principais erros com dragões falantes é modelar a boca como a de um Símio de modo a conseguir uma dúbia sincronização de lábios… Um ponto que me foi particularmente incompreensível em Eragon, pois o relacionamento entre eles era psíquico.

Para mim, Smaug é o exemplo perfeito de uma grande criatura definida por sua aparência e design, mas também, de forma muito importante, por seu movimento e – uma pequena dica – seu ambiente – pense nisso… a maneira que ele tem sua couraça de escamas, se move ou é iluminado, limitado ou ampliado por sua localização, condições do clima, de luz, período do ano, etc. Isto é tudo que posso dizer sem estragar a surpresa mas, se você mantiver este curioso pequeno sumário perceberá muitos anos depois de agora que aquelas coisas que eu tinha em mente desde o rascunho do personagem como um garoto se solidificaram muito antes de começar a filmar.

Um detalhe importante é como e quando ele é completamente revelado. Eu poderia dar a vocês detalhes específicos – passo-a-passo na verdade (estou pesquisando muito sobre isso), mas…

Eu não direi mais nada para poupá-los de ser um impiedoso estraga-prazeres (nós ainda temos alguns anos pela frente, sabia…?) e de uma ampliada ansiedade.

Deixe-me, contudo, dizer que é um dos pontos sobre os mais eu mais me sinto entusiasmado.

Sobre a voz – bem, cada leitor tem uma voz do Smaug em sua cabeça, com sempre acontece quando “ouvimos” um grande personagem em um livro.

Eu tenho a minha… e será revelada no momento certo…

manuthevif: Guillermo, Peter em algum momento irá dirigir Hellboy 3?

Guillermo del Toro: Ofertas foram feitas mas ele permanece se esquivando – mas estará em conversas sobre isso logo.

swjedi18: Nós veremos o Conselho Branco em O Hobbit?

Peter Jackson: Olá swjedi18 – Cedo demais para dizer antes dos roteiros terem sido escritos mas é uma idéia que definitivamente estamos discutindo
.
Peter Jackson: Agora a Pergunta 7

Guillermo del Toro: Há uma chance muito boa, se os “buracos” forem preenchidos de alguma forma na narrativa. Mas ainda é muito cedo…

Pergunta 7 – quão importante é para vocês criar consistência entre os SdA de Peter e o Hobbit de Guillermo? Em termos de atores, aparência, cenário, música, efeitos especiais – é o objetivo de vocês terem algo separado ou entrarão em sincronia com a trilogia?

Guillermo del Toro: Eu acredito que é um pouco de ambos – o mundo deve ser sentido como o mesmo mundo. O formato do filme, a música, os figurinos essenciais e as marcas já fixadas de design da produção, mas eu adoraria trazer uma série de novos sabores à mesa. O HOBBIT é, em essência, uma abertura para um trabalho Sinfônico massivo de forma que os temas principais são repetidos, mas novas modulações e novas cores são introduzidas, temática e texturalmente.

Peter Jackson: Eu adoro a alusão sinfônica de Guillermo. A “abertura” pode ter um sabor diferente, uma textura diferente, e ainda assim ser uma introdução cuidadosamente criada para o que se seguirá. O Filme Dois é perfeito para dramatizar a mudança na Terra-média que nos impele aos dias negros de SdA. Se o SdA é a Primeira Guerra Mundial, então o Hobbit é como uma aventura Eduardiana, passada antes do mundo perceber as nuvens negras se acumulando.

Junaid: É O Hobbit mais difícil ou mais fácil de adaptar para um roteiro do que o SdA?

Peter Jackson: Olá Junaid – Ambos são igualmente difíceis de adaptar fielmente. O Hobbit possui seus problemas particulares, diferentes daqueles do SdA.

Guillermo del Toro:  Não é fácil – isso eu digo a vocês –

Peter Jackson: Lá vem a Pergunta 6 …

Pergunta 6: A Weta irá lançar bonecos deste filme como fez com Kong e Narnia?

Guillermo del Toro: Eu espero que sim!! Eu quero todos eles!!

Galdor_Felagund: Como Christopher se sente com relação aos dois novos filmes?

Peter Jackson: Olá Galdor – Christopher Tolkien não quis se envolver com os filmes do SdA e eu assumo que seus sentimentos continuam os mesmos com relação a estes dois filmes. Eu o respeito por isso uma vez que ele está cuidado do legado dos livros de seu pai e não deseja estar envolvido na interpretação de alguma outra pessoa sobre essas histórias.

Peter Jackson: Aí vem a Pergunta 5

Pergunta 5: Tendo recentemente relido o Hobbit com meus filhos, me dei conta que o Hobbit contém uma história bastante linear que não necessariamente segue a típica fórmula de “três atos” dos filmes. O que você vê como o maior desafio em adaptar a história para a telona?

Guillermo del Toro: Há tantas – Eu sou a favor de tentar preservar cada particularidade que a história tem – as próprias coisas que parecem “infilmáveis” e que – em minha mente – irão fazer o filme tão vibrante quanto o livro. A história é muito, muito mais inventiva e deslocada em sua narrativa (por exemplo, Bilbo sendo atingido por uma pedra durante a Batalha) do que você pode pensar inicialmente. Eu acho que você pode tratar um clássico como uma peça de museu – engessada e montada – ou você pode fazê-la uma narrativa viva, que respira e que se desdobra.

Peter Jackson: A estrutura é importante em um filme, mas como o Guillermo disse, sempre há estrutura a ser encontrada nas partes mais inusitadas! É bastante possível construir uma história estruturada e manter as particularidades. Será parte do prazer de escrever isto.

Lukas-Eldarion: Haverá outro bate-papo mais tarde no processo?

Guillermo del Toro: Espero que sim – espero que sim – estou dentro!

Peter Jackson: Olá Lukas – nós adoraríamos, está sendo bastante divertido. Vamos às últimas perguntas oficiais porque estamos guardando as mais populares para o final.

Peter Jackson: Vamos à Pergunta 4

Pergunta 4: Gollum terá espaço no segundo filme? Se não, há planos para um papel diferente para Andy Serkis? Porque, e a maioria irá concordar comigo, tudo é melhor com mais Serkis.

Guillermo del Toro: Sim! Como todos vocês sabem, Gollum possui um arco fascinante por atravessar em sua aliança com Laracna ou seu período de aprisionamento por Thranduil, etc., mas ainda é muito cedo – tão cedo, de fato que revelar mais iria atar nossas mãos e seria contra produtivo

Guillermo del Toro: Não há nunca “muito Andy”

Peter Jackson: Agora, para a Pergunta 3

Pergunta 3: Um oi de Nova Orleans! Que desafios da produção você imagina serão diferentes em O Hobbit e na seqüência comparado com a experiência de fazer o SdA?

Peter Jackson: Credo! Cada filme é um desafio. Eu sempre disse que fazer um filme é como uma escola de cinema – você está sempre aprendendo. Mas ao contrário da maioria das escolas, você nunca a termina. Você nunca aprende tudo. Com o passar do tempo, você aprende a antecipar problemas um pouco melhor – mas os novos ainda o atingem. Você tem que encontrar soluções, mas sempre há problemas extremos que você nunca adivinha.

Uma das coisas que eu vou gostar nesta experiência, é que eu estarei mais bem preparado para ajudar a antecipar problemas e resolvê-los. Quando você está dirigindo, você está sempre com a cara suja, sempre exausto, com freqüência emocionalmente exausto – e eu apreciarei estar alguns passos atrás e simplesmente ajudar no que eu puder. Tendo feito isto três vezes como diretor, há muito que eu sei que pode ajudar o caminho do Guillermo.

Peter Jackson: Vamos agora à Pergunta 2

Pergunta 2: Olá Sr. Jackson e Sr. Del Toro! Muito obrigado por esta oportunidade. Minha pergunta é uma que eu acho que vocês ouvirão muito de muitos de nós… de qual material vocês estarão construindo o segundo filme? Eu sei que será ótimo ter ambos a bordo, mas eu sou muito curioso. Eu sou um grande fã de vocês dois e espero por mais filmes Tolkienianos!

Guillermo del Toro: A idéia é encontrar uma maneira interessante de unir O HOBBIT e a SOCIEDADE e incrementar ambos os cinco filmes tanto visualmente quanto em sua Cosmologia. Há omissões e material suficiente no material licenciado disponível para obter isso. O acordo é, contudo, que o segundo filme deve ser relevante e emocionalmente forte o suficiente para ser trazido à vida, mas devemos tentar e conter o HOBBIT em um único filme.

Peter Jackson: Eu já estou pensando no desenvolvimento do Filme Dois. Ele nos dá liberdade que não teríamos de verdade em nossa jornada Tolkieniana. Alguns de vocês podem muito bem dizer que isto é uma coisa boa de fato! O Hobbit é interessante em como Tolkien criou um sentimento de perigosos eventos se descortinando, os quais preocuparam Gandalf. Há uma grande quantidade de incidentes que acontecem durante aquele espaço de 60 anos. A este ponto, não estamos imaginando um filme que literalmente cubra 60 anos, como uma biografia ou documentário. Nós iremos identificar o que acontece durante aqueles 60 anos, e escolher um trecho curto de tempo para nele mergulharmos e adaptarmos para a telona. Eu estou realmente interessado em como isso afeta O Hobbit – nós mostraremos o que acontecer a Gandalf quando ele parte? Veremos. Poderemos muito bem ter sementes para o Filme Dois que serão sutilmente plantadas durante O Hobbit.

Peter Jackson: Vamos fazer mais algumas questões aleatórias antes da grande pergunta final.

Pergunta: Olá rapazes! Minha pergunta vem em duas partes. Primeiramente iremos notar uma mudança significativa no estilo visual de SdA para O Hobbit devido à estética única de Guillermo? Se sim, irá ocorrer um re-imaginar completo do design dos lugares vistos em ambos os livros (como Bolsão e Valfenda) devido a este estilo diferente?

Guillermo del Toro: Os designs básicos, os designs pré-estabelecidos serão apenas “atualizados” devido à época diferente. Meio século a mais ou a menos o que em termos de Terra-média não é muito, mas – pense sobre com nosso mundo mudou de – digamos, 2001 para cá… Os novos cenários e designs devem se unir o suficiente para não passar a sensação de um mundo completamente diferente, mas sim, os filmes estão fadados a ter algumas características estilísticas distintas.

Pergunta: Senhores, uma questão em duas partes. Primeiro, filmando em película ou digital? Segundo, Anamórfico (2:1) ou Widescreen (1,85:1)?

Guillermo del Toro: Eu normalmente uso Widescreen mas planejo respeitar a escolha de Peter com relação ao formato utilizado na Trilogia (2,35:1) mas é minha intenção, por agora, filmar em película, não digital.

Pergunta: Como o novo Gollum será diferente do Gollum da trilogia SdA, isso se for diferente?

Guillermo del Toro: De novo, apenas a passagem do tempo (ele é meio século “mais novo”) mas será Andy que estabelecerá o design que será nossa Base.

Pergunta: Os Elfos da Floresta das Trevas serão diferentes dos Elfos de Valfenda da trilogia SdA?

Guillermo del Toro: esta definitivamente é minha intenção mais não posso revelar mais nada no momento.

Pergunta: Considerando que você está esticando O Hobbit em dois filmes podemos assumir que Beorn será mostrado e que ele não receberá o tratamento Tom Bombadil?

Guillermo del Toro: Eu posso ser parte da minoria, mas eu absolutamente ADORO Beorn e pretendo apresentá-lo nos filmes. Por sinal, eu também gosto bastante de TB…

Pergunta: Eu adoraria saber como lidarão com os goblins no filme. Eles parecerão com os orcs menores dos filmes SdA ou vocês farão um design completamente novo?  E mais, tudo parecerá como nos filmes SdA ou serão as coisas serão refeitas para se encaixar à sua visão?

Guillermo del Toro: Esta é uma área na qual espero poder ampliar e melhorar MUITO os designs estabelecidos na Trilogia. Eu planejo um tratamento novo e muito forte para os Goblins. Eu também acho que os Wargs devem ser repensados para seus papéis em O HOBBIT.

Pergunta: Uma coisa que eu adoro sobre assistir filmes de diferentes cineastas e ver suas próprias visões sendo colocadas na tela. Mas uma vez que estes filmes do HOBBIT estão sendo feitos para combinar com a série SDA, isto significa que a maravilhosamente imaginativa visão do Sr. Del Toro será limitada para seguir as regras estabelecidas pelo Sr. Jackson?

Guillermo del Toro: É meu privilégio percorrer estradas previamente traçadas mas eu definitivamente planejo conduzi-los a locais novos e excitantes que a Trilogia não explorou. Contudo, é nossa intenção que, uma vez feitos, os cinco filmes irão tocar como uma obra sinfônica que transparentemente o transporta através deste mundo.

Pergunta: Olá, eu sou Beren da Romênia e gostaria de perguntar ao Sr. GDT se ele planeja usar (como PJ fez) grandes maquetes para retratar os vastos panoramas e cidades da Terra-média ou efeitos mais simples de CG? Obrigados e saudações.


Guillermo del Toro:
Peter e eu adoramos técnicas “estilo antigo”. Eu adoro miniaturas físicas e tento utilizá-las tanto quanto posso e tenho certo fetiche sobre isso. Maquetes certamente se encaixam aí.


Pergunta: Pergunta para Guillermo, assumindo que todos estejam retornando para escrever o roteiro, você também estará escrevendo ao lado de Peter, Philippa e Fran?



Guillermo del Toro:
Eu pretendo. As sugestões deles na criação literária do roteiro é uma necessidade. Eu dependo deles e espero gastar muitos meses deliciosos vagando pela Terra-média.


Peter Jackson:
Escrever um roteiro com um grupo de colaboradores e como a colaboração entre Lennon e McCartney… algumas vezes uma ou duas pessoas fazem mais do que as outras em certas partes do processo e vice-versa, tudo vem junto e nós dividimos igualmente o crédito depois do processo concluído, com nós quatro seremos capazes de dividir o trabalho de formas interessantes e todo mundo será capaz de ajudar a construir estes filmes.


Pergunta: Eu gostaria de comentar sobre a excelente escolha de diretor, mas tenho certeza que isso já ficou cansativo. Com relação ao Hobbit e aos numerosos Anões, eu estava imaginando se todos eles terão espaço no filme. Em O Senhor dos Anéis, você tinha nove na Sociedade, mas você tinha três filmes para trabalhá-los. Em o Hobbit você tem treze Anões e um filme para apresentá-los. Eu definitivamente espero ver todos os treze aparecendo, mas o que estão fazendo sobre isso?



Guillermo del Toro:
Tolkien escreveu treze anões e eu pretendo usar treze anões. Eu estou, de fato, entusiasmado em mantê-los todos e fazê-los distinguíveis e afeiçoáveis enquanto personagens. Muito do drama e emoção no último terço do filme virá deles.


Pergunta: Guillermo, eu sempre pensei em você como um diretor visionário, e adoro seu trabalho – você por favor poderia me contar qual foi o fator decisivo que o fez concordar em ser o diretor de O Hobbit?



Guillermo del Toro:
  De todas as obras literárias de Tolkien eu estava familiarizado apenas com O HOBBIT. Eu o comprei com 11 anos de idade e ele tocou uma corda em mim, mas, àquela época, eu falhei em conectá-lo com a Trilogia e o Silmarillion (os quais agora eu acho deliciosos). Eu os achei – ao contrário do HOBBIT – “densos demais” para minha jovem mente. Eu sonhei com a Floresta das Trevas e com Smaug por eras (de fato, um dragão como Smaug foi roteirizado como parte do “conto de fadas” que Ofélia narra a seu irmão em O LABIRINTO DO FAUNO, mas foi cortado por razões financeiras), e quando eu vi Peter realizar a Trilogia eu pensei que o HOBBIT nunca viria para mim. A proposta de gastar meia década criando estes filmes recebeu – como Peter confirmará – o meu “SIM” em cinco segundos. Para as pessoas de minha área eu geralmente sou um cara que tenta gerar seus próprios projetos e me esquivo bastante quando as pessoas tentam me colocar em grandes projetos. Por décadas eu recusei filmes de enorme escopo, mas este é um privilégio fantástico e eu imediatamente disse “Sim”.

Pergunta: Minha pergunta é, quando Del Toro tornou público seu desdém por Hobbits e fantasia do tipo “espada e sandálias”, como ele poderá fazer justiça ao filme? Porque o próprio Peter não poderia dirigi-lo após The Lovely Bones? Ele poderia dirigir estes dois filmes e depois dirigir o terceiro filme do Tintin.



Guillermo del Toro:
Ok – Se por “Espada e Sandália” você quer dizer “Espada e Magia” eu mantenho as linhas gerais da minha afirmação de 2006. Mas permita-me reproduzir o seguinte parágrafo do ONERING.net e ampliá-lo-

Desde a idade de 4 anos eu me tornei um ávido leitor e colecionador de livros; manuscritos, panfletos, primeiras edições, tiragens pequenas ou capas-mole usados… todos encontram um lugar em minha biblioteca que cresceu tanto e tão obtrusamente  que eu tive que me mudar com minha família para uma casa diferente…

Por muitas décadas minha principal área de interesse foi a ficção de horror: Algernon Blackwood, Arthur Machen, MR James, LeFanu, etc. e os clássicos contos de Fada e literatura sobre o mecanismo do Mito: Grimm sem cortes, Andersen, Wilde, Bettelheim, Tatar, etc.

De vez em quando eu me permito Ficção Científica (não a orientada a máquinas, mas coisas mais humanísticas) e, portanto eu conto Bradbury, Ellison, Sturgeon e Matheson entre meus favoritos.

Minha área de interesse fica muito mais limitada quando lido com outro gênero… o gênero fichado sob o título de Fantasia.

Quando mais jovem eu li Moorcock, Clark Ashton Smith, Lord Dunsany, Lloyd Alexander, Fritz Leiber, Marcel Schwob, RE Howard e uns poucos outros.

Contudo eu nunca fui impulsionado em um vício aleatório por subgêneros como Espada & Magia ou fantasias indiscriminadas sobre esta ou aquela coisa mágica. Como qualquer outro gênero ou subgênero há grande abundância, o que torna difícil discernir quando uma nova “trilogia” vem de um lugar genuíno como a de Tolkien ou deriva de um fervor genuíno – religioso ou outro – como fez C. S. Lewis. Mas aqui estou agora: lendo como um louco para abraçar uma terra completamente nova, um continente de opções – uma Cosmologia criada por um brilhante filólogo transformado em Xamã.

E se eu toquei um universo existente fora de nossa caverna Platônica, Tolkien canaliza um mundo inteiro, costurando com maestria a partir do mito e lenda. A maior virtude é que toda sua erudição acadêmica não reduz seus contos a uma mera Taxidermia. Ele atinge uma Alquimia própria: ele escreve nova vida no barro recém esculpido de suas criaturas.

Eu, durante todos esses anos, me tornei familiar com as próprias raízes dos mitos de Tolkien e as raízes de Fafhrd ou Elric ou Hiperbórea e muitas vezes mergulhei com gosto nas intrincadas vias nas quais lobos demoníacos, seres que mudam de forma e guerreiros pálidos e longíneos podem ser intercalados naqueles muitos contos que se tornam, no final, o único conto, a única saga – aquilo que é imortal em todos nós.

Ao criar O Labirinto do Fauno eu bebi profundamente da mais rígida forma do Conto de Fadas e tentei contextualizar os principais temas recorrentes em uma rima indistinta entre o mundo da fantasia e as ilusões da Guerra e Política (a forma do homem adulto fazer-de-conta) e ao reler O HOBBIT recentemente eu fiquei bastante emocionado pela descoberta, através dos olhos de Bilbo, da natureza ilusória da posse, os pecados do acumular e a banalidade da guerra – seja no Fronte Ocidental ou no Valle na Terra-média. Solitária é a montanha, de fato.

Quando a afirmação foi feita – em momentos diferentes durante a promoção do LABIRINTO DO FAUNO, muitas vezes eu fiz um senão para dizer que embora eu não tenha lido Tolkien além de O HOBBIT eu fiquei fascinado pelos filmes da Trilogia. Uma afirmação que eu já tivera a chance de fazer em 2005 quando PJ, Fran e eu nos encontramos por causa de HALO.

Então não, eu geralmente NÃO sou um cara da “Espada e Magia” ou um cara da “Fantasia”. Pelo mesmo parâmetro, eu não sou um cara da Ficção Científica, mas eu faria um filme baseado em Ellison sem pestanejar – ou em Sturgeon ou Bradbury ou Matheson. Eu não gosto de Bárbaros com espadas, mas eu mataria para lidar com Fafhrd e Rato Cinzento… e assim por diante… eu sou um crente mas não um Dogmático.

Deixe-me colocar um ponto final e melhor em nossa discussão. A estética de HELLBOY II é completamente pop e saturada de cores, muito mais estilo quadrinhos / moderno do que eu jamais usaria em O HOBBIT, mas eu gastei dois anos criando um mundo de Fadas, Elfos, Trolls, etc.

Dois Anos. Uma carreira/decisão criativa que precede qualquer pedaço de O HOBBIT. Eu escrevi o roteiro anos antes de encontrar com PJ ou Fran. Em outras palavras eu dediquei os últimos 6 anos de minha carreira (entre LF e HBII) para criar um mundo Fantástico habitado por Fadas, Faunos, Ogres, Trolls, Elfos, etc.

Neste aspecto – eu acho que eu sou um cara da Fantasia quando o mundo em particular me diz algo. De volta ao Período Jurássico (1992 / 1993) quando CRONOS recebeu a Semana dos Críticos em Cannes eu era citado como um “cara da arte” – eu continuei aquilo com um filme cobre uma barata gigante que fez sucesso suficiente para ter duas continuações e me permitir co-financiar EL ESPINAZO DEL DIABLO que me mandou de volta a ser um “cara da arte”. Então eu fiz BLADE II e as pessoas pensavam em mim como um “cara da ação” – PJ passou por uma carreira mercurial semelhante com HEAVENLY CREATURES, BAD TASTE, DEAD ALIVE, etc. eu fujo de rótulos e espero poder evitar ser um “cara da Fantasia” após LF, HBII e H…

Eu faço os contos que eu amo (independente de qual estante do Barnes & Nobles estejam) e eu amo o HOBBIT.

Eu o amo o suficiente para lhe dar meia década da minha vida e me mudar meio mundo de distância para fazê-lo.


Peter Jackson:
Tendo dirigido a Trilogia SDA, eu realmente sinto que coloquei meu coração e alma na dramatização deste mundo e história, apenas alguns anos atrás. A idéia de retornar e essencialmente competir com meus próprios filmes me pareceu uma forma insatisfatória de gastar os próximos 5 anos. Contudo, eu amo Tolkien e me preocupo profundamente com os filmes que fizemos. Eu não poderia suportar a idéia de alguma outra pessoa fazê-los sem nosso envolvimento. Sendo um roteirista e produtor é perfeito que eu trabalhar aqui. Guillermo tem a responsabilidade maior de dirigir, e para ele é mais fácil fazer estes filmes parecerem diferentes, simplesmente porque ele não é eu. E, portanto tem uma visão original, com novas idéias a oferecer.

Acredite em mim, eu pensei muito e por muito tempo sobre isso, e o que estamos fazendo resultará em filmes melhores, eu prometo. E isto é tudo que importa!

Peter Jackson: OK, quase terminamos por aqui pessoal e temos nossa última Pergunta que foi a mais popular entre as milhares enviadas com antecedência.


Pergunta 1:  Quais dos atores de SdA irão retornar para reprisar seus papéis em O Hobbit e seu outro filme?



Guillermo del Toro:
Obviamente, a este ponto, o segundo filme ainda está sendo pensado – de forma que os atores podem ou não ter aparecido em O HOBBIT como obra literária mas continuam a aparecer no segundo filme uma vez que este se “mistura” com a Trilogia e se expande. Portanto o que pode ser dito é: sem dúvidas, cada ator que originou um papel na Trilogia será convidado a participar do filme e reprisar este papel. Se saúde, disponibilidade e vontade se tornarem obstáculos – e apenas neste caso, consideraremos escolher novos atores.


Peter Jackson:
Como o Guillermo disse, exceto por circunstâncias extremas, nós nunca escolheríamos um novo ator para um personagem que já apareceu na trilogia SDA. Você pode ter O Hobbit e identificar quais personagens tomam parte. O fator desconhecido é o Filme Dois, que ainda estamos desenvolvendo. Se nós desejássemos escrever uma parte para uma das personagens do SDA na narrativa do Filme Dois, nós o faríamos apenas com a benção daqueles atores, e o desejo deles de tomar parte. Se não fosse assim nós levaríamos o texto para outra direção.


Guillermo del Toro:
O Tempo acabou –

Mas eu posso orgulhosamente dizer que apenas uns POUCOS perguntaram “Como eu posso fazer uma pontinha?” e meu coração nada em orgulho com tantas questões que vocês foram gentis o suficiente para enviarem – Mais bate-papos e navegação em fóruns nos esperam – nos vemos logo…


Peter Jackson:
Então é isso para nós nesta manhã ou neste anoitecer, ou meio da noite seja lá onde você estiver. Lamentamos que isto seja tudo pelo que possamos responder, mas tentamos abranger cada uma das Perguntas que representavam coisas similares, dentre as muitas que vocês mandaram. Então temos esperança de ter dado a vocês um pouco de informação. Como eu disse a verdade é que existe uma porção de Perguntas sem resposta para nós também neste estágio do processo. Nós saberemos muito mais quando os roteiros forem escritos, o que é nossa próxima tarefa, que estaremos realizando e tomará a maior parte do resto deste ano, imagino. Espero que tenha sido útil e obrigado a todos pelo incrível apoio agora e nos anos passados. Tudo de bom, Peter J.


Guillermo del Toro:
Que o cabelo de seus dedos, etc.


Peter Jackson:
A transcrição deste bate-papo estará disponível aqui na Weta em algumas horas. Todo mundo aqui na Weta pretende continuar com este tipo de relacionamento com você durante a experiência hobbit e há uma porção de surpresas divertidas nos próximos 4 anos.


Guillermo del Toro:
Viva a WETA e os muitos “brinquedos” que ele fazem! E que Cthulhu me dê mais estantes para colocá-los…

 
FIM DO BATE-PAPO
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