Tributo a Angus McBride

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Escrito por pandatur
ANGUS McBRIDE (1931–2007)

A notícia da súbita morte de Angus, em 15 de maio deste ano, próximo a
Waterford na República da Irlanda, foi um choque terrível para seus
amigos e colegas. Todos que o conheciam, profissional ou pessoalmente,
desejam juntar-se a mim em expressar a profunda tristeza e dar todo o
apoio à sua esposa Patricia e aos filhos Ian e Fiona, ao seu genro
Neil e aos dois netinhos de Angus. Angus era uma pessoa tão viva e de
personalidade tão marcante que deixa um vácuo doloroso nas vidas de
seus amigos e família.

 

Não é nem o momento ou o lugar, nem sou eu a pessoa apropriada para
escrever um discurso fúnebre formal. Um resumo breve dos principais
acontecimentos da vida e trabalho de Angus nos últimos cinco anos pode
ser encontrada no Prefácio do livro Warrior & Warlords: The Art of Angus McBride
(Osprey, 2002). Eu quero simplesmente lembrar aqui alguns pensamentos
que passaram pela minha cabeça nestes primeiros dias pós-choque, do
ponto de vista de um colega e amigo com mais de vinte anos de estrada.

Angus era um talento condutor na grande geração de ilustradores
britânicos que emergiram nas décadas de 1950 e 60, onde ganhou atenção
do público pela primeira vez nas páginas das clássicas revistas
educacionais Look and Learn (Olhe e Aprenda) e Finding Out (Descobrindo
Coisas), revistas costumazes em lançamento da carreira de vários outros
ilustradores. Diferindo em um ano, ele foi contemporâneo de Ron
Embleton (1930-1988) e uma década mais velho que Richard Hook e Gerry
Embleton. Estes homens foram colegas próximos e amigos íntimos por
vários anos, e eu fico orgulhoso em dizer que eles também são meus
amigos. Eles foram a contribuição central da longa jornada que Osprey
empreende desde os dias quando o catálogo consistia basicamente de
séries simples, com pouco mais de 50 títulos em sua lista de impressão
e nenhum título certo em continuidade. Eles nunca foram tão importantes
quanto em 1970 e 1980, quando a maioria das escolas de arte haviam
desistido de ensinar a desenhar modelo vivo, e os ilustradores da
geração de 1950 foram únicos com as habilidades necessárias para lidar
com trabalhos sobre criaturas imaginárias e fantásticas.

Angus possuía um talento nato, mas ele teve de trabalhar duro e com
muita paciência por anos até desenvolver sua arte e construir uma
carreira. Órfão aos 12 anos, ele não teve chance de freqüentar uma
escola de arte, mas conseguiu trabalho fazendo chá ou qualquer outra
tarefa que houvesse em um estúdio de publicidade. Em 1940 não havia
essas coisas de carreira garantida: um artista tinha de aprender de
especialistas como manusear lápis e pincéis, tintas e superfícies, e em
1940 ele começou a fazer trabalhos regulares como um ilustrador de
propagandas. Não poderia haver melhor forma de desenvolver sua
versatilidade, velocidade e confiança em si mesmo.
Depois de voltar da África do Sul em 1961 após vários anos ausente –
com família consitutuida completa, mulher e filho – ele logo percebeu e
aproveitou as oportunidades que se abriam, justamente para o tipo de
trabalho que ele descobrira e mais amava, a saber as áreas de
ilustração histórica e mitológica (apesar de que ele podia, e fazia,
qualquer coisa). Pelos próximos 40 anos, sua reputação aumentou
continuamente, sendo reconhecido como um profissional extremamente
confiável até a de um respeitado e profundo “ancião da tribo” de sua
arte, cujo trabalho era conhecido (e avidamente colecionado)
internacionalmente. Um crítico francês chamou-o de “mago McBride”, e
quando você estuda a forma como ele manejava reflexões de luzes, e como
ele chamava a atenção do observador precisamente para onde ele queria,
não parece ser exagerado o elogio. Ao saber sobre sua morte, um
experiente e talentoso ilustrador que nunca encontrou-o na vida, me
disse que era “como se uma grande árvore tivesse subitamente tombado”.
Angus não possuía apenas talento e o raro dom do entusiasmo eterno, mas
a coragem e a resistência de uma vida inteira de dedicação – em um
laborioso e perseverante trabalho de aprimoramento. Mais que isso, em
um campo competitivo como o dele, ele nunca foi egoísta com seu talento
ou suas conquistas, mas uma pessoa generosa e que encorajava todos que
procuravam seu conselho.
Foi minha sorte ser apresentado a Angus por Gerry Embleton, em 1975, em
um tempo em que, sendo um editor relativamente jovem, eu estava ansioso
em levantar a qualidade da série de livros Men-At-Arms
(o trabalho onde ambos os irmãos Embleton ficariam bem conhecidos dos
leitores Osprey). Angus primeiro escreveu e ilustrou MAA 57, A Guerra
Zulu: ele continuou a ilustrar vários outros títulos, dos quais o
último foi o 436, As Cruzadas Escandinavas Báltica 1100-1500. Aquele
livro, e vários outros sobre assuntos antigos e medievais que eram o
deleite de Angus, tinham a arte pesquisada e redação escrita pelo Dr.
David Nicolle – que conheceu o trabalho de Angus pelo seu próprio pai,
o ilustrador Pat Nicolle, nos dias de Finding Out. Angus por sua vez,
apresentou-me a Richard Hook. Ele e mais tarde seu filhos Adam e
Christa, também contribuíram enormemente para os livros da Osprey. Onde
quero chegar com tudo isto é simplesmente celebrar todas esas amizades
duradouras, nascidas do respeito mútudo e gostos de um grupo de pessoas
talentosas, pessoas que tiveram a paciência de aprender como trabalhar
de forma honesta, da maneira como faziam nossos avós.

Em 1976, no meio de outra década amarga para contos de fada na
Inglaterra, Angus, Pat e seus dois filhos voltaram para Cape Town, mas
ele continuou a trabalhar regularmente para clientes antigos e novos da
Bretanha e do exterior. Visitas esporádicas de ambas as partes, eram
uma alegria. Nunca me esquecerei da generosidade de McBride em 1982,
quando eu sofria de esgotamento profissional, e precisava
desesperadamente do sol e ar puro do mar que eles me deram.

 
Conversar com Angus era um elixir mental. Não era somente em seu
trabalho diário que ele tinha profundo conhecimento e talento. Sua
mente era aberta, abraçando tudo desde música e teatro até Egiptologia
e ocultismo. Ele era curioso com tudo, e tinha o dom de compartilhar
seu entusiasmo. Ele tinha o olho de um artista para a beleza, tanto
natural quanto humana, e sua excitação nela enriquecia sua vida e a
vida daqueles ao seu redor.

Até que por fim, a família McBride decidiu que eles não conseguiriam
viver felizes no que tornara-se um país imprevisível. Seus dois filhos
agora vivem nas Ilhas Britânicas, e há nem um ano atrás juntaram-se a
eles Fiona e sua família, na paz da vida do interior da Irlanda. Eles
mudaram-se alegremente para o lar construído para eles, e ali, poucos
dias após seu 76º aniversário, enquanto dava uma pausa para a prancheta
de desenhos e desfrutava a vista e a vida selvagem de seu jardim, Angus
faleceu vítima de um ataque cardíaco sem aviso.

Ele era vivaz, divertido, infinitamente interessado e interessante, e a
companhia mais maravilhosa que uma pessoa pode ter na vida. Você é um
sortudo se encontrar alguém como Aguns uma ou mesmo duas vezes na vida,
e eu sentirei falta dele imensamente.

 
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Martin Windrow (1944- ) é um historiador britânico, editor e autor de uma centena de livros, artigos e monografias, particularmente aquelas de detalhes organizacionais ou físicos da história militar, e a história da Legião Estrangeira Francesa pós-guerra. Seu trabalho mais notável é The last valley, um relato da Batalha de Dien Bien Phu, durante a Primiera Guerra da Indochina, publicado em 2004 e aclamado pela crítica. (Fonte: Wikipedia)
 
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