Elfos na Mitologia Nórdica

Escrito por Fábio Bettega
Völund
Este é o primeiro de uma série de artigos sobre os Elfos externos à obra de J. R. R. Tolkien, retiradas de mitologias que serviram de inspiração para alguns aspectos do grande legendarium Tolkieniano.
 
 
A descrição mais antiga existente dos elfos vem da mitologia Nórdica.
Em Nórdico Antigo eles são chamados álfar (no singular nominativo álfr)
e embora não existam descrições mais antigas ou mesmo contemporâneas, a
existência de seres etimologicamente relacionados aos álfar em vários
folclores posteriores sugere fortemente que a crença em elfos era comum
entre todas as tribos Germânicas, e não limitada apenas aos antigos
Escandinavos.

Embora o conceito em si nunca seja claramente definido nas fontes
existentes, os elfos parecem ter sido concebidos como seres humanóides
poderosos e belos. Os mitos sobre os elfos nunca foram registrados.
Homens famosos podiam ser elevados à posição de elfos após a morte,
como o rei Olaf Geistad-Elf. O herói ferreiro Völundr é identificado
como ‘Regente dos Elfos’ (vísi álfa) e ‘Rei dos Elfos’ (álfa ljóði), no
poema Völundarkviða, cuja prosa introduzida tardiamente também o
identifica como rei dos ‘Finns’, um povo Ártico respeitado por sua
magia xamânica. Na Saga de Thidrek uma rainha humana se surpreende ao
descobrir que o amante que a engravidara é um elfo e não um homem. Na
Saga de Hrolf Kraki um rei chamado Helgi estupra e engravida uma elfa
vestida em seda que é a mulher mais bela que ele já vira.

A reprodução entre as raças era, portanto, possível entre elfos e
homens na antiga crença Nórdica. A rainha humana que teve um amante
elfo deu a luz ao herói Högni, e a elfa que foi estuprada por Helgi deu
a luz a Skuld, que se casou com Hjörvard, assassino de Hrólfr Kraki. A
saga de Hrolf Kraki destaca que uma vez que Skuld era uma meio-elfa,
ela era bastante habilidosa em magia (seiðr), a ponto de ser
praticamente invencível em batalha. Quando seus guerreiros caíram, ela
os fez se erguerem novamente para continuarem lutando. A única maneira
de derrotá-la era capturá-la antes que pudesse invocar seus exércitos,
que incluíam guerreiros élficos.

Há também no Heimskringla e na Saga de Thorstein, Filho de Viking
registra uma linhagem de reis locais que reinavam sobre Álfheim, que
corresponde à moderna província Sueca de Bohuslän,e uma vez que eles
tinham sangue élfico é dito que eram mais belos que a maioria dos
homens.


A terra governada pelo Rei Alf era chamada Alfheim, e toda sua
descendência era relacionada aos elfos. Eles eram mais belos do que
qualquer outro povo…

O último dos reis é chamado Gandalf.

Em adição a estes aspectos humanos, eles são comumente descritos como
seres semidivinos associados com a fertilidade e o culto dos
ancestrais. A noção dos elfos portanto parece similar às crenças
animísticas em espíritos da natureza e dos mortos, comum a praticamente
todas as religiões humanas; isto também é verdade para a antiga crença
Nórdica nos dísir, fylgjur e vörðar (espíritos "seguidores" e
"protetores", respectivamente). Como espíritos, os elfos não eram
presos a limitações físicas e podiam atravessar muros e portas como os
fantasmas, como acontece no Norna-Gests þáttr. É dito que os elfos são
o equivalente Germânico das ninfas da mitologia Greco-Romana, e os vili
e rusalki da mitologia Eslava.

O mitógrafo e historiador Islandês Snorri Sturluson se refere aos anões
(dvergar) como "elfos da escuridão" (dökkálfar) ou "elfos negros"
(svartálfar); mas é incerto se isso reflete a crença medieval geral na
Escandinávia, Ele se refere aos demais elfos como "elfos da luz"
(ljósálfar), o que freqüentemente foi associado com a conexão dos elfos
com Freyr, o deus do sol (de acordo com Grímnismál, Edda Poético).
Snorri descreve as diferenças entre os elfos como se segue:

Freyr
"Há um lugar lá [no céu] que é chamado de Lar dos Elfos (Álfheimr). As
pessoas que vivem lá são chamadas de elfos da luz (Ljósálfar). Mas os
elfos da escuridão (Dökkálfar) vivem sob a terra, e são diferentes em
aparência – e ainda mais diferentes na realidade. Os Elfos da Luz são
em aparência mais brilhantes do que o sol, e os Elfos da Escuridão são
mais negros que betume." (Snorri, Gylfaginning 17, Edda em Prosa)

"Sá er einn staðr þar, er kallaðr er Álfheimr. Þar byggvir fólk þat, er
Ljósálfar heita, en Dökkálfar búa niðri í jörðu, ok eru þeir ólíkir
þeim sýnum ok miklu ólíkari reyndum. Ljósálfar eru fegri en sól sýnum,
en Dökkálfar eru svartari en bik."


Evidências adicionais sobre os elfos na mitologia Nórdica vêm da poesia
Escáldica, o Edda Poético e as sagas lendárias. Nestes os elfos são
ligados aos Æsir, particularmente pela frase comum "Æsir e os elfos",
que presumivelmente significa "todos os deuses". Alguns estudiosos
compararam os elfos aos Vanir (deuses da fertilidade). Mas no Alvíssmál
("As Citações do Todo-Sábio"), os elfos são considerados distintos
tanto dos Vanir quanto dos Æsir, como revelado por uma série de nomes
comparativos na qual Æsir, Vanir e elfos dão suas próprias versões pára
várias palavras em uma reflexão das preferências individuais de suas
raças. É possível que as palavras designem uma diferença em posição
entre os principais deuses da fertilidade (os Vanir) e os secundários
(os elfos). Grímnismál relata que Van Frey era o senhor de Álfheimr
(significando "mundo-elfo"), o lar dos elfos da luz. Lokasenna relata
que um grande grupo de Æsir e elfos se reuniram  na corte dos Æsir para
um banquete. Várias forças menores, apresentadas como Byggvir e Beyla,
que pertenciam a Freyr, o senhor dos elfos, e eram provavelmente elfos,
uma vez que não foram registrados entre os deuses. Dois outros servos
mencionados são Fimafeng (que foi assassinado por Loki) e Eldir.

Alguns especulam que os Vanir e elfos pertencem a uma antiga religião
Escandinava da Idade do Bronze Nórdica, e foram mais tarde substituídos
pelos Æsir como os deuses principais. Outros (mais notavelmente Georges
Dumézil) argumentam que os Vanir eram os deuses dos Nórdicos comuns, e
os Æsir os deuses daqueles pertencentes às castas dos sacerdotes e dos
guerreiros.

Um poema de aproximadamente 1020, o Austrfaravísur (‘Versos da
Jornada-Ocidental’) de Sigvat Thordarson, menciona que, como um
Cristão, lhe foi recusado abrigo em uma casa pagã, na Suécia, porque um
álfablót ("sacrifício aos elfos") estava sendo conduzido ali. Contudo,
não temos mais informações sobre o que um álfablót envolvia, mas como
outros blóts ele provavelmente incluía ofertas de comida, e o folclore
Escandinavo tardio manteve a tradição de sacrificar petiscos aos elfos.
A partir da época do ano (próxima ao equinócio de outono) e a
associação dos elfos com a fertilidade e os ancestrais, podemos assumir
que tinha a ver com o culto dos ancestrais e a força de vida da família.

Em adição a isto, a Saga de Kormáks registra que aparentemente se
acreditava que um sacrifício aos elfos seria capaz de curar um sério
ferimento de batalha:


Þorvarð se curava lentamente, e quando pode ficar de pé ele foi ver
Þorðís, e perguntou a ela o que seria melhor para ajudá-lo a se curar. "Existe uma colina", respondeu ela, "não muito longe daqui, onde os
elfos têm suas moradas. Pegue o touro que Kormák matou, e pinte o lado
externo da colina com seu sangue, e faça uma festa para os elfos com
sua carne. Então você será curado".

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