Rivendell

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Escrito por ungoliant
Bilbo Bolseiro deu um longo suspiro de satisfação e acomodou-se melhor no grande banco de madeira em que estava sentado. Fazia uma tarde magnífica de sol, embora naquelas duas semanas houvesse descoberto que dias agradáveis eram uma regra por ali, na Última Casa Amiga.
Desde que chegara com Gandalf e os anões, não se lembrava de haver se sentido tão bem, não contando com sua confortável toca é claro.
Na verdade ele quase conseguira se esquecer por um tempo de sua louca aventura e se de repente alguém lhe dissesse que deveria morar ali para sempre ele não teria se incomodado.
Seres magníficos aqueles elfos. Nunca paravam de cantar ou se divertir. E a comida então? O hobbit se sentia com a disposição ótima sempre que estava tão bem alimentado.
E vagando pelo vale encontrara aquele nicho encantador em meio a um bosque iluminado pela luz do sol.
 
Agora ele estava quase adormecido após uma lauta refeição, com as imagens doces de seu Condado rondando os pensamentos, quando foi despertado bruscamente pelo farfalhar das folhagens. Deu um pulo, o coração batendo rápido, quando se lembrou que nada poderia lhe fazer mal ali, na casa de mestre Elrond. Olhou ao redor e então finalmente viu o responsável pelo interromper de seu cochilo.Uma criança élfica!
Ela estava meio escondida pelas samambaias, mas olhava para Bilbo com enormes e escuros olhos arregalados. Então nosso hobbit sorriu encorajador e disse de modo cortês:
-Salve amiguinho. Você está sozinho?
Ele estava intrigado, pois só agora percebeu que não avistara crianças em meio aos elfos. Estes possuíam a aparência bela e todos pareciam jovens, com uma despreocupação típica da juventude, mas eram todos adultos.
No condado a algazarra e confusão causada pelos pequenos hobbits eram por vezes de enlouquecer, embora a maioria dos adultos fosse um tanto quanto indulgentes com eles.
Talvez as crianças não se misturassem com os elfos adultos, ficando daquele lado do vale.O elfozinho ainda olhava para Bilbo com desconfiança e espanto como senão pudesse compreender que tipo de criatura era ele.
Mas provavelmente encorajado pela cortesia do hobbit, saiu do meio das folhagens e aproximou-se, permitindo que Bilbo pudesse examina-lo melhor.
Ele aparentava não ter mais que dez anos de idade, possuía olhos escuros e abundantes cabelos negros. Bilbo notou que era alto para a idade, embora fosse magrinho, e de ossos longos.
-Você é uma criança? Perguntou numa vozinha cristalina, se elevando acima do hobbit.
Bilbo riu divertido, sentando-se novamente e convidando a criança para que também se sentasse.
-Não. Eu sou um adulto. Sou um hobbit e me chamo Bilbo Bolseiro. Então não resistindo em saciar a própria curiosidade
emendou. – Eu não vi outros como você ainda, quero dizer, crianças.
-O que é um hobbit? Eu nunca vi um por aqui! Por que é menor do que eu se não é uma criança?De onde você vem? E
sem sequer tomar fôlego arrematou: – Você tem pelos nos pés!
O pobre Bilbo ficou um pouco atrapalhado por tantas perguntas e como viu que a curiosidade dele aparentemente era maior que a sua, resolveu começar ele mesmo a responder e pelo início, mas não sem antes retirar dos bolsos duas suculentas maças vermelhas, que trouxera consigo para o caso de sentir fome. Ofereceu uma ao elfozinho, secretamente desejando que isto diminuísse um pouco as perguntas, pelo menos até que ele respondesse a algumas, ficando satisfeito quando ele aceitou e começaram a comer juntos.
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– Hobbits é como chamamos a nós mesmos, embora sejamos conhecidos pelas pessoas grandes como Os Pequenos. Somos pacíficos, respeitáveis e nada dados a aventuras. Somos menores que os anões.O mais alto de nós nunca ultrapassando a metade da altura de uma pessoa grande, que é como nos referimos aos homens. Adoramos comer bem, em grande quantidade e diversas vezes por dia.
O elfozinho ouvia tudo com grande atenção, encorajando Bilbo a continuar, entre uma mordida e outra:
– A maioria de nós mora ao norte daqui, em um lugar muito longe, chamado o Condado, na Vila dos Hobbits. Minha casa é uma aconchegante toca chamada Bolsão e fica localizada na Colina. Todos nós, hobbits adultos temos abundantes pelos nos pés, de solados grossos e não necessitamos usar sapatos de qualquer espécie. Ele terminou esperando que tivesse satisfeito a curiosidade da criança, mas ao invés disto motivou nova torrente de palavras.
– Puxa, eu nunca imaginei que houvessem criaturas como hobbits e que uma pudesse vir até aqui. E então um sorriso
iluminou o rostinho sério: – Mas eu fico feliz em conhecê-lo, porque gostei muito de você.
– Fico satisfeito com isto e também apreciei muito conhecê-lo. Mas eu me apresentei e você ainda não me disse o seu
nome.
– Eu me chamo Estel e sou filho adotivo de mestre Elrond.
– Muito bem Estel, vejo que mestre Elrond tem um belo filho, mas você não me disse onde estão seus amiguinhos.
– Amigos? Ora, eles estão por todo vale. Havia um tom de perplexidade em sua voz, como se ele não entendesse o que
Bilbo estava dizendo.
– Eu não digo todos os elfos adultos e sim os pequenos. Explicou o hobbit paciente.
– Bem… Ele então pareceu compreender o que Bilbo queria dizer. – Não há elfos pequenos por aqui.Todos já eram como
agora desde que os conheço.
– E não sente falta da companhia de outras crianças?
O elfozinho deu de ombros.
– Acho que não. Bom, todos aqui são muito divertidos e vivem cantando e comemorando alguma coisa. Então de repente
ele suspirou em desalento. – Mas às vezes é mesmo um pouco difícil arranjar alguém com tempo para conversar.
Bilbo imaginou que não devia ser muito fácil ser criança num mundo só de adultos, mesmo sendo elfos. E viu que este deveria ser o motivo do arzinho de seriedade que ele trazia consigo.
Mas ele retificou numa espécie de arremedo de lealdade, o que fez o Hobbit sorrir:
– Mas mestre Elrond sempre conversa comigo e nunca se impacienta com minhas perguntas.Ele me conta muitas histórias de guerreiros e heróis de antigamente.
– Ora, folgo em saber, eu também adoro histórias. Seu pai é mesmo muito gentil, tanto que acolheu a mim e meus
amigos como hospedes para que nos refizéssemos do cansaço de nossa viagem e também estamos buscando os seus conselhos para que possamos continuar.
Ele olhou para Bilbo com um brilho inteligente nos olhos:
– Você me disse que não são dados a aventuras e, no entanto parece que estão fazendo uma viagem longa.
– Você tem razão, mas meus companheiros não são hobbits e sim uma companhia de anões, na verdade treze e um
mago.
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– Anões? Então está com eles? Eu não o tinha visto. De qualquer maneira não me aproximei muito já que não obtive
permissão, mas gostaria muito de conhecer seus amigos anões também, já que raramente um apareceu por aqui. A
raça deles e dos elfos não são muito amigas. Os anões são um povo muito ganancioso.
– Eu soube, mas meus amigos são anões bastante decentes, embora possam ser um tanto rudes às vezes e, além disso,
estamos atrás de um tesouro de família, que foi saqueado anos atrás do povo de Thorin, um anão muito importante.
Bilbo se viu também na necessidade de defender Thorin e cia., numa espécie de lealdade de cúmplices quando percebeu que havia despertado a admiração do elfozinho.
– Nossa, deve ser muito emocionante sair por aí procurando tesouros escondidos em lugares distantes.
– Ora, emocionante pode ser, mas muito desconfortável. Na verdade eu preferia continuar aqui neste lugar tão agradável a ter que enfrentar os perigos que nos aguardam.
Quando Bilbo percebeu que Estel lhe lançava um olhar um tanto decepcionado ele gaguejou envergonhado, tentando consertar o estrago:
– Be… Bem, mas os anões necessitam de minhas habilidades para quando encontrarmos o dragão. Achou melhor não dizer que estas habilidades consistiam em ladroagem, já que isto não era muito educativo.
Mas se não queria se sentir envergonhado conseguiu, pois o elfozinho ofegou diante da menção do dragão e novamente olhou para o pequeno hobbit com o mesmo respeito que demonstraria perante um guerreiro de armadura. O que por sinal lhe deixou meio encabulado, já que ele estava longe de ser audacioso como pareceu.
– Vocês são as pessoas mais corajosas que eu já conheci. Um dragão de verdade como nas histórias!E com um suspiro arrematou. – Eu mesmo gostaria de ir participar de uma aventura como essa, mas nunca me deixam sair daqui, disse com um ar resignado.
– E por que você é apenas uma criança e há perigos enormes por estas terras.
– Eu não sou mais uma criança, disse ele decidido, erguendo o queixo desafiante como se esforçando para parecer adulto, fazendo Bilbo ter vontade de rir. – E estou aprendendo a usar a espada e o arco e fecha, disse com orgulho. Depois readquiriu o ar de curiosidade infantil no rostinho moreno.
– De que perigos voce fala? Além do dragão é claro.
– Bem… Ele não queria assustá-lo, mas decidiu ser sincero e além do mais ele parecia ter uma necessidade enorme por conhecimento. – Há os terríveis trolls saqueadores das montanhas, animais selvagens e além deles, segundo eu soube, uma quantidade enorme de orcs cruéis vagando pelos ermos.
– Orcs! E fez uma expressão de repugnância – Eu não os temo, e logo serei um guerreiro tão destemido quanto Elladan e Elrohir e vou expulsá-los de todas estas terras. Vou usar uma grande espada como eles e no futuro as pessoas farão canções sobre minhas aventuras.
– Não duvido – divertiu-se Bilbo, mas então, tentou assumir um ar sério e pesaroso – Mas eu acho que Gandalf não aceitaria mais um membro para a nossa tumultuada companhia.
– Gandalf? O velho de vestes cinzentas?
– Sim, ele mesmo. Mas não é apenas um velho, mas um grande mago. Lá vinha novamente seu senso de lealdade.- Ele faz luzes coloridas surgirem do nada e seus fogos de artifício são renomados.
– Eu o vi de longe conversando com mestre Elrond e ele me pareceu muito venerável. – E completou relutante. – Ele parece ser um tanto austero…E um pouco assustador.
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Bilbo riu:
– Sim. Temo que ele possa parecer assim às vezes. Mas tem um grande coração e creio que gostaria muito de conhecer um elfozinho inteligente como você.
Desta vez foi à vez de Estel rir e olhar para Bilbo com um arzinho sabido.
– Eu ficaria honrado em conhecer um mago tão habilidoso e devo agradecer pelo elogio, mas não posso aceitá-lo já que não é verdade.
Bilbo ficou espantado. – Não se acha inteligente?
– Talvez inteligente eu possa ser – deu de ombros – mas não um elfo.
Agora o hobbit perdeu a compostura de vez e ficou olhando para Estel que ainda se parecia com um elfo na sua opinião.
– Mas você mora aqui com os elfos e se parece com eles!
– Eu sou da raça dos homens, mas fui adotado por Elrond após a morte de meu pai que era um grande guerreiro, segundo eu soube. Eu vivo aqui com minha mãe, lady Gilraen.
– Puxa, eu devo admitir que não conheço muito bem os elfos, mas você me enganou mesmo. Ele tocou nos longos cabelos negros do menino e o despenteou. – Mas isto só me deixa mais feliz por saber que entre as pessoas grandes existam crian… Rapazinhos tão espertos e corajosos.
Antes que ele pudesse responder, ao longe na clareira uma mulher de aparência nobre e muito bela chamou numa voz parecida com a do menino:
– Estel… Estel…
– E minha mãe. Deve estar me chamando para minha lição.
Ele não parecia muito disposto, mas levantou-se assim mesmo, seguido por Bilbo. Mesmo se o garoto não houvesse dito, a semelhança entre eles era notável, indicando o parentesco.
– Bom, então você deve se apressar, pois não devemos deixar nossas obrigações e muito menos fazer uma dama esperar. E você deve enviar a ela meus comprimentos e dizer que sinto por tê-lo mantido longe dos estudos.
O menino fez uma grande reverencia para Bilbo, o que indicava que além de inteligente era muito educado.
– Foi uma tarde muito agradável a que passamos juntos mestre hobbit e minha mãe concordará comigo depois que eu lhe contar sobre você e espero podermos conversar novamente.
Bilbo devolveu a reverencia, tudo muito corretamente, mas explicou ao menininho que eles estariam de partida na manhã seguinte, bem cedo.
– Acredito que todos nós desejaríamos continuar aqui por um bom tempo, mas temos que terminar nossos negócios – Aqui ele não pode deixar de sentir um arrepio ao imaginar o que os esperava fora dali. – Sinto que não tenhamos nos encontrado antes. Ele ficou com pena da decepção refletido nos olhinhos escuros.
– Sim… – Mas então a tristeza foi varrida de seu rosto e ele fixou em Bilbo, olhos agora muito brilhantes – Mas veja, eu sei que nos veremos novamente. Não sei se será breve, mas estou certo disso. E assim vou pedir que minha mãe me ajude a compor uma canção sobre sua aventura e vou cantá-la quando nos virmos novamente.
Então ele reverenciou novamente o hobbit, virou-se e correu ligeiro pela clareira com sua brilhante vestimenta élfica misturando-se com o verde da paisagem.
Quando chegou próximo da mãe, virou-se novamente a acenou numa última despedida, antes que os dois seguissem de mãos dados pelo caminho ensolarado à frente.
Bilbo então, tomou a direção de onde se encontravam seus companheiros, pensando que se continuasse conhecendo pessoas tão extraordinárias como seu jovem amiguinho, esta aventura poderia não ser tão terrível afinal.
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Após a partida da companhia de Thorin no dia seguinte, no início do solstício de verão, Elrond chamou Estel a sua presença.
Após ouvir impacientemente todas as recomendações que sua mãe lhe fez, e que invariavelmente fazia, sobre como se comportar perante o venerável meio-elfo, praticamente correu até o salão onde ele se encontrava.
Elrond estava
de pé diante de uma grande janela que se abria para o vale esmeralda de Rivendell.Os raios do sol coloriam o salão de diferentes matizes através dos vitrais das janelas, dando ao senhor élfico um aspecto majestoso e quase sobrenatural, como se de repente ele fosse fundir-se aos raios do sol e voltar para dentro da lenda.
Estel olhou para o pai adotivo com grave reverência e lembrando-se da mãe, fez uma profunda mesura mantendo-se à distância.
– Meu senhor. Eu recebi seu recado.
Um sorriso pairou no belo rosto élfico enquanto ele estendia as mãos.
– Estel, aproxime-se meu filho.
Foi o que bastou para que o menino esquecesse todas as palavras sobre regras e bons modos ditas pela mãe e corresse pelo salão em direção ao elfo, jogando-se nos braços do pai adotivo.
Elrond o apertou nos braços e depois o afastou para que pudesse examina-lo. A presença do menino o deixava muito feliz e já havia alguns dias que não o via.
– Pelo visto você continua crescendo rumo a lua, brincou ele. – Por onde tem andado que não tem vindo me ver?
Ele fez um ar de abatimento e suspirou:
– Eu tenho tido tantos deveres e estudos que passo quase todo o tempo nos aposentos de minha mãe entre pergaminhos e
escritos.
Elrond riu do exagero do menino e sentou-se em uma cadeira de espaldar alto para que pudesse ficar da altura dele.
– Sua mãe é uma mulher sábia e o conhecimento e tão importante quanto à habilidade.
– Sim. Mas quase não me sobra tempo para aprender a manejar a espada.
– Eu tenho certeza que aprenderá tudo no tempo certo, meu filho, inclusive a dominar a impaciência.
Estel concordou obediente e sentou-se aos pés do pai adotivo, pronto para desfrutar sua companhia.
O senhor élfico sorriu indulgente para a criança que amava como se fosse sua e pediu um relato sobre o conteúdo de seus estudos. Eles conversaram sobre isso por um longo tempo.
– Fico extremamente feliz em ver que tem aprendido bem os ensinamentos e as tradições que tem lhe sido passadas por
lady Gilraen, e os que tem tomado conhecimento por mim e outros de meu povo.
– Eu lhe agradeço meu senhor, por ter tido paciência em me ensinar. Estel alegrou-se intimamente enquanto fazia uma
mesura para acompanhar suas palavras, ao pensar em como isto soaria muito adequado para a mãe.
Elrond acariciou os cabelos do menino, resolvendo que bastava de coisas serias por uma tarde e mudou de assunto.
– Soube que travou conhecimento com um de meus hospedes.
O rostinho pareceu adquirir luz própria ao se lembrar do novo amigo, ficando um tanto élfico como teria dito Bilbo.
– Um hobbit.Uma criatura das mais interessantes e corajosas. E ele vai enfrentar o dragão para recuperar o tesouro dos
anões! Porquê nunca se houve falar deles?
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– Vejo que não há dúvidas de que a admiração foi mútua. Bem, hobbits não são criaturas muito renomadas e os pacíficos
raramente ganham lendas. Eles preferem viver tranqüilos em sua terra natal, raramente se aventurando fora dela para que se tornem conhecidos.
– Ele me disse, e mesmo assim saiu em sua própria aventura.
– E o admira muito por isso? Gostaria de viver aventuras como a dele?
– Sim e ser renomado e saudado em canções.
– Isto está certo para uma criança com a cabeça povoada por sonhos e cheio de energia, mas quando for mais velho e sábio
aprenderá a apreciar o sabor da paz e a quietude de uma tarde de sol.
– Mas o senhor também viveu aventuras e embora nunca as mencione para mim, elas são cantadas por todos.
Elrond suspirou, mal notando a leve insolência na voz do menino. Havia coisas que só o tempo podia ensinar.
Neste instante foram interrompidos por uma batida na porta, que foi aberta para a passagem dos gêmeos Elladan e Elrohir.
– Bem vindos meus filhos, alegra-me saber que retornam bem de sua jornada. Havia evidente satisfação no tom de voz do elfo. Já havia algum tempo que tinham partido e todos em Rivendell sentiam a falta deles.
Eles cumprimentaram o pai, que já havia sido informado sobre a chegada deles ao vale e só então perceberam a presença do menino aos seus pés, que se levantou imediatamente.
– Salve pequeno irmão, disse Elrohir, sorrindo.
O menino olhava com gravidade e evidente prazer, pois idolatrava os irmãos adotivos. Eles chegavam a ser mais altos e tão nobres e altivos quanto o pai. E tratavam Estel com o mesmo carinho e indulgência.
Elladan pousou as mãos nos ombros do menino e apertou com força.
– Vejo que em breve estará nos acompanhando pela terra-média, pequeno irmão, se continuar a crescer assim.
Estel ofegou com prazer às palavras do irmão e estaria pronto para acompanhá-los naquele instante se assim houvessem dito. Mas eles desviaram a atenção novamente para o pai, a quem queriam reportar sobre sua recente viagem. E assim esqueceram do menino que ficou atrás da cadeira do pai adotivo ouvindo com assombro a narrativa dos dois sobre um vasto e desconhecido mundo
Após escutar a narrativa dos filhos, Elrond contou da visita de Gandalf e suas dúvidas sobre o necromante.
– O ermo tem-se enchido de criaturas cruéis e torna-se quase impossível viajar sem encontrar com feras de todas as
espécies. Disse Elladan.- E estes seres parecem ter se multiplicado desde que o necromante surgiu.
– Alguma coisa tem que ser feita quanto à presença dele, meu pai. Elrohir parecia decidido. E deve ser o mais rápido
possível, antes que se torne poderoso demais.
– Gandalf e eu decidimos reunir o conselho para que cheguemos a uma decisão, sobre atacar sua fortaleza.
Neste momento Elrond se lembrou da presença do menino, que ouvia tudo com grande atenção.
– Estel, não creio que sua mãe gostaria de saber que você participou desta conversa e creio que ela teria razão. A certas coisas que uma criança não necessita conhecer, pois tudo deve acontecer em seu devido tempo.
Ele tentou protestar, mas viu a expressão irredutível no rosto do elfo e soube que não havia como demove-lo da decisão.E resignado dirigiu-se infeliz para a porta, após fazer uma reverencia ao senhor e os filhos.
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– Estel espere. Elrohir o chamou de volta. – Estava me esquecendo.Trouxe algo para você. Ele lhe estendeu um pequeno
embrulho de tecido marrom. – Achei que iria gostar, disse o jovem elfo com um sorriso.
Ele então descobriu um pequeno e afiado punhal, com o cabo ricamente trabalhado em pequenas pedras preciosas, formando um belo desenho, algo como um pássaro ou águia. Suas gemas verdes refletiam loucamente a luz do sol. Era tão luxuoso que o menino achou que deveria ter pertencido a um rei.
Ficou tão feliz que só pode abraçar o irmão antes de conseguir dizer qualquer coisa.
– Oh, Elrohir é magnífico. Como pode ter se lembrado de mim? Você o retirou de algum tesouro?
– A cabeça dele está povoada por tesouros e feitos heróicos. Disse Elrond examinando o punhal. – Mas é realmente uma
bela peça.
– Elrohir não teve que saquear nenhum tesouro alheio para consegui-lo, embora tenha custado algum esforço, disse
Elladan num bom humor leviano. – Ele pertenceu mesmo a um gran
de rei de outrora, pequeno irmão, mas agora é seu. Tenho certeza que ira fazer jus a ele um dia.
– E você vai me contar como o conseguiu Elrohir? Havia excitação em sua voz.
– Claro irmãozinho, disse o elfo passando o braço pelos ombros do menino e o conduzindo em direção a porta.
Ele se sentia numa ótima disposição agora que estava em casa após meses de viagem e nem uma criança imensamente curiosa poderia mudar isto. Na verdade agora que o viu percebeu que sentira falta dele, sempre fugindo da mãe e do tutor para andar atrás dele e do irmão.
– Vou lhe contar esta e muitas outras histórias e você vai me mostrar como andam suas habilidades com a espada. Ele abriu
a porta. – Agora deve ir e mostrar o presente à lady Gilraen e desta forma pedir a ela que o libere de seus deveres mais tarde, para que possamos conversar.
– Eu irei imediatamente, disse o menino, virando-se e correndo tão depressa que num instante havia sumido por entre as
colunas do imenso salão provocando um sorriso em Elrohir, antes que se voltasse para dentro.
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Estel correu como uma flecha pelos caminhos e passagens que conduziam aos aposentos da mãe causando certa confusão, esbarrando e derrubando coisas. Mas apesar disso, sua passagem tumultuada causava mais risos que reprimendas.
Só parou para tomar fôlego enquanto abria a porta e chamava pela mãe.
Gilraen estava sentada próxima ao fogo da lareira acesa, apesar da tarde de verão, segurando um bordado que deixou de lado após a entrada intempestiva do filho.
Era tão bela quanto uma elfa em sua dignidade e calma serenas, e também incrivelmente jovem. Na verdade passaria bem por irmã do menino, o parentesco acentuado pelos traços aristocráticos dos dois. Ela possuía os longos cabelos negros presos em uma trança que lhe descia pelas costas e estava vestida a moda élfica, embora não possuísse qualquer enfeite adornando sua beleza morena.
– Mamãe… Mamãe…Você não sabe o que aconteceu!
– E não saberei mesmo, se você não se acalmar, respirar fundo e começar a me dizer. Ela fitava o filho com extremo amor,
sentindo uma pontada súbita de dor, ao percebeu como ele lhe lembrava o pai, sempre tão impetuoso.
Ela estendeu as mãos para ele, fazendo com que se sentasse ao seu lado, o beijando no rosto. Ela retirou o cabelo que lhe caia úmido nos olhos, devido ao esforço da corrida.
– A visita a Lorde Elrond, foi muito agradável pelo visto. Ela sabia que devia repreendê-lo pelos modos pouco sutis, mas
não encontrou coragem de nublar sua alegria. E havia tão pouco tempo para se ser jovem e feliz.
– Mamãe, eles voltaram. Elladan e Elrohir quero dizer.
– Oh, vejo então o motivo de toda esta excitação. Ela sorriu, pois também gostava muito dos belos gêmeos, que alias nunca
conseguia distinguir um do outro, embora Estel parecesse faze-lo sem qualquer dificuldade. Eles sempre eram muito gentis para com ela e pacientes com seu filho. – Na verdade todos por aqui devem estar muito contentes com a chegada deles. E imagino que isto será motivo para mais festejos, embora nem sempre motivos sejam necessários.
– Todos vão querer estar perto deles. Havia seriedade em sua voz.
– E percebo que veio me pedir para ser liberado dos estudos para que possa ficar na companhia deles.
O menino corou por ver que a mãe se adiantara as suas intenções, o deixando sem argumentos.
– Eu posso?
– Meu filho, certamente os dois tem afazeres mais importantes do que se tornarem amas-secas.
– Mas mamãe, Elrohir vai me contar suas aventuras no ermo e me ensinar a treinar minhas habilidades com a espada. E veja
ele me trouxe um presente.
Ele lhe mostrou o precioso punhal entalhado, a deixando surpresa com a cortesia dos dois. Eles pareciam gostar mesmo de seu filho, que a seu ver era realmente uma criança especial. Como o pai teria se orgulhado dele.Corajoso e destemido mesmo sendo tão jovem. Um digno herdeiro de reis.
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– Bom, se eles concordam com isto, não vejo como recusar, mas não deve ser inconveniente e os ficar perseguindo e
deve esperar ser convocado. Mesmo enquanto falava ela sabia serem inúteis suas recomendações. Mas estava tão feliz por ele ser saudável e estar protegido ali, que não se importava de fato.
E mais tarde, durante a festa de comemoração ao observa-lo na companhia dos irmãos adotivos, ela pensou no destino que o aguardava como governante de seu povo e que provações teria de passar para cumprir sua sina. Ela desejou que a mesma fortuna que fizera com que eles estivessem naquele refugio de paz o acompanha-se em sua jornada.

Fim da primeira parte

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