Shhhhhh! É um Anel Secreto!

Escrito por Fábio Bettega
Eu sou questionado sobre muitas perguntas a respeito do mundo de Tolkien e certas vezes, eu apenas arquivo as mais interessantes para futura referência. Mas outro dia alguém me perguntou algo que eu não acreditava nunca ter passado pela minha cabeça. Quem sabia sobre os anéis? Um leitor muito astuto ressaltou a mim que Boromir reconheceu o Anel imediatamente, Faramir compreendeu que havia um Anel que envolvia Gandalf e Denethor parecia saber de tudo sobre o Anel…Quando se trata exatamente disso, todos que entram em contato com Frodo parecem saber sobre o “Anel precioso” (como Bombadil o chamou).

 

Se eu puder pegar emprestada uma das comparações que Tolkien tanto detestava, é quase equivalente para todo frentista de posto de gasolina da Rota 66 pedindo a J. Robert Oppenheimer se ele pode dar uma olhada no Fat Man e Little Boy enquanto ele dirige para Los Alamos. O Anel de Sauron era para ser um grande segredo, no entanto, muitas pessoas que Frodo encontrou pareciam saber sobre ele. Gildor Inglorion compreendeu o que estava acontecendo (e como ele sabia que Frodo estava “suportando um grande fardo sem conselhos“, como Glorfindel diz, não é explicado em nenhum lugar).

Como poderia ser que tantas pessoas soubessem algo sobre o Um Anel ao fim da Terceira Era, principalmente considerando-se que estava limitado ao conhecimento daqueles que estavam mais envolvidos com ele por três mil anos?

A resposta deve estar nos dias de Elendil e Gil-Galad, quando eles primeiro formaram sua grande aliança. Tolkien escreveu muito pouco sobre o que realmente aconteceu, mas sabemos que Sauron atacou Gondor e tomou Minas Ithil. Isildur escapou com sua mulher e filhos. Anárion fortificou o Anduin e repeliu as forças de Sauron enquanto Isildur navegava para Arnor. Ali Isildur consultou-se com Elendil, que em troca, consultou-se com Gil-Galad.

Até esse tempo, podemos ter certeza, o total conhecimento dos Anéis de Poder estava limitado somente aos Elfos. Mas o quanto eles sabiam em geral? Qualquer Elfo mais velho saberia que existiam Anéis de Poder, ou o conhecimento era confinado a um grupo seleto? Bom, não há fatos para responder a essas questões. Isto é, não há nenhum ensaio ou nota de Tolkien já publicados que expliquem como o conhecimento sobre os Anéis se espalhou. Elrond contou às pessoas em seu conselho a história completa dos Anéis. “Uma parte de sua lenda era conhecida por alguns aqui, mas a lenda completa por nenhum”, Tolkien escreve no “Conselho de Elrond”.

Isso parece extraordinário. Nem mesmo Gandalf saberia toda a história dos Anéis? Bem, Gandalf não sabia da tradição do Anel até Bilbo aparecer, então talvez ele estava ainda alcançando o conhecimento. Mas a impressão é que a estória de Elrond foi rotulada como: “Segredo de Estado, Necessidade de saber e VOCÊ não precisa saber!” Exceto para ele, Galadriel e Círdan (e talvez Celeborn, mas todos sabem que ele era um forasteiro).

Quando Sauron primeiro se aproximou dos Elfos na Segunda Era, muitos suspeitaram dele, de acordo com a história descartada de Celeborn e Galadriel em Contos Inacabados. Galadriel não reconheceu Sauron (que se nomeou Aulendil por conta própria, apesar de que em outro lugar dizem que ele se nomeou Annatar). Ela desconfiou de um Maia que apareceu de repente e afirmou estar agindo em prol dos interesses dos Valar. É interessante que nenhuma tentativa foi feita para confirmar essa história com Valinor. Os Númenoreanos retornaram a Terra-Média em 600 da Segunda Era e Sauron começou a procurar por alguns bons trouxas alguns séculos depois. Devido a tal questão, os Eldar deveriam ter sido capazes de rezar para os Valar por algum tipo de conselho.

Então parece estranho começar com o fato de que as credenciais de Aulendil/Annatar nunca foram checadas. Talvez alguém tentou espiona-lo, mas talvez havia tantos Maiar que os antigos Noldor coçaram suas cabeças e falaram: “Bom, talvez…” Eu não posso deixar de pensar no prefeito em “The Music Man”, mandando os quatro conselheiros da cidade para descobrir quais eram as credenciais do Professor, e ele os transforma em um quarteto de barbeadores. Talvez Sauron era bastante como Robert Preston, especialmente dada à propensão dos Elfos para canções. Talvez Maglor foi mandado para verificar as credenciais e Sauron o perguntou por que parecia tão deprimido e…

O fato é que Sauron meneou seu caminho em Eregion numa época em que havia muitos Elfos por todos os lados da Terra-Média. O reinado de Gil-Galad se estendeu das costas de Lindon até o rio Brandevin. Os Nandor, Sindar e Noldor estavam aparentemente vagando ao redor do resto de Eriador. Muitos dos Noldor e Sindar estava vivendo alegremente em Eregion, comercializando com os Anões, construindo cidades e fazendo o que quer que os Elfos façam. No outro lado das Montanhas Sombrias os Sindar estabeleceram dois ou mais reinos entre os Elfos Silvan. E Edhellond era um canto calmo e refúgio ao sul das Ered Nimrais (Montanhas Brancas). Era, sobretudo, um mundo muito Élfico. Os Homens apenas por acaso andavam por ali, mas à parte dos numenoreanos, os Homens não faziam muito.

Sauron supostamente visitou mais de uma terra élfica em sua jornada por mentes élficas sugestionáveis. Presumivelmente os Elfos Silvan teriam tido pouco interesse na preservação da Terra-Média. E quanto a morrer? O que é a morte para eles? Talvez Eönwë tenha mencionado a probabilidade da morte dos Elfos, quando ele viajou convocando todos a Valinor, ou talvez não.

Em Lindon, Elrond e Gil-Galad recusaram-se a tratar com Sauron. Eles nem ao menos admitiriam ele no reino. Sauron deve ter mandado uma carta ou mensagem oferecendo-se para ensinar os Eldar em questões elevadas e nobres. Talvez foi um pouco de arrogância da parte de Sauron em fazer tal oferta, mas a reação de Gil-Galad deve ter sido de surpresa. Ele era apenas um rapaz quando Beleriand estava sendo invadida pelo mar pelos Valar. O que ele sabia sobre Valinor e sua felicidade?

Então pode ser que o povo de Gil-Galad era de fato composto, em sua maior parte, por Elfos mais jovens. Poucos dos Exilados originais realmente sobreviveram às Guerras de Beleriand. Destes, muitos aparentemente retornaram para o Oeste após a Interdição dos Valar foi dissipada. Então somente um punhado dos reais antigos Elfos deve ter permanecido na Terra-Média. Destes, a maior e mais bem conhecida era Galadriel, e por alguma razão, ela não ficou em Lindon por muito tempo; Então Galadriel devia estar em Eregion quando Sauron chegou farejando ao redor. De fato, é isso o que a história descartada conta, desde que ela e Celeborn eram (de acordo com esse relato) os soberanos originais de Eregion.

Sauron dedicou sua atenção a “Celebrimbor e seus companheiros ferreiros, que formaram uma sociedade ou irmandade, muito poderosa em Eregi
on, a Gwaith-i-Mirdain; mas ele trabalhou em segredo, desconhecido à Galadriel e Celeborn
”. Nesse relato, o sumário de Christopher Tolkien de um esboço que nunca foi totalmente publicado, Celebrimbor e a Gwaith-i-Mirdain tinham muitos segredos profissionais. Eles não dividiam seu conhecimento livremente com outros Noldor.

Os Noldor, os Fëanorianos em particular, eram muito sigilosos, até mesmo em Valinor. Eles eram de um tipo que não pareciam se dar bem uns com os outros. Até mesmo seus primos Avari, os Tatyar, parecem ter sido mais divididos que os Nelyarin Avari (que eram relacionados com os Teleri, os Eldar que vieram dos Sindar). Fëanor nunca chegou a revelar muitos de seus segredos para os outros Elfos. Então quando ele morreu, muito da sua sabedoria morreu com ele. É claro que muito da sabedoria antiga foi perdida nas Guerras de Beleriand de qualquer maneira. Celebrimbor e seus companheiros devem ter sido os últimos herdeiros dos grandes segredos da Primeira Era. Ou eles podem ter sido um grupo de renascimento, pegando emprestado tudo o que podiam dos Anões e descobrindo coisas por conta própria.

O resultado final foi que os Anéis de Poder eram um projeto originalmente secreto. A maioria dos Elfos não sabia nada sobre eles. As primeiras propostas de Sauron devem ter parecido um tanto quanto vagas, tirando proveito de suas dúvidas e preocupações de uma maneira geral. Não seriam vagas até que Sauron pudesse ter uma longa e sincera conversa de ambas as partes com Celebrimbor sobre o futuro dos Elfos que Sauron estaria apto para lançar o Grande Plano sobre o senhor Élfico. E não é provável que Celebrimbor tenha sido idiota. De fato, ele era provavelmente um dos Elfos mais inteligentes do início da Segunda Era. Sua penetrante sabedoria e insight se juntaram ao seu brilho. Isso teria feito dele um alvo crucial para a fraude de Sauron.

E essa fraude deve ter requerido séculos de trabalho. Sauron deve ter ensinado muito pacientemente aos Gwaith-i-Mirdain muitos segredos sobre a manufatura de várias coisas antes de ganharem sua total confiança. Tolkien nos oferece apenas um vislumbre dos tipos de artefatos que os Elfos eram capazes de fazer: os barcos de Lórien, as cordas e mantos dos Elfos Silvan e a bacia da Galadriel. Esses eram os mais modestos, aparentemente, assim como encantamentos diários, coisas de pouco interesse para os mestres ferreiros. Os Palantíri, criados em Valinor, devem ter sido o tipo de artefato que os Gwaith-i-Mirdain devem ter perseguido. Ou talvez eles se esforçaram para recriar as Silmarils, mesmo porque a Luz das Duas Árvores estava preservada somente na luz do Sol, da Lua e da Estrela de Eärendil.

A explicação de Elrond sobre os motivos dos fazedores de anéis implica que eles eram muito nobres em seus objetivos: “Aqueles que os fizeram não desejariam força, ou dominação, ou acúmulo de riquezas; mas entendimento, ações e curas, para preservar todas as coisas imaculadas.” Nós compreendemos o desejo de “preservar todas as coisas imaculadas”. Os Elfos quiseram criar um pouco de Valinor na Terra-Média através da retenção dos efeitos do Tempo. Mas “entendimento, ações e curas” parece um pouco desnecessário. O que precisaria ser entendido, o que precisaria ser curado, que todos os talentos naturais dos Elfos não seriam suficientes para entender ou curar?

Tolkien dá a entender em um ensaio que era a própria Terra-Média que precisava de cura. Estava poluída, manchada por Melkor, e danificada pela Guerra da Ira. Talvez os Gwaith-i-Mirdain tinham a esperança de criar algo que purificasse o elemento Melkor da Terra-Média. Irônica e tragicamente, eles confiaram nesse mesmo elemento para a criação dos Anéis.

Há uma outra estória envolvendo Galadriel e Celebrimbor. Esse é o conto de Elessar, a pedra élfica que Galadriel deu a Aragorn em nome da Arwen. A estória é, certamente, inacabada, e Tolkien mudou de idéia sobre muitos detalhes. No final, Celebrimbor era para se tornar um ferreiro de Gondolin (mas a estória foi composta antes de Celebrimbor estar incorporado à família de Fëanor) e fez duas Elessar. Uma foi levada para o Oeste por Eärendil e a segunda repôs a primeira e chegou até Aragorn.

O poder das Elessar estava envolvido com a cura e a preservação, e a segunda Elessar é dita como ter sido a maior criação de Celebrimbor depois dos Anéis de Poder. Deve ter sido um objeto muito potente, e a habilidade de Aragorn de curar muitas pessoas em Gondor deve, portanto, ser atribuída em certa medida pela sua posse de uma Elessar.

Desta maneira, parece que os Gwaith-i-Mirdain passavam a maior parte do seu tempo construindo itens mágicos que os Elfos usavam para curar ou preservar pequenas partes da Terra-Média, ou, de outra forma, aumentar seus talentos naturais. A ajuda de Sauron deve ter aumentado a efetividade de seus objetos. Por um tempo eles devem ter transformado os Anéis menores meros “ensaios na arte antes de estar totalmente crescido”, como Gandalf diz. Ele os descreve como sendo “de vários tipos, alguns mais potentes e outros menos”. A frase “vários tipos” é curiosa. Talvez dê a entender que os Anéis menores tinham apenas poderes e propriedades específicas, enquanto os Grandes Anéis, os Anéis de Poder, possuíam muitas propriedades.

Uma preocupação com a preservação e a cura teria dado a Sauron uma linha interna com os Elfos. Ele poderia introduzir mais e mais idéias e ajuda-los em avançar suas metas ao frustrar pequenos saltos. E então, um dia, ele seria capaz de implantar a idéia de criar artefatos poderosos novamente. Eu não acho que Sauron deva ter proposto essa idéia diretamente. Os elfos parecem ter se entusiasmado com tal projeto e, portanto, eles devem ter acreditado que era uma idéia deles mesmos. Uma fraude seria mais engenhosa desse modo. Mas também a fraude pareceria menos manipulativa na superfície, se Sauron estivesse meramente suportanto os Elfos em seus próprios esforços, ao invés de apenas dar a eles instruções explícitas sobre o que deveria ser feito.

E então deve ter ocorrido um razoável número de conversas e planejamentos. Analisar os objetivos do projeto sozinho poderia ter levado meses ou anos. E Por quê? Porque os Gwaith-i-Mirdain provavelmente não queriam que ninguém soubessem o que eles estavam fazendo. As implicações morais do que eles esperavam tentar para retardar os efeitos do Tempo não seriam totalmente compreendidas. Os Anéis de Poder representavam uma nova tecnologia, cujo impacto sobre a sociedade ainda não havia sido medido – uma sociedade que, naquele momento, era dominada pelos Elfos.

Além disso, a natureza secreta do projeto deve ter exigido o menor número de pessoas quanto fosse possível para estar inteiradas a ele. Pode ser que não mais qu
e dezessete Elfos sabiam sobre os Anéis: Celebrimbor e dezesseis outros Gwaith-i-Mirdain, talvez constituindo todos os membros da sociedade. Muitas pessoas dizem que é melhor procurar pelo perdão que pedir. Os Noldor em particular parecem ter favorecido essa filosofia. Quando chegou o tempo de decidir se deviam fazer a tentativa, Celebrimbor e seus companheiros devem ter tido longas discussões sobre as conseqüências morais de fazer qualquer coisa. Talvez no fim eles justificaram sua decisão final ao pesar todo o bem que eles esperavam alcançar contra o possível dano que eles estavam arriscando. Afinal ninguém nunca suspeitou que Sauron pudesse traí-los.

Então, antes dos Anéis serem feitos, os Gwaith-i-Mirdain devem ter tido boas razões para não revelar o que estava acontecendo a ninguém além da própria sociedade. Os Anéis, enquanto iam sendo produzidos, devem ter parecido anéis normais para os outros Elfos, se eles pudessem ser de fato notados. O véu de sigilo deve ter sido sobrecarregado com vergonha e culpa, assim que os Elfos perceberam a traição de Sauron. Imaginem como Celebrimbor deve ter se sentido, sabendo que ele forjou os Anéis em segredo, sabendo agora que Sauron era um antigo servidor de Melkor, agora com o seu próprio Anel Mestre. Quer Tolkien preservasse a rebelião de Celebrimbor (que foi registrada na história descartada de Galadriel e Celeborn) ou mudasse a estória, Celebrimbor teria que confrontar Galadriel com a verdade. Algo terrível havia acontecido, mas algo ainda pior estava para recair sobre os Elfos.

Então, uma vez que Galadriel soube sobre os Anéis, ela aconselhou Celebrimbor a esconde-los. Os Elfos não aceitavam em seus corações o fato de ter que destruir seus próprios trabalhos. Dois anéis foram dados a Gil-Galad, que deve ter sido informado sobre tudo. Quaisquer que tenham sido os sentimentos sobre a imprudência de Celebrimbor, ele também escolheu não destruir os Anéis. O medo de desaparecer deve ter sido muito impregnante na sociedade Noldorin. Então devemos nos perguntar a quem foi contado primeiramente, Elrond ou Círdan? Por um lado, Celebrimbor, Galadriel e Gil-Galad deviam saber que haveria uma guerra. Sauron tinha acabado de tentar escravizar os maiores e mais poderosos dos Noldor. Ele falhou, sua cobertura foi arrancada, e os Elfos souberam que a Terra-Média tinha um Senhor do Escuro novamente. Não era o tipo de situação que exigia que Sauron se escondesse até que a tempestade acalmasse.

De sua parte, Gil-Galad pediu ajuda aos Númenoreanos, mas não contou a eles sobre os Anéis. Tolkien menciona essa omissão nas relações Elfo-Dúnadan na Carta 211 (Letter211): “Eu não creio que Ar-Pharazon soubesse algo sobre o Um Anel. Os Elfos mantinham a questão dos Anéis bastante secreta, conforme podiam…" Então o apelo de Gil-Galad a Númenor deve ter sido muito cuidadosamente escrito. Ele tinha previamente requerido a ajuda de Númenor, enquanto Sauron estava atrapalhando toda a Terra-Média, incitando criaturas maléficas. Antes de Sauron decidir se estabelecer em Mordor, Gil-Galad estava apenas consciente de que algum poder maléfico estava organizando homens e antigos servidores de Morgoth. Mas ele não conseguia achar a fonte de suas preocupações. A revelação de Sauron como o forjador do Um Anel confirmou os piores medos de Gil-Galad. No mínimo ele tinha uma justificativa para começar uma guerra com Sauron.

Númenor mandou homens e mantimentos à Terra-Média, e durante o curso de 100 anos, os Númenoreanos construíram fortes e estoques ao longo dos rios Lhun e Gwathlo. A estratégia total parece ter sido defensiva. Os Elfos sabiam que uma guerra estava se aproximando, mas não sabiam quando. Sauron era poderoso, mas ele não controlou a Terra-Média do jeito que Morgoth fez. E Númenor ainda não comandava os enormes exércitos e navios que um dia iria formar. Um ataque prematuro ainda não havia sido considerado, aparentemente. Talvez Gil-Galad ainda não soubesse onde se estabelecia o domínio de Sauron. Mordor não parecia tão longe de Eriador quando olhamos no mapa, mas havia uma grande distância de cerca de 1000 milhas entre Barad-Dûr e Lindon. E Gil-Galad podia ainda não saber até mesmo em que direção começar a procurar.

Então os Elfos não falaram nada aos seus aliados sobre os Anéis de Poder, ou sobre o que a guerra era realmente. Isso pode ter sido apropriado para a política de sigilo deles de deixar Sauron atacar primeiro. Depois do ataque, justificaria o fato chamar Númenor para mais ajuda. Os Elfos seriam o grupo aflito. Eles já eram, considerando que Sauron havia tentado escravizar os Gwaith-i-Mirdain. Mas o motivo de queixa era moralmente fraco. Que interesse os Noldor tinham ao brincar com o Tempo de qualquer maneira? Porém, mais importante ainda, Gil-Galad parece não ter compartilhado a verdade com o seu povo. Eu duvido que muitos de seus conselheiros teriam conhecimento sobre os Anéis. Alguns dos Noldor podem apenas ter decidido jogar Celebrimbor e os Gwaith-i-Mirdain aos wargs que gastar seu sangue em outra guerra insana.

É claro, quanto mais pessoas descobrem um segredo, menos secreto ele é. Gil-Galad tinha capitães com potencial para mandar ao leste a fim de reforçar Eregion. Por que ele escolheu Elrond? Círdan era um antigo senhor dos Eldar, tendo como experiência as guerras de Beleriand (de fato, ele era o único comandante de campo que sobrevivera às guerras). Glorfindel havia retornado a Terra-Média para ajudar na guerra, de acordo com um breve ensaio que Tolkien escreveu tarde em sua vida. Ele também seria uma boa opção para mandar a Eregion. Mas foi Elrond quem Gil-Galad mandou. Eu acharia que Elrond devia estar presente quando Celebrimbor contou a Gil-Galad sobre os Anéis. Não que os nobres de Gil-Galad teriam se rebelado, mas para que sobrecarregá-los com uma culpa que não era deles?

Mas se o silêncio de Gil-Galad estaria condenando, o que Celebrimbor poderia ou deveria contar aos Elfos de Eregion? Muitos deles parecem ter escapado, por Moria ou fugindo por terra. No entanto, será que eles sabiam sobre o que era a guerra? Eu não acho que a tragédia da loucura de Celebrimbor seria aumentada se sua vergonha o tivesse proibido de confessar o que ele e os Gwaith-i-Mirdain haviam feito. Se eles não estavam contando nada aos Dúnedain pelo bem do sigilo, então também seria melhor não contar nada ao povo de Eregion. E então isso significa que os Anões de Moria não podiam saber sobre o que era a guerra. Tudo o que ia ser falado a todos era que o grande Senhor do Escuro estava chegando.

E ele chegou. Sauron espalhou-se para o norte e atacou tudo o que viu. Ele não apenas invadiu Eregion, como também foi para os Vales do Anduin e as terras ao leste da Grande Floresta Verde. Os Homens do Norte se dirigiram para as florestas e montanhas. Sua cultura foi virtualmente apagada. Muitos Elfos também devem ter perecido. Eregion tombou rapidamente e Sauron a destruiu. Assim como muitos Elfos
escaparam, muitos outros sofreram mortes horríveis enquanto Sauron procurava desesperadamente os Anéis de Poder. Se ele não podia ter os Elfos, ele certamente não queria que os Elfos tivessem sua Valinor na Terra-Média.

A defesa de Ost-Em-Edhil (Fortaleza dos Eldar) deve ter sido particularmente amarga. Na história descartada de Galadriel e Celeborn, conta-se que Celeborn liderou um ataque. O propósito do ataque não é de fato estabelecido, mas pode indicar que Celeborn havia reconhecido a falta de esperança na situação. Celeborn pode ter comandado os Elfos mais inocentes, enquanto os Gwaith-i-Mirdain e seus seguidores teriam ficado para trás para dar resistência à cidade. A última posição de Celebrimbor pode ter sido uma tentativa de reparar o que ele havia feito. Mas ao invés de morrer em batalha e guardar os segredos dos Anéis para sempre com ele, foi dirigido novamente para os degraus da Casa dos Mirdain. Sauron deve ter dado ordens para captura-lo vivo a todo custo. Imaginem os orcs sacrificando a si mesmos, assim como seus ancestrais fizeram ao levar Húrin após a Nirnaeth.

A perda de Eregion mais provavelmente significou que todos os Gwaith-i-Mirdain haviam perecido, e seu segredo vergonhoso foi preservado apenas pelos poucos senhores Eldarin que conheciam a contagem total. Os Gwaith nunca são mencionados novamente, em nenhum escrito. É interessante notar que outra sociedade, ou “escola”, os Lambengolmor (mestres de Línguas), sobreviveram à Guerra. Seu último membro foi Pengolod, que viveu em Eregion. Ele escapou, e após a guerra ele pegou um navio e deixou a Terra-Média. A destruição de Eregion parece indicar que muitos outros grupos antigos e eruditos também pereceram, ou sofreram tão terrivelmente que seus sobreviventes fugiram quando puderam. Numa nota encontrada no apêndice de “O Senhor dos Anéis”, Tolkien diz que os Eldar não tentaram nada de novo na Terceira Era. Pode simplesmente ser que não restou ninguém suficientemente talentoso nas artes sub-criativas para criar novos artefatos.

No despertar da guerra, Gil-Galad teve que reconstruir seu reino. Lindon sobreviveu, mas, sem sombra de dúvidas, sofreu muitos danos. Elrond também sobreviveu. Ele nunca teve sucesso ao reforçar Celebrimbor, mas ao invés disso ele foi dirigido para o norte (talvez com Celeborn). Elrond havia reunido tantos Homens e Elfos quanto pode e resistiu em Imladris. Naquele tempo muitas pessoas aflitas teriam perguntado: “Por quê? Por que essa guerra aconteceu?” E Elrond não seria capaz de responde-las. No entanto, ele tinha que saber a verdade. Sua defesa foi leal e valente, mas foi talvez fortalecida por uma solução nascida da culpa e do desejo de reparar as decisões terríveis que Celebrimbor – seu amigo – havia feito. De certo modo, a Guerra dos Elfos e Sauron marca uma perda final da inocência dos Noldor. Na Primeira Era, aqueles Noldor que eram nascidos em Beleriand conheciam sua história e patrimônio. Na Segunda Era, nenhum realmente sabia a contagem. Era muito perigoso contar a qualquer um. Os Anéis parecem ter tido um efeito muito debilitante no julgamento das pessoas que sabiam sobre eles. Nem Galadriel ou Gil-Galad, que não tinham nada a ver com a forja dos Anéis, conseguiam achar forças para destruir os Três.

Depois da guerra Gil-Galad convocou um Conselho em Imladris. Talvez ali ele finalmente revelou aos outros senhores Élficos o que realmente havia acontecido. Tolkien não nos conta quem compareceu, mas é possível que até mesmo os Númenoreanos foram excluídos do Conselho. Númenor ainda não estava realmente envolvida com a Terra-Média. Gil-Galad teria agradecido e recompensado os Númenoreanos profusamente, com certeza, mas ele não os contou sobre os Anéis de Poder. Seria presumido que Sauron teria achado os Nove e os Sete, uma vez que nenhum dos Elfos sobreviventes os possuíam. Não parece provável que os Elfos pudessem prever o que Sauron pretendia fazer com os Anéis. Por que eles permaneceriam calados se eles sabiam que os Homens e os Elfos poderiam estar sendo pressionados? E ainda, Gil-Galad e seus conselheiros devem ter percebido que Sauron poderia adquirir coisas terríveis com aparatos tão potentes. Então eles devem ter tomado uma postura do tipo “esperar para ver”.

Mas a decisão dos Eldar de não contar a ninguém sobre o Anel dificultou os erros dos Gwaith-i-Mirdain. Pois agora Sauron era capaz de influenciar Anões e Homens com impunidade. Certamente, muitas pessoas perguntam como Sauron ainda podia se locomover sem ser rotulado como inimigo público número 1. Ele deve ter assumido uma nova aparência. Tolkien escreveu que sua forma real era de esplendor, humanóide, embora mais largo que um Homem. Ele parecia gigantesco. E ainda ele poderia ter tomado a forma de um Anão ou de um modesto Drúadan Ele poderia se aproximar virtualmente de qualquer um no disfarce perfeito, ganhar sua confiança, e, finalmente, dado um Anel a eles. Ou pior, ele pode ter incitado tentado as pessoas a procurar os tesouros perdidos dos Elfos. Ambos os Homens e Anões estavam querendo procurar tesouros. Eles provaram isso antes. Então os Dezesseis Anéis de Poder capturados podem ter sido bem engenhosamente deixados em lugares secretos, para um punhado escolhido de Homens e Anões acharem. E eles não te
riam contado a ninguém sobre suas descobertas.

O véu de sigilo, portanto, trabalhou para os fins de Sauron. Ele pode ter falhado ao tentar escravizar os senhores Anões que pegaram os Sete Anéis, mas ele ainda era capaz de corromper seus corações. Os Nove Homens que pegaram os Anéis de Poder se transformaram em espectros e se tornaram os servidores mais terríveis de Sauron. Os Homens que se espalharam pela Terra-Média não imaginariam o que eram esses espectros do Anel, mas os Númenoreanos teriam se lembrado que Sauron era um antigo mestre de fantasmas e feitiçaria. Os servidores do Escuro não necessariamente deviam ser chamados de espectros do Anel. Eles podem ser percebidos como espectros, demônios, ou alguma outra coisa.

Ao passo que a Segunda Era avançara, os Númenoreanos se tornaram mais poderosos, mas então eles tornaram-se divididos. Então mesmo se Gil-Galad pudesse ter considerado revelar o segredo dos Anéis aos seus aliados, a crescente antipatia para com os Elfos entre os Reis e seus seguidores teria desencorajado tal política. Para que jogar lenha no fogo crescente? Os Númenoreanos podiam apenas tão facilmente ter culpado os Elfos por seus problemas como não.

E, no entanto, os fiéis Númenoreanos ficaram ao lado dos Elfos. Eles até mesmo colonizaram terras próximas ao reino de Gil-Galad a fim de continuar a aproveitar a companhia dos Elfos. Quão freqüentemente poderia Gil-Galad e Elrond ter olhado nos olhos dos Homens que os acolheram com total confiança e amizade, e que nada sabiam sobre os Anéis? Séculos de tal amizade deve ter provado ser um grande fardo a eles.

Finalmente, após Númenor ter sido
destruída e todos esperarem que Sauron pudesse estar morto por algum tempo, ele reapareceu com um exército e atacou Gondor. E Isildur espalhou as notícias sobre o ataque a Arnor, e ali Elendil se consultou com Gil-Galad. Obviamente, Sauron não ia ser fácil de se matar, mas os Dúnedain conheciam sua história. Aparentemente, não havia registro de nenhum Maia retornando à vida na Primeira Era. A morte para eles também era uma experiência muito potente. Como Sauron poderia ter sobrevivido? Imaginem as faces culpadas que devem ter confrontado Elendil e Isildur se eles tivessem feito essas questões a Gil-Galad e seus conselheiros. “Ei, caras, vocês não estão nos contando tudo, estão?”.

Então a Última Aliança dos Elfos e Homens teve que ser formada na base da absolvição.Isto é, Gil-Galad teria que contar a Elendil e Isildur o que estava acontecendo. E da parte deles, Elendil e Isildur tinham que perdoar Gil-Galad. Não apenas por si próprios, mas por incontáveis gerações de Homens que não podiam falar por si próprios. Em adição, eles tinham que se dar conta do que aconteceu com os Anéis de Poder perdidos. Os Nazgûl eram conhecidos por aproximadamente mil anos. Naquele tempo, os senhores Eldarin que sabiam sobre os Anéis de Poder devem ter imaginado se havia alguma conexão. De fato, quando os Nove Homens que se tornaram os espectros ainda estavam vivos, Tolkien conta que eles eram grandes reis e feiticeiros. Se eles foram famosos, será que os Elfos ouviram falar sobre seus estranhos poderes? Havia alguma curiosidade sobre eles?

Deve ter sido difícil para Gil-Galad saber tanto sobre os Anéis de Poder. Se Galadriel e ele não conseguiam achar o conhecimento que eles precisavam através de algum tipo de visão (como ela fez com o espelho em Lórien na Terceira Era), eles teriam que falar aos seus espiões e batedores o que procurar, ou eles apenas teriam que esperar e juntar bocados e pedaços de informações ao longo dos séculos.

Alguns leitores são da opinião que a rima do Anel em “O Senhor dos Anéis” deve ter sido composta logo após a Guerra dos Elfos e Sauron. Mas quem quer tenha composto a rima teria que saber quais eram os destinos dos Sete e dos Nove. Até então, não há como demonstrar que os Elfos sabiam algo sobre os Sete antes de estarem livres para falar com os Anões. Os Anões certamente não estavam andando por aí contando às pessoas que eles tinham Anéis mágicos. Então os Nove reis-bruxos que surgiram entre os Homens devem ter sido conspícuos somente em sua longevidade e sua aproximada expectativa contemporânea de vida. E ainda, se os Elfos estavam procurando por sinais dos Anéis de Poder, eles estavam procurando por Dezesseis, não Nove, ou Sete Anéis. O fato de Sauron ter pervertido os Anéis antes de distribuí-los iria, mais para frente, complicar as coisas para os Elfos. Gil-Galad pode não ter realmente entendido o que estava acontecendo até Durin IV ser convidado para a aliança.

Não sabemos com certeza se Durin IV era o Rei dos Longbeards no final da Segunda Era, mas há uma pequena evidência apontando para o seu nome. E a questão dele entrando na aliança não é fornecida. Parece que Gil-Galad e Elendil formaram sua aliança e então marcharam para Imladris. Dali, eles parecem ter mandado mensageiros para a Grande Floresta Verde, Lórien, Khazad-dûm e talvez outras regiões. Eu diria que é mais provável que Gil-Galad teria um segundo “conselho branco” em Imladris. Seria momentâneo como o Conselho de Elrond 3000 anos depois, ou talvez até mais. Nesse Conselho devem ter comparecido reis em atendimento e muitos senhores e príncipes. E seria a primeira vez que os Elfos falariam abertamente sobre os Anéis de Poder para todos os seus aliados.

Seria natural para os convidados querer saber por que eles deveriam se unir à aliança. Sauron vinha aterrorizando a Terra-Média por um longo período de tempo. Mas a sua morte em Númenor e reaparecimento 100 anos depois indicou que ele não estava apenas indo embora. E devido ao fato do problema dos Anéis ter se originado na Terra-Média, pode ser que quaisquer apelos a Valinor tenham chegado em ouvidos surdos. Os Elfos criaram o problema e precisavam resolve-lo. Mas eles não poderiam fazer isso sozinhos. E não serviria para nenhum propósito para os vários reis não-Eldarin proferir recriminação após recriminação. Principalmente uma vez que Celebrimbor e os forjadores dos Anéis estavam todos mortos. As pessoas verdadeiramente responsáveis pelo problema já haviam pagado com as suas vidas, e seu legado estava se tornando um fardo equivalente para todos.

Mas se os Elfos podiam enfrentar e admitir o que eles haviam feito, talvez os Anões fossem convencidos a confessar que foram dados Anéis aos seus ancestrais. Pode ser que Gil-Galad foi capaz, junto com a ajuda de Durin, trazer todos os Sete senhores dos Anões a Imladris. E ao ouvir que os Elfos tinham traído todos não uma vez, mas duas, a maioria dos Anões deve ter escolhido se afastar. Eles manteriam seus Anéis, que obviamente não iam prolongar suas vidas, ou transforma-los em espectros. E eles deixariam o mundo decidir seus próprios assuntos. Isso parece uma atitude bem típica dos Anões. Somente os Longbeards desenvolveram alguma real afinidade com os Eldar, mas os Nogrodians tinham um antigo motivo de rancor para com os Eldar. Os Quatro grupos do leste devem ter sido a minoria, mas eles certamente tinham pouca, senão nenhuma, conexão com os Elfos e os Dúnedain.

Então, deve ser que a rima dos Anéis foi criada nos anos iniciais da Última Aliança. Mais provavelmente foi composta em Imladris, logo após (senão durante) qualquer outro conselho que Gil-Galad realizara com os outros soberanos da Terra-Média. A natureza dos Nazgûl e a possessão dos Nove Anéis desaparecidos deveriam ser inferidas, mas era, a essa altura do tempo, certeza de quem estava com os Anéis. E o melhor segredo guardado da Terra-Média já não era mais de fato um segredo. No entanto, Gil-Galad não teria divulgado quem possuía os Três Anéis. Para mantê-los em segurança, ele deu seus dois Anéis a Elrond e Círdan. No entanto, a rima dos Anéis diz que os Três foram concedidos aos reis Élficos. O compositor da rima, portanto, não poderia ter sabido onde os Três estavam. Ele (ou ela) deve ter acreditado que Gil-Galad, Oropher e Amdir possuíam os Três. Convenientemente, todos os Três morreram em guerra, e ninguém reinvidicou os Três de seus corpos. Então os Elfos e seus aliados devem ter ficado em dúvida sobre quem tinha os Três logo após a morte de Gil-Galad. E essa dúvida seria refletida na rima do Anel se tivesse sido composta após a morte de Gil-Galad.

E isso nos traz à Terceira Era. A Última Aliança foi vitoriosa, e os vencedores semp
re escrevem as histórias das guerras. Sábios em Arnor, Gondor, Khazad-dûm e outras terras devem ter registrado muitas coisas sobre guerras. As bibliotecas de Arnor foram eventualmente perdidas ou destruídas. A sabedoria de Gondor declinou, e a maioria de seu povo esqueceu a maior parte de sua história. Khazad-dûm foi tomada por um balrog, e a maioria do povo de Durin se dispersou ou foi morta. No entanto, algumas pessoas preservaram a sabedoria de antigos eventos aqui e ali. Se a maioria dos homens de Arnor e Gondor em certa época entendeu sobre o que era a Guerra da Última Aliança, eles teriam passado a sabedoria para frente. Pois ainda havia Anéis de Poder ali, e eles eram coisas perigosas.

No fim da Terceira Era, Gandalf tinha poucos recursos para consultar em questões da sabedoria dos Anéis, mas Saruman havia sido o especialista. Ele pode ter achado muitos arquivos que Gandalf não tinha acesso. E Elrond deve ter tido muitas conversas com Saruman sobre os Anéis e aqueles que os fizeram. Ele, sem sombra de dúvidas, conhecera Celebrimbor pessoalmente, e deve ter conhecido alguns outros ferreiros do Anel. Outros membros da casa de Elrond, ou talvez senhores Élficos próximos, assim como Gildor Inglorion, podem ter sido capazes de contar a Saruman sobre a estada de Sauron em Eregion. Algo que Tolkien não nos conta é se Saruman acumulou sua própria biblioteca em Orthanc, após ele ter se estabelecido lá, com cópias de livros e pergaminhos, preservando o conto do Anel.

Deve ter sido útil estudar o conto dos Anéis, para ser capaz de imaginar quem poderiam ser os próximos “caras maus”. Saruman (e os Eldar) não poderiam saber se Sauron pegou os Anéis de volta dos Nazgûl. Não até Gandalf descobrir que Sauron estava reunindo todos os Anéis, em 2851. Mas os Reis Anões estavam desaparecendo. Estavam eles sendo consumidos por dragões, ou caindo nas mãos de aventureiros? O conhecimento de Saruman teria sido muito útil para os Eldar e Istari, uma vez que eles precisavam entender o que Sauron havia feito com os Anéis. E eles precisavam saber quem podia brandi-los também.

No final, o conhecimento dos Anéis deve ter escasseado nos cantos mofados da elite. Os sábios da Terra-Média tinham a tendência de vir de famílias abastadas. E assuntos de contos antigos, que poderiam um dia afetar o bem estar das nações, seriam cuidadosamente acumulados e cultivados pelos senhores dessas nações. Denethor era mestre de muitos segredos, e ele parecia estar totalmente consciente do que o Anel era. O intercâmbio que Gandalf comunica no Conselho de Elrond dá a impressão que Denethor não sabia sobre o pergaminho de Isildur, mas eu não estou convencido. Gandalf não estava exatamente dividindo suas preocupações com Denethor, então por que Denethor deveria ter dividido o que ele sabia sobre os Anéis? Denethor não tinha nenhuma razão para dar informações voluntárias, informações que ele não sabia que Gandalf estava procurando.

Faramir, certamente, era leal a Gandalf, e pôde muito bem ter estado com Gandalf quando o mago estava remexendo entre os antigos registros. Se Gandald confiou em Faramir para ser discreto, então o príncipe pode muito bem ter visto o pergaminho em que Gandalf estava mais interessado, e, portanto, ele pode tê-lo estudado. Então quando Faramir conheceu Frodo e Sam, ele foi capaz de conversar sabiamente sobre o Um Anel. Ele não necessariamente divulgou tudo o que sabia de prontidão, mas Faramir parece ter concordado muito rapidamente com o plano de Gandlaf. Por que isso? Ao menos que tenham contado a ele a história completa da guerra da Última Aliança, Faramir deveria ser bem leigo. Boromir revela que ele sabia sobre o Anel no Conselho de Elrond, mas se surpreende ao saber que Isildur o pegou. É dele a declaração que “se alguma vez tal conto foi contado no Sul, já foi esquecido há tempos”, o que nos leva a crer que ninguém em Gondor lembra do Um Anel.

A resposta deve ser que Boromir somente prestou atenção aos fatos do caso. Isto é, ele estava, provavelmente, somente interessado nos detalhes do poder, e não nas motivações que levavam à criação, nem nos eventos que o cercavam. Boromir era um guerreiro de coração e não muito um sábio de fato. Então Boromir passa uma primeira impressão pobre no leitor até então, enquanto os sábios de Gondor estão preocupados. Faramir conta a Frodo e Sam que a ele e seu irmão foi contada a estória de sua cidade e condados, e que os Stewards preservaram muita sabedoria antiga que somente poucas pessoas acessaram.

O fato da existência do Um Anel (e a existência de um grupo geral de “Anéis de Poder” mágicos) era assim, se não parte da sabedoria comum, então um fato ainda bem conhecido aos soberanos e as classes elitistas da Terra-Média de uma época. Até mesmo Glóin parece saber algo sobre os Anéis quando ele fala no Conselho de Elrond, embora ele saiba menos sobre os Anéis Élficos do que ele indica saber. Pode ser que Dáin tinha aberto a biblioteca de Erebor e havia dado informações a Glóin. Mas Glóin era primo de Dáin, um membro da família real. Parece pouco provável que ele seria completamente excluído dos registros de família. Ele provavelmente sabia tanto sobre a história geral dos Anéis de Poder quanto os mais sábios nobres de seus dias.

O conhecimento dos Anéis de Poder não estaria disponível entre as pessoas mais novas e nações. Os Homens do Norte eram antigos, mas suas culturas haviam evoluído e divergido através dos longos anos da Terceira Era. Os Rohirrim não mantiveram registros escritos, e eles não estavam interessados em questões antigas, exceto quando seus ancestrais figuravam como heróis de canções. Os Homens de Dale e os Woodmen de Mirkwood, mesmo se mantivessem alguns registros, não tinham de fato uma história antiga para sustentar um total relato sobre os Anéis de Poder. Arnor e seus reinos sucessores, Arthedain, Rhudaur e Cardolan, havían caído. Todos os que permaneceram foram os habitantes de Bri, os Hobbits do Condado e o povo de Aragorn. E os Hobbits não estavam muito preocupados com a história em absoluto, quanto mais com história antiga!

E assim que os séculos passaram, os Anéis se tornaram menos e menos importantes para os povos da Terra-Média. Sauron os queria, e o Conselho Branco sabia que eles ainda causariam uma ameaça para os Povos Livres. Mas não havia novas buscas para encontra-los, pois as pessoas que sabiam dos Anéis sabiam que eles eram perigosos. Ou ao menos elas deviam saber que grandes e terríveis guerras foram travadas devido aos Anéis no passado. A história completa provavelmente era conhecida somente por Elrond, Galadriel e Círdan, e mais provavelmente, por Saruman e Gandalf. Talvez alguns outros membros do Conselho Branco conheceram o relato completo também.
Para todos os outros, havia pedacinhos do conto passados de geração em geração.

Então, quando o primeiro ataque de Mordor foi derrotado e Aragorn e Gandalf se encontraram com Éomer e os senhores de Gondor e Rohan, eles foram capazes de falar abertamente sobre o Um Anel. Gandalf parece até mesmo ter confidenciado a Theóden um pouco sobre a jornada do portador do Anel, quando ele trouxe o rei envelhecido ao seu lado e falou com ele. Já era suficiente mencionar o Um Anel. Os Senhores sabiam sobre o que Gandalf estava falando. Eles entenderam que um grande e poderoso talismã estava sendo arriscado. Eles entenderam, essencialmente, que a guerra toda estava realmente sendo travada devido ao Anel.

Poderia-se dizer que gerações de nobres devem ter passado para frente o conhecimento mais básico sobre os Anéis de Poder de uma forma quase religiosamente dedicada. Quando todos os outros contos de dias antigos estavam perdidos ou esquecidos em meio a pergaminhos ilegíveis, os Homens se lembrariam de contar a seus filhos que, em uma certa época, havia um Senhor do Escuro que tinha um Anel terrível. E esse Anel era diferente de todas as outras coisas mágicas na Terra-Média. O conhecimento persistiu onde era mais preciso, então quando o dia chegou, serviu para aumentar a resolução dos Homens que tinham que enfrentar o Senhor do Escuro e rir na sua cara enquanto alguns Hobbits saíam correndo ao lado do Orodruin. Ninguém realmente precisava entender a história dos Anéis para lembrar que eles existiam. As pessoas estavam conscientes de que eles existiam, de uma forma geral e vaga. Mas os longos anos e as devastações arruinaram os Homens, Elfos e Anões que serviram para guardar o segredo contra a antiga vergonha dos Eldar.

Tradução de Helena ´Aredhel´ Felts

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