A Mágica dos Menestréis

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Escrito por Cassiano Ricardo Dalberto

Duas coisas que você não
encontrará mencionadas na Terra-média de Tolkien são os palhaçoes e
atores. Tampouco irá encontrar referências a jogos, dramatizações,
malabaristas, acrobatas ou teatros, carnavais, feiras e circos.

 

 

 
O que o povo da Terra-média fazia para seu próprio
entretenimento? Ele pareciam não ter nenhuma grande arena como os
Romanos, nem casas teatrais, nem humoristas nômades, nem nenhum dos
enfeites da tradição do drama ou comédia.

As duas grandes
forma de apresentação na Terra-média eram a narração de histórias e a
música. Mas embora pareça que todo mundo parecia apreciar uma boa
história ou música, existem poucas evidências do desenvolvimento
profissional para ambas as formas de apresentação. De fato, apenas dois
menestrés profissionais são mencionados em O Senhor dos Anéis. Gleowine
era o menstrel de Théoden, e depois que escreveu a canção fúnebre que
os Cabaleiros de Rohan cantaram ao redot do túmulo de Théodin ele nunca
mais fez outra música novamente. E algum menestrel anônimo de Gondor
compôs a balada de "Frodo dos Nove Dedos e o Anel da Destruição"
[auxiliado no título da balada por Sam].

Para um livro que
está repleto de canções e referências a antigas baladas, poder-se-ia
quase esperar encontrar um bardo ou trovador saltando de cada capítulo,
vagando de cidade em cidade para manter as massas entretidas. Mas ao
contrário, não existe indicação real de uma classe vagante de
entretenedores. Em Eriador os Dunedain do Norte ocasionalmente traziam
história para o povo de Bree, e os Hobbits qye viajavam entre o
Condado, Terra dos Buques e Bree compartilhavam histórias, mas é tudo
que temo sobre isso.

A mais forte implicação parece ser de que
o entretenimento profissional era raro e limitado a grandes grupos.
Rohan e Gondor poderia manter menestréis mas não as pequenas populações
dos países do norte. E pode ser que um patrocínio real ou nobre fosse
necessário para sustentar entretenedores profissionais. Patroçinio é um
costume antigo que de fato morreu apenas com o advento dos direitos
autorais e da produção em massa. Artistas e escritores podem agora
gerar suas rendas diretamente, mas por um milênio tiveram que contar
com alguma outra pessoa para pagar as contas.

Em um mundo como
a Terra-média de Tolkien poderia não haver nenhum possibilidade de um
artista ganhar a vida pela produção de uma música ou pintura, exceto em
uma sociedade bastante grande e rica como Gondor. E mais, a Terra-média
retartada pelO Senhor dos Anéis não é a imagem completa. Sauron esteve
em ação por dois mil anos, enfraquecendo seus inimigos, afastando
Elfos, Homens e Anões uns dos outros. Existe, de fato, fracos ecos de
uma tradição mais rica de entretenimento na história que Tolkien nos
conta.

"Existe uma canção Élfica que fala disso," diz Barbárvore a Merry e Pippin quando conta a eles da longa separação de Ents e Entesposas. "Costumava ser cantada acima e abaixo no Grande Rio." Ele a canta para eles, tomando as funções de Ent e Entesposa, e diz que a canção é Élfica. E Barbárvore também diz "existem canções sobre a busca dos Ents pelas Entesposas cantadas entre Elfos e Homens de Mirkwood até Gondor".

Todas as grandes cancões e histórias, claro, parecem ser Élficas em sua
origem. Aragorn canta parte de uma canção sobre Beren e Luthien para
Frodo e os Hobbits no Topo dos Ventos. "Não existe ninguém agora, exceto Elrond, que se lembre corretamente como era contada nos tempos antigos," diz ele. "É um belo conto, embora seja triste, como são todos os contos da Terra-média".

Porque todos os contos da Terra-média eram tristes? Pode ser que os
Elfos fossem mais tocados pelos contos tristes que pelos felizes, e
portanto compunham seus maiores poemas sobre seus maiores pesares. A
única canção composta em Aman que é nomeada é o "Aldudenie", feito por
Elemmire dos Vanyar. Foi levado para a Terra-média aparentemente pelos
Exilados, ou aprendido por eles após a Guerra da Ira quando o Exército
de Valinor reuniu-se com os Exilados no que restou de Beleriand. E
"Aldudenie" relembra a tristeza de Elfos e Valar pela destruição das
Duas �?rvores.

O dom Élfico para a canção era suplementado
pelos seus poderes sub-criativos, sua "mágica". No conto de Aragorn e
Arwen, ele pensou ter conjurado uma imagem de Luthien quando viu Arwen
pela primeira vez, porque ele estava cantanto uma parte da balada de
beren e Luthien, "e ele parou surpreso, pensando que estivesse
penetrado em um sonho, ou tivesse recebido o dom dos menestréis
Élficos, que podiam fazer as coisas sobre as quais cantavam aparecerem
ante os olhos daqueles que ouviam."

Se a arte dos Elfos
estava quase esquecida ao final da Terceira Era, nós devemos dar uma
"chacoalhada total" [Nota do Tradutor: que trocadilho infeliz,
Michael…] e verificar seu início. Os Eldar foram a civilização
dominante na Terra-média por milhares de anos. Após a Guerra da Ira não
restou muito da civilização, exceto pelas cidades Anãs nas Montanhas
Nebulosas e além. Então Gil-galad e seu povo iniciaram a reconstrução
da civilização bem como os Dunedain partiram sobre o Mar para criar sua
própria civilização na distante Númenor.

Os Eldar de Lindon
espandiram-se através de Eriador, e estabeleceram o reino de Eregion, e
alguns dos Sindar migraram para o leste e possivelmente para o sul para
estabelecer novos reinos bem além do alcance de Gil-galad. Os reinos
Sindarin podem não ter alcançado o mesmo que suas contrapartes
Noldorin, em termos de contruir uma grande civilização, mas continuavam
a ser reinos Élficos, e todos os Elfos tinham o dom da música.

Embora algumas poucas facções reacionárias como a de Oropher podem ter
desejado negar a cultura Eldarin e tornar-se mais como os Avari e
Nandor do leste, eles continuavam sendo membros de uma antiga raça com
antigas tradições. Eles construíam suas casas nas florestas dos Vales
do Anduin mas continuavam a viver em cidade e mantiveram comércio ou
alguma forma de contato com seus vizinhos. As canções Élficas devem ter
sido ouvidas através de todo o norte da Terra-média durante grande
parte da Segunda Era.

Um aspecto da cultura Élfica que
permanece grandemente obscuro é a tradição das Companhias Errantes.
Embora Frodo, Sam e Pippin tenham encontrado Gildor Inglorion e seu
povo, eles eram Exilados, Noldor, que estavam retornando de uma espécie
de perigrinação em Lindon para suas casas em ou perto de Valfenda. Eles
não estavam muito interessados em assuntos da Terra-média e os
mantinham para si mesmos.

No início da Segunda Era existiam
muitas Companhias Errantes em Eriador, e estas pareciam ser compostas
principalmente de Nandor. Seus interesses parecem ter sido muito
diferentes daqueles do povo de Gildor, que estavam apenas "enrolando"
um pouco antes de finalmente partirem para o Mar. As Companhias
Errantes Nandorin devem ter sido eventualmente integradas com a
civilização Eldarin de Lindon, tanto porque os Elfos de Lindon
aumentaram sua população e expandiram-se para o leste quanto porque os
Nandor teriam sido forçados a tomar refúgio com os Noldor e Sindar em
Lindon durante a Guerra dos Elfos e Sauron.

As Companhias
Errantes podem então ter tido um papel significativo na grande cultura
dos Elfos durante a maior parte da Segunda Era. Eles devem ter se
tornado condutores de notícias e canções. Eles podem ter se tornado
entretenedores viajantes. Embora Tolkien nunca tenha comparado as
Companhias Errantes a ciganos ou trupes circenses, eles devem ter
compartilhado algumas similaridades com essas culturas. Famílias ou
clãs viajantes desenvolvem seus próprios costumes e tradições. Eles
podem assimilar alguns aspectos das culturas que eles visitam mas eles
são frequentemente vistos como estranhos e suas existências exige que
eles mantenham costumes que um povo sedentário não possui.

Então é razoável perguntar se as Companhias Errantes não se tornaram, a
certo tempo, os entretenedores da Terra-média. Quandos os Eldar eram a
civilização dominante e as cidades do norte da Terra-média falavam
Sindarin as Companhias Errantes poderiam ter provido uma maneira fácil
de espalhar novas canções e histórias pelas regiões. os menestréis
Élfico não precisavam estudar os grandes segredos de mineração de Aulë
ou aprender os mistérios dos oceanos de Ulmo e Osse para que pudessem
compor e executar sas canções mágicas.

Visões de grande
guerreiros, belas damas, árvores encantadas e outros contos Élficos
podem ter dançado ante os olhos de multidões através da Terra-média.
Homens podem ter achado tal entretenimento estranho e diferente ou
talvez mesmo assustador, mas tem-se a impressão que os povos Edainicos
de Eriador dividiam com os Elfos algo parecido com a amizade que ps
Edain de Beleriand haviam conhecido. Se os Elfos não saíam de seus
caminhos para entreter os Homens, eles podem, em todo caso, ter
permitido aos Homens visitar suas comunidade e compartilhar de sua
mágica.

Tal ligação entre Elfos e Homens podem ter se tornado
mais fortes quando os Numenorianos começaram a se ficar em Eriador. Os
Numenorianos Fiéis migraram para o norte da Terra-média quando os
Homens do Rei tornavam sua antiga terra natal mais e mais inamistosa.
Ao tempo em que Elendil chegou em Lindon Eriador deveria possuir um
grande população de Dunedain ou Homens de sangue misturado. A amizade
entre os Eldar e os Dunedain deve ter sustentado e promovido a
interação entre as duas raças.

Então talvez os Elfos visitaram
a corte de Elendil em Annuminas, e Elfos entreteram os Dunedain de
Tharbad, Fornost Erain, Osgiliath e Pelargir. Pode ser que o
estabelecimento dos reinos de Arnor e Gondor tenha iniciado um breve
período de quase igualdade entre Elfos e Homens em termos de trocas
culturais. Como os Eldar de Tol Eressea sentiam prazer em visitar
Numenor, pode ser que os Eldar de Lindon também visitassem Arnor e
Gondor, trazendo presentes e compartilhando lembranças e antigas
experiências.

De fato, todas as boas coisas eventualmente
chegam a um fim, e a amizade entre Eldar e Edain esvaneceu, na
Terra-média. Gil-galad e Elendil foram lançados em uma grande guerra
com Sauron e muitos Elfos morreram nos campos de batalha. No
pós-batalha a Terra-média teve uma trégua, mas a civilização Élfica
estava diminuída. Cirdan e Elrond mantiveram suas antigas amizades com
os Dunedain, mas a Terceira Era marcou o declínio da cultura Eldarin na
Terra-média.

As Companhias Errantes devem eventualmente ter
tornado-se poucas. As cidades Dunadan definharam e sumiram. Os Homens
passaram a temer e a não confiar nos Elfos, os Elfos tornaram-se
cautelosos com os Homens, e o tempo continou adiante na inevitável
alienação das duas raças. Os Elfos que passavam acima e abaixo no
Anduin cantando canções sobte os Ents e as Entesposas provavelmente
acabaram-se com o surgimento de Dol Guldur. Thranduil liderou seu povo
para o norte e perderam contato com os Elfos de Lothlorien. Os
amigáveis Homens dos Vales do Anduin foram gradualmente desalojados
pelos Orientais trazidos por Sauron.

Em Gondor sul pode ter
permanecido uma amizade estreita com os Elfos de Edhellond, mas aquela
cidade foi eventualmente abandonada por seu povo antes do último Rei de
Gondor desaparecer. Nos dias dos Regentes os Homens que visitavam os
Elfos eram poucos. Se os Elfos da Floresta passassem por Gondor em seus
caminhos para o Mar eles não seriam molestados, mas também não seriam
convidados a ficar. A história de Mithrellas, criada de Nimrodel, e seu
marido Dunadan termina cheia de tristezas, pois ela o deixa durante a
noite.

A certo tempo aconteceu dos Dunedain relembrarem as
canções Élfica e as executarem. Mas os Dunedain diminuiram e
definharam, tornaram-se mais preocupados em sobreviver em um mundo
hostil e lentamente esqueceram seus antigos contos. E quando os
Dunedain de Arnor passaram para o ermo os Homens e Elfos que ficaram
para lembravam pouco, se lembravam algo, da grande civilização Élfica.
As Companhias Errantes ficaram para si mesmas.

Os Hobbits do
Condado tornaram-se tão conservadores que eles não iam além mesmo das
fronteiras de suas próprias terras. Então é improvável que algum deles
tenha viajado através do Condado cantando canções cou contando
histórias. Estas tradições foram reduzidas a um costume local. Todos
contavanm as histórias e cantavam as cancões, e ninguém ganhava
reconhecimento especial por algum talento ou dom particular. As
famílias e comunidades entretinham a si mesmos. As estalagens algumas
vezes contavam com viajantes ocasionais [em sua maioria Anões] que
podiam compartilhar novas canções e histórias, ou contos há muito
esquecidos, e por um processo lento o amálgama de culturas e
experiências diferentes continuou.

De uma certa maneira o
processo de desenvolver grandes tradições de contar histórias e criar
canções deve ter começado novamente. Privados da influência dos Elfos
os Homens continuavam precisando trocar notícias e relembrar grandes
feitos de seus heróis. Mas embora eles pudessem ter alcançado grande
beleza com seus próprios meios, eles careciam da mágica que deve ter
aprimorado a arte dos mestréis Élficos. os feitos dos Homens
sobreviveram aos feitos dos Elfos, mas as canções dos Homens seriam não
mais do que uma recordação do encantamento que a Terra-média uma vez
possuiu.

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