Comparações Tolkenianas

Escrito por Fábio Bettega
Os trabalhos de Tolkien são todos escritos em
estilos bem diferentes – “O Hobbit� é escrito como um conto de fadas,
“O Senhor dos Anéis� possui um tom mais sombrio e introduz moralidade e
sacrifício, “O Silmarillion� traz conceitos complexos de endeusamento e
religião. Este texto compara os trabalhos de Tolkien em matéria de tom,
conteúdo e valores.
 
 
 
A Demanda como Conto-de-Fadas: O Hobbit

“Tematicamente, “O Hobbit” refere-se primariamente à maturidade
crescente. À medida que Bilbo viaja com os anões, passando por
aventuras com trolls, goblins e aranhas gigantes, ele muda; de um
assustado, passivo, e inofensivo amante do conforto doméstico para um
corajoso, realista e ativo planejador de eventos que está disposto a
assumir responsabilidade por si próprio e pelos outros.” (Crabbe 31-32)

“Contos-de-fada são histórias que acontecem em um mundo – Um
mundo em que a natureza está viva de uma forma quase humana, e as leis
que governam o homem e a natureza não são iguais às do mundo que
ocupamos. Dessa forma, no mundo dos contos-de-fada, animais podem
falar, mágica pode acontecer, pessoas podem voltar à vida, ou viver por
extraordinariamente longos períodos de tempo. Os heróis de
contos-de-fadas tendem a ser os pequenos e os fracos – irmãos ou irmãs
mais novos, por exemplo, ou pessoas que acreditava-se serem estúpidos.
Mas eles possuem virtudes que os permitem superar os fortes e poderosos
– boa índole, ou gentileza inerente, ou uma surpreendente esperteza de
raciocínio. . . . Em contraste, o herói de mitos ou lendas tende a ser
quase como um deus, se não for de fato um. Embora possamos admirar um
herói deste tipo, e possamos desejar ser como ele, sabemos que não
podemos, simplesmente porque ele está muito acima de nós.” (Crabbe 33)

“Podemos ver que Bilbo cresce constantemente em maturidade e
responsabilidade ao longo da história. Não é apenas a mudança de
caráter de Bilbo que parece correta nesta luta linear de situações.
Tolkien também lutou para dar a Bilbo oponentes que se tornam
consistentemente mais elementares, ou seja, menos humanos e mais
próximos de serem forças da natureza. Ao fazer isso, ele utilizou o
princípio da repetição, particularmente ao desenvolver três descidas
até o submundo (A caverna de Gollum; Rei dos Elfos da Floresta; Tesouro
de Smaug).” (Crabbe 37)

Smaug perde a taça ~ O dragão de Beowulf perde a taça.

“Embora Bilbo estivesse comprometido a salvar a si próprio e aqueles
por quem tivesse afeição pessoal, no episódio de Smaug ele está agindo
Segundo o que acredita ser o melhor interesse da humanidade. Ou seja,
visto de forma paroquial, pode ser que ele tivesse traído Thorin e
Cia., mas de forma mais ampla, ele está agindo com a crença de que está
fazendo o melhor para todos os seres civilizados. Portanto, o desafio
pelo fogo é maior do que o desafio pela escuridão ou pela água, e como
tal vem como a resposta para um esforço maior e um objetivo mais
heróico. ” (Crabbe 39)

“Lá pelos capítulos finais da
história, o leitor já entendeu há muito que a capacidade de Bilbo para
coragem física é maior do que ele pensava, portanto não ficamos
surpresos quando, na Batalha dos Cinco Exércitos, ele desembainha sua
espada para ficar ao lado do Rei-élfico. Mas o lado heróico de Bilbo é
revelado quando ele entrega a Pedra Arken, ato de sacrifício que
repudia o coração da montanha e o coração de Thorin, é um ato de união:
atrai os homens a ela e os une. Bilbo desistindo da Pedra Arken, ou
seja, essa expressão de comprometimento com o mundo mais amplo, que ele
coloca na frente de seu comprometimento com Thorin e Cia., o une não
apenas com Gandalf, mas também com o herói altamente mimético, Bard.”
(Crabbe 47)

A Demanda como Lenda: O Senhor dos Anéis

“. . . embora o tema de “O Senhor dos Anéisâ€?, assim como em “O Hobbit”,
é a incessante luta do bem e do mal; em seu trabalho posterior, Tolkien
conseguiu transformar essa luta dialética basica em algo complexo e
interessante, simplesmente por ousar brincar com a idéia de que uma
variação do que é bom assim como uma variação do que é mal, é possível
no mundo. ” (Crabbe 67)

“A primeira diferença que uma pessoa nota ao passar de “O Hobbitâ€? para “O Senhor dos Anéis” é o tom.” (Crabbe 68)

“Estruturalmente, conforme destaca Randel Helms, “O Senhor dos Anéis” é
“O Hobbit” de forma mais ampla, no sentido de que, nos dois trabalhos,
participa-se da visão de toda a vida de um homem como sendo uma
demanda. Esta demanda, no entanto, está marcada para todos os homens
por dois grandes eventos: a chegada da idade adulta e a chegada da
morte. Tomando emprestado o paradigma desenvolvido por Joseph Campbell,
autor de O Herói das Mil Faces, Há uma vida heróica, e histórias
referentes à demandas se diferenciam apenas pela forma com que eles
usam diferentes partes dela. “O Hobbit” claramente faz uso apenas da
primeira parte do ciclo, terminando com a passagem do herói para a
maturidade. O tom da história é solar, até mesmo cômica, considerando
que se trata da história do início de uma vida adulta plena e completa,
cujas partes específicas somos deixados a imaginar sozinhos, e da
história de um jovem hobbit com sua vida diante de si. O Senhor dos
Anéis, no entanto, leva o herói num ciclo complete, até o ponto de sua
morte essencialmente sacrificante. Seu tom sombrio é apropriado para a
história de decadência e morte inevitáveis. De fato, o único momento em
que “O Senhor dos Anéis� soa igual a “O Hobbit� ocorre quando Pippin e
Merry, nos capítulos iniciais, permitem-se um pouco da tolice da
juventude. Até mesmo Sam, que é geralmente visto como um veículo para o
alívio cômico, é identificado como sério, desde os primórdios do Livro
I, devido a sua reverência pelos elfos.” (Crabbe 69)

“Da
mesma forma que a natureza do evento de transição para o qual o enredo
se move difere na seriedade, o mesmo acontece com o status social dos
personagens. Bilbo é um hobbit comum, confortável, mas certamente não
aristocrático. Não é de forma alguma extraordinário. É a função dessa
história demonstrar como o jovem hobbit mais comum pode “ter mais nele
do que alguém pode suspeitar�. Os anões com os quais ele viaja também
são identificados como um povo comum. O grupo viaja em mantos manchados
pelo clima, enxerga a aventura como um empreendimento econômico e,
incapazes de encontrar ou gastar com um herói, contenta-se com um
gatuno. / O Senhor dos Anéis, no entanto, seleciona seu pessoal nas
ordens sociais mais altas. Em razão da fortuna de Bilbo e seu status de
amigo-dos-elfos, a posição social e moral de Frodo é mais alta do que a
de Bilbo na abertura de “O Hobbit�. O “background� de Pippin e Merry
está traçado no Prólogo de tal maneira que estabelece seu status como
descendentes de algumas das primeiras famílias do Condado.
/Similarmente, enquanto que os elfos de “O Hobbit� são tolos, cheios de
caprichos, e dados a cantar rimas sem sentido, tais como
“tra-la-la-lally�, COME BACK TO THE VALLEY, os elfos de “O Senhor dos
Anéis” são gloriosos, responsáveis, e poéticos. Muito tem se dito das
idéias desenvolvidas por Tolkien a respeito da natureza e dos elfos, e
quando o primeiro grupo de viajantes élficos aparece em O Senhor dos
Anéis, afugentando os Cavaleiros Negros com seu hino à Elbereth, fica
claro que estamos lidando com uma raça na qual os atributos de
divindade são numerosos. A aparição do Senhor élfico Glofindel, a quem
Frodo vê por um momento do outro lado do vau; o status de Elrond como
reconhecido líder dos povos livres da Terra-média; e as visões místicas
de Galadriel em Lothlórien, todos são bem-sucedidos ao espelhar a
seriedade do tom na análise dos elfos.” (Crabbe 70)

Afirmação prévia paralela para os homens de Gondor e Númenor

“O Hobbit”, com seu foco constante em Bilbo e seu desenvolvimento, é um
bom exemplo singular de uma demanda que refere-se primariamente a
assuntos pessoais ou individuais. Embora seja feita alguma menção sobre
assuntos que envolvem grandes sociedades inteiras, especialmente no
reconhecimento da obrigação de alguém perante a humanidade e a visão
das responsabilidades de um líder perante seu povo, o tema central e
preocupação estrutural está no crescimento e desenvolvimento de Bilbo
e, por meio dele, no crescimento e desenvolvimento individual humano. O
Senhor dos Anéis, no entanto, embora ainda referindo-se à luta
individual, conforme detalhado em Frodo, é muito mais um trabalho
social, refletindo idéias sobre assuntos amplos de papéis sociais,
responsabilidades e atributos culturais.” (Crabbe 73)

Línguas
são muito importantes por essa razão – “[Citação de Waclaw Lednicki]
Cada língua representa séculos de esforços trágicos por parte dos seres
humanos para encontrar uma expressão adequada para seus sentimentos e
pensamentos sobre o universo. De fato, cada grande língua é um espelho
único da paisagem, do ar, do céu – de todas as cercanias naturais nas
quas se desenvolveu.”

Heróis Guerreiros

“Nos heróis dos homens em O Senhor dos Anéis, podemos ver toda uma
hierarquia de possibilidades heróicas. Nosh omens de Rohan, vemos o
homem como um herói puramente físico, guerreiro este que aparecia tão
pouco em “O Hobbit”. Os Rohirrim são belos de se olhar, e amam a guerra
e a coragem como coisas boas em si próprios, tanto um esporte quanto um
objetivo. O poder da idéia do herói guerreiro é tão grande que, embora
seja uma noção impopular para o nosso tempo, de fato incentivou Tolkien
a unir a imagem de equipamentos de guerra com a de criatividade: Na
batalha dos Campos do Pelennor, os homens de Rohan explodiram em
canção, e cantavam enquanto matavam, pois a alegria da batalha estava
neles, e o som de sua canção que era bela e terrível chegou até mesmo
na cidade.” (Crabbe 75)

“. . . as qualidades heróicas que
Frodo possui, embora de menores proporções dramáticas do que aquelas
dos heróis altamente miméticos, são suficientes para a tarefa que lhe
foi dada. Apesar de seu medo, ele possui um comprometimento inabalável
para com a demanda, uma vez que ele a aceitou. Ele é capaz de sentir
pena até mesmo do atormentado Gollum e do decadente Saruman, e está
disposto a cumprir por meio do sacrifício aquilo que ele não tem a
esperança de cumprir pela força. E mais importante do que isso, ele é
capaz de prosseguir quando não há esperança.” (Crabbe 77)

Força para prosseguir: “Na disposição de Frodo para se sacrificar pelo
Condado; no comprometimento de Bilbo com suas “Traduções do Élfico�; no
desejo de Faramir de estudar os arquivos de Gondor sob a tutela de
Gandalf; nas histórias compiladas por Pippin e Merry; e no Livro
Vermelho do Marco Ocidental, mantido por Sam e entregue por meio de
Elanor.” (Crabbe 77-78)

Sacrifício

“[Frodos] concordando em levar o anel até Mordor e sua provável
destruição é um triunfo da vontade de servir sobre a vontade de viver .
. . apesar do continuo desejo subconsciente de ceder ao poder do Anel,
simbolizado pela busca contínua de sua mão na direção dele, Frodo
jamais desiste de sua decisão consciente de oferecer a si próprio em
sacrifício até que ele esteja sobre as Fendas da Perdição.� (Crabbe 78)

“Quando, no momento em que a vontade subconsciente de viver
e de conquistar o poder rompe o desejo consciente de sacrificar a si
mesmo para destruir o poder, o resultado é, simbolicamente, a requerida
morte em sacrifício, embora o corpo sacrificado é o do alter-ego de
Frodo, Gollum . . .” (Crabbe 78)

Neste momento, Frodo realmente morre, e permanece como um “herói inativo� e vive apenas até completar o Livro Vermelho.

“Para Aragorn, o sacrifício é apropriadamente tal que apenas um
governante pode fazer. – manter seus direitos à felicidade e bem-estar
na espera até que possa prover seus objetos. O sacrifício dele é,
portanto, sua longa e solitária vida como um Guardião exilado e seu
amor duradouro por Arwen Estrela Vespertina. Gandalf, como Frodo, é
chamado para um sacrifício em um contexto mais circunscrito. Como
Frodo, Gandalf precisa oferecer sua vida e, como Frodo, está disposto a
fazê-lo. Embora o apoteótico Gandalf retorne de sua queda até os
abismos sem fim de Moria, a oferta de si próprio em sacrifício para
salvar seus amigos do Balrog é não menos heróica. O mesmo vale para a
defesa que Boromir faz de Merry e Pippin contra os Orcs. Não é menos
heróica pelo fato de ter falhado, culminando com a captura dos hobbits
e sua morte.” (Crabbe 79)

Coragem

“. . .
como Frodo, aqueles homens são heróis que sentem o medo, assumem esse
fato, e então fazem o que devem fazer apesar desse medo.” (Crabbe 79)

“na separação dos caminhos que marca o rompimento da Sociedade, Frodo
diz para Boromir, “Eu sei o que devo fazer, mas tenho medo de fazê-lo,
Boromir, tenho medo.” (Crabbe 79)

“. . . embora Aragorn
lamente que, sem Gandalf, a sociedade não tem esperança de ser
bem-sucedida em sua missão, ele também diz: “Temos que prosseguir sem
esperançaâ€?.” (Crabbe 80)

“. . . Sam, montando guarda para
Frodo, que dormia nas planícies de Gorgoroth, de repente se dá conta de
que, se eles alcançarem a Montanha da Perdição, eles não têm chance de
retornar: Mas mesmo quando a esperança morria em Sam, ou parecia
morrer, tornava-se uma nova força.’ ” (Crabbe 80)

Piedade

“Similar ao tratamento que Frodo dis pensava a Gollum [ex: Frodo sente
compaixão por Gollum] é o tratamento que Gandalf dispensa ao decadente
Saruman, quando ele oferece a Saruman a liberdade para deixar Orthanc,
assim como quando Barbárvore liberta Saruman depois da derrota de
Sauron. A piedade de Aragorn fica ilustrada no tratamento que dá ao
exército que lidera até o Portão Negro”

Amor Altruísta

Sam (indo com Frodo) Frodo (amor pelo Condado e amor pela humanidade)
Frodo (parte nas Quedas de Rauros para impedir a Companhia de passar
por mais perigos): “Sam, como servidor de Frodo e como um ser de livre
arbítrio, demonstra um altruísmo que contém perseverança que não pode
ser alcançada por nenhum dos abjetos escravos de Sauron e dessa forma,
ilustra a superioridade do amor dado livremente em relação à força, não
importando o tamanho dessa força.” (Crabbe 83)

Graus de
bondade (não tão importantes)-> Mal (Gandalf, Aragorn, Boromir,
Hobbits, Sacola-Bolseiros, Bill Samambaia, Gollum, Orcs, Laracna,
Balrog, Sauron)

“Da forma como é refletido em Sauron, o mal
está intimamente aliado à busca por poder. Aqui a noção de poder
ultrapassa a mera conquista de “O Hobbit”, para incluir o total
controle – controle sobre o ser. O poder de Sauron, ou o poder que ele
busca, é um poder que parodia o poder do criador. Em vez de criar,
Sauron vai destruir; em vez de libertar, ele vai escravizar; em vez de
curar, ele vai ferir. O desejo de Sauron de tornar tudo na Terra-média
inferior ao que é capaz de ser é nítido em suas repetidas ameaças de
“destruir� prisioneiros, nas terras arruinadas e desoladas que outrora
foram fértis e produtivas, e nos orcs e trolls, suas imitações de
homens e anões.” (Crabbe 86)

Vitória Impossível

“O título de Sauron, “O Senhor dos Anéis” também sugere a duradora
qualidade do mal, qualidade esta que torna impossível uma vitória
final. Embora Sauron tenha sido “vencido quando Isildur, o patriarca da
linhagem de Aragorn, cortou o Anel de seu dedo, e embora Sauron tenha
sido pego pela destruição de Númenor, perdendo a forma corpórea na qual
ele andara por muito tempo, o mal não pode ser totalmente destruído.
Pode ser temporariamente derrotado; pode ser afastado; na visão de O
Senhor dos Anéis, não pode ser removido definitivamente do mundo.”
(Crabbe 86)

O Anel é o mal; o mal é representado como um
equilíbrio; todos são de um tom de cinza específico, em vez de
totalmente brancos ou pretos; o perigo não é perder a batalha contra o
mal, mas sim ‘ser incorporado a ele.

O mal é totalmente inábil para criar; deve apenas perverter.

The Wanderer (O Caminhante) e Beowulf foram situados em um tempo
passando a “era dourada”; da mesma forma que O Senhor dos Anéis.

A Demanda como Mito: O Silmarillion

“Da mesma forma que a qualidade narrative de O Silmarillion lembra a de
Beowulf, o mesmo acontece com a estratégia Do Poeta. . . ” (Crabbe 129)

“A visão escatológica pagã ou pré-Cristã, conforme Tolkien
explicou em seu ensaio sobre Beowulf, é baseado na “credo da rendição�.
Nas mitologias nórdicas, pelo menos, a suposição heróica era que a
destruição do homem e suas criações era inevitável. O credo da
rendição, portanto, afirma que o caos vai, eventualmente, triunfar e
que, por essa razão, a vida humana pode ser transformada em algo
significativo apenas se se opuser o caos com toda a força e vontade até
que a morte inevitavelmente venha. A vida heróica pode terminar, mas a
vontade heróica é indomável.” (Crabbe 130)

“Dentre os elfos,
os maiores protagonistas são Fëanor, criador das Silmarils, e Turgon,
Senhor de Gondolin. No entanto, a tragédia dos elfos ocorre porque,
graças ao juramento de Fëanor e o conseqüente destino dos Noldor, eles
apenas têm heróis cujas ações trazem resultados catastróficos. Seguir o
código da vontade não pode trazer vitória; pode só trazer, na melhor
das hipóteses, derrota gloriosa.” (Crabbe 134)

Fëanor traz a
derrota ao se recusar a sacrificar suas Silmarils para os Valar. “Além
disso, devido ao fato do ato de desobediência de Fëanor colocá-lo numa
situação de pecado, o destino dos Noldor deve ser analisado como sendo
uma observação daquilo que naturalmente acontece com aqueles que se
entregam a suas próprias vontades, mais do que uma maldição originada
pelos Valar.” (Crabbe 135)

Turgon constrói uma cidade
escondida [Gondolin] “cuja fama e glória são as mais poderosas nas
canções dentre todas as moradas dos elfos nas HITHER LANDS”. No
entanto,”. . . do momento em que Turgon deixa de repudiar o juramento e
sua própria vontade, e deixa de se submeter à vontade dos Valar,a queda
de Gondolin é predita.” (Crabbe 136).

“A queda da cidade é
provocada pela mesma falha heróica que leva Fëanor a sua morte: O
orgulho superior do criador e de sua própria criação. Tendo construído
sua Linda cidade, Turgon não consegue deixá-la, embora recorde-se do
aviso do Vala Ulmo: Não ames demais o trabalho de tuas mãos e os
desígnios de teu coração; e lembra-te de que a verdadeira esperança dos
Noldor reside no Oeste. Este é um claro aviso contra o orgulho, e um
estímulo para seguir os Valar; a falha em dar atenção a este pedido
leva ao ataque à cidade, à morte de Turgon, e os fim dos Noldor como
cultura. Faltando-lhe o estado de graça e a disposição de curvar sua
vontade à de alguém naturalmente superior, tal como os Valar, mesmo um
líder tão forte, sábio e criativo quanto Turgon não pode sobreviver aos
ataques incessantes do mal.” (Crabbe 136)

“Dentre a raça
dos homens, heróis sofrem menos por transgredir as regras de obediência
e responsabilidade do que sofrem por serem vítimas de um mundo que não
consegue recompensar ação com justiça. Para os homens, o mundo visita o
mal para os justos e injustos da mesma forma. E como os homens são mais
frágeis, de vida menor, e mais limitados na compreensão do que os
elfos, estão mais suscetíveis ao mal do mundo e menos hábeis a
acreditar que um poder maior que os elfos os ama e protege.” (Crabbe
136)

Exceções (Beren): “[Frase do O Silmarillion] Dentre as
histórias de sofrimento e ruína que vêm a nós da escuridão daqueles
dias, ainda há algumas em que há alegria no meio do pranto, e há luz
que permanece sob a sombra da morte.�]

“Quando um homem é
salvo de alguma dor física ou isolamento spiritual, jamais é por sua
própria habilidade ou inteligência. Seres como estes são inteiramente
impotentes contra a natureza destrutiva de um Morgoth ou de um Sauron.
Embora elfos e homens sejam corajosos e habilidosos, eles somente podem
ser salvos por meio de bravura (como Lúthien fez por Beren, ou Eärendil
pelas duas raças) ou por misericórdia (dos Valar para as duas raças).”
(Crabbe 138)

Eärendil é como Frodo, um personagem que se sacrifica;Eärendil se sacrifice para benefício dos elfos e homens.

“Nas heróicas figuras de O Silmarillion, dois modos de conduta são
consistentemente refletidos – o criativo e o sacrificante. O criativo,
em Morgoth e Fëanor em particular, apresenta-se como necessidade
associada com força da vida, com a expansão da existência do herói.
Porém, dentre os sutis e habilidosos criadores, o júbilo da criação é
substituído pelo júbilo do controle. A mente que enxerga criações como
posses em vez de criaturas com vontade e corpos próprios é uma mente
que tenta conseguir com poder aquilo que só pode ser dado livremente.
Há, portanto, uma falta de respeito com o princípio hierárquico da
lealdade dada por vontade própria ao melhor de alguns.�(Crabbe 139-140)

IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM: “Ao atribuir o desenvolvimento do alfabeto
Fëanoriano ao filho rebelde de Finwë, Tolkien sugere que o
desenvolvimento da língua, um passo Prometheano, pode tanto ser uma
bênção quanto uma maldição. Ao perceber o mundo que o cerca, o usuário
da linguagem também responde a sua própria criação e, ao responder a
ela, ele define a si mesmo como separado de outras partes da criação.
Somente quando o conceito da separação passa a existir é que pode-se
exercitar o livre-arbítrio, porque até que exista um senso de
separação, não há nada do que se libertar. A linguagem é uma bênção
porque permite ao homem definir e então criar seu mundo, e é uma
maldição porque traz a ele a consciência de que ele é distinto, talvez
até mesmo isolado do resto de seu mundo.” (Crabbe 142)

“[Benjamin Worf] . . . cada linguagem é um vasto sistema padrão no qual
são culturalmente ordenadas as formas e categorias por meio das quais a
personalidade não apenas nega tipos de relacionamentos e fenômenos,
canaliza seu raciocínio, e constrói o lar de sua conscientização.”
(Crabbe 142)

PRINCÃ?PIO BASE: “O Silmarillion, portanto, é a
história de um mundo que é perigoso e imperdoável demais para ser
cômico; é também a história de um mundo que é caprichoso demais, muito
capaz de recompensar até mesmo as coisas boas com cinzas, e ser
realmente trágico. Em vez disso, Tolkien representa aqui um mundo que é
irônico: o perigo está em todo lugar, vilões podem ser banidos mas não
vencidos, a maçã tão desejada é podre até a alma. Os habitantes desse
mundo vivem vidas em que as noções convencionais das relações entre
ações e recompensas são aniquiladas. Eles vivem vidas em que as chances
do bem vencer o mal são quase que absurdamente nulas. Todavia,
capturados nessa armadilha entre poucas chances e más apostas, os
heróis de Tolkien fazem a coisa mais heróica que os heróis irônicos
podem fazer: eles resistem.” (Crabbe 144)

A Demanda Realizada: Mundos Secundários

“[Charles Nicol] Palavras significavam algo diferente para [Tolkien] do
que para o resto de nós: elas eram objetos com muitas camadas por meio
das quais ele conseguia detector o sentimento de um mundo anterior, e o
brilhantismo de sua erudição residia em sua habilidade de reconstruir o
meio de um romance Médio Inglês através de uma sutil análise de seu
vocabulário.” (Crabbe 145)

MESTRE GILES OF HAM: “Como Bilbo e
Frodo, Giles não deseja ser um herói, e essa falta de vontade dura
através da história. Mas ele é pragmático também. Ele não quer lutar
com um gigante, mas propriedade é propriedade. . . . Até mesmo
Chrysophylax [o dragão, oponente de Giles] comenta a respeito das
limitações de Giles como um herói, dizendo, Costumava, senhor, ser
hábito dos cavaleiros fazer um desafio em casos como este, após uma
apropriada troca de títulos e credenciais.” (Crabbe 148)

Giles é um herói comum dos contos-de-fada; tem três testes, viveu feliz
para sempre e ele, como Bilbo, tem as virtudes dos impotentes, tais
como prudência, discrição, a reverência pelo passado, sorte e uma
afiada presença de espírito.

LEAF BY NIGGLE: “A grande
jornada de Niggle de sua casa e seu ateliê para a oficina ganha um
paralelo com a implícita jornada no fim, quando Niggle parte para as
montanhas. O compromisso com bons trabalhos e service para os outros
que Niggle deveria ter realizado em casa, a aplicação na tarefa e a
disciplina que lhe faltam, tudo isso é aprendido na oficina. Ele também
aprende, por meio de lembranças, a apreciar seu vizinho, Parish. Dessa
forma, a jornada de Niggle, assim como a de Bilbo em “O Hobbit”, o leva
à maturidade, embora no caso de Niggle a maturidade seja espiritual em
vez de física.” (Crabbe 159)

A Demanda Continua

“O sistema de valores que age em O Quenta parece ser um que valorize um
código heróico baseado em resistência, coragem, e dever público. Por
exemplo, quando Finweg (chamado Finweg o Valente) resolve resgatar
Maidros da face de Thangorodrim, ele não o faz por ter alguma estima
especial por Maidros, mas sim pore star determinado a encerrar a
disputa resultante da traição de Fëanor ao abandonar os outros ao
GRINDING ICE. Note-se também o imprudente desafio de Fingolfin no
rompimento do sítio a Angband. Fingolfin entende que está indo para sua
morte, porém sua raiva e angústia perante a derrota de seu povo é tal
que ele desafia Morgoth de qualquer maneira.” (Crabbe 205)

Referências Bibliográficas

Crabbe, Katharyn W. J.R.R. Tolkien. The Continuum Publishing Company.
New York 1988 Este livro foi encontrado na Biblioteca Pública Elmhurst

Acompanhar
Avisar sobre
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
0
Gostaríamos de saber o que pensa, por favor comentex