Valinor resenha O Retorno do Rei

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Escrito por Cassiano Ricardo Dalberto
[ Este texto foi publicado em formato de três notícias na Valinor e agora seu conteúdo foi unificado em um texto único e longo. A formatação e piadinhas foram mantidas para não prejudicar o texto original do autor. As notícias originais podem ser vistas em:

Valinor resenha "O Retorno do Rei" – parte I

Valinor resenha "O Retorno do Rei" – parte II
Valinor resenha "O Retorno do Rei" – parte III ]
 
 
É exatamente o que vocês estão pensando, pessoal. Hoje (aliás, ontem, porque já passou da meia-noite), tive a alegria e o privilégio de assistir a pré-estréia de imprensa de "O Retorno do Rei", das 9h45 às 13h. Esta a primeira parte das minhas impressões (e descrições!) sobre o filme – peço desculpas a todos pela demora, mas o dia foi pesado pra burro!

Bem, antes de mais nada, é bom avisar: SPOILERS E MAIS SPOILERS À FRENTE!

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OLHA OS SPOILERS!

Não digam que eu não avisei! Vamos à cena então.

Pra começar, sintomático da loucura circundando esses filmes e da dimensão gigantesca que a Trilogia do Anel ganhou foi que a gente não conseguiu assistir a cópia definitiva do filme, que, segundo a Warner, acabou ficando presa na alfândega e não foi liberada a tempo. A nossa versão era uma "cópia de trabalho" com marcas dágua – WB Brazil no canto esquerdo superior e Marcia Sandy (não me perguntem quem é!) no canto direito inferior. Por sorte, foi possível se habituar a essas marcas e assistir o filme decentemente.

Nossa história começa com uma minhoca se debatendo – não, não é arte conceitual, apenas o flashback da dupla Sméagol e Déagol preparando as iscas de seus anzóis nos Campos de Lis. Finalmente podemos ver Andy Serkis com seu verdadeiro rosto interpretando o hobbit. Os dois estão no seu barquinho quando um peixe dos grandes arrasta Déagol para o fundo do rio e ele agarra o Anel, trazendo-o para a margem.

A coisa é extremamente bem-feita e quase uma cópia da descrição dada por Gandalf em "A Sombra do Passado". Estranha, no entanto, é a voz de Sméagol – já idêntica à que ele tem como Gollum. "Dê ele pra nós, Déagol, meu amor", sussurra o hobbit – e uma luta violenta, tensa e muito bem-feita tem início. A gente já sabe o resultado – Sméagol estrangula seu parente e toma seu Precioso.

A sucessão é assustadora – em poucos minutos, presenciamos toda a transformação horrenda do hobbit em Gollum, com direito a peixxxe devorado vivo, e a fuga dele para o interior das Montanhas Sombrias. Andy Serkis dá um show mais uma vez, com maquiagem, o que faz pensar que o cara teria segurado perfeitamente a barra do personagem sem o computador.

Voltamos para o Gollum do presente ao lado de Frodo e Sam. Os hobbits estão se encaminhando para Minas Morgul e além e Sam tenta fazer com que Frodo coma um pouco de lembas. O detalhe do pão-de-viagem élfico logo vai se tornar importante – vocês vão ver por que em breve.

Corta para uma floresta estranha, meio fora de lugar, embaralhada – na verdade, parece ser a "mata" artificial de huorns que Théoden, Aragorn, Gandalf e os demais cruzam para chegar à Isengard. "O Retorno do Rei", o título, finalmente aparece na tela enquanto todos se aproximam de Merry e Pippin, comendo e bebendo em meio aos despejos. "Bem-vindos, meus senhores, à Isengard", diz Merry – a dupla parece ter bebido um pouquinho a mais e agora está aproveitando seu cachimbo.

Gandalf aproveita para deixar Isengard e Saruman nas mãos de Barbárvore, dizendo que o mago não é mais uma ameaça. Confesso que não senti falta do confronto entre os dois Istari. Pippin vê, no fundo do "lago" que cerca Orthanc, o palantír brilhando e o pega, mas Gandalf logo retoma o artefato. Dá pra ver na cara do jovem Tûk, no entanto, que ele está louco para dar uma nova olhada.

Voltamos para Edoras. As imagens são lindas. Théoden pede que todos "honrem os mortos vitoriosos" no Abismo de Helm e Rohan celebra o triunfo, enquanto Éowyn leva uma taça para Aragorn – "Waesthu hál!", diz ela. Merry e Pippin não se fazem de rogados e dançam em cima de uma mesa, cantando uma canção sobre a famigerada taverna do Dragão Verde no Condado!

Enquanto todos estão dormindo, Pippin se prepara para fazer besteira. Ele pega o palantír dos braços de Gandalf, olha e dá de cara com o Olho. O efeito, para ser bem sincero, é meio tosco: é como se Pippin tivesse segurado um fio desencapado e estivesse levando um choque da pedra. Ele começa a gritar e o barulho acorda os outros. Aragorn tenta tirar o palantír e leva o mesmo "choque", deixando a pedra cair – é aí que Gandalf intervém cobrindo-a com um manto e resolvendo o problema.

O incidente faz com que um conselho de guerra se reúna. Peter Jackson parece mesmo teimar em exibir um Théoden relutante, que diz não ter certeza de que valeria a pena mandar ajuda para Gondor… De qualquer maneira, Gandalf decide partir para falar com Denethor e leva o pobre Pippin junto com ele. A despedida dele e Merry é de partir coração de pedra.

Nisso, temos dois fios narrativos paralelos rolando. Um é Osgiliath: Faramir tenta impedir que a velha cidade seja retomada por orcs de Mordor. O combate é emocionante, mas os Dúnedain do Sul não têm a menor chance e acabam tendo que recuar. Detalhe: o líder dos orcs é a cara do Slot, de "Goonies"! Talvez seja uma homenagem de PJ.

A outra trama, claro, é a de Frodo, Sam e Gollum. As discussões esquizofrênicas do hobbit corrompido recomeçaram enquanto Frodo e Sam dormem, só que dessa vez Sam o escuta e parte para cima dele. Sam é violento em demasia e chega a arrancar um pouco de sangue da testa de Gollum – um exagero, na minha opinião. Sméagol, é claro, nega, e Frodo o defende. Fica claro que Gollum está usando toda a sua malícia para envenenar lentamente Frodo contra Sam, mas nada sério acontece – ainda.

A cena agora é uma floresta por onde um cortejo élfico passa – são os elfos de Valfenda escoltando Arwen para os Portos! Undómiel, no entanto, têm uma visão do futuro que poderia haver se ela ficasse – o pequeno Eldarion, seu filho, brincando ao lado de Aragorn. Confesso que derramei as primeiras lágrimas nesse ponto – e a elfa volta para Valfenda e tenta convencer Elrond a reforjar Narsil para ajudar seu amado.

O senhor de Valfenda continua pessimista, mas de repente Arwen sofre uma tontura – e a maior forçação de barra desta adaptação acontece. Elrond segura a mão da filha e
diz "a vida dos Eldar a está deixando! Enquanto o poder de Sauron cresce, sua força diminui!". HEIN??? COMO ASSIM??? Na ânsia de consertar a própria cagada (um Elrond não só relutante, mas covarde e totalmente pessimista que não quer ajudar), a equipe de produção precisou achar uma razão irrefutável para que o meio-elfo concordasse em ajudar na luta contra Sauron, e se saiu com essa. Desnecessário dizer que não faz o menor sentido. Mas tudo bem, finalmente a espada de Elendil é reforjada; nasce Andúril, a Chama do Oeste.

Ufa! Por enquanto chega! Até Tolkien-repórteres precisam dormir. Mais no decorrer do domingo, pessoal!

Estamos de volta, amigos da Valinor! Antes que alguém queira me amaldiçoar até a octagésima geração, esclareço que precisei dar uma palestra de manhã e trabalhar que nem louco a tarde inteira na Folha. Cisne sofre…

Mas vamos à cena. Que agora se volta outra vez para Mordor (o vaivém é comum, mas não se torna irritante, graças a Eru). Os hobbits e Gollum escalam o caminho tortuoso até Torech Ungol e recomeça o lento "envenenamento" de Frodo contra seu fiel escudeiro. "O hobbit gordo vai pedir o Anel do mestre para carregá-lo", diz o pérfido Gollum. Frodo faz uma cara incrédula, mas fica claro que vem merda pelo caminho.

Pra aliviar um pouco o clima, Gandalf e Pippin chegam à Cidade Branca. Minas Tirith é lindíssima, e a fidelidade do cenário em relação à descrição que vemos no livro é absurda; há até o veio de pedra que corta todos os níveis, o Pátio da Fonte e a Árvore Branca perto da Torre de Ecthelion. Detalhe: ao olhar no palantír, Pippin diz ter visto a Árvore sendo destruída, e ele a reconhece agora. Antes de entrarem, um pouco de alívio cômico: Gandalf diz "Pippin, Denethor é o Regente, o pai de Boromir. É melhor não mencionar a morte dele. Também não diga nada sobre Frodo e o Anel. Ah, e não mencione Aragorn também… pensando bem, é melhor você não abrir a boca de jeito nenhum". Hilário!

Começa então outro problema sério do filme: Denethor. Mais uma vez a equipe mostra que tem dificuldade com sutilezas e retrata o sujeito como alguém completamente escroto, sem nobreza. Mesmo depois da oferta de serviço de Pippin (que Gandalf, aliás, até empurra para que ele pare!), ele NÃO aceita a ajuda do mago, diz que JÁ está sabendo de Aragorn e que não vai aceitá-lo (as frases, aliás, vêm direto do livro; pelo menos isso). Ah, e que NÃO vai acender os faróis pra pedir a ajuda de Rohan. O exagero é patente: tudo bem, Denethor era arrogante, mas só virou suicida no último momento.

Não vemos a transição, mas sabemos que Pippin acaba sendo aceito porque ele aparece numa sacada olhando a roupa de Guarda da Cidadela. "Eles não vão querer que eu lute realmente, não é, Gandalf?". O mago logo tira as ilusões de Pippin, mas confia ao Pequeno uma tarefa valorosa: acender os faróis!

A cena não está no livro e é até bastante inverossímil, mas as imagens compensam. Pippin escala furtivamente a torre onde está a madeira que inicia o sinal e consegue pôr fogo nela. Pronto: o farol de Amon Dîn se acende em resposta! E lá se vão eles, Erelas, Nardol e os demais, chama saltando de montanha em montanha em socorro de Gondor – é arrepiante só de lembrar! Aragorn vê de Edoras a última chama e corre, até perdendo o fôlego, para avisar Théoden. "Gondor pede ajuda!". Suspense e…. "E Rohan vai atender!". Ufa!

A reunião das tropas da Marca dos Cavaleiros começa. Éowyn prepara seu cavalo e Aragorn estranha. "É costume das mulheres da corte dizer adeus para os cavaleiros", disfarça ela. Aragorn vê, no entanto, que tem uma espada debaixo da sela, mas fica quieto. Éomer grita: "Juramentos vocês fizeram, agora o cumpram todos a senhor e terra" – outra frase idêntica ao do livro, faltou só o "a liga de amizade". Eles partem para o Templo da Colina.

Nisso, a retirada de Osgiliath começa a se aproximar dos muros de Minas Tirith. Os Nazgûl estão no encalço deles e as Bestas Cruéis chegam a arrancar cavaleiros da sela, ou até cavalos inteiros do chão. Gandalf põe Pippin sobre Scadufax (por que cargas dágua, só PJ sabe) e corre ao socorro dos cavaleiros. A luz de seu cajado afasta os Espectros e Faramir consegue voltar para dentro da cidade. Ele conta a Gandalf sobre a derrota e de repente vê Pippin. "Esse não é o primeiro Pequeno que você viu, não é?". Ele então conta a Gandalf sobre a ida de Frodo e Sam para o vale de Morgul e…

Corta de novo para as vizinhanças de Torech Ungol. Gollum tem a manha de pegar o lembas que sobrou durante o sono de Sam, espalhar migalhas no manto do hobbit e jogar o resto nas montanhas. Sam acorda, depois de algum tempo vê a merda que aconteceu e começa a estapear – aliás, a esmurrar com fúria – Gollum, diante do atônito Frodo. Gollum diz que Sam fica comendo escondido e, distraídamente, diz: "Oh! O que é isso?", apontando para uma migalha na capa de Sam. O coitado nega tudo. Pede para ajudar Frodo a carregar o Anel e aí a casa cai – Frodo diz que Sam não pode mais continuar a Demanda. O pobre hobbit chora amargamente enquanto Frodo e Gollum seguem em frente.

De volta para Minas Tirith, Pippin faz seu juramento de fidelidade – usando o belo texto tolkieniano – enquanto Denethor cobra de Faramir a derrota. Diz, na cara do filho, que preferiria que ele tivesse morrido no lugar de Boromir, e exige que ele tente retomar a cidade. Faramir sofre terrivelmente mas concorda. "Quando eu voltar, no entanto, pense melhor a meu respeito, pai". "Isso dependerá da maneira do seu retorno". O peixe morre pela boca…

Mais uma cena que me fez chorar convulsivamente: os cavaleiros liderados por Faramir partem passando pelas ruas de Minas Tirith e o povo joga flores no caminho deles; um ou outro guerreiro até pega as flores na mão. Lembrei de uma passagem do Evangelho, quando Jesus diz que lhe passaram perfume para prepará-lo para a sepultura – essas flores são a mesma coisa!

De volta à Torre Branca, Denethor come como um cachação (porco velho, pra quem não sabe) e pede que Pippin cante para ele. Ele obedece com relutância e a bela voz de Billy Boyd serve de fundo para o ataque suicida diante de milhares de orcs arqueiros – enquanto tomatinhos ficam estourando na boca do Regente e ele baba o sumo como se fosse sangue. Disgusting.

Claro que é um alívio voltar pra Rohan. Merry experimenta suas armas de cavaleiro incentivado por Éowyn, enquanto Éomer não bota a menor fé que o hobbit pode ajudá-los em batalha. Os cavalos estão inquietos pela proximidade da Dwimorberg, a Montanha Assombrada dos Mortos. Seis mil lanças se reuniram para ajudar Théoden – pouco contra a força de Mordor.

Aragorn é desperta
do no meio da noite por um mensageiro de Théoden. Ele chega à tenda do rei que, sem jeito, se despede, deixando-o a sós com um sujeito encapuzado. É Elrond! Ele conta sobre a doença de Arwen (blergh!), aconselha-o sobre as Sendas dos Mortos e sobre o exército que o herdeiro de Isildur pode granjear lá – e lhe passa Andúril! Dá para ler as belas runas na lâmina enquanto Aragorn a desembainha.

Ele tenta partir sozinho, mas Legolas e Gimli o seguem. Passando no meio dos incrédulos Rohirrim, eles atravessam a bruma em direção ao desfiladeiro onde está a Porta Proibida. Os cavaleiros chegam mesmo a dizer que não adianta lutar e se perguntam porque Aragorn está fugindo antes da batalha, mas Théoden diz que Aragorn está fazendo o que deve ser feito. "Podemos não ser capazes de vencer Mordor, mas os encontraremos em batalha mesmo assim". Uau!

Acompanhamos então os Três Caçadores em sua jornada até a Porta. "O caminho está fechado. Foi feito pelos mortos e os mortos o guardam!", diz Legolas. "Eu não temo a morte!", diz Aragorn, resoluto, e entra. Legolas o segue e fica Gimli. "Essa é uma coisa nunca ouvida antes, que um elfo entre debaixo da terra quando um anão não o ousa!", diz Gimli, e entra também.

Os três vão parar numa estranha construção de pedra quando os Mortos aparecem! O visual é fantástico: as criaturas usam armaduras, seu Rei é coroado, mas estão só ossadas, decadência à mostra. Desafiam Aragorn e ele brande Andúril – que se mostra capaz de "materializar" o Rei dos Mortos! Aragorn pede que eles lutem a seu lado e recuperem sua honra. Depois de certo suspense, eles topam.

Voltamos para Mordor. Agora, Gollum entra com Frodo na toca de Laracna e logo começa a se esconder nos corredores paralelos, desorientando o hobbit. Teias de aranha estão por toda parte (não diga, Cisne!) e Frodo caminha, um tanto perdido, até que de repente surge a filha de Ungoliant. Todas as palmas para PJ e o pessoal da Weta: o monstro é tudo o que você sonhou (ou seria "pesadelou"?) e mais. Frodo se apóia ofegante na parede, lembra-se do frasco de Galadriel e enfrenta o monstro com espada, coragem e Quenya: Aiya Eärendil elenion ancalima, sussurra. Começa a correr, se enreda num lugar cheio de teias, consegue cortar tudo com Ferroada e se esgueira para fora.

Gollum está lá fora esperando e Frodo pula para cima dele. Sméagol dá um jeito de embromar o pobre hobbit mais uma vez e Frodo poupa sua vida, caminha mais alguns passos e cai desmaiado. Numa visão, ele está em Lórien e Galadriel lhe estende a mão, sorrindo. Ele a pega com força e se levanta de novo, caminhando. Sente o perigo de novo à sua volta, mas é tarde demais – do alto das pedras, Laracna preparara seu golpe de ferrão e atordoa o hobbit, enrolando-o instantaneamente num casulo numa cena pavorosa.

Eis que chega Sam, que tomou Ferroada em suas mãos (o frasco na outra) e luta de forma emocionante com o monstro. Por um triz, ele consegue feri-la nos olhos e na barriga. Ela foge. Sam acha que Frodo está morto – é desesperador. Ouve a voz dos orcs, que acabam revelando que ele está só atordoado. Eles o carregam para a torre de Cirith Ungol.

Pessoal, aguardem para a próxima e última parte o final da saga. Ou "Como deixar os olhos de um sujeito inchados de tanto chorar". Vai valer a pena esperar, tenham certeza!

Bem, amigos da Valinor, estamos de volta para a sensacional última parte da nossa resenha de "O Retorno do Rei". Preparem-se para MEGA-SPOILERS!!!

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Todo mundo aí ainda, hein? Pois vamos lá.

É noite no Templo da Colina e Théoden se despede de Éowyn. Pede que ela cuide de Edoras: "Por muito tempo você a defenderá, se a batalha andar mal". A jovem tem uma tristeza de morte recobrindo seu rosto por causa de Aragorn, mas diz: "O que mais gostaria que eu fizesse, senhor?". Théoden se aproxima dela, carinhoso: "Gostaria que sorrisse novamente, e não chorasse por aqueles para quem a hora chegou. E nada mais de desespero", diz ele, tocando a testa contra a dela.

Os cavaleiros montam. Merry pede para seguir Théoden, em vão. "Cavalguem agora, cavalguem! Cavalguem para Gondor!", grita o rei. Um cavaleiro veloz agarra o hobbit e o coloca sobre seu corcel. "Minha senhora!", diz Merry – claro, é Éowyn. Não há o suspense em relação à identidade de "Dernhelm", mas, convenhamos, ia ficar difícil de fazer isso no cinema de forma crível. As roteiristas mandaram bem desta vez!

Voltamos para Gondor. As forças de Mordor, imensas, já cobrem o Rammas Echor, e à frente delas vai um cavaleiro solitário, ferido de flecha, arrastado por seu cavalo – é Faramir! Os gondorianos abrem rápido o portão e o pobre capitão de Gondor entra, sendo levado para o Pátio da Fonte. Denethor entra completamente em parafuso e começa a se lamuriar. Ordena que os homens abandonem seus postos (!!!). E aí vem mais uma falta de sutileza absurda da adaptação: Gandalf, emputecido (ok, com razão) dá TRÊS CAJADADAS NA CABEÇA DO REGENTE DE GONDOR e ainda faz uma cara do tipo "Humpf! Que viado esse sujeito!". Denethor se estatela no chão. O mago chama os soldados e organiza a resistência da cidade. Gandalf, pra todos os efeitos, agora é o general de Minas Tirith (nada de Imrahil. Snif!).

O exército de Mordor está perto do indescritível, tamanho é o horror que carrega. Imensas torres de guerra de madeira aproximam-se dos portões, orcs de todos os tipos urram e balançam suas armas (liderados por Gothmog-Slot, claro!) e trolls, muitos trolls horrendos e bem-armados empurram catapultas. Slot diz: "Não vamos deixá-los sofrendo lá dentro pensando nos prisioneiros. Homens, libertem-nos!".

E aí, meus caros, taí o que vocês queriam, como diria Galvão Bueno: cabeças dos Dúnedain mortos em Osgiliath, ainda com os belos capacetes de Gondor, voam para dentro das muralhas, instaurando o horror. E logo são seguidas por pedras imensas, que começam a esmigalhar as muralhas de Minas Tirith como se fossem de gesso. Muitos morrem. Gandalf logo reorganiza a resistência e Minas Tirith esmaga parte do exército e das torres com suas catapultas.

Voltamos para Mordor. Os orcs da torre remexem nos pertences de Frodo e brigam entre si, enquanto Sam se aproxima. No fim, só sobraram quatro nêgos ali dentro, e o pequeno hobbit consegue se aproximar. Ele mata os quatro – "Este é pelo sr. Frodo! Este é pelo Condado! E este é pelo MEU VELHO FEITOR!" – e conta a Frodo que conseguiu salvar o Anel. A dupla veste-se como orcs e inicia o longo caminho para a Montanha da Perdição.

No Pelennor, ntram em ação os Nazgûl, que, com seus gritos horrendos, põem os guerreiros de Gondor em pânico e derrubam muitos deles das muralhas, quebrando até as catapultas. Ao longe, monstros que lembram búfalos africanos deformados arrastam atrás de si Grond, o Aríete d
e Sauron, na forma de um lobo como descrito no livro. Os portões começam a ser martelados. Projéteis em chamas queimam parte da cidade. O portão cede e muitos orcs entram.

Nisso, Pippin, que já havia ajudado na defesa e matado um orc, corre para avisar Gandalf: Denethor quer queimar Faramir e a si mesmo! "Nada de longo sono de morte embalsamada para Faramir e Denethor!", diz o enlouquecido Regente – as falas vêm direto do livro. Gandalf e Pippin conseguem entrar em Rath Dínen. "Parem essa loucura!", grita o mago, enquanto Denethor e Faramir já estão encharcados de óleo e o fogo já começou a lamber a pira. Pippin não se faz de rogado: salta sobre a pira e arrasta Faramir consigo para fora. E aí vem outra cagada do filme: Denethor tenta enfrentar Gandalf, Scadufax empina e dá um coice com as patas dianteiras e lança Denethor sobre o fogo. Este sai correndo, em chamas, e se joga das muralhas – é quase como se Gandalf tivesse matado o Regente, meu Eru!

Os gondorianos tiveram que recuar até o segundo nível da cidade. Pippin e Gandalf, lado a lado, falam sobre a morte, e o mago usa palavras belíssimas para dizer ao hobbit que esta não é o fim de tudo – usando a mesma descrição de Valinor que aparece na chegada de Frodo no fim de "O Senhor dos Anéis" – um distante país verde sob um rápido nascer do sol. É lindo.

Mas, no meio desse desespero todo, um chifre soa! ROHAN CHEGOU! Lá no alto, perto da entrada do Pelennor, o sol nasce enquanto a hoste dos Rohirrim, imensa, se prepara para a batalha. Éowyn encoraja Merry. Théoden dispõe suas tropas. Discursa, como no livro, e o meu coração quer se despedaçar de alegria: "Lança será sacudida, escudo estilhaçado! Um dia de espada, um dia vermelho, antes de o sol raiar! Cavalguem agora, cavalguem para a ruína e para o fim do mundo!" Ele passa em revista os soldados, batendo sua espada contra as lanças deles: "Morte! Morte! MORTE!", ele grita três vezes, e Merry e Éowyn entram no coro. Esses sujeitos estão diante da morte certa e não a temem – mas a abraçam. Outro chifre é soado, seguido por milhares de outros…

… e o ataque de Rohan naquela hora foi como relâmpago na planície e trovão nas montanhas, e as hostes de Mordor gritaram, e o terror as tomou, e elas gritaram, e fugiram, e os cascos da ira cavalgaram sobre elas. Parece que os Cavaleiros vão chegar até o portão e acabar com o cerco, mas um grito selvagem faz com que eles virem suas cabeças. Mûmakil! Os selvagens homens de Harad chegaram com seus monstros imensos, e Théoden hesita. Mas isso não dura muito: os Rohirrim refazem sua linha de combate e ATACAM OS OLIFANTES num rompante sem igual de coragem suicida. Muitos morrem, pisoteados ou flechados pelos Haradrim, mas Éomer ordena que todos flechem as cabeças e os olhos dos monstros e a situação se reverte. Na confusão, Éowyn acaba perdendo Merry de vista.

Nesse momento chega o Rei Bruxo, e só Théoden ousa resistir a ele – em vão. Um golpe da Besta Cruel é suficiente para jogar Snawmana sobre o rei. O Nazgûl diz para o monstro: "Delicie-se com a carne dele!", mas eis que Éowyn grita: "Eu o mato se tocar nele!". "Seu tolo! Nenhum homem vivo pode me matar", diz o Rei Bruxo. Éowyn não se faz de rogada: três golpes de espada arrancam a cabeça da montaria alada do Espectro, que cai ao chão. Ele ergue sua maça, quebra o escudo da guerreira, mas Merry o atinge. Éowyn grita: "Eu não sou homem nenhum!" e enfia sua espada elmo adentro do monstro. Um grande mal parte da Terra-média.

Éowyn se aproxima do tio ferido. "Reconheço seu rosto! Éowyn!", ele diz, sorrindo. Ela quer curá-lo, mas ele replica: "Vou agora para junto dos meus pais, em cuja poderosa companhia não me sentirei agora tão envergonhado", e fecha os olhos para sempre. Palmas para os adaptadores que confiaram na força e emoção do texto tolkieniano.

De repente, vemos o rio Anduin atrás da cidade, e barcos com velas negras (os Corsários, que já tinham sido mencionados por Gandalf) aportam no Harlond. "Piratas nojentos, sempre atrasados", diz Slot. Mas quem salta do navio é Aragorn, filho de Arathorn, usuário da Espada Reforjada, o herdeiro de Elendil! Atrás dele vêm os Mortos trazendo terror aos orcs e seus aliados, não deixando ninguém no caminho. Legolas e Gimli matam inimigos aterrorizados à vontade e continuam a velha competição "quem mata mais".

De repente, um Mûmak se aproxima e Aragorn grita: "Legolas, acabe com ele!". E aí vem a forçada de barra mais divertida de toda a Trilogia: Legolas vai escalando o bicho como quem sobe uma escada, mata um por um TODOS os Haradrim que estão em cima dele, dirige-se à cabeça e acerta três flechas no côco do bicho, que despenca. Lépido, Legolas salta ao chão. Gimli olha com aquela cara e comenta: "Esse aí continua contando como um só!". Hilário!

Gandalf caminha pelo campo de batalha e Pippin encontra Merry. Aragorn libera os Mortos de seu fardo e todos partem para um conselho de guerra na Torre Branca. A decisão é unânime: atacar Mordor para distrair Sauron e permitir que Frodo cumpra sua missão.

Diante do Portão Negro, Aragorn, Legolas com Gimli na garupa, Gandalf com Pippin na garupa e Éomer com Merry na garupa desafiam Sauron. "Apareça! Que o senhor da Terra Negra apareça! Justiça há de ser feita com ele!", grita Aragorn. A única resposta é a abertura dos portões para revelar uma multidão incontável de inimigos.

Aragorn recua e organiza seu exército num círcula, como num livro, e discursa: "Vejo em seus olhos o mesmo medo que tiraria a coragem de mim. Um dia pode vir no qual a força dos homens falhe, no qual abandonemos nossos amigos e esqueçamos todos os laços do companheirismo, mas não é este o dia! Uma hora de lobos e escudos quebrados, na qual a Era dos Homens se despedace, mas não é este o dia! Por tudo o que vocês prezam nesta boa Terra, eu os conclamo a resistir, HOMENS DO OESTE!!!". E eu choro, choro, choro e acredito no que aquele bando de poucos e corajosos acreditam naquele momento.

"Por Frodo!", grita Aragorn – e ataca. Eles sofrem com o excesso de inimigos, reforçados pelos Nazgûl. Mas eis que chega Gwaihir, o senhor dos ventos! "As Águias! As Águias estão chegando", grita Pippin. Tudo agora é suspense.

Frodo e Sam vêem que Mordor está se esvaziando e conseguem seguir caminho. Começam a escalada. Perto das Sammath Naur, Gollum os ataca de novo mas Sam consegue impedi-lo. Frodo entra nas Fendas da Perdição, Sam pouco atrás. "O que está esperando?", diz o pobre escudeiro, enquanto Frodo hesita. Ele finalmente diz "O Anel é meu!" e desaparece! Gollum então salta sobre Sam e começa desesperadora luta com seu inimigo invisível. Morde seu dedo e o arra
nca. Enquanto olha maravilhado para o Anel, Frodo o ataca de novo, os dois se desequilibram e Gollum cai na lava ainda olhando maravilhado para o Anel, enquanto Frodo se segura na borda de pedra. Sam o puxa de volta.

Barad-dûr e o Olho caem em ruínas. O Portão Negro se despedaça. Todos gritam "Frodo", enquanto este e Sam escapam até um lugar cercado de lava, esperando o próprio fim. "Estou feliz que você esteja comigo – aqui, no fim de todas as coisas, Sam". As luzes se apagam na tela…

…mas não é o fim. Ouvimos alguns momentos depois o grito das águias que levam os hobbits e os salvam. Frodo acorda, em Minas Tirith, diante de um amoroso Gandalf. Toda a Sociedade reaparece e se abraça.

E vemos a coroação do rei Elessar, que canta a frase que Elendil disse ao chegar à Terra-média nas asas do vento: Et Eärello Endorenna utúlien! Sinome maruvan ar Hildinyar tennambar-metta! Arwen é trazida por Elrond até ele e os dois se beijam. Todos se curvam diante do rei, que chega até os hobbits. Aragorn fica atônito: "Meus amigos! Vocês não se curvam a ninguém!". E TODO O PÁTIO DA FONTE, lotado de generais, nobres e guerreiros élficos e humanos, se curva diante dos quatro viajantes do Condado. É lindo.

Um voice-over de Frodo conta rapidamente a volta deles para o Condado. No Dragão Verde, eles brindam juntos e Sam reencontra Rosinha, e se casa com ela. Frodo não consegue retomar sua velha vida, mas apenas escreve o livro. E num dia de outono, Gandalf chega ao Bolsão carregando numa charrete o bom e velho Bilbo. Todos os hobbits o acompanham até os Portos Cinzentos, onde Galadriel, Elrond, Círdan e Celeborn o esperam.

Eles sobem no barco e só então Sam e os outros percebem que Frodo está indo também. Eles se abraçam e choram, e Frodo dá um beijo na testa de Sam, passando-lhe também o livro: "As últimas páginas são para você". Eles partem para o Oeste e Sam volta para casa, ouvindo ainda a voz de Frodo: "Você não pode continuar sempre dividido em dois Sam. Tem tanto ainda para aproveitar, e fazer – e ser". Sam abre o portão, Rosinha, Elanor e sua outra filhinha esperando por ele. Ele suspira: "Bem, estou de volta". E a porta se fecha atrás de nós. E eu, ao invés de chorar, sorrio.

O que dizer depois desse carrossel de emoções? Só posso ser grato, apesar das muitas falhas do filme, que existem, pelo espírito ter se mantido tão fiel, ao menos nesse capítulo final. E por ter vivido para ver uma das maiores histórias de todos os tempos ganhar vida. A força emocional de quem acredita no que está sendo dito e contado – essa é a dádiva de "O Senhor dos Anéis", e dos filmes que o livro fez nascer.

Nai Anar caluva tielyanna,

Reinaldo/Imrahil.

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