Carta #246

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Escrito por John Ronald Reuel Tolkien
[Rascunho de uma carta enviada à Sra. Eileen Elgar em setembro de 1963, onde a leitora comenta sobre o fracasso de Frodo em se render ao Anel nas Fendas da Perdição.]

Muitos poucos (de fato até onde vejo pelas cartas que chegam só você e um outro) observaram ou comentaram sobre o “fracasso” de Frodo. É um ponto muito importante.

Do ponto de vista do contador de histórias os eventos na Montanha da Perdição procedem simplesmente da lógica do conto até aquele tempo. Eles não foram trabalhados deliberadamente para que não fossem previstos até que eles acontecessem.(a) Mas, primordialmente, ficou finalmente bem claro que Frodo depois de tudo o que tinha acontecido seria incapaz de destruir o Anel voluntariamente. Refletindo sobre a solução depois que fosse alcançada (como um mero evento) e sinto que é central à toda “teoria” de verdadeira nobreza e heroísmo que é apresentada.

Frodo realmente “falhou” como um herói, como concebido por mentes simples: ele não suportou até o fim; ele cedeu, rendeu-se. Não digo “mentes simples” com desprezo: elas freqüentemente vêem com clareza a verdade simples e o ideal absoluto para os quais os esforços devem ser dirigidos, até mesmo se for inacessível. Porém, sua fraqueza é duplicada. Elas não percebem a complexidade de qualquer determinada situação no Tempo, na qual um ideal absoluto é enredado. Elas tendem a esquecer daquele estranho elemento no Mundo que chamamos Piedade ou Clemência, que também são exigências absolutas no juízo moral (uma vez que está presente na natureza Divina). Em seu exercício mais alto pertence a Deus. Para juízes finitos de conhecimento imperfeito ele pode levar ao uso de duas medidas diferentes de “moralidade”. Para nós mesmos temos que apresentar o ideal absoluto sem compromisso, porque não sabemos nossos próprios limites de força natural (+virtude), e se não almejarmos o mais alto certamente não atingiremos o máximo que poderíamos alcançar. Para outros, no caso de sabermos o bastante para fazer um julgamento, temos que aplicar uma balança moderada por “piedade”: quer dizer, já que nós podemos com boa fé fazer isto sem o preconceito inevitável em julgamentos de nós mesmos, temos que calcular os limites da força alheia e temos que pesar isto contra a força de circunstâncias particulares.(b)

Eu não penso que o de Frodo foi um fracasso moral. Na última hora a pressão do Anel alcançou seu máximo – impossível, eu deveria ter dito, para qualquer um resistir, especialmente depois de tão longa possessão, meses de crescente tormento, e já faminto e exausto. Frodo tinha feito o que ele pôde e se esgotou completamente (como um instrumento da Providência) e tinha criado uma situação na qual o objetivo de sua missão poderia ser alcançado. Sua humildade (com a qual ele começou) e seus sofrimentos foram recompensados justamente pelo honra mais alta; e o seu exercício de paciência e piedade para com Gollum ganhou sua Misericórdia: seu fracasso foi reparado.

Somos criaturas finitas com limitações absolutas sobre os poderes de nossa estrutura alma-corpo tanto em ação quanto resistência. O fracasso moral só pode ser afirmado, eu acho, quando o esforço de um homem ou resistência não chegam perto de seus limites, e a culpa diminui quando esse limite mais perto se aproxima.(c)

Todavia, penso que pode ser observado em história e experiência que alguns indivíduos parecem ser colocados em posições de “sacrifício”: situações ou tarefas que para a perfeição solução requerem poderes além de seus limites extremos, até mesmo além de todos os possíveis limites para uma criatura encarnada em um mundo físico – no qual um corpo possa ser destruído, ou tão mutilado a ponto de afetar a mente e determinação. O julgamento sobre qualquer caso como este deveria depender então dos motivos e da disposição com os quais ele começou, e deveria pesar suas ações contra a possibilidade máxima de seus poderes, por toda a jornada até aquilo que colocasse em prova o seu limite.

Frodo empreendeu sua missão por amor – para salvar o mundo ele sabia que custaria seu próprio sacrifício, se ele pudesse; e também em completa humildade, reconhecendo que era completamente inadequado à tarefa. Seu compromisso real era só fazer o que pudesse, tentar achar um caminho, e ir tão longe na jornada quanto sua força da mente e do corpo permitissem. Ele o fez. Eu mesmo não vejo que a ruína de sua mente e vontade sob pressão demoníaca depois do tormento fosse mais um fracasso moral que a ruína de seu corpo teria sido – digamos, sendo estrangulado por Gollum, ou esmagado por uma pedra caída.

Este parece ter sido o julgamento de Gandalf e Aragorn, e de todos que conheceram a história completa de sua jornada. Certamente nada foi ocultado por Frodo! Mas o que o próprio Frodo pensou sobre os eventos é decididamente outra questão.

Ele parece a princípio não ter tido nenhum senso de culpa (pág. 1003-1004)¹; sua sanidade e paz foram restauradas. Entretanto ele pensou que tinha dado sua vida em sacrifício: ele esperava morrer muito em breve. Mas isso não aconteceu, e pôde-se observar a inquietação crescendo nele. Arwen foi a primeira a observar os sinais, e deu sua jóia para confortá-lo, e pensou em um modo de curá-lo.(d) Lentamente ele enfraquece “fora de cena”, dizendo e fazendo cada vez menos. Acho que está claro para a reflexão de um leitor atento que quando os tempos escuros o atingiam e ele estava consciente de ter sido “ferido por faca, ferrão e dente, sem falar no fardo que carreguei por tanto tempo” (pág. 1048) não era só recordações do pesadelo de horrores passados que o afligiram, mas também remorso ilógico: ele viu a si mesmo e tudo aquilo que fez como um fracasso desanimador. “Entretanto eu posso voltar ao Condado, ele não parecerá o mesmo, porque eu não serei o mesmo.” Isso foi de fato uma tentação vinda do Escuro, uma última centelha de orgulho: desejar ter retornado como um “herói”, não contente em ser um mero instrumento do bem. E estava mesclada à outra tentação, mais negra e ainda (de certo modo) mais merecida, porém que pode ser explicada, ele não tinha de fato jogado fora o Anel por um ato voluntário: ele foi tentado a lamentar sua destruição, e ainda desejá-la. “Foi-se para sempre, e agora tudo está escuro e vazio”, ele disse quando despertou do mal em 1420.

“É lamentável, mas há certos ferimentos que não podem ser totalmente curados”, disse Gandalf (pág. 1048) – não na Terra-média. Frodo foi enviado ou permitido seguir para o Mar para curar-se – se isso pudesse ser feito, antes que morresse. Ele finalmente “partiu”: nenhum mortal pôde, ou pode, agüentar para sempre na terra, ou em seu Tempo. Assim ele foi tanto para um purgatório e para uma recompensa, por algum tempo: um período de reflexão e paz e ganho de uma compreensão mais verdadeira de sua posição em pequenez e em grandeza, desfrutando ainda o seu Tempo entre as belezas naturais da “Arda Imaculada”, a Terra não violada pelo mal.

Bilbo também foi. Sem dúvida como uma conclusão do plano arquitetado pelo próprio Gandalf. Gandalf tinha um afeto muito grande por Bilbo, desde a infância do hobbit. Sua companhia era realmente necessária para o bem de Frodo – é difícil de imaginar um hobbit, até mesmo um que tivesse passado pelas experiências de Frodo, ficar realmente contente em um paraíso terrestre sem um companheiro da sua própria raça, e Bilbo era a pessoa que Frodo mais amava. (pág.1032 linhas 11 a 20 e pág. 1043 linhas 15-16)². Mas ele também precisou e mereceu o favor por sua própria situação. Ele ainda possuía a marca do Anel que precisava ser finalmente apagada: um rastro de orgulho e possessão pessoal. Claro que ele estava velho e com a mente confusa, mas ainda foi uma revelação da “marca” negra quando ele disse em Valfenda (pág. 1046) “o que aconteceu com meu anel, Frodo, que você levou embora?”; e quando lembraram-lhe do que tinha acontecido, sua resposta imediata foi: “Que pena! Gostaria de vê-lo mais uma vez”. Como por recompensa por sua parte, é difícil crer que a vida dele estaria completa sem uma experiência “puramente Élfica”, e a oportunidade de ouvir as lendas e histórias por completo dos fragmentos daquelas que tinham encantado-no tanto.

É óbvio que o plano tinha de fato sido concebido e combinado (por Arwen, Gandalf e outros) antes de Arwen ter falado. Mas Frodo não levou isto imediatamente em consideração; as implicações seriam entendidas lentamente sob reflexão. Tal jornada não pareceria à princípio algo necessariamente a ser cogitado, até mesmo como algo a ser aguardado – como não marcado e adiável. Seu real desejo era natural de hobbits (e de humanos) só “ser ele mesmo novamente e voltar à velha vida familiar que tinha sido interrompida”. Já na jornada de volta de Valfenda viu de repente que não era possível para ele. Conseqüentemente seu desabafo “Quando poderei descansar?” Ele sabia a resposta, e Gandalf não respondeu. Como Bilbo, é provável que Frodo não entendesse a princípio o que Arwen quis dizer por “pois não deverá mais fazer qualquer viagem longa, exceto uma”. De qualquer modo ele não associou isto com seu próprio problema. Quando Arwen falou (na TE 3019) ele ainda era jovem, não tinha ainda 51, e Bilbo era 78 anos mais velho. Mas em Valfenda ele veio a entender as coisas mais claramente. As conversas que ele teve lá não são informadas, mas o suficiente é revelado na despedida de Elrond pág. 1047.³ Do primeiro ataque (5 de outubro de 3019) Frodo deve ter pensado sobre “navegar”, embora ainda resistisse a uma decisão final – ir com Bilbo, ou não ir. Não havia dúvida que depois da sua grave enfermidade em março de 3020 sua decisão foi tomada.

Sam é amável e cômico. A alguns leitores ele irrita e até enfurece. Eu posso entender bem isto. Todos os hobbits às vezes me afetam da mesma maneira, entretanto continuo muito afeiçoado a eles. Mas Sam pode ser muito “irritante”. Ele é um hobbit mais representativo que qualquer outro dos muitos que vemos; e ele tem um ingrediente mais forte daquela espécie que por conseguinte até mesmo alguns hobbits às vezes achavam duro de agüentar: uma trivialidade – da qual não quero dizer um mero “plebeísmo” – uma miopia mental da qual se orgulham, uma presunção (em graus variados) e absoluta certeza, e uma prontidão para medir e resumir todas as coisas através de uma experiência limitada, em grande parte baseada na tradicional “sabedoria” proverbial. Nós só encontramos hobbits excepcionais em círculos restritos – aqueles que tiveram uma graça ou dádiva: uma visão de beleza, e uma reverência para coisas mais nobres que eles, em guerra com seu próprio contentamento. Imagine Sam sem a educação dada por Bilbo e sua fascinação por coisas Élficas! Não é difícil. A família Villa e o Feitor, quando os “Viajantes” retornam já é um vislumbre suficiente.

Sam era convencido, e no fundo um pouco orgulhoso; mas seu orgulho tinha sido transformado por sua devoção à Frodo. Ele não pensou em si mesmo como heróico ou até mesmo bravo, ou de qualquer forma admirável – exceto em seu serviço e lealdade ao mestre. Isso teve um ingrediente (provavelmente inevitável) de orgulho e possessão: é difícil de excluí-lo da devoção daqueles que executam tal serviço. Em todo caso lhe impediu de entender completamente o mestre que ele amou, e de seguí-lo em seu aprendizado gradual para a nobreza do serviço ao próximo e da percepção do bem corrompido ao mau. Ele obviamente não entendeu completamente os motivos de Frodo ou a angústia dele no incidente do Lago Proibido. Se ele tivesse entendido melhor o que estava acontecendo entre Frodo e Gollum, as coisas poderiam ter tomado um rumo diferente no fim. Talvez para mim o momento mais trágico no Conto está na pág. 753 em diante quando Sam não nota a mudança completa no tom e aspecto de Gollum. “Nada, nada” – disse Gollum baixinho – “Mestre bonzinho!”. Seu arrependimento é destruído e toda a piedade de Frodo é (de certo modo) perdida. O toca de Laracna tornou-se inevitável.

Isto é devido claro a “lógica da história”. Sam quase não poderia ter agido diferentemente. (Ele afinal atingiu o ponto de piedade(pág. 1000)4 mas tarde demais para o bem de Gollum.) Se ele tivesse, o que poderia ter acontecido então? O curso da entrada em Mordor e a luta para alcançar a Montanha da Perdição teriam sido diferentes, bem como o fim. O interesse teria passado para Gollum, eu penso, e a batalha que teria ocorrido seria entre seu arrependimento e novo amor de um lado e o Anel do outro. Embora o amor estivesse se fortalecendo diariamente ele não poderia ter se livrado do domínio do Anel. Acho que de algum modo estranho e lastimável Gollum teria tentado (não talvez com intuito consciente) satisfazer ambos. Certamente em algum ponto não distante do fim ele teria roubado o Anel ou tomado-o a força (como ele faz no Conto real). Mas com a “posse” satisfeita, acho que ele então teria se sacrificado para o bem de Frodo e se lançado voluntariamente no abismo de fogo.

Acho que um efeito de sua parcial regeneração por amor teria sido uma visão esclarecedora quando ele reivindicou o Anel. Ele teria percebido o mal de Sauron, e de repente percebeu que ele não poderia usar o Anel e não tinha a força ou poder para mantê-lo a despeito de Sauron: o único modo para mantê-lo e ferir Sauron era destruí-lo e a si próprio juntos – e num instante ele pode ter visto que este também seria o maior serviço à Frodo. Frodo de fato no conto leva o Anel e o reclama, e certamente ele também teria tido uma visão – mas a ele não foi dado tempo: ele foi atacado imediatamente por Gollum. Quando Sauron foi alertado da posse do Anel sua única esperança estava em seu poder: que o reclamante estaria impossibilitado de desistir dele até que Sauron tivesse tempo para cuidar dele. Então provavelmente Frodo também iria, se não fosse atacado, ter tomado a mesma decisão: lançar-se com o Anel no abismo. Se não, é claro, ele teria falhado completamente. É um problema interessante: como Sauron teria agido ou como o reclamante teria resistido. Sauron enviou os Espectros do Anel imediatamente. Eles naturalmente foram completamente instruídos, e de nenhuma maneira iludiam-se sobre a real soberania do Anel. O portador não seria invisível para eles, mas o contrário; e o mais vulnerável às suas armas. Mas a situação era agora diferente daquela no Topo do Vento, onde Frodo somente agiu por medo e só desejou usar (em vão) o poder secundário do Anel de conferir invisibilidade. Ele tinha crescido desde então. Eles ficariam imunes ao seu poder se ele o reivindicasse como um instrumento de comando e dominação?

Não completamente. Não acho que eles pudessem tê-lo atacado com violência, nem imobilizá-lo ou levá-lo cativo; eles teriam obedecido ou fingido obedecer a qualquer mínimo comando dele que não interferisse em sua missão – eram dominados por Sauron, que ainda através de seus nove anéis (os quais ele mantinha) tinha controle total sobre suas vontades. Aquela missão era remover Frodo das Fendas. Uma vez que ele tivesse perdido o poder ou a oportunidade para destruir o Anel, não haveria dúvida sobre o fim – salvo com ajuda externa, a qual era difícil e até remotamente possível.

Frodo tinha se tornado uma pessoa notável, mas de um tipo especial: em amplificação espiritual em lugar de em aumento de poder físico ou mental; sua vontade era muito mais forte do que tinha sido, mas isso fora por tamanho exercício em resistir ao uso do Anel e com o objetivo de destruí-lo. Ele precisou de tempo, muito tempo, antes que ele pudesse controlar o Anel ou (que em tal um caso é o mesmo) antes que pudesse ser controlado por ele; antes que sua vontade e altivez pudesse crescer de tal modo que pudesse dominar outras vontades hostis maiores. Mesmo assim por muito tempo seus atos e comandos ainda teriam que parecer “bons” para ele, ser em benefício de outros ao invés dele mesmo.

A situação entre Frodo com o Anel e os Oito poderia ser comparada a de um bravo homenzinho armado com uma arma devastadora, enfrentado por oito guerreiros selvagens de grande força e agilidade armados com lâminas envenenadas. O ponto fraco do homem era que ele não sabia usar sua arma ainda; e ele foi através de temperamento e treino oposto a violência. A fraqueza deles era que a arma do homem era uma coisa que os enchia de medo como um objeto de terror em seu culto religioso, pelo qual eles tinham sido condicionados a tratar aquele que a controlasse com servilidade. Acho que eles teriam mostrado “servilidade”. Eles teriam saudado Frodo como “Mestre”. Com palavras amigáveis eles teriam induzido-o a deixar o Sammath Naur – por exemplo “para ver seu novo reino, e observar ao longe com sua nova visão os domínios do poder que ele tem que reivindicar agora e voltá-lo aos seus próprios propósitos”. Uma vez fora da câmara enquanto ele estava contemplando, alguns deles teriam destruído a entrada. Frodo provavelmente também já teria sido enredado em grandes planos de reforma de poder – mas muito maior e abrangente que a visão que tentou Sam (pág. 953)5 – para dar atenção a isso. Mas se ele ainda preservasse um pouco de sanidade e em parte compreendido o significado disto, então ele se recusaria a ir naquele momento com eles para Barad-dûr, eles simplesmente teriam esperado. Até que o próprio Sauron viesse. Em todo caso uma confrontação de Frodo e Sauron teria acontecido logo, se o Anel estivesse intato. Seu resultado era inevitável. Frodo teria sido totalmente subjulgado: transformado em poeira, ou preservado em tormento como um escravo. Sauron não teria temido o Anel! Era seu e estava sob sua vontade. Até mesmo de longe ele tinha poder sobre ele, para fazê-lo trabalhar em seu benefício. Em sua presença ninguém mas muito poucos de igual poder teriam esperança de tomá-lo. Dos “mortais” ninguém, nem mesmo Aragorn. Na competição com o Palantír Aragorn era o dono legítimo. Também a competição aconteceu a uma distância, e em um conto que permite a encarnação de grandes espíritos em uma forma física e destrutível o poder deles deve ser muito maior quando realmente presentes fisicamente. Sauron deveria ser resistente como muito terrível. A forma que ele assumiu era de um homem maior que a estatura humana, mas não gigantesco. Na sua encarnação anterior ele pôde ocultar o poder dele (como Gandalf fez) e poderia aparecer como uma figura dominante de grande força física e de conduta e aparência supremamente reais.

Dos outros poderia-se esperar que só Gandalf fosse capaz de enfrentá-lo – sendo emissário dos Poderes e uma criatura da mesma ordem, um espírito imortal que tem uma forma física visível. No “Espelho de Galadriel”, 1381, parece que Galadriel pensava-se capaz de controlar o Anel e suplantar o Senhor do Escuro. Se fosse, então também eram os outros guardiães dos Três, especialmente Elrond. Mas esta é outra questão. Era parte do artifício essencial do Anel encher as mentes com imaginações de poder supremo. Mas este o Grande tinha considerado bem e tinha rejeitado, como é visto nas palavras de Elrond ao Conselho. A rejeição de Galadriel da tentação foi fundada em pensamento e resolução prévios. Em todo caso Elrond ou Galadriel teriam procedido na política agora adotada por Sauron: eles teriam construído um império com grandes e absolutamente servis generais e exércitos e máquinas de guerra, até que eles pudessem desafiar Sauron e destruí-lo à força. Confrontação com Sauron sozinho, sem ajuda, cara a cara não era considerada. Pode-se imaginar a cena em que Gandalf, digamos, fosse colocado em tal posição. Seria um equilíbrio delicado. Em um lado a verdadeira submissão do Anel à Sauron; no outro força superior porque Sauron não estava de fato de posse, e talvez também porque ele estivesse mais fraco pela longa corrupção e despêndio de vontade dominando inferiores. Se Gandalf fosse o vencedor, o resultado teria sido para Sauron igual à destruição do Anel; este teria sido destruído para ele, levado para sempre dele. Mas o Anel e todos seus trabalhos teriam resistido. Este teria sido o mestre no final.

Gandalf como o Senhor do Anel teria sido muito pior que Sauron. Ele teria permanecido “correto”, mas correto em seu ponto de vista. Ele teria continuado a governar e ordenar coisas para o “bem”, e o benefício de seus assuntos de acordo com sua sabedoria (que era e teria permanecido grande).

[O rascunho termina aqui. Na margem Tolkien escreveu: “Assim enquanto Sauron multiplicava [palavra ilegível] mal, ele deixou o “bem” claramente distinguível dele. Gandalf teria feito o bem detestável e teria parecido com o mau.”]

Notas do Autor:

(a) De fato, como os eventos nas Fendas da Perdição seriam obviamente vitais ao Conto, fiz vários esboços ou versões de teste em várias fases na narrativa – mas nenhum deles foi usado, e nenhum deles se assemelhou muito ao que é informado de fato na história terminada.

(b) Nós freqüentemente vemos estas duas medidas usadas pelos santos em auto-julgamentos quando passando por grandes sofrimentos ou tentações, e de outros em iguais situações.

(c) Não leva-se em conta aqui a “graça” ou o aumento de nossos poderes como instrumentos da Providência. À Frodo foi dada “graça”: primeiro em responder o chamado (ao término do Conselho) depois de longa resistência à uma total rendição; e depois em sua resistência à tentação do Anel (nas vezes em que reivindicá-lo e assim revelá-lo teriam sido fatais), e no aumento de sua resistência ao medo e sofrimento. Mas graça não é infinita, e para a maior parte parece que a economia Divina limitou ao que seja suficiente para a realização da tarefa designada para um instrumento em um padrão de circunstâncias e outros instrumentos.

(d) Não é explícito como ela poderia organizar isto. Ela não poderia, é claro, só transferir sua passagem do navio! Para qualquer um que não fosse da raça Élfica era proibido “navegar para o Oeste”, e qualquer exceção exigia “autorização”, e ela não estava em comunicação direta com os Valar, especialmente não desde sua escolha em tornar-se “mortal”. O que quer-se dizer é que foi Arwen que primeiro pensou em enviar Frodo para o Oeste, e fez um apelo em favor dele à Gandalf (diretamente ou através de Galadriel, ou ambos), e usou a renúncia de seu próprio direito de ir par o Oeste como um argumento. Sua renúncia e sofrimento foram relacionados e enredados às de Frodo: ambos eram partes de um plano para a regeneração do estado dos Homens. Sua súplica pôde ser então especialmente efetiva, e seu plano tem uma certa eqüidade de troca. Nenhuma dúvida que era Gandalf a autoridade que aceitou seu argumento. Os Apêndices mostram claramente que ele era um emissário dos Valar, e virtualmente seu plenipotenciário em executar o plano contra Sauron. Ele também estava em acordo especial com Círdan o Armador, que tinha cedido seu anel à ele e logo colocado-se sob o comando de Gandalf. Uma vez que o próprio Gandalf foi no Navio ele mesmo diria que não havia problema no embarcar ou no desembarque.

Citações:

1.“E ali estava Frodo, pálido e exausto, e apesar disso era Frodo novamente; agora em seus olhos só havia paz; nem luta de vontade, nem loucura, nem qualquer temor…“Pois a Demanda está terminada, e com sucesso, e tudo está acabado.”[disse Frodo]”.

2. Parágrafos 3 e 4 da primeira página do capítulo “Muitas Despedidas” (RdR. capítulo VI); e esta passagem: “Mas não podemos ir mais rápido, se queremos ver Bilbo. Vou primeiro a Valfenda, aconteça o que acontecer..”

3. A benção de Elrond para Frodo no final do RdR capítulo VI.

4. “Sua mente fervia com o ódio….. Seria justo matar essa criatura traiçoeira, assassina,…. Mas no fundo de seu coração havia algo que o impedia: ele não podia atacar aquela coisa caída na poeira, abandonada, arruinada, absolutamente desgraçada.”

5. “Fantasias loucas despertavam em sua mente; e ele via Samwise, o Forte, Herói do seu Tempo, caminhando a passos largos com uma espada flamejante através da terra escurecida, e exércitos se arrebanhando a um chamado seu, no momento em que marchava para derrotar Barad-dûr. “

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