Like a Bird – Parte 12

Escrito por Fábio Bettega

Gandalf olhava para o pergaminho em sua mão, a mensagem estaca escrita em três partes, com uma caligrafia hábil e legível em todas elas. Mas das três partes apenas a que continha a escrita tengwar lhe era familiar. Das outras, uma parecia-lhe com o tengwar, mas pouquíssimas coisas ele conseguiu identificar, e a outra lembrava runas, embora a caligrafia fosse invejável e mais fizesse parecer desenhos… "Sim, sim…não faço idéia do que possa estar escrito aqui, será que…"

 

-Gandalf!- ele se virou ao ouvir o chamado. Frodo se aproximava, com um sorriso de descanso -Gandalf! Soube que está sentado aí desde que recebeu essa mensagem, o que diz nela? E que letras são essas?

Ele deu uma sonora risada -Quantas vezes já disse que a curiosidade hobbit me levará a loucura! Do que está escrito aqui, nada é endereçado á você, meu pequeno amigo.

-E esse outro papel que está aí dobrado?

-Esse definitivamente eu não posso imaginar. A escrita me é completamente estranha e a caligrafia chega a ser quase infantil perto dessa , portanto não são da mesma pessoa, embora essa…carta…seja muito mais antiga que a mensagem que se dirige a mim.

-São as mesmas letras que recebemos em Rohan. Miyoru sabe lê-las, não?

-Muito melhor do que lê os tengwar. Mas o fato dela saber a nossa língua já é algo estranho…eu gostaria de saber como ela sabe…

-Pippin já lhe perguntou. Ela respondeu que sabia porque sabia. Realmente esquisito, Gandalf …
Mas o mago não respondeu. Ficara com o olhar perdido como se contemplasse coisas secretas, então murmurou -Frodo, chame a todos se puder, principalmente á Aragorn. Não faça mais perguntas, apenas reúna-os.

-E então, Gandalf?

-Eu os chamei para mostrar-lhes duas mensagens; uma destinada a mim e á Aragorn, que varia do estritamente formal á zombaria, pelo menos à parte que pude ler. A outra, eu nem imagino, mas suponho que seja á Miyoru.

-Nani?- a garota que olhava distraidamente pela janela do palácio se levantou e foi até Gandalf rapidamente, ele lhe estendeu ambos os papéis.

-Por favor, Miyoru, leia-os para nos.- ela pegou-o e então ergueu a voz, lendo a parte dos desenhos num tom agradável e simples, e pausado o bastante para que todos pudessem entender

-Aqui diz " Excelentíssimos senhores Rei e Mago; escrevo-lhes por meio desta para pedir-lhes que nos devolvam aquilo que tomaram por força desta e que, embora nossos ataques tenham sido inúteis, rogo-lhes para vosso bem que devolvam a menina que nos é de direito. Encerrando este assunto, penso se não poderíamos nos encontrar algum dia, sem armas , mas com o séqüito que quiserem trazer consigo para se sentirem seguros e…"- ela cerrou os olhos -Desculpem, faz tempo que não leio nada na caligrafia ocidental…- mas então retomou a leitura -"Gostaria que viessem nos visitar, em Orthanc, Barad-dûr ou Cirith Ungol. Atenciosamente; os senhores."

-Que tipo de gente se despede com os senhores?- reclamou Gimli -E é óbvio que não vamos entrar no covil de cobras de livre e espontânea vontade! Se fosse mais claro, estaria escrito armadilha no verso em letras grandes e vermelhas.

-Eles falam de Miyoru na carta, não? Será que eles sinceramente crêem que a entregaremos?- disse Pippin, quase se divertindo

-Só falta quererem que a embrulhemos numa fita vermelha com laços para presente!- Completou Merry, trocando olhares com Pippin

-Seria hilário, meus amigos, se não fosse tão estranha. Será que nosso inimigo já está fraco ou é só uma armadilha?- perguntou Aragorn, se voltando para Gandalf.

-Não olhem para mim, é óbvio que não iremos, mas essa carta revela uma personalidade complexa e reversa de nosso inimigo…

Miyoru não falara nada pois estava concentrada lendo a outra carta e ficou por uns momentos fora de ação, para então dizer, automática -Na verdade o inimigo provavelmente visa combates individuais de um contra um. Eu já ouvi essa história quando era criança, no meu país.- ela levantou os olhos do papel, dobrando-o com indiferença.

-Menina tola! Não pode estar sugerindo que iremos até a toca do inimigo?

-Não.- ela respondeu, simplista -Mas tampouco me agrada que esperemos aqui até sermos encurralados como animais indefesos. Sempre se ganha mais atacando do que esperar pelo ataque, a menos, é óbvio, que você tenha algum truque muito bom, bom o suficiente para uma vitória definitiva. Do contrário, é melhor identificar o ponto fraco do inimigo e atacar precisamente ali.

-Como assim, Miyoru?- Aragorn perguntou, interessado nos métodos de guerra de Miyoru. Pareciam o contrário de tudo o que se tinha aprendido sobre guerra -Ponto fraco?

-É claro…- ela se voltou para Aragorn -Que para isso você precisa ter espiões infiltrados no campo inimigo, para descobrirem os pontos fracos. Por exemplo, se for atacar uma base, descobrir algum ponto falho na estrutura geral, ou onde e a que horas a vigília tem falhas, a planta do lugar para atacar diretamente no coração , garantindo uma derrota mais rápida. Se o Inimigo tem várias bases, ataca-se a que tem menor resistência.

-Não me parece uma estratégia limpa, Miyoru.- Aragorn sorriu , para debater com ela -Mas é no mínimo intrigante. –

-Ora, Aragorn-sama, a guerra é uma arte, com poucas leis da vitória e uma verdade. Humilhação se julgar mal a si mesmo, morte se julgar mal seu inimigo. Mesmo um fraco pode, na hora da ira, tornar-se forte, pegar uma espada e ir á luta, mas quando essa ira, e consecutivamente essa força acabar, ele se sentirá fraco e perdido no meio de um campo sem volta, portanto é necessário lutar de cabeça fria e também descobrir o que desestabiliza seu inimigo.

-Por exemplo?

-Por exemplo, Aragorn…- ela olhou para ele e pensou uns segundos – Se nossos inimigos são de meu povo, e pelo jeito o são, eu não sairia sem deixar a cidade de sobre-aviso e muito bem guarnecida; principalmente o palácio.

-Por quê

-Porquê eles, certamente, tentarão atacar enquanto estiver fora o seu ponto fraco e o que certamente será um golpe e tanto para você. E no exato momento em que suas chances de chegar a tempo serão totalmente nula, provavelmente quando você estiver no quintal do inimigo; até porque eles já viram que isso dá certo.

-Não compreendo, Miyoru…- ele franziu a testa, intrigado

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-Aragorn, me diga sinceramente que vocês não colocaram tudo a perder quando entraram em Orthanc para me resgatar? E se eles atacassem e matassem a precio
sa Arwen-dono enquanto você estiver fora, longe, Aragorn-sama?
Por um momento ele ficou paralisado e foi como se houvesse um momento em que sua mente ficou estática para depois ser preenchida com uma enxurada de pensamentos. Quem teria a coragem e a amargura no coração bastante profundas para atacar sua estrela vespertina? Seria o cúmulo da covardia, da estupidez, homem algum consegue descer tão baixo e…

-Você ficaria irado, e transtornado, né?- perguntou ela, acordando-o do pesadelo que foi imaginar-se com sua bela dama morta.

-Sim…- ele ergueu um braço, tocando a cabeça, perdido -Sim, eu cairia em loucura…tem razão, Miyoru, é realmente melhor deixar uma boa defesa preparada em Gondor. Bendita a hora em que caiu do céu, Miyoru! Bendita essa tua cabecinha que sabe o que se passa na mente negra dos inimigos!- e ele deu um beijo na testa dela, que corou um pouco, e sorrindo, disse -São táticas normais no meu mundo, Aragorn.

-Mas o que faremos agora, Aragorn?- chamou Frodo -E as duas partes que faltam? Partiremos para Mordor? Sabe, sinto-me cansado e às vezes fraco para tudo isso, e gostaria que terminasse, mas se não é possível, o que faremos?

-Seu desespero e dúvidas são também os nosso, Frodo.- comentou Gandalf -E creio que devemos convocar nossos aliados, nos reunindo, para decidirmos tudo.

-Ótimo. Mandem mensageiros para Valfenda, para Lothlórien e para Rohan. –

Legolas, que assisitra a tudo como um observador, desgostando algumas partes, interessando-se por outras, mas ao ouvir falar de Rohan, fez uma careta e não conseguiu impedir-se de perguntar -Quem virá de Rohan?

-Creio que um dos capitães, ou o próprio Éomer, por quê, Legolas?

-Por..nada.- ele segurou um pesado suspiro; Éomer era ótimo como amigo e aliado, mas agora..

Agora existia Miyoru.

E ele não pretendia deixar que Éomer a envolvesse nas suas artimanhas… Nada contra, mas Miyoru merecia algo melhor.

Espere…

Melhor que o Rei da Terra dos Cavaleiros?

Durante o almoço, o clima estava de ansiedade geral. Os mensageiros já haviam partido para terras distantes, para avisar aos aliados e terras distantes. Mas ali, no almoço com toda comitiva do palácio, tudo parecia uma grande expectativa, com poucas conversas, até que Miyoru comentou

-Eu realmente não entendo como vocês comem essas coisas tão pesadas e tantas a cada refeição…- comentou, desolada

-Ué, Miyoru, o que você come?

-Peixe, arroz, legumes , verduras, camarão, etc etc…

-Vocês não comem carne?

-Claro, ué, mas menos que vocês.- Miyoru olhou para a suculenta carne na sua frente -Vou ficar gorda e então perderei meu único pretendente, e então, meu caro Aragorn-sama, você que se autonomeou meu tutor, não conseguirá me arranjar um casamento, e terá que me agüentar para sempre.-

-Minha menina querida, acredite, tem mais pretendentes do que seus olhos podem ver…- ele disse, displicentemente entre uma mordida e outra

-Miyoru, sua doçura e beleza encantam até aqueles que não tem um coração, mas você certamente amará aquele que for melhor para você.

-Certamente!- Gimli bateu o cálice em que bebia na mesa -Você pode ter um gênio forte, menina, mas é uma bela garota e será uma bela mulher! Com todo respeito á senhora Arwen, mas mais bela que você, criança, só vi minha bela Senhora da Floresta!

-É isso aí! Um brinde a beleza de Miyoru!- e levantou Merry

-Não, meu amigos, um brinde sim!- ela se levantou, com a taça na mão -À Paz, e á Vitória!

-A paz!- Arwen, Merry, Pippin , Frodo e Sam ergueram as suas taças

-A vitória!- Aragorn, Gandalf , Gimli e Legolas também ergueram ás suas, e todos brindaram, naqueles dias não tão negros, á paz dos dias que, certamente, sempre vem, às vezes tardiamente, mas sempre vem.

-Mas eu acho…- Miyoru bebeu um gole de sua taça, fazendo então uma cômica careta pelo gosto forte, como se seus olhos revirassem -Ai, começo a sentir saudades do detestável sakê…Bem, como eu dizia, eu acho que devemos atacar!

-Como os jovens sempre tem um fogo pelo atacar, ser o primeiro, ir na frente…- Gandalf deu um sorriso condescendente, mas em seus olhos negros brilhou, por um momento, uma chama de vivacidade, da mesma jovialidade de Miyoru.- Mas…não se preocupe, minha criança querida, e acalme seu coração, porque o combate ao qual anseias, ao qual tememos, chegará, e dentro em breve…sim, talvez muito mais que imaginamos…

Todos escutaram atentamente, enquanto Gandalf voltava, com seu velho costume de falar para si mesmo, e a atenção dos outros envergou por outros caminhos.

Depois de um silêncio mórbido, um dos homens que estava no recinto perguntou, áspero -Acredita realmente que eles irão vir á nos?

-Eu acredito que sim.- e o segundo daquela sala sorriu, simplesmente

-Você é idiota? Eles lá tem motivos para vir aqui? Cair numa armadilha? Seria burrice…- o primeiro voltou a falar

-Não…se eles tiverem um pequeno incentivo.- novamente o sorriso, tão bem empregado…

-Como assim?-

-Nosso pequeno pássaro tem um coração pulsante e bem emotivo. Ela virá…se achar que tem algo aqui que valha a pena arriscar sua vida para salvar…

O terceiro ergueu a sobrancelha, curioso

-Digamos que eu trouxe uma coisa…preciosa…para a nossa menina…- ele deixou as palavras no ar, e ao fundos, de repente, puderam se ouvir sons de gritos, alí mesmo, mas num canto tão distante…

-Ne! Mou! Yamero, omae wa korosu! CHIKUSO!-

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