Tamanho é Documento?

Escrito por Fábio Bettega
 
Bela decisão eu tomei quando semana passada eu voltei a escrever uma coluninha. Tinha esquecido o quanto é gratificante despertar algum tipo de discussão, que é o motivo da existência dessa coluna. Não exatamente a busca da polêmica como objetivo final (como o Diogo Mainardi na Veja, por exemplo), mas a expressão de uma opinião pessoal basificada gerando com isso discussões construtivas, sendo a coluna um lixo ou não. E desde que escrevi a última coluna sobre E o Futuro, a Quem Pertence? ela tem sido lido mais de 250 vezes por dia!

Pensando um pouco sobre discussões, colunas, cara-a-tapa e outros, me dei conta do quanto as danadas das versões estendidas do SdA têm sido discutidas, sobrando farpas e conclusões para todo o lado. Por que não dar uma esmiuçada em tudo, tentando traçar um painel geral atual do que está acontecendo? Temos alguns ângulos a analisar em nossa coluninha de hoje, que é publicada religiosamente sem data nenhuma marcada e sim quando me dá na veneta.

Antes de mais nada, é estendido, com "s" de sapo. Em português não existe a palavra extendido, com x de "aquela mulher cujo nome não deve ser dito mas que a cada ano adia a estréia do SdA por causa de seus filmes bobos embora a Warner alegue que não seja isso" (bom, vocês sabem de quem eu estou falando). Embora a raiz latina seja a mesma, extendere, em português temos estendida e em inglês extended, e se você faz absoluta questão de usar x eu recomendo o uso de expandida, assim todos ficaremos felizes (e gramaticalmente corretos).

Só para o caso de você, meu nobre mas avoado Leitor, ter vivido nos últimos meses em algum mosteiro no Nepal e não saiba o que são as versões estendidas do filme do Senhor dos Anéis, gasto um ou dois paragrafozinhos para explicá-las. Por mais que o PJ diga que não, as versões estendidas são "directors cut", edições do diretor ou o filme que o diretor gostaria de poder ter apresentado no cinema. A versão estendida do primeiro filme ("O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel" – SdA:SdA) possui 30 min de cenas extras enquanto o segundo filme ("O Senhor dos Anéis: As Duas Torres" – SdA:ADT) possui ainda mais, 43 min e, de acordo com o que temos lido atualmente, acredito que podemos esperar uma versão estendida de "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei" ainda com mais cenas extras, beirando os 60 minutos.

E o que essas versões estendidas têm de mais? Podemos ter uma idéia da quantidade de cenas extras ao ler esta notícia do Kanawati sobre o conteúdo do DVD estendido de SdA:ADT. De fato são muitas cenas que, por algum motivo (discutidos mais além), não foram apresentadas no cinema.

Estas versões são mais fluídas dos que as apresentadas nos cinemas mas também mais lentas. São mais fiéis à obra escrita mas talvez sejam absolutamente soporíferas para alguém que não está interessado se o filme é ou não baseado em uma obra literária (ou vice-versa) e busque apenas diversão. Minha condição de fã não me permite ter uma visão muito clara sobre isso. Algumas opiniões coletadas aqui e ali entre não-fãs variam entre "dormi", "legal mas fiquei um pouco perdido", "indispensável" e "um crime não terem saído no cinema. De meu lado afirmo tranquilamente que são infinitamente melhores do que a edição picotada e oficial.

Alguma controvérsia tem sido criada sobre as versões estendidas, acusando-as de serem meramente jogadas de marketing para aumentar os lucros com as vendas dos DVDs, uma vez que seriam vendidos DVDs com as versões normais (aquelas apresentadas nos cinemas) e outra mais cara, convenientemente lançada alguns meses após a versão normal, mas cuidadosamente colocada de forma a servir de propaganda para os filmes no cinema (até agora elas foram lançadas cerca de um mês antes da estréia do filme seguinte no cinema) e tendo algumas cenas especialmente reservadas para elas como chamariz (como Lothlórien, no caso de SdA:SdA). Outros defendem que devemos todos ser gratos por termos tais versões estendidas ao nosso alcance.

Eu acredito que a "explicação" é na verdade uma mistura de ambas as afirmações. É muita inocência acreditar que poderíamos ter nos cinemas, de forma comercialmente viável, um filme com cerca de 4 horas de duração, simplesmente porque representaria uma sessão a menos por dia. Um filme de 4 horas permite umas três sessões/dia enquanto um de 3 horas consegue ter quatro sessões/dia. Até mesmo o "intocável" Lawrence da Arábia foi picotado de 3:45 h para cerca de 3:20, para ser apresentado no cinema. A princípio ele foi cortado pelo próprio diretor, mas como os cinemas não consideraram os cortes como suficientes, cortaram um tanto também por conta própria, de forma que só tivemos a versão original, aquela de inteção do diretor, mais de 20 anos após o lançamento do filme nos cinemas. A idéia é ganhar o máximo no menor tempo possível, afinal a fila de lançamentos não pára.

O que ocorreu no caso dos "O Senhor dos Anéis" foi uma junção de interesses (do estúdio) com interesses (dos cinemas) com interesses (do diretor). Peter Jackson (PJ para os íntimos, que por sinal é o diretor dos filmes, caso nosso gentil e monástico Leitor não o saiba) é fã da obra e gostaria de apresentá-la da maneira mais "intacta" possível, como deixou bem claro várias vezes. Ele conseguiu que fossem três filmes e não um, o que é algo surpreendente, tendo-se em vista Hollywood, mas também teve que fazer concessões de marketing, afinal o filme não é simplesmente uma obra de arte de um fã abnegado, ele tem que se pagar e gerar algum lucro aos investidores. Aí que eu acho que está a boa jogada de Peter Jackson: ele joga os filmes "que ele gostaria de ver no cinema", mas que por vários motivos não é possível, em uma edição especial de DVD o que gera lucros extras para o estúdio. Lógico que é uma jogada arriscada, pois se o SdA:SdA tivesse naufragado nas bilheterias duvido muito que ouvíssemos falar de alguma versão estendida.

Portanto o mesmo mundo porco e capitalista que picota um filme para que se encaixe nos padrões de tempo e audiência dos grandes estúdios nos proporcionaram de maneira rápida a "versão do diretor", que, pra sorte nossa, é um fã da obra. E o diretor que hoje faz um filme sem já pensar de algumas forma em edições de DVD pode ter a liberdade de tacar a primeira pedra.

Só um intervalo, antes de continuarmos nossa viagem pelas versões estendidas, agora dentro do Brasil. Falando como falo dá a n&i
acute;tida impressão que sou um fã incondicional dos filmes e do Peter Jackson, não é? Bom, eu acho que me rendi, de uma certa maneira, ao considerar o livro "O Senhor dos Anéis" uma entidade à parte dos filmes "O Senhor dos Anéis". Eu escrevi um texto de certa forma defendendo o filme chamado É o Filme MALIGNO?, irmão gêmeo de outro, chamado de Queime, PJ, Queime! justamente detratando os filmes e seu diretor. Enfim, acho que cansei dessa controvérsia em particular.

Agora eu devo entrar por um assunto infeliz e cansativo, embora inescapável. E nós aqui no Brasil, cadê nossas versões estendidas? Essa maldita questão (em todos os variados sabores que esta palavra pode assumir) tem mais de ano e já era tão batida em dezembro de 2002 que eu me vi forçado a criar um textos sobre ela, que ainda se encontra de certa forma atual, SdA:SdA – Tudo o Que Você Queria Saber sobre o DVD (Estendido ou Não) que se tornou, lamentavelmente, o texto mais lido da história da Valinor. Agora mesmo me surpreendo em verificar que já em setembro constava nele a notícia da apresentação cinematográfica da versões estendidas no Brasil… que coisa!

Ao ler esta presente coluna talvez a encontre-a desatualizada, pois as notícias mais atuais que temos neste momento são que as versões estendidas serão apresentadas em poucos cinemas de poucas cidades durante pouco tempo (nenhum desses "poucos" foi definido pela Warner Bros. até o momento) a partir do dia 12 de dezembro de 2003. Já as versões estendidas em DVD não nos dão qualquer esperança. Não temos sequer uma palavra mesmo que extra-oficial da Warner Bros. com relação a elas (repare que em setembro já tínhamos boatos sobre as apresentações cinematográficas).

Por que, raios trovões largartos e morcegos, por que, malditos sejam para toda a eternidade, por que, crias de Morgoth, não temos essas versões estendidas em DVD no Brasil? O mais cruel de tudo é que não se sabe a resposta real e definitiva. Desde final de 2002 temos os profetas do apocalipse afirmando a altos brados que "no mês que vem sai" e "tenho informações quentíssimas de um primo dum amigo dum porteiro dum funcionario da Warner" mas infelizmente até agora nada. O que a Warner afirma, de maneira bastante tímida há mais de um ano é que a "New Line não liberou" e/ou "problemas de licenciamento impedem o lançamento no Brasil" o que, no final das contas, são a mesma desculpa.

A Warner já foi acusada de tudo pelos fãs, passando de "burra" por perder negócio tão bom não lançando os DVDs a "monstra" (por, segundo alguns, intencionalmente nos torturar não os lançando no Brasil) mas o que sabemos é que até agora, nada de DVDs e nada de boatos sobre os DVDs, embora o lançamento das estendidas nos cinemas tenha dado uma nova esperança, totalmente desprovida de basificação oficial ou boatérica, devo ressaltar, do lançamento dos DVDs. Eu por mim não sei mais o que dizer ou o que pensar. Acho que os DVDs ainda saem, mas não me surpreenderia se não saíssem. Acho que a Warner não mente ao afirmar que a culpa não é dela, mas não me surpreenderia se ficasse claro que mentiu. Acho que a Warner não é burra, mas não me surpreenderia se o fosse. Fica só minha grande esperança de que os DVDs saiam e o que saiam o quanto antes. Eu por mim fico aqui na minha (agora) quieta ansiedade, espiando mensalmente a revista de lançamentos da Warner destinada às locadoras, na qual constam os lançamentos em DVD com uma antecedência de dois meses.

Infelizmente essa minha coluna será majoritariamente discutida (se o for) apenas tendo como base esses dois ou três últimos parágrafos, mas não cabe o autor decidir sob que aspecto um texto será discutido pelos leitores do mesmo. O que me resta é fazer uma conclusão, se possível com uma frase engraçadinha ou espirituosa, e portanto lá vai: após ter assistido a ambos os DVDs estendidos a única certeza que fica é que sim, o tamanho influi no prazer proporcionado (ok, podem atirar agora).

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